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Tentando desvendar o que rolou em Albert Park...

Posso voltar à cena do crime em Albert Park?

Não, não estou falando em descobrir quem foi o culpado pelo acidente entre Alonso e Gutierrez, isso todo mundo já sabe.

É que tem outros detalhes do primeiro GP da temporada que me chamaram a atenção e gostaria de examinar junto.

Vamos começar pela Haas.

Conforme escrevi na última coluna, era uma equipe que poderia valer a pena prestar atenção.

Vamos começar pelo que é menos visível?

Sabia que a estrategista da equipe é uma mulher? Sim, seu nome é Ruth Bascombe e começou a temporada acertando.

Com Grosjean largando em 19º com macios, estava claro que ela estava propondo um stint longo, para ver o que aconteceria depois.

Quando todas as equipes souberam do acidente, nem todos compreenderam que a bandeira vermelha era inevitável.

Várias equipes chamaram pilotos antes da hora.

Ruth manteve um invejável sangue frio, apostou que a bandeira vermelha viria e manteve Romain na pista até ela aparecer.

Colocam médios e ele sai em 9º.

Já estaria bom terminar aí, não?

A quebra de Kimi e a disputa entre os touros vermelhos juniores se encarregaram de melhorar ainda mais o cenário.

Bastou Romain não aprontar nenhuma bobagem para a equipe obter um início de temporada muito além da expectativa, em que pese o prejuízo com Gutierrez.

Mas outros sinais positivos foram notados.

Assim como as Toro Rosso, o carro se mostrou competitivo na classificação e com bom ritmo na corrida.

Por falar no time junior da multinacional austríaca de energético, reclamar a posição de seu companheiro de equipe não foi a única nem a mais grave imaturidade do talentoso Mad Max Verstappen.

Lembra que ele parou no pit para trocar pneus sem a equipe estar preparada? Tudo indica que o garoto decidiu, por sua própria conta e risco, que a volta 32 era o limite dele e pegou todo mundo desprevenido.

O atraso resultante o colocou na 12a. posição, com chances diminutas de ultrapassar o bloco que optou por uma parada, calçado com médios.

Ferrari.

A maioria dos colegas classificou como uma má escolha de pneus a troca que fez Vettel ficar definitivamente atrás do duo estrelado.

Será que foi essa a má escolha?

Talvez tenha sido outra.

Vejamos: na classificação vimos a Ferrari optar por poupar um jogo de supermacios. Aparentemente estava apostando suas fichas nesse tipo de pneus, claro que com base em dados de rendimento do carro em uma pista de baixa aderência como essa.

Baixa aderência pode levar a baixo consumo de borracha, não?

Não apenas isso.

A SF16H parece render menos com pneus mais duros.

Isso pode se alterar com variações de temperatura e de acordo com as regulagens adotadas pelos pilotos.

Quando a Mercedes chamou Nico na volta 12, a Ferrari leu que a ideia era fazer o undercut sobre Kimi.

Decidiu então contra-atacar chamando Seb ao box. Aí colocaram os supermacios que tinham poupado na classificação. Isso deixava o alemão com um único set de macios.

Nico estava com macios, portanto tinha um stint mais longo pela frente. Seb, ao contrário, tendo parado antes do ideal, teria que administrar muito bem seu jogo, o que obviamente leva a tempos por volta mais altos.

Quando a Mercedes parou Lewis na volta 18 colocou pneus médios, portanto os estrategistas da Ferrari devem ter lido que a ideia era tentar ir até o fim com esse set.

Ops… mas aí entra Alonso imitando Mark Weber na volta 19 e a consequente bandeira vermelha.

Não seria lógico pensar que Nico também iria calçar médios e tentar chegar com eles até o fim?

Então a Ferrari decidiu continuar aproveitando a poupança de supermacios. Tinha que justificar a decisão tomada na qualificação. Mas eles precisavam durar mais que o normal, até a volta 35, por exemplo, e a Mercedes logicamente também avaliou isso. A poupança obrigatória diminuiria a competitividade.

Quando Seb colocou seu jogo de macios não dava mais para alcançar as flechas prateadas.

E já que estamos falando de detalhes, o que podemos esperar de Sakhir?

A principal característica são as freadas fortes, portanto vai se dar bem quem conseguir gerenciar bem a refrigeração de seus freios, bem como a recuperação de energia gerada por esse sistema.

O fator de potencial desequilíbrio é a combinação vento e areia do deserto. Dependendo da hora e local em que aparecerem, se aparecerem, podem prejudicar uns e favorecer outros.

