Dr. Evil

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Helmut Marko, um personagem especial. E protagonista de momentos especiais.

Helmut Marko é conhecido na imprensa inglesa como Dr. Evil, ou “Doutor Mal”, em tradução livre.

Parece que seu comentário a respeito do choque entre Vettel e Webber, em um certo GP da Turquia em que a RB iria fazer 1-2 e fez 0-0 foi a pedra angular para a conquista desse apelido.

Dr. Marko botou a culpa no australiano e os colunistas britânicos não têm dúvida que este foi a vítima.

Fato incontestável é que Dr. Marko é um excelente descobridor de talentos. Ele localizou Seb quando este tinha meros 12 anos de idade. Mas a esta altura já estava bem estabelecido nessa categoria

e detinha a confiança do criador do famoso energético.

Como ele começou?

Após se aposentar – forçosamente – como piloto Dr. Marko dedicou-se à hotelaria. Possui dois hotéis em sua cidade natal, Graz.

Por que o chamam de Dr. Marko?

Ele se formou em direito em 1967, antes mesmo de se dedicar totalmente à carreira de piloto.

Ele dá valor aos estudos, sim, e uma das condições para Seb continuar no esquema Red Bull foi terminar o colegial.

Dr. Marko acha que isso pode ajudar o piloto a usar melhor a cabeça em situações em que o peso no pé não fará a diferença.

E depois, a carreira de piloto é muito instável, melhor ter uma

saída preparada caso as coisas não saiam como esperado.

Em um dado momento Dr. Marko deve ter achado a vida de hoteleiro um tanto monótona e resolveu se entregar novamente à paixão pelo automobilismo.

Montou uma equipe, RSM Marko, começou na F3 e chegou até a F3000 antes de juntar forças com Herr Mateschitz e transformá-la no Red Bull Junior Team (o resto desta história você conhece).

Mas até aí já tinha introduzido Berger na F1, seu primeiro sucesso como talent scout, de quem se tornou manager.

Montoya também está em seu portfolio, foi seu piloto na F3000.

E como ele desenvolveu esse olho clínico de primeira classe para enxergar potencial em candidatos a piloto?

Mostrando competência como piloto e perdendo uma das vistas.

Dr. Marko era inicialmente o amigo, colega de escola de Jochem Rindt, com quem competia nas ruas da cidade em mopeds.

A morte do compatriota não o intimidou.

Em 1971, formando dupla com o holandês Gijs Van Lennep venceu a mítica Les Mans a bordo de um mítico Martini-Porsche 917K, estabelecendo o mítico recorde de distância percorrida, que só foi batido em 2010. Lideraram da 15a. hora em diante.

Lembra do filme Les Mans, rodado em 1970? Lembra de Steve McQueen/Michael Delaney? Pois Dr. Marko era o que havia de mais parecido com ele na pista, naquela época.

Loiro, cabelos compridos, bonitão, casado com uma mulher espantosamente bonita, interessado em música e arte.

Foi como se Steve/Delaney tivesse voltado para ganhar a corrida, vingando-se do segundo lugar obtido no filme.

O sucesso em Les Mans gera um convite de Jo Bonnier para pilotar um velho McLaren no GP da Alemanha.

Mas surge um problema que a equipe não consegue resolver e Marko nem tem chance de tentar se classificar.

A BRM resolve dar uma chance ao rapaz e inscreve um quarto carro no GP seguinte, justamente o da Áustria.

Quem vence esse GP é Jo Siffert, a bordo de um BRM, portanto parece que Helmut está em um bom lugar para a temporada seguinte. Sabe que vai começar com um carro mais antigo e que a BRM não vai poder dar a ele o melhor de suas atenções, mas também ninguém vai cobrar grandes resultados.

Em paralelo, como era costume na época, vai correr em esporte-protótipos, pela Alfa Romeo. E é protagonista de um duelo épico na Targa Florio (clique aqui e veja o quanto o piloto Marko era competente)

httpv://youtu.be/pF_oF-ZMhD0

Poucas semanas depois desta façanha vem o GP da França, em Clermont-Ferrand.

As autoridades automobilísticas tinham determinado modificações na pista visando maior segurança.

Todas as obras foram executadas, exceto uma: os limites das bordas da pista eram compostos por pedras soltas, sem cobertura de asfalto, exatamente para dissuadir os pilotos a ir além.

Péssima ideia. Durante os treinos, a pista começou a ficar repleta de pedras cortantes, que causaram diversos furos de pneus e um acidente, com Henri Pescarolo, que destruiu o carro mas sem ferir o piloto.

O que acontecia era que os carros iam se alinhando em fila indiana, perseguindo um ao outro em busca de uma chance para ultrapassar e o de trás era atingido por pedras levantadas por aqueles enormes pneus slick. Na nona volta, quando ocupava um promissor quinto lugar, uma dessas pedras perfurou a viseira de seu capacete Bell Star e atingiu um de seus olhos.

Dr. Marko ainda conseguiu parar seu carro em lugar seguro sem outros incidentes.

O carro vencedor, a Tyrrel de Stewart, exibia também um grande buraco em seu visor de acrílico ao fim da corrida.

Por causa do infeliz acidente do Dr. Marko rapidamente foram desenvolvidas viseiras mais resistentes. Tarde demais para ele.

Mesmo sendo operado o estrago foi irreversível.

Os colunistas britânicos diriam que o destino foi evil com ele?

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

10 Comments

  1. Enrico Fabietti disse:

    Valeu Charlie. Nem lembrava mais do tempo em que ele corria. A arqueologia do automobilismo sempre reaviva nosso alzeimer….
    Sugiro que vc reviva as corridas da Targa Florio do começo do século. tinha gente muito competente com carros potentes e sem freios….

    • Carlos Chiesa disse:

      Tem toda razão, Enrico. Aquelas corridas de estrada, como a Mille Miglia, a Florio e a Pan-Americana aqui na América do Sul eram para gente grande. E com carros absolutamente precários em comparação com os de hoje. Obrigado pela sugestão.

  2. Mauro Santana disse:

    Belo texto Chiesa!!

    Já li e ouvi que esta pedra que atingiu a vista do Dr. Marko, teria sido atirada pelo carro do Pace ou do Emerson.

    Isso procede?

    A pista de Clemont-Ferrand era linda, com trechos dela no filme do Emerson Fittipaldi e também no filme Grand Prix.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Mário Salustiano disse:

      Mauro

      a pedra foi jogada pelo carro de Emerson

      abraços

      Mário

    • Carlos Chiesa disse:

      Obrigado, Mauro. Sempre soube que tinha sido atirada pelo pneu da Lotus de Emerson. Nessa corrida específica Marko tinha feito melhor tempo na classificação que Emerson e Cevert, o que não deixava de ser um ótimo resultado, mesmo ele pilotando uma BRM mais atual.

      • Mauro Santana disse:

        Pois é, eram outros tempos…

        Obrigado senhores pelo retorno.

        Abraço!

        Mauro Santana
        Curitiba-PR

  3. Ronaldo disse:

    O apelido dr. Evil é referência ao personagem interpretado por Mike Myers, caolho, que também faz o papel de sua Nêmesis, Austin Powers. Se não lembrou ainda, certamente vai lembrar de sua miniatura, “mini me”.

    • Carlos Chiesa disse:

      Nem discuto, Ronaldo. Mas esse comentário dele parece que pesou. Pessoalmente considero que talvez estivesse mais cutucando os brios do australiano do que defendendo Seb, pois é adepto da tese de que o conflito entre os pilotos é positivo para a equipe. “Eles têm que sobreviver”. Deve ter lido Maquiavel…

  4. Fernando Marques disse:

    Chiesa,

    a pista de Clemont-Ferrand ainda existe ou é utilizada?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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