Nada fácil

Respeito e reverência
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Dilema
18/05/2012

Foi lindo ver Pastor Maldonado vencer domingo. Certamente se fosse Bruno Senna a cruzar a linha de chegada em 1ª o Brasil viria abaixo. Mas... e se fosse Rubens, o velho quase quarentão Rubens?

 

Às voltas com uma adaptação que aparentemente não está sendo moleza na Fórmula Indy, não deve ter sido fácil para Rubens Barrichello ver Pastor Maldonado vencer o GP da Espanha com tanta propriedade. Isso deve ter feito Rubens envelhecer ainda mais, amargurado por pensamentos que não vêm de sentimentos pequenos, espero, mas sim da sensação de ter estado lá e sentir ainda poderia estar lá

Imagino o furacão de lembranças que o mais longevo de todos os pilotos brasileiros na F1 – 322 largadas! – deve ter sentido ao ver as imagens do carro azul e branco derrotando o vermelho malvado, aquele que tanto o maltratou e do qual tanto tem saudade.

Rememorar as passagens em que por pequenos ou grandes detalhes perdeu a chance de se cobrir de glória deve ser uma rotina que Rubens tenta evitar, mas não consegue. Foram muitos anos, acontecimentos, alegrias e dores. E um final não planejado, mas compulsório: ele queria continuar na F1, mas não mais o quiseram por lá.

Certamente esta inesperadamente competitiva Williams é, em algum percentual,  herdeira de seus anseios. De carro medíocre em 2010 e 2011, se transformou em vencedor em 2012 e por mais que tenha mudado tecnicamente, será impossível não imaginar que, de alguma forma, nessa reencontrada competitividade, há dedo de Rubens.

E como em pesadelos recorrentes, isso já  havia acontecido antes. E Rubens não estava fora, como agora, mas dentro. Falo da Brawn, que dos restos da sofrível Honda fez um carro campeão, que deu ao paulistano a última de suas vitórias na F1, no GP da Itália de 2009, no lendário circuito de Monza, a pátria de seus ancestrais. E também a real chance de ser campeão, uma inesperada e tardia chance mas que foi palpável – e perdida. Com certeza doeu mais não ser campeão com a Brawn, perdendo para Jenson Button, do que não ser campeão na Ferrari, perdendo para Michael Schumacher.

Não é qualquer mané que tem no seu currículo onze vitórias na F1. Um b… qualquer não se transforma em vice-campeão da maior categoria do automobilismo mundial duas vezes. Na véspera de completar 40 anos – dia 23 de maio próximo – Rubens (detesto chamá-lo de Rubinho…) sorrirá, olhará para trás e verá que fez o possível. Será agradado, confortado, comemorado, mimado, homenageado mas… domingo passado sofreu ao ver o garoto, o ex-companheiro Pastor, vencer.

Sabe que poderia fazer igual, sabe que teve chance de fazer igual – e fez, onze vezes. Só que, agora, realiza que seu tempo passou. E isso deve doer pois ele, como todos os outros que  estiveram na F1 e dela saíram sem o título de campeão mas que passaram bem perto de conseguirem, convivem com um “caroço” na mente: por que cheguei tão perto e não consegui?

Na mediocridade das nossas corriqueiras atividades profissionais – ser funcionário, ser mais um, ser meramente mais um na nossa área –, a dor da possibilidade perdida não é tão cruel. Porém, chegar à F1, sentar nos melhores carros, viver o “grand monde”, ver colegas de equipe atingirem em cheio o alvo e você não é crudelíssimo.

Nunca pertenci ao fã clube de Rubens Barrichello. Quando ele chegou à F1 meus ídolos no automobilismo já haviam se aposentado. Um deles, veja você, foi um dos que acreditaram no taco de Rubens: Sir Jackie Stewart. Todavia ao apedrejamento do rapaz também jamais compareci, sabendo que o que mais o atrapalhou na carreira não foi falta de talento mas sim o cruel comparativo ao qual nossos compatriotas o submeteram. Nada fácil herdar o trono de reis como Fittipaldi, Piquet e Senna, certo? E fora isso, a língua de Rubens, as declarações inconvenientes em momentos mais inconvenientes ainda.

Porém, a Rubens Barrichello o que é de Rubens Barrichello: ninguém permanece tanto tempo na F1 se não for um piloto especial, um ungido pela fada com talento superior, talento este que eu, você e mais a grande maioria dos que gostam de automobilismo adoraríamos ter ao menos um décimo.

Foi lindo ver Pastor Maldonado vencer domingo. Certamente se fosse Bruno Senna a cruzar a linha de chegada em 1ª com a Williams o Brasil viria abaixo. Eu particularmente estaria enjoado nesse instante de tanta babação global em cima do primeiro-sobrinho. Mas… e se fosse Rubens, o velho quase quarentão Rubens?

Poderia ter sido, mas não foi. E não deve ter sido nem estar sendo nada fácil ser Rubens Barrichello e ver este inesperado 2012 da Fórmula 1.

Roberto Agresti

Roberto Agresti
Roberto Agresti
"Rato" de Interlagos que, com sorte (e expediente), visitou profissionalmente Hockenheim, Mônaco, Monza, Suzuka e outras. Sempre com uma câmera na mão e uma caneta na outra.

5 Comments

  1. Lucas disse:

    Não entendo como ainda há quem diga coisas como ”há dedo de Rubens”, ”o que Rubens faria com esse carro…” e afins. É sabido e visto o que Rubens faria. Seria vice-campeão, ou nem isso, como em 2000, 2001, 2003, 2005, 2009, quando teve carros dominantes e não soube fazer frente aos companheiros. E não era quem dizia, em fins de 2010 que o carro bom mesmo seria o de 2011? E já se deram ao trabalho de comparar os resultados de 2011 com os de 2010? Pois é.

  2. Mauro Santana disse:

    Amigos do GPTotal!

    Minha opinião!

    Uma coisa foi Barrichello ter de enfrentar o Schumacher na Ferrari, outra coisa foi ele nem conseguir o vice campeonato pela Brawn enfrentando Button, que vamos e venhamos, não era nenhum “bicho papão”.

    E não me venham com aquele papo, “Ah, mas o Button é inglês, e por isso, a equipe inglesa facilitou”.

    Piquet teve o mesmo problema na Williams, e todos sabem o resto da história.

    A verdade, é que o bonde do Barrichello passou pra ele já faz tempo na F1, e infelizmente, ele nunca irá perceber isso.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

  3. Fabiano Bastos disse:

    Realmente deve estar sendo duro para o Rubens assistir a todo o sucesso que a Willians vem alcançando nesta temporada. Mas deve estar sendo mais duro ainda para a direção da equipe saber que com um piloto um piloto mais experiente eles já poderiam ter ido muito mais longe, pois o carro era muito bom desde a primeira corrida e somente agora, na quinta prova, é que conseguiram colher bons frutos, mas somente com um dos carros. Não tenho nada contra o Bruno, muito pelo contrário, mas tenho certeza que fosse o Barrichello conduzindo sua Willians, a equipe estaria mais perto do topo da tabela dos dois campeonatos.

  4. Allan disse:

    Realmente há uma “sina” que o persegue – basta lembrar que mesmo MUITO superior à Herbert em 99, foi este quem deu a única vitória à Stewart… Mas o inglês não era um qualquer, como Button também não o é – o (pouquíssimo) tempo que separou seu título da primeira vitória da McLaren (e a segunda, terceira… o vice no ano passado…) mostrou o quanto Rubens teve adversários muito fortes side-by-side nos boxes… Nunca critiquei o Maldonado, pelo contrário, sempre o via como um Hamilton de sangue latino, e o também mínimo tempo de F1 mostrou que eu estava certo. Com um bom carro (veja, NÃO o melhor, aliás, no máximo em Barcelona um dos 5 melhores) venceu soberbamente. Talvez nem Hamilton pudesse vencê-lo naquele dia (ok, Lewis conseguiu terminar na frente de Button, mesmo largando em último, com uma parada a menos! Ou seja, poupando pneus, que jamais foi sua praia… Se tivesse mais uma parada, com direito a queimar bastante borracha, seria sim mais candidato a vitória do que qualquer um). Mas é talvez. A glória é do valente Maldonado.
    Quanto a coluna, Agresti, simplesmente perfeita. Pensei bastante nisso esses dias pós-Barcelona, sobre o azar de Rubens, mas sinceramente acho que Maldonado evoluiu ainda mais do que ano passado. Mas é certo que, com um carro desses, Rubens beliscaria talvez um pódio de despedida…

  5. Fernando Marques disse:

    Roberto,

    o que realmente está acontecendo na Formula 1 este ano? … Em 5 etapas realizadas, 5 vitorias de pilotos e equipes diferentes … ressucitação de mortos (no caso da Willians) … a Sauber andando bem, a Lotus perto de uma vitoria, a RBR sofrendo, a Mclaren sofrendo, a Ferrari ora anda bem ora anda mal … estaria isto tudo acontecendo por causa dos pneus Pirelli que funciona bem para uns numa pista e bem para outros em outra pistas? … Ou será que neste ano existe mesmo equilibrio de forças entre as equipes? …
    Com relação ao Barrichello, creio que a historia dele na Formula 1 acabou de vez… não tem volta … e que ele consiga ao menos ser tão feliz na Indy como ele diz ter sido na Formula 1 … se não for campeão, que conquiste vitorias e vices campeonatos …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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