Achei muito interessante: Bernie concorda com os pilotos, após a divulgação da carta da GPDA externando sua preocupação com o espetáculo. Todos estão preocupados com isso – leia-se queda de audiência/interesse no mundo todo, com algumas exceções –  mas os alvos são diferentes. Bernie mira em Jean Todt e na dupla Mercedes-Ferrari, que acusa de abuso de poder, em defesa de seus próprios interesses de representantes oficiais de montadoras.

Wolf e Arrivabene, claro, negam tudo.

Lembremos que Bernie e Mickey Mosley atuavam em conjunto em defesa de seus próprios interesses não faz tanto tempo assim.

Mas acho louvável a GPDA, por meio de Alex Wurz, se posicionar a favor dos fãs, que querem mesmo emoções verdadeiras de volta.

Do meu ponto de vista, motores, ops… unidades motrizes realmente impressionantes, menos regras esdrúxulas, mais campo para o fator humano, bem, você sabe, adicione a sua lista e, quem sabe, conseguimos influir.

Talvez até fazendo uma manifestação em Interlagos no final do ano? Já pensou?

Até a próxima!

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

11 Comments

  1. Fabiano Bastos das Neves disse:

    Gostei da proposta!
    Acredito que a Formula 1 deveria ser um território com liberdade total para que engenheiros e pilotos encontrem a melhor fórmula para fazer um carro andar o mais rápido possível. A única barreira deveria ser a segurança dos pilotos e espectadores.
    Hoje a F1 é apenas uma excelente plataforma de marketing para vender automóveis e outros produtos.
    Por que obrigar que todos utilizem uma mesma fórmula de motor e reaproveitamento de energia?
    Por que a VW não pode entrar para competir com sua fórmula de motor 2.0 TSI, por exemplo?
    Por que o grupo PSA não pode usar um sistema híbrido com ar comprimido?
    Por que todos são obrigados a correr com sistemas híbridos? será que é a fórmula mais rápida?
    Se eu fosse protestar no GP do Brasil, seria por uma F1 com maior liberdade para a criatividade.

    • Carlos Chiesa disse:

      Excelente, Fabiano. Gosto muito das suas sugestões. Conforme coloquei em outras respostas, a vocação da F1 é liderar no campo esportivo a introdução de inovações tecnológicas, mas nunca em detrimento do espetáculo. É longa a lista de evoluções tecnológicas que vieram a partir dela. Como costumo dizer, para progredir é preciso olhar para a frente, mas sem tirar um olho do retrovisor. Penso que a F1 deve olhar para o que deu certo no passado e se reinventar. Proponho que a gente continue trocando ideias por aqui, para – quem sabe – chegarmos a uma proposta concreta apresentável ao tio Bernie.

  2. Mauro Santana disse:

    Belo texto Chiesa, e belíssima análise.

    Quanto a manifestação em Interlagos, olha, do jeito que estes dirigentes da F1 são chatos, é capaz de lançarem uma multa pesadíssima na organização brasileira.

    E neste domingao temos MotoGP na Argentina.

    Ahhh que inveja branca dos Hermanos.

    Abraço!!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

    • Carlos Chiesa disse:

      Grande Mauro, sempre muito gentil. Sem dúvida, com o poder que tem Bernie pode quase tudo. Mas… ele também está preocupado com a queda de audiência. Talvez a gente deva juntar aqui propostas para fazer a F1 voltar à sua essência, que é mais
      esportiva que “business” e entregar para ele no momento certo. O promotor-chefe da Lava Jato teve a iniciativa de propor uma nova lei anti-corrupção e fez isso. A bomba está com o Congresso. Achei excelente o procedimento adotado por ele e os demais juristas envolvidos. Vamos fazer?

  3. MarcioD disse:

    Sou totalmente contra esta Formula 1 lotérica e cheia de emoções artificiais. Cheia de ordens e estratégias de boxe e repleta de chororô de pilotos pelo rádio.
    Com muitos recursos artificiais como asa móvel, cheia de regras até de como um piloto deva ultrapassar o outro.
    Com um sistema de classificação caótico e n tipos de pneus slick para tentar embaralhar a disputa.
    Cheia de controles e ajudas eletrônicas, que diminuem o peso da pilotagem em si.
    Eletricidade e consumo de combustível deveriam ser restritos ao WEC.
    Bernie chegou ao ponto propor chuva artificial e grid invertido para ter mais “emoção”.
    Entendo automobilismo como velocidade, disputa de posições com amplas possibilidades de ultrapassagens e de defesas, homem- maquina x homem-máquina com mínima participação da equipe,ronco de motor e a F-1 deveria ser o pináculo disto.
    Para isto ser possível, seria necessário um regulamento muito restrito tanto em termos de chassis, com enfase em diminuição do downforce e turbulência, como de motores e pneus para equilibrar a disputa. E que vença o melhor conjunto carro e piloto!
    Como sei que isto dificilmente ocorrerá,por causa dos n interesses políticos e econômicos envolvidos, uma hora vou deixar de acompanhar a F1, seguindo o dito popular :” Os incomodados se retirem”.
    Tomei a decisão de acompanhar a Moto GP há 4 anos e não me arrependo, apesar de não ser muito “chegado” em motos.
    Só uma coisa tenho de louvar neste processo: A segurança evoluiu bastante tanto nos carros com nos circuitos, o que poupou muitas vidas.

