Contra o óbvio

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Corridas em Barcelona, exceto por algumas surpresas históricas — como a de 2001 –, geralmente são as mais previsíveis. Mesmo Mônaco, com suas dificuldades de ultrapassagem, traz mais surpresas. Na Espanha o pole-position geralmente é o vencedor, e os carros mais fortes disparam, só acontecendo alguma mudança efetiva em erros ou atrasos homéricos nos boxes.

Tudo isso poderia ser dito sobre a corrida deste domingo, pero no mucho.

Vettel sai na frente e joga o primeiro prognóstico por água abaixo: eu, e creio que a maioria de nós, achava que Hamilton escaparia na frente e o risco de uma prova monótona era grande. Felizmente erramos. Além de Vettel tomar a ponta (e assim permitir o famigerado ”primeiro duelo na pista” entre os líderes), muita coisa rolou atrás, causando, no momento ou posteriormente, alterações importantes no top 5 da pista.

Começando pelos acidentes, achei curioso Felipe Massa atacar Alonso após a prova. ”Não tinha a menor chance (de o Alonso ultrapassar naquele ponto). Não sei o que ele tentou. Acabou com a minha corrida…’‘, disse o brasileiro. Não enxergo problema nenhum no toque entre os dois — no further action needed –, mas certamente a imprudência não terá sido do espanhol. Mais que a acusação, Massa lamenta o que poderia (?) ter feito. ”Terminaria em quarto’‘, afirmou.

Prefiro não me estender.

Sobre a batida tripla, Bottas me pareceu o principal responsável, mas também não entendo como algo intencional ou uma barbeiragem clássica.

Em ambos os casos citados acima, uma crítica à transmissão: além de não terem percebido a batida Massa-Alonso por um bom tempo, culparam incessantemente Verstappen até que se visse as imagens de Bottas.

Lance Stroll de fato é um piloto que não poderia estar na F1.

A maior e melhor surpresa da corrida — chutando o óbvio lá para longe –, foi a presença das duas Force India no top 5 e de uma sauber no top 7* (Werlhein, punido, entra como oitavo na classificação final).

A Force India, não é de agora, é o carro que mais consegue longos stints com um mesmo composto. E impulsionada pela força dos motores Mercedes será sempre uma das principais candidatas tirando as três equipes principais. Onde não poderiam chegar se os investimentos fossem menos discrepantes?

Quanto à Sauber, grata surpresa — e um dos sinais mais graves de quão pequena está a McLaren.

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Alonso, logo após a quadriculada, foi direto para Indianápolis. A missão está sendo levada muito a sério pelo espanhol. Na Fórmula 1 parece não haver mais futuro.

A Fórmula 1 2017 está de fato diferente — a nova visão de marketing, com camisetas para a torcida e crianças podendo conhecer seus ídolos, também –, mas não da forma clássica que se entende por ”boas corridas”. Como bem definiu Márcio Madeira, estamos num jogo de xadrez interessantíssimo, em que muitas variáveis são consideradas e trabalhadas.

A Fórmula 1 é, se não de fato, de direito um esporte coletivo. Basta ver toda a ideia de estratégia na corrida e planejamento pré-GPs. A Mercedes se obrigou a correr atrás para enfrentar a Ferrari.

As ultrapassagens de ontem, embora clássicas no sentido de não serem inventivas, aconteceram em momentos bastante cruciais. E as defesas de posição também — tanto Vettel vs. Bottas quanto Hamilton vs. Vettel.

https://youtu.be/UM4lwDdnAGY

Pode começar a acontecer, a partir de agora, um novo domínio dos alemães. Por outro lado, no 1 contra 1, Vettel parece estar atingindo Hamilton na parte mental, e hoje eu apostaria no alemão caso ambos chegassem nas provas finais com chances próximas de título.

Interessante ver que Vettel e Hamilton ainda se respeitam, mesmo com personalidades muito distintas. Mesmo não dando trela para o papinho pós-corrida de Sebastian (”não te vi, cara”), Lewis já declarou que é ele o piloto que mais respeita no grid.

Versão automobilística de Messi e Cristiano Ronaldo.

Um assunto levantado ontem pelo parceiro Mauro Santana: Vettel está resgatando a mística do ”Red Five”. A esse propósito, sugiro que os amigos [re]leiam a estupenda coluna de Manuel Blanco, lançada em 2012, quando Alonso fez uma das mais memoráveis temporadas individuais de sempre a bordo de um Ferrari 5.

Comentário aleatório e final: adoro ver Niki Lauda junto à equipe. Seu interesse e sua dedicação são impressionantes. Ontem, escutava Bottas como quem quer aprender algo novo.

Literalmente um cara que ”não precisava”. A prova de que grandeza é um conceito muito superior aos números e conquistas.

Todo ano tem um campeão mundial. Eu quero ir além disso”. Frase de Ayrton Senna que deveria ser o ‘motto‘ de Hamilton e Vettel em 2017.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

5 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Grande Marcel!

    A corrida foi bastante interessante, confesso ter ficado um pouco triste no final, pois esperava que os pneus do Hamilton chegassem no arame, e assim, Vettel poder ataca-lo no fim.

    Vettel esta guiando com a faca nos dentes, e Hamilton, de maneira muito discreta, porem, precisa.

    A ultrapassagem do Vettel, pra mim, foi especial, mesmo com os pneus do Bottas no fim, o alemão colocou duas rodas na grama, naquele ponto da pista, então, deixou claro o quanto Vettel esta determinado, e o quanto esta numa excelente fase da sua carreira.

    Gostei muito da entrevista dele que foi ao ar antes da largada, quando ele falou que aquela curva no trecho final(em que ele perdeu tempo que lhe custou a pole), que já percorreu ela umas 2, 3 mil vezes, e que mesmo assim, ainda não apreendeu a faze-la direito.

    Foi sincero e humilde em sua declaração.

    Mesmo tendo apostado no Kimi antes da temporada começar, minha torcida pelo título, esta com o Vettel.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Fernando Marques disse:

    Marcel,

    por motivos particulares nem pude chegar perto de uma TV neste fim de semana … estava pensando e nem fazer comentários sobre o GP da Espanha deste ano … mas acabei de ver os melhores momentos e 3 momentos da corrida me chamaram a atenção:

    1) A ultrapassagem de Vettel sobre Bottas … com certeza foi o momento mais belo da corrida … um verdadeiro show de perícia e de pilotagem do Alemão Chorão …

    2) A ultrapassagem de Hamilton sobre Vettel … a velocidade do Hamilton era muito maior e penso que Vettel nada pode fazer … aliás se tentasse alguma coisa não ia dar certo …

    3) Para quem tanto esperava um duelo entre Hamilton e Vettel, a narração do GB no momento em que este duelo acontece foi decepcionante … para a Formula 1 ficar legal, agora falta o GB se aposentar … coia que até o Tio Bernie já fez …

    No mais 5 corridas realizadas e 3 a 2 para Mercedes contra a Ferrari … o jogo por enquanto está pau a pau …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Bruno Black disse:

      Paz e bem a todos! Corroboro o 3º comentário de nosso amigo Fernando, a narração de GB na hora do tão esperado embate frontal dos multicampões foi uma lástima, eu pulava em meu sofá e o sr GB fazia aquela narração alá 7×1 da Alemanha! Naquele momento desejei parar de ver a corrrida e assistir mais tarde no canal fechado da carioca, coma a narração do sempre entusiasmado S. Mauricio, sempre no capricho, atento nas brigas da dianteira e fundão mas por ser uma corrida tão top, não consegui parar de assistir, minha paixão falou mais alto de novo. Contudo, penso seriamente em não assistir mais ao vivo as corridas e assistir no canal campeão. Forte Abraço á todos os amantes do automobilismo!

  3. MarcioD disse:

    Marcel,

    Bela vitória de Hamilton embolando e dando mais emoção ao campeonato.
    Drible bem legal de Vettel em Bottas, gostei também da disputa de posição dele com Hamilton na saída dos boxes, mostrou agressividade.
    Acho que este campeonato de pilotos vai ser decidido através de imprevistos como acidentes ou quebras.
    O de Construtores acho que a Mercedes vai levar fácil.
    A Red Bull está sendo a grande decepção este ano: Ricciardo em 3º bem atrás dos 2 primeiros. Achava que eles melhorariam muito, por causa do aumento de downforce(ponto fortíssimo deles) que veio com o novo regulamento.
    A F1 bem que poderia abolir o rádio, seguindo o exemplo da DTM este ano, sob o comando de Berger, só utilizando para segurança e comandos de entrada e saída de boxe. Os pilotos que se virem com as estratégias. Creio que daria mais emoção e baratearia a categoria diminuindo estruturas.

    Márcio

  4. Flaviz disse:

    Olha….Baita Corrida!
    Pena o Massa achar que chegaria em quarto. Falta noção da realidade pro rapaz.
    Agora é esperar a Indy 500!!! 😛

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