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Praticamente todos os acidentes seriam evitáveis... se os pilotos se inibissem de disputar as posições.

Jimmy Doyle era um jovem boxeador com muito talento, cuja boa trajetória no ringue lhe havia levado à condição de desafiante ao título mundial dos pesos welter. No entanto, conseguir esse título não seria tarefa nada fácil, pois o vigente campeão era nada menos que Ray “Sugar” Robinson.

O combate foi programado para o dia 24 de junho de 1947 em Cleveland, e Robinson mantinha clara vantagem nas apostas. Desde o principio do combate, Robinson não deixou dúvidas respeito ao seu favoritismo, dominando o adversário em todo momento. Doyle, com valentia, tentava reverter a situação, mas Robinson lhe estava submetendo a um duro castigo.

Assim, chegou o oitavo assalto e tudo continuava igual até que Robinson desfere um poderoso gancho de esquerda que envia o pobre Doyle à lona. O juiz do combate logo inicia a contagem: um, dois, três, quatro…

Mas Doyle permaneceria imóvel até o fim, momento em que o juiz decreta sua definitiva derrota. As assistências logo tratam de reanimar Jimmy, mas seus esforços são em vão e o jovem é levado de urgência ao hospital onde viria a falecer poucas horas depois, sem haver recobrado a consciência.

Como de praxe nesses casos, um inquérito se inicia para apurar possíveis responsabilidades penais e o juiz encarregado do caso começa a tomar depoimento aos diferentes implicados.

Quando é a vez de Robinson, este relata seu combate com Doyle com tantos detalhes que o juiz, surpreendido, lhe pergunta: – Mas… sr. Robinson! O sr. não percebeu que seu rival estava em más condições?

Robinson, ainda mais surpreendido com a pergunta lhe responde:

Meritíssimo, claro que eu percebi! Mas é que a mim me pagam para deixar meus rivais em más condições. O boxe é assim mesmo!

Nas últimas temporadas temos assistido um crescente aumento no número de punições dispensadas aos pilotos por ações acontecidas durante as corridas. Tantas que resulta inevitável pensar se são demasiadas, e se isso tem favorecido as corridas em si mesmo ou até o próprio espetáculo.

Em poucos anos, as punições passaram de ser algo reservado às mais flagrantes transgressões, a serem impostas de modo generalizado e, em muitas ocasiões, em base a simples interpretações subjetivas que acabam gerando muita controvérsia.

Assim, por exemplo, na temporada de 2003 apenas dois drive-through foram impostos: um na Malásia a Michael Schumacher por golpear a Trulli, e outro nos EUA a Montoya, por colidir com Barrichello (depois da corrida se concluiu que ambos foram responsáveis da colisão, e a FIA anuncia que, a partir de então, as punições seriam revisadas depois das corridas).

Apenas uma década depois, temos que, na passada temporada de 2013, nada menos que 22 drive-through e 3 stop and go (mais uma punição em forma de adição de tempo a Vergne depois da corrida) foram impostos a 14 dos 23 pilotos que participaram, o que representa mais da metade do grid.

Em 2012, 26 foram as punições dispensadas em total, e 35 em 2011. Na maioria dos casos, as punições se correspondiam com o que a FIA define eufemisticamente como “acidentes evitáveis”. Nos primeiros 5 anos desde a implantação do drive-through em 2002, apenas 5 pilotos haviam sido castigados por alguma colisão ou incidente, enquanto que, em 2011, Lewis Hamilton sozinho, recebeu 5!

Antes do começo da temporada de 2013, houve uma reunião “secreta” à que assistiram Todt, Whiting, pilotos, diretores de equipe e fiscais, durante a qual se acordou que estes últimos seriam mais condescendentes com o que acontece na pista para, assim, animar os pilotos a que fossem mais combativos.

Não quero nem pensar quantas punições teriam aplicado se esta tal reunião não se houvesse celebrado!

Mas a questão é mesmo o próprio conceito de “acidente evitável”, que, além de subjetivo, me parece algo simplesmente ridículo pois, praticamente, todos os acidentes seriam evitáveis… se os pilotos se inibissem de disputar as posições.

Bastaria que deixassem de fazer o que se espera que façam: competir! A diferença entre um incidente de corrida e um acidente evitável pode resultar tão sútil que, inevitavelmente, acaba sendo um terreno muito fértil para a controvérsia.

Cenas do próximo capítulo na próxima sexta-feira, dia 07 de março.

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

3 Comments

  1. Fabiano Bastos das Neves disse:

    Manuel,
    Não vejo como comparar a acusação ao boxeador com as punições dos pilotos.
    Concordo que os comissários têm perdido a mão. Mas pilotos não são pagos bater seus carros, não é uma questão somente de medida, mas de intensão.
    Aponto ainda que moribundo alemão tem muita participação nesta virada das punições, assim como Senna e Prost (estes em menor escala). As cenas protagonizadas por eles, Senna e Prost entre si, e Schumacher com a participação involuntária de Hill e Villeneuve, certamente são a origem de tudo isto.
    Disputas como a do Villeneuve (o pai) X Arnoux em Dijon, ou a de Massa X Kubica em Suzuka , não podem ser tratadas como aquelas manobras envolvendo os três multicampeões que mancham suas carreiras.
    Porém, só quem tem a função de punir sabe como é difícil encontrar a medida certa.

    • Manuel disse:

      Oi Fabiano,

      Muito obrigado pelo seu comentário.
      Por favor, espera pela segunda parte.

      um abraço, Manuel

  2. Mauro Santana disse:

    Grande Manuel!!

    Darei minha opinião na sexta próxima.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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