    Abraços

    Márcio

    • Carlos Chiesa disse:

      Muito sensato seu raciocínio, Marcio. Meu amigo Gigante, ex-piloto de SuperVê e tarimbado chefe de equipe também defende que a F1 recupere sua essência e seja mais criteriosa no uso de inovações tecnológicas. Concordo com o conceito. A F1 deve sempre ser inovadora, funcionar como o laboratório/campo de provas, mas isto não pode prejudicar o espetáculo esportivo. Regras artificiais e artifícios vão contra.

  4. Fernando Marques disse:

    Chiesa,

    no momento atual eu creio que a tendência seria de muitas decisões equivocadas dos pilotos se eles tivessem este poder de decisão … isso tornaria a corrida ao menos mais movimentada …
    Com relação ao Verstappen meus elogios foi em relação a coragem dele em tomar sozinho uma decisão … fora isso ele pisou feio na bola e foi um chorão como voce bem disse acima … se lembram do IceMan na Lotus … “não me enchem o saco, eu sei o que estou fazendo” … todo mundo adorou … fez bem ele falar aquilo para a Formula 1 …

    Fernando Marques

    • Carlos Chiesa disse:

      Seria mais movimentada, mas penso que seria menos técnica. Quando pilotos como Stewart e Emerson opinavam sobre pneus, fazia parte da estratégia de corrida deles. Hoje, com tanta info disponível, deixar os pilotos no escuro me parece um tanto… falso.
      Não tenho nada contra estrategistas no pit, eles erram pra caramba, como você mesmo apontou (Ferrari). Com tantos botões para apertar, tantas opções de regulagem, mais asa móvel, mas o trabalho de vigiar freios, desgaste de pneus, sem contar a pilotagem em si, com os concorrentes atrás e na frente, até um Alonso erra (feio). Pedir que ainda decidam – sozinhos – o momento de parar talvez seja muita responsa. Estratégia me parece algo grande demais para ser pensada por alguém que está sob tremendo stress.

      • Fernando Marques disse:

        Chiesa,

        uma das coisas que a gente mais debate aqui é exatamente o fato dos pilotos da Formula 1 hoje em dia ter que pedir permissão a equipe para atacar, ultrapassar, cuidar dos freios, economizar e pelo que sinto da galera que isso tira a graça da corrida … isso poderia mudar a partir do momento que o piloto voltasse a ter poder de decisão …

        Fernando Marques

  5. Carlos Chiesa disse:

    Em outros momentos, com menos dados à disposição da equipe, a opinião do piloto era fundamental. Hoje, será que eles conseguem ter a visão do todo? Quem na frente e atrás está com qual pneu? Se Max tinha essa visão, podia simplesmente ter avisado a equipe pelo rádio segundos antes de entrar no pit. Como não o fez, tomou segundos de desvantagem. Depois ficou bravo (deveria ter ficado bravo consigo mesmo) e pediu a posição do colega, naturalmente esquecendo que ele mesmo se recusou a fazer isso em situação análoga. Está se achando, o rapaz? Claro que ele parece ser um fora de série, mas se for olhar na história da F1 tivemos várias promessas que não se concretizaram.
    Pouco me importa o ronco das unidades motrizes. F1 é lugar para 12 cilindros. Como diria Geoge Clooney (nos comerciais de Nespresso), “what else?”

  6. Fernando Marques disse:

    Eu penso que não existe ainda nenhuma equipe com uma estrategia já bem definida em relação ao uso dos pneus com esta nova regra. Elas ainda estão estudando e definindo como fazer o melhor uso … Cometer algum erro de estrategia no 1º GP da temporada com regra nova era previsível, e quem cometeu talvez o maior deles tenha sido a Ferrari.
    Eu sou da opinião que o comando e decisão da melhor estrategia a ser usada numa corrida deveria ser só do piloto. A equipe apenas deveria assessorá-lo, mas nunca ter poder de decisão . Acho que isto já melhoraria a corrida como espetáculo e aí sim poderíamos estar talvez criticando com mais fundamentos o tal pit stop equivocado do Max Verstappen. Só que penso que pelo fato dele ter tomado a decisão, dentro da atual conjuntura acho que ele merece até um elogio ter tomado a decisão, mesmo que erradamente.
    Quanto as unidades motrizes o ronco dos motores melhoraram um pouco, ou estou errado?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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