Nas ondas do rádio

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Foram, pelos meus cálculos, 133 corridas até agora. E o surgimento e o crescimento das redes sociais criou uma espécie de comunidade de ouvintes.

Comentar o GP da Turquia de Fórmula 1 de 2007 foi uma das experiências mais desafiadoras que encarei na minha vida profissional, ainda que aquele não fosse um compromisso de trabalho. Eu aceitava, com enorme empolgação, um convite feito pelo narrador Odinei Edson, comandante das transmissões da Fórmula 1 nas rádios do grupo Bandeirantes. O colega Fábio Seixas tinha sido o intermediador do convite, depois de uma conversa despretensiosa, na qual registrei minha frustração por nunca ter trabalhado em rádio na minha carreira, que já contava com dezesseis anos até então.

A ideia de participar, como comentarista convidada, surgiu no começo de agosto, bem no início das férias de Verão da Fórmula 1, no Hemisfério Norte. Isso me deu tempo de preparar minha participação, pois, se o assunto em si não era nenhum mistério – acompanho Fórmula 1 desde os anos 1980 – o microfone era um total desconhecido. Fiz anotações, troquei ideias com outros colegas e fui para o Morumbi, naquele dia 26 de novembro, com um sentimento conhecido.

Parecia uma reedição das minhas idas à sede da rádio Jovem Pan, na adolescência. Comecei a escrever para rádio aos 13 anos, enviando cartas com a pretensão de críticas musicais ao extinto “Programa do Zuza”, que foi ao ar de 1977 a 1988. Eventualmente, eu ia à Avenida Paulista, buscar uma fita cassete gravada com minhas participações no programa. E sentia borboletas no estômago só de estar em uma emissora de rádio.

De fato, decidi ser jornalista depois de perceber que escrever seria minha forma de ganhar a vida, e nunca deixei de transitar entre música, cinema e esporte nos meus escritos. Já na faculdade, a chance de começar a trabalhar em um veículo de comunicação veio pelo esporte, mas na Folha de S.Paulo, não em uma emissora de rádio. Do jornal para a comunicação corporativa, noves fora, não encarei um microfone até aquele dia 26 de agosto de 2007, quando entrei pela primeira vez no estúdio da rádio BandNews FM.

A rádio tinha pouco mais de dois anos. Nesta semana, dia 20 de maio, a BandNews FM completa dez anos. Odinei me recebeu com sua habitual gentileza poucos minutos antes de começar a transmissão. No estúdio, além dele, estavam Seixas e Jan Balder, que eu também já conhecia de outros tempos, na fase em que tinha trabalhado em esportes. O repórter que seguia a temporada nos autódromos era Júlio Gomes. E, talvez porque estivesse muito empolgada, mas também muito nervosa, não tenho certeza absoluta de quem era o âncora da Band News naquele dia, embora tenha a forte impressão de que era Luiz Megale.

A transmissão começou, Odinei me apresentou e eu continuava tensa. Ficava ensaiando o que iria dizer quando ele me chamasse. Não tive vergonha em levar minhas anotações e, não sei se por sorte ou pela sintonia antiga com o tema, meus comentários foram se encaixando em diversas passagens da corrida. Comecei a relaxar quando percebi que, a cada intervenção minha, Odinei e os demais colegas me olhavam e balançavam a cabeça, afirmativamente. A medalha de honra ao mérito veio quando, em um de seus comentários, Jan Balder soltou um “…e como disse a Alessandra…”. Felipe Massa ganhou a prova. E eu fui às nuvens.

Algumas semanas depois, Odinei me convidou para comentar outra corrida, desta vez o GP do Brasil, em Interlagos. Claro que aceitei, voltando a cobrir um GP de Fórmula 1 doze anos depois. A última havia sido em 1995, quando eu trabalhava na assessoria de imprensa da Ford, que patrocinou o evento. Estar novamente em Interlagos e encarar o microfone mais uma vez foi outro prêmio. Mal poderia eu saber que a corrida seria épica, com o então novato Lewis Hamilton cometendo um erro estranho em sua relativamente tranquila corrida para o título, que iria parar nas mãos de Kimi Raikkonen. Mais alguns dias se passaram, fui ao escritório do Odinei, que na época ficava na região da Avenida Paulista, para agradecer pela oportunidade.

