Respeitem Dani Pedrosa!

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Recebi a missão de escrever sobre a MotoGP semana passada, em uma reunião que nós, do Gepeto, fazemos sempre todos os meses. Meu senso de “otimização de tempo” queria fazer a coluna ainda durante a semana, para poupar trabalho no domingo. Mas o meu senso de experiência dizia: “espere a corrida”, pois nunca se sabe o que pode acontecer. Fiz bem.

Fiz bem, porque meu plano inicial era falar um pouco sobre as dificuldades da Ducati. O momento parecia propício, depois de um começo de temporada abaixo do esperado. Nada indicava que as coisas fossem mudar em Jerez de La Frontera, um circuito travadinho localizado na árida região de Andaluzia, na Espanha.

Jerez é, na teoria, terra da Yamaha. Com sua grande sequência de curvas e poucas retas, o circuito é perfeito para a YZR-M1, vantagem que se traduz nas vitórias já conquistadas lá. Mas aí o fator “imprevisibilidade”, que há muito abandonou a Fórmula 1 veio a tona na quarta etapa da MotoGP em 2017.

O que aconteceu foi que Dani Pedrosa se encontrou totalmente com a moto e com a pista, de uma forma como há muito tempo se via e liderou praticamente todos os treinos livres. O tricampeão (sim, ele é!) só não terminou na ponta no FP4 e no Warm Up.

Na corrida, Pedrosa manteve o ritmo intenso, abrindo uma confortável vantagem de Marc Márquez nas primeiras voltas para depois apenas administrá-la, até o final. Seus rivais diretos tiveram enormes problemas, como Maverick Viñales, que chegou apenas em sexto e Valentino Rossi em um distante décimo lugar. Ambos reclamaram um bocado dos pneus.

E a Ducati? Eles ficaram em quinto com Andrea Dovizioso… e em terceiro com Jorge Lorenzo, o seu primeiro pódio vestido de vermelho. Se eu tivesse escrito sobre eles antes, a coluna teria soado tremendamente deslocada. Haverá uma melhor oportunidade depois, certamente.

Por isso, prefiro falar sobre Daniel Pedrosa. Quem vê hoje mal sabe o quanto esse carinha era promissor quinze anos atrás. Pupilo direto do influente ex-piloto Alberto Puig, Dani irrompeu a cena como o mais incrível piloto espanhol do começo dos anos 2000, a ponto de seu colega e rival Casey Stoner classificá-lo, mais tarde, como o cara mais talentoso com quem já disputara uma posição.

Sua chegada ao campeonato mundial aconteceu em 2001 pelas 125cc sendo imediatamente competitivo. Dois anos depois, com cinco vitórias nos bolsos chegava ao seu primeiro título com duas rodadas de antecedência.

Isso o credenciou para as 250cc nos anos seguintes, categoria que tirou de letra: campeão novamente em 2004 e 2005 com folga. Assim, Pedrosa chegou à MotoGP em 2006 já com o status de estrela, não muito diferente de como aconteceria com Márquez, quase uma década mais tarde.

Daí em diante, sua história já é conhecida. Pedrosa sempre esteve entre os primeiros, venceu corridas, disputou títulos… mas nunca chegou lá. E aquele respeito ameaçador que exalava nas classes de acesso foi sendo substituído pelo de um garoto inseguro – até porque sua timidez em frente às câmeras é visível – e seus companheiros de equipe, Nicky Hayden, Stoner e Márquez conquistaram títulos na categoria mais importante do motociclismo.

Sua grande chance surgiu apenas em 2012. Alçado à condição de primeiro piloto, depois que Stoner fraturou o tornozelo em Indianápolis, Pedrosa se viu em uma disputa palmo a palmo pelo título com Lorenzo. O espanhol, no entanto falhou no momento decisivo e o rival da Yamaha conquistou seu segundo caneco.

No ano seguinte, 2013, Márquez foi promovido à MotoGP, lançando uma espécie de “sombra” sobre Pedrosa.Isso tudo fez os espectadores mais recentes (ou menos frequentes) pensarem que piloto era um zero à esquerda. “O que esse cara ainda está fazendo na HRC?”, alguns diziam. “Dez anos na melhor equipe e não foi campeão”. Essas foram as frases mais faladas nos últimos anos.

Bem, é uma verdade que Pedrosa decepcionou um pouco na categoria principal. Esperava-se dele um pouco mais daquela “fúria” que move todos os grandes campeões, como Rossi, Lorenzo, Márquez e Stoner. Mas daí a dizer que não merecia estar onde está é um grande exagero.

Pedrosa não é o primeiro e não será o último grande piloto sem títulos na categoria principal. O caso mais clássico de todos é, sem dúvida, o de Randy Mamola, que em 12 anos de 500cc, nunca foi campeão mundial, precisando se contentar com quatro vices. Mas o norte-americano já tem há muito tempo o seu status (merecido) de lenda da MotoGP, mesmo com números muito inferiores.

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E nos números, Pedrosa é muito bom: 3 títulos mundiais, 63 voltas mais rápidas, 47 pole positions, 146 pódios e 53 vitórias. Dados equivalentes ao dos principais pilotos da atualidade. Márquez, com toda sua velocidade pura, por exemplo possui menos “fastest laps”: 51.

O que também acontece é que muitos fãs simplesmente não consideram as classes de cilindrada inferiores. Mas, no motociclismo, essas categorias possuem quase o mesmo peso da principal. Tanto é que Angel Nieto, com 13 títulos entre as 50cc e as 250cc também é considerado lenda como os demais.

Mesmo a Fórmula 1 tem os seus exemplos. Quem não conhece as histórias de Ronnie Peterson, Stirling Moss, Jacky Ickx e Carlos Reutemann, todos excelentíssimos pilotos, sem títulos? Aliás, se precisasse apontar um piloto de F-1 que mais se parece com Pedrosa eu escolheria o argentino. Ambos sérios e tímidos, analíticos e extremamente velozes em um dia inspirado, porém com uma tendência a se abater com facilidade.

Hoje, o amigo e colega Márcio Madeira, que também nutre a paixão por automobilismo e motociclismo revelou que acha Pedrosa mais técnico que Márquez. Faz todo o sentido. Apesar de seus cinco títulos, o espanhol ainda é impreciso e titubeante na hora de repassar suas impressões aos engenheiros.

Pedrosa, por outro lado, é muito mais detalhista, pois sua baixa estatura (apenas 1,60) requer uma pilotagem muito mais suave e fluída nas curvas, além de ser mais dependente do acerto e regulagens da motocicleta. Ou seja, com uma máquina bem equilibrada e nas condições físicas ideais, o espanhol pode ser tão ou mais veloz que Márquez, como vimos ontem.

Tomara que Pedrosa esteja se reencontrando na MotoGP deixando para trás os anos de cirurgias constantes – foram mais de dez na última década –  para, quem sabe, conquistar o tão sonhado título na classe maior. O que pode impedi-lo de repetir a dose de ontem em outras ocasiões? Provavelmente somente ele mesmo. A minha torcida, certamente terá.

Até a próxima!

Lucas Carioli
Lucas Carioli
Publicitário de formação, mas jornalista de coração. Sua primeira grande lembrança da F1 é o acidente de Gerhard Berger em Imola 1989.

3 Comments

  1. Charmeston disse:

    Dani Pedrosa é o Dedé Santana da MotoGP e da equipe Honda. Faço esta comparação porque, Dedé Santana não era gênio do humor, mas preparava uma piada como poucos tem capacidade de fazer. Sem ele, o Didi não teria a graça que tinha porque o Dedé era o ”humorista escada” (Aquele que prepara a piada). O que quero dizer com isto, em relação ao Dani, é que o pessoal de fora, os ditos ”especialistas”, pensam que ele (Pedrosa) não tem talento suficiente para ser piloto da equipe Honda. Só que sem ele, o time da Honda e o Marquez não teriam obtido os mesmos resultados satisfatórios, porque é Pedrosa quem muito contribui para o setup da Honda. Portanto, Pedrosa é o ”piloto escada” da Honda, e ela soube dar valor a isso…

  2. Manuel disse:

    Otima coluna, Lucas !

    O problema de Pedrosa é o mesmo de Mamola : inferioridade fisica respeito a seus competidores.

  3. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    a vitoria do D. Pedroza foi legal pois ao menos parecia que um furacão chamado Macerick Viñales ia derrubar a concorrência … aliás na prova em Austin o M. Marquez a Honda já mostrava uma reação neste sentido…. dái a importância da vitória do Pedroza … que é muito bom piloto mas na minha opinião não está no mesmo nivel que o MArquez, Lorenzo e o Rossi .que pela beiradas vai liderando o Mundial …..

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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