As maiores ultrapassagens de Ayrton Senna – final

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Um épico, um épico

Continuando o TOP 10 das ultrapassagens realizadas por Ayrton Senna na Fórmula 1 [veja quais foram as que iniciaram este ranking clicando aqui, observa-se que seu repertório é vasto. Há ultrapassagens em pistas de rua e em autódromos convencionais, por fora e por dentro, sob chuva ou em tempo seco, em voltas iniciais ou finais.

Vejamos agora aquelas que considero as mais marcantes de seus 161 GPs.

6 – Niki Lauda, Monte Carlo-1984

O cartão de visitas de Ayrton Senna. Com um carro nitidamente inferior. Em sua quinta corrida. Sob chuva torrencial. Em Mônaco. Por fora. Em uma curva com ângulo desfavorável. Em cima do futuro campeão mundial.

5 – Jean Alesi, Phoenix-1990

Talvez a ultrapassagem mais lembrada de Senna — junto com Hill-93 e Nannini-89.

O curioso aqui é que (guardadas as devidas proporções, por favor) acontece algo semelhante com o que havia ocorrido na Hungria, em 1986. Depois de efetuar a ultrapassagem mas ser surpreendido com uma manobra de Alesi já em seguida, aproveitando-se de um lapso do brasileiro, Senna refaz a ultrapassagem no mesmo ponto, mas com tudo planejado e numa sequência irretocável.

a) Senna cola em Alesi e imita sua movimentação quando se aproximam de um retardatário; b) Senna leva o carro para a direita, antecipando-se ao francês; c) Senna mantém sua aceleração e vai em direção diagonal, fugindo ao traçado comum — que lhe fizera perder a posição na volta anterior; d) Senna traciona com dificuldade, pois as curvas são de 90º; e) em nova curva para a esquerda, Alesi faz outra tentativa de mergulho, mas Senna fecha a porta.

4 – Nigel Mansell, Hungaroring-1990

Um ano antes, Senna foi ”vítima” de Nigel Mansell nesta mesma pista. O Leão aproveitou um momento Prost de Senna, que hesitou diante de um retardatário, e mergulhou de forma indefensável. Ultrapassagem monstruosa.

Desta vez, era Senna que vinha em recuperação — ele caiu para 10º após uma passagem demorada pelos boxes. Logo após a abertura da volta, Nannini consegue passar Mansell na reta, e Senna cola nos dois.

Na aproximação da curva 2, Senna coloca o carro por fora, trajetória normal de pilotos que tentam ultrapassagens ali. Mansell não hesita em trazer o carro para defender a posição. Então, somando um reflexo absurdo para evitar a batida e vendo uma oportunidade única, Senna joga o carro por dentro, freando no limite — o pneu dianteiro esquerdo frita, tornando a manobra, além de arriscada, plasticamente bela.

3 – Jean Alesi, Montreal-1993

Aqui, diferentemente da batalha nos EUA três anos antes, Senna e Alesi travam um duelo muito rápido — era o começo da segunda volta — e que não demandou a estratégia de Phoenix. Aqui, foi força bruta. Velocidade e coragem. Uma reminiscência ao GP da Espanha de 1991.

Senna ataca Alesi no hairpin fazendo a tomada clássica, por fora. O francês não se dá por vencido, e pisa fundo na retomada de aceleração. O que se vê na sequência são dez segundos de automobilismo em estado puro.

2 – Nigel Mansell, Jerez-1986

Neste caso, a corrida foi tão histórica e o duelo tão próximo que a ultrapassagem é de certo modo ”ofuscada”. Mas foi das mais impressionantes já realizadas.

Na abertura da volta 63, apenas nove para o final, Senna cola em Mansell. O inglês já vinha sofrendo com os pneus, e teria de ir aos boxes se quisesse brigar pela vitória — mas com menos de 10 voltas para o fim, um pitstop poderia significar o adeus ao primeiro lugar.

Após a curva Michelin, Senna faz uma tentativa arriscada, mas Mansell fecha a porta e Senna é obrigado a frear bruscamente. Em seguida, ele inverte sua posição e vai por dentro na Sito Pons. Mansell é surpreendido — simplesmente não se ultrapassa por ali.

O Leão não teria nem tempo de esboçar alguma reação: Alain Prost aproveitou e também despachou o piloto da Williams.

1 – Karl Wendlinger, Donington-1993

A manobra é tão especial que recorro a uma citação. Seis anos atrás, em seu texto Em busca da ultrapassagem perfeita, Eduardo Correa descreveu-a e comentou sua sensação ao testemunhá-la.

Não discuto que tenha sido a melhor primeira volta da história da Fórmula 1 mas me fascina especialmente a ultrapassagem de Senna sobre Karl Wendlinger, tomando o terceiro lugar da prova recém iniciada. Aqui temos a coragem (notem a visibilidade praticamente nula), a precisão da manobra, a intuição perfeita do nível de aderência numa curva que ele não havia percorrido em velocidade até então. Ainda lembro nitidamente, quando assisti à corrida, do salto que dei na cadeira, ao ver a velocidade com que Senna entrou naquela curva. Pensei que ele ia voar longe. No entanto…”.

Belamente assustadora. Assustadoramente bela.

Que venha 2017!

Boa temporada a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

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