E então ele me contou seus planos para o ano seguinte: diante da aprovação das minhas participações, gostaria de contar comigo como comentarista fixa na equipe, participando de todas as provas, naquele mesmo estúdio da BandNews FM, a partir da temporada seguinte. Assim, em março de 2008, na madrugada do dia 16 de março, comentei o GP da Austrália como integrante da equipe, que incorporava outra novidade: o repórter Luis Fernando Ramos, o Ico, amigo de longa data.

Foram, pelos meus cálculos, 133 corridas até agora. O surgimento e o crescimento das redes sociais criou uma espécie de comunidade de ouvintes em torno da transmissão, que hoje entra em rede pelas rádios BandNews FM (96,9 FM) e Bradesco Esportes FM (94,1 FM). O objetivo, naturalmente, é informar o ouvinte sobre o que está acontecendo na pista, com a narração precisa do Odinei e com o auxílio de visões que complementam a descrição, trazidas pelo Ico, nas pistas, ou pelo Jan e por mim, no estúdio.

Se o ouvinte estiver longe da TV, vai ter uma ideia muito aproximada da imagem que não está vendo. E, neste aspecto, algumas das manifestações mais caras à nossa equipe foram os testemunhos de ouvintes cegos que dizem “enxergar” a corrida graças a nós. Mas não são incomuns as manifestações de ouvintes que dizem acompanhar a corrida pela TV, com o som da nossa transmissão, por achá-la melhor, em diversos aspectos.

A BandNews FM tem levado ao ar diversos conteúdos sobre esses dez anos de história. Achei que valia a pena contar esta passagem aqui até porque, ao fazer o convite para eu integrar o time, Odinei e o grupo Bandeirantes estavam quebrando um paradigma: o de ter a primeira mulher comentarista de Fórmula 1 no rádio brasileiro. E como eu gosto de exercer esse papel!

Alessandra Alves
Alessandra Alves
Editora da LetraDelta e comentarista na Rádio Bandeirantes desde 2008. Acompanha automobilismo desde 83, embalada pelo bi de Piquet e pelo título de Senna na F3.

5 Comments

  1. Robinson Araujo disse:

    Parabéns.

    Tens o emprego dos meu sonhos. Eu pagaria para estar no seu lugar.
    Depois de 36 anos vividos o única coisa que prende minha atenção diariamente é a F1!

    Sua qualidade a colocou neste lugar e fez com que não o desocupasse mais! Ainda bem que pessoas como você existem, mantendo a qualidade de nosso sonho sempre viva!!

    Robinson Araujo
    Cuiabá – MT

  2. Mauro Santana disse:

    Belíssima história, Alessandra.

    Como o amigo Fernando muito bem mencionou, você manja e muito do assunto F1 e esporte a motor.

    Parabéns mais uma vez, você é FERA!

    Ontem não pude acompanhar a Motogp, pois estava competindo numa prova de 37km de Moutain Bike Marathon.

    Mas a F Truck deu tempo de assistir, e foi como sempre, fantástica!!

    Ela me lembra sempre a F1 dos anos 80, com motores turbo, câmbio manual e um leque de marcas.

    Show!!

    Abraço e ótima semana a todos.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Fernando Marques disse:

      Mauro,

      também vi um pouco da Formula Truck … a vitoria do Felipe Giaffone e o Leandro Toti em segundo … só deu MAN Volkswagen … aliás na ultima volta o Toti tentou tomar a ponta e quase conseguiu numa manobra sensacional … sem interferência da equipe … o quão bom seria se na Formula 1 fosse assim … hehehehehe

      Fernando Marques

  3. Fernando Marques disse:

    Alessandra,

    se tem uma coisa que ninguém pode contestar é que você entende do riscado … ser mulher é apenas uma agradável coincidência … parabéns e que você tenha sempre muito sucesso!!!
    Aproveito a oportunidade para falar da Motovelocidade … a corrida em Le Mans foi mais uma corridaça, pelo que me parece vai ser uma constante nesta temporada … a vitoria foi de J. Lourenço … ele fez uma corrida impecável e liderou com autoridade todas as voltas … agora o Doctore deu show … largou em 8º mas com grandes ultrapassagens chegou em 2º e continua bem lider do campeonato. E o Marc Marquez, pole position teve problemas na largada e teve que fazer uma corrida de recuperação … e que corrida … que batalha épica ele travou com Ianone pela 4ª colocação ao fim da prova … foi sensacional …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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