GP total!

A pausa
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A maior das rivalidades
30/07/2014

O campeonato lembra 88, Hamilton no papel de Senna, Nico no de Prost. No final, como em 88, acho que vai dar Hamilton.

Seria bom se fosse sempre assim.

Os carros correndo muito próximos, em uma pista difícil e traiçoeira, coisas acontecendo o tempo todo, nenhuma delas podendo ser considerada artificial, acidentes, erros, por vezes grosseiros, e surpresas, trocas frequentes de posições, cada uma delas tendo de ser duramente disputada, sem que a hierarquia tradicional de equipes seja obedecida, táticas e estratégias diferentes.

Isso é mais um final de tirar o fôlego, os oito primeiros colocados lutando até a última curva por posições.

Mas não nos iludamos além da conta.

O belo GP da Hungria só foi o que foi por conta das falhas dos Mercedes. A F1 real ainda é a dos quase dez segundos de vantagem abertos por Nico Rosberg nas voltas iniciais, a da grande facilidade com que Lewis Hamilton recuperou as posições perdidas no treino infeliz e também a dos mais de 20 segundos que Nico descontou nas voltas finais.

Mas há esperanças: não é mais possível ignorar que os Mercedes estão se tornando mais frágeis na medida em que o campeonato avança. E, na Hungria, os problemas vieram mesmo em um dia frio.

Que a equipe vai levar os Mundiais de Construtores e Pilotos não se discute mas o fator fragilidade certamente vai trazer mais surpresas e estender a disputa entre Nico e Hamilton até o final.

O campeonato segue atormentado para o inglês, desempenhos maiúsculos alternando-se com jornadas desastradas.

A trajetória de Hamilton lembra a de Ayrton Senna em 88, da mesma forma que a de Nico sugere a implacável eficácia de Alain Prost: este foi apenas o segundo GP do ano que o alemão não termina em 1º ou 2º.

Como em 88, aposto que, no final, vai dar Hamilton.

A expressão da excelência da Mercedes: sob ameaça de chuva, Nico foi o primeiro da fila para entrar na pista no Q3.

A expressão da improvisação da Mercedes: será que ela será capaz de atrapalhar mais os seus pilotos com esta política errante de ordens dentro da equipe?

E o que diriam os grandes campeões do passado se ouvissem Rosberg no rádio, perto do meio da prova, perguntando ao seu engenheiro: “o que faço agora?”

(Para piorar a situação do alemão, momentos depois Hamilton rebarbou a recomendação dos boxes e permaneceu na pista, retardando seu último pit stop, uma decisão que pode ter lhe garantido o 3º lugar na corrida.)

Nico, no entanto, se redimiu com as suas voltas voadoras no final da prova. Mas fica a dúvida: será que ele é um piloto superior apenas quando corre sem oposição?

E aí vem Daniel Ricciardo e passa todo mundo, combinando destreza, inteligência e coragem, impondo-se a Fernando Alonso e Hamilton, pilotos que, somados, contam 59 vitórias na F1.

Qualquer um dos três poderia ter vencido a corrida e teria sido um resultado elogiável. Mas foi de justiça – coisa rara no esporte – que tenha sido Ricciardo: foi ele quem mais liderou ontem, sinal de que soube combinar melhor que todos os demais os elementos decisivos, a partir das falhas dos Mercedes.

Um fecho de ouro para uma grande corrida, um GP total!

Estariam os alemães criticando tanto Sebastian Vettel quanto nós, aqui no Brasil, criticamos Felipe Massa?

Eles, tanto quanto nós, têm motivos de sobra pra massacrar o tetracampeão, obrigado de forma implacável a comer poeira do companheiro de equipe.

Mas o que um comentarista responsável pode dizer a Vettel e Massa? Tenho me perguntado isso em relação ao brasileiro desde a temporada 2010. Não encontro resposta.

Talvez o melhor seja deixa-los quietos, ruminando os próprios problemas.

Mas me permitam um comentário sobre Massa e seu acidente na Alemanha: bater na largada quando se está forçando em busca de posições é uma coisa; bater quando se está aliviando é outra…

E é quase um deboche considerar como “cautelosa” a largada do brasileiro na Hungria. Covarde seria um termo melhor.

A Hungria redimensionou a Williams na temporada. Não creio que a equipe possa ser considerada a segunda força da temporada. Ontem, houve a tática pouco eficiente de pneus mas, o GP ratificou a certeza de os Williams não são bons em pistas travadas.

Mesmo assim impressiona a informação de Luis Fernando Ramos, via Rádio Bandeirantes: o Williams de Massa com a asa fechada era mais rápido na reta do que o Ferrari de Kimi Räikkönnen com a asa aberta.

Mais uma vez, vemos um dos protagonistas da prova (Hamilton) fazer praticamente toda a corrida com as asas dianteiras danificadas. Será que elas, com as suas infinitas curvas, saliências, recortes e apêndices, precisam ser tão complexas assim?

Acredito que, no ambiente controlado de um túnel de ventos, demonstra-se matematicamente que três superfícies curvas e cheias de recortes oferecem melhor desempenho do que asas retas, como se via nