Andrea Dovizioso, o “operário da velocidade” na MotoGP!

Uma lenda em forma de V8 – Parte 1
05/06/2017
Falta um golpe
09/06/2017

Enquanto assistia ao Grande Prêmio da Itália de MotoGP, realizado no último domingo em Mugello, um amigo com a qual conversava fez uma observação muito pertinente: venceu o italiano que os italianos não queriam… e a Ducati que a Ducati não queria! Afinal, quem é esse Andrea Dovizioso que deixou todos os astros para trás?

Como puderam notar na minha coluna passada, gosto de torcer por pilotos diferentes além dos óbvios. É claro que o talento quase sobrenatural dos gênios é fascinante, mas as histórias de vida dos meros mortais, que precisam se virar com esforço e dedicação são tão legais quanto.

É nesse perfil que se encaixa o simpático Andrea Dovizioso, que sempre me lembra a expressão “Operário da Velocidade” na qual Téo José se referia ao nosso querido Roberto Moreno. Nascido em Forlimpopoli, na Itália, em 23 de março de 1986, “Dovi”, como é carinhosamente chamado cresceu em um país onde andar de motocicleta não é apenas um meio de transporte: É um estilo de vida.

Vendo ícones como Giacomo Agostini, Marco Lucchinelli, Franco Uncini, Luca Cadalora, Valentino Rossi e muitos outros, não é difícil imaginar como Dovizioso foi parar nesse meio. Depois de se apaixonar pelas minimotos com quatros anos de idade e ganhar diversas corridas locais entre 1997 e 1998, sua ascensão ao nível mundial foi meteórica.

Após ser campeão do “Aprilia Challenge”, no circuito de Misano em 2000, Dovizioso  venceu tanto o campeonato italiano quanto o europeu de 125cc no ano seguinte com relativa facilidade. O jovem de 14 anos, então resolveu dar um passo mais ousado e participar de sua primeira corrida no Mundial, estreando justamente no circuito de Mugello.

A sua primeira temporada completa foi em 2002 com o Team Scot Honda, uma equipe que iria acompanhá-lo por toda a primeira fase da carreira. A vida na categoria iniciante não começou fácil, no entanto. Seus melhores resultados foram dois nonos lugares e um não muito brilhante 16º na classificação geral.

Mas Dovizioso não é um cara que se abala com maus resultados. No ano seguinte, a melhora foi significativa: quatro pódios e uma muito melhor quinta posição geral. Em 2004, a sorte definitivamente voltou. Cinco vitórias e seis outros pódios lhe credenciaram ao título mundial das 125cc, derrotando nomes como Hector Barberá, Casey Stoner e um tal de Jorge Lorenzo.

No ano seguinte, Dovizioso mudou-se para a classe intermédiaria, as 250cc, então completamente dominada por Dani Pedrosa. Em 2006, apesar de vencer em duas ocasiões e subir ao pódio 11 vezes, o italiano acabaria ficando em 2º na classificação geral atrás de Lorenzo, piloto da poderosa Aprilia, chefiada por Gigi Dall’Igna, seu líder hoje na Ducati.

A situação se repetiu em 2007, com Lorenzo chegando ao bicampeonato na classe intermediária e Dovizioso precisando se contentar com o vice. Apesar disso o italiano não teve difículdades subir para a MotoGP em 2008, pelo mesmo Team Scot, em uma Honda particular.

Dovizioso não impressionava pela velocidade, mas pela constância com que pilotava, a suavidade com que tratava o equipamento e o bom feedback que trazia aos mecânicos, algo sempre imprenscindível para definir rumos de acerto. Em sua primeira corrida, o italiano chegou em um ótimo quarto lugar.

Essa regularidade se repetiu ao longo do ano, onde constantemente se posicionou entre 4º e 5º lugares, conquistando o seu primeiro pódio em Sepang. Além de ficar em uma excelente quinta posição no campeonato, os japoneses da Honda o escolherem para substituir Nicky Hayden, de saída para a Ducati em 2009.

E foi em 2009 que Dovizioso chegou à sua primeira vitória na MotoGP, em um chuvoso GP da Inglaterra, em Donington Park. No ano seguinte, veio a primeira pole, no Grande Prêmio do Japão, em Motegi. Contudo, apesar de ficar em 3º no campeonato de 2011, Dovizioso acabou perdendo seu lugar na Honda, que decidiu competir com apenas Stoner e Pedrosa em 2012.

Uma rejeição dessas costuma abalar o psicológico de um piloto, muitas vezes iniciando uma fase decadente. Mas esse não foi o caso de Dovizioso, que se refugiou na competente, porém modesta Tech3 Yamaha. E na equipe particular de Hervé Poncharal, o italiano continuou dando um show de regularidade, somando vários pódios e encerrando o ano em quarto, à frente do então novato, Cal Crutchlow, de Valentino Rossi (penando com a Ducati) e de Ben Spies, companheiro do campeão Lorenzo na marca dos diapasões.

Rossi, que passava por maus bocados na Ducati decidiu retornar à Yamaha em 2013. Sem muitas opções, a marca de Bolonha optou por Dovizioso, graças à sua fama de bom desenvolvedor e acertador de motos. E foi aí que  o piloto começou a mostrar realmente o seu valor.

Quando Dovizioso chegou à Ducati, a Desmosedici era uma máquina praticamente impossível de controlar. Nessa época, chegar ao pódio era quase uma vitória. O italiano, no entanto, sentou-se com sua equipe e todos começaram a tramar um longo plano de reestruturação para os anos seguintes.

Os resultados apareceram já em 2014. Com a muito melhor GP14, Dovizioso voltou a ocupar as cinco primeiras posições com regularidade, atingindo o seu primeiro pódio pela Ducati no GP de Austin e a primeira pole position em Motegi, o que não acontecia desde os tempos de Stoner.

Com larga experiência em motos Honda e Yamaha, Dovizioso tentou trazer um pouco da abordagem “japonesa” à Ducati, preservando a potência da Desmosedici, mas com um pouco mais de suavidade em curvas. O resultado foi a GP15, que colocou na pole position para a primeira prova de 2015, no Catar. Na corrida, o italiano realizou um intenso duelo com Rossi chegando em segundo. Outros quatro pódios viriam ao longo do ano.

Apesar de ter sido o responsável pelo renascimento da Ducati, o destino quis que fosse seu companheiro Andrea Iannone o primeiro vencedor dessa nova fase, cruzando a linha de chegada do GP da Áustria do ano passado em primeiro. Dovizioso teve de se contentar com a segunda posição.

A recompensa por tanto esforço finalmente veio em Sepang. Em uma corrida de condições climáticas instáveis, prevaleceu o estilo suave de Dovizioso que, ao contrário de Iannone, soube manter a calma e conservar os pneus, em meio ao asfalto úmido. Foi sua primeira vitória desde o GP da Inglaterra de 2009!

Portanto, para quem conhece sua história, faz todo o sentido que Dovizioso tenha sido o escolhido para ser companheiro de Lorenzo em 2017. Também não é surpreendente a sua espetacular vitória no último domingo em Mugello. Largando da sexta posição e lutando contra problemas estomacais, o italiano quase não participou da prova, mas conseguiu reunir forças para superar Lorenzo, Rossi, Danilo Petrucci e Maverick Viñales, com a máquina com a qual acreditou no potencial, lá em 2013. Que venham mais!

Até a próxima!

Lucas Carioli
Lucas Carioli
Publicitário de formação, mas jornalista de coração. Sua primeira grande lembrança da F1 é o acidente de Gerhard Berger em Imola 1989.

1 Comment

  1. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    não conhecia o histórico do A. Dovisioso … o cara é bom … achei super bacana a vitória dele em Mugello e digo mais, quanto mais forte for a Ducatti melhor para o campeonato mundial há anos nas mãos apenas da Honda da e Yamaha.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *