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A história de Jim Hall e o Chaparral: um momento decisivo na história do automobilismo.

Em uma das nossas longas conversas de final do dia, comentei com meu amigo Gigante que Colin Chapman tinha sido o introdutor dos aerofólios, portanto o primeiro a perceber o potencial do cruzamento da aerodinâmica com carros de corrida.

Nada disso, disse o Giga, quem inaugurou esse caminho foi o Jim Hall.

É verdade!! Tinha esquecido daquele carro branco biposto, com uma enorme e inédita asa na traseira.

Comecei a lembrar de como aquele modelo 2E tinha sido revolucionário, vencendo concorrentes muito mais famosos e experientes e mudando a história do automobilismo.

Giga conheceu bem Jim, em sua fase final como dono de equipe de Indy, porque seu ex-piloto e pupilo Gil de Ferran foi direto da Europa para substituir Teo Fabi na equipe e tornou-se rookie of the year.

Isto foi nos anos 90 e algum tempo depois Jim Hall desistiu de continuar com sua equipe. Foi jogar golfe e se dedicar a outras atividades para as quais nunca tinha tido tempo.

Me parece injusto deixar esse homem e sua obra esquecidos, tantas foram as inovações que introduziu.

Então convido você a acompanhar Indianapolis Jones em mais uma aventura arqueológica automobilística. Desta vez vamos para a terra dos cowboys, várias décadas atrás.

 

James Ellis Hall é um cowboy autêntico, nasceu em Abilene, Texas, em 23 de julho de 1935.

Seu pai era um oilman, um membro da indústria do petróleo, assim como a família Bush e, para quem gosta de cinema, o personagem de James Dean – Jett Rink – em Giant (Assim caminha a humanidade).

Cresceu entre carros, ajudando o pai a montar um hot rod e posteriormente montando o seu, com base em um Ford A 1929 com motor V8. Seu irmão mais velho Dick também foi influenciado.  Assim que pode comprou um Austin Healey e começou a correr, aumentando o entusiasmo do garoto pelo assunto.

Seguindo os passos profissionais do pai, Jim entrou no California Institute of Technology para estudar geologia e ser ele próprio um oilman.

Mas a paixão pelos carros era mais forte que a tentação de aproveitar os ventos então favoráveis da indústria petrolífera e ele mudou para engenharia mecânica. Até hoje Jim atribui seu sucesso a essa base acadêmica, ao lado de trabalhar duro e com prazer.

Ele não se importava nem um tiquinho de trabalhar 15 horas por dia. Fazia o que gostava com gente de quem gostava.

Começou a competir como piloto amador em 1953, com o Austin Healey do irmão.

Quando estava se formando, Jim tinha uma entrevista de emprego agendada na Chevrolet e achou que seria contratado mas… houve um corte de verba e a vaga não se materializou.

Dick tinha feito um negócio com Carroll Shelby para vender carros esporte em Dallas. Como a loja não estava indo bem, perguntou se Jim, naquele momento desocupado, poderia ir lá dar uma ajuda. Trabalhar em cooperação com Shelby por cerca de dois anos foi sua iniciação no ramo da construção de carros de corrida.

Jim percebeu que, quando corria contra europeus, estava sempre em desvantagem. Embora considerasse os europeus, como Stirling Moss, melhores como pilotos, estes competiam com os modelos mais recentes e vendiam aos pilotos amadores americanos somente os carros do ano anterior.

Note que nessa época era perfeitamente possível um piloto amador americano dividir a pista com um profissional top como Sir Moss.

Jim já estava incomodado com essa desvantagem de equipamento quando foi contatado por Dick Troutman e Tom Barnes, na Califórnia, que queriam construir um carro de corridas.

Falaram com o cara certo.

A dupla propunha construir um carro para correr na categoria esporte, com motor dianteiro, bloco americano de série, preço relativamente baixo. Jim topou e bancou o primeiro carro.

Quando ficou pronto, veio a pergunta: Como vai se chamar?

Chaparral é o roadrunner, aquela velocíssima ave que percorre o deserto fazendo beepbeep, enquanto é inútil e eternamente perseguida pelo coiote. Era um nome típico daquela região, o sudoeste americano, e parecia totalmente adequado a um road-racing car.

Jim competiu com o Chaparral 1 por dois anos. Diz que não era um carro particularmente brilhante no começo mas que foi melhorando progressivamente. Mas o mais importante é que foi despertando nele o gosto por entender o que os carros de corrida fazem e porque fazem.

Aí ele se reencontrou com Hap Sharp, que também era piloto amador.

Jim não só o conhecia das pistas como tinha vendido a ele um par de carros, quando estava em Dallas.

Um ano depois, com Jim tendo se mudado para Midland, Texas, os dois decidiram entrar no negócio de construir carros de competição.

Não apenas isso, mas construir carros que pudessem ser competitivos em qualquer parte do mundo.

A Chaparral Cars Inc. nasce. Estamos em 1962.

Essa história continua em nossa próxima coluna.

Abraços,

Chiesa.

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

7 Comments

  1. Beleza de texto Chiesa. Já aguardo pela segunda parte.
    Quanto aos aerofólios a polêmica parece fadada a eternidade. Existem relatos de experiências com aletas ainda na década de 20, que acabaram sendo descartadas por falta de resultados, da mesma forma como ocorreu com os pneus slicks.
    Acho que para fins de registro podemos ficar com aqueles que pela primeira vez fizeram a coisa efetivamente funcionar.
    Abraço!

  2. Mauro Santana disse:

    Belo texto Chiesa, Parabéns!!!

    E que venha a próxima parte.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

  3. Fernando Marques disse:

    Chaparral!!!
    Um carro destes jamais pode ficar no esquecimento.
    Excelente lembrança

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  4. Manuel disse:

    Caro Chiesa, já éra hora de fazer uma coluna sobre Jim Hall. Obrigado !

    Contudo, no assunto dos aérofolios, estes nao foram coisa nem de Chapman nem de Hall. Nao faz muitos anos assisti ao filme “The Killers” ( no youtube : https://www.youtube.com/watch?v=-crsuEOlUO0 ) protagonizado por John Cassavetes e Lee Marvin, onde John assume o papel de um piloto de corridas. Pois bem, no filme aparece uma corrida com carros já equipados com aérofolios, e o filme é de 1964. Se nao me engano, o 2E de Hall foi construido no fim de 1965 para a temporada de 1966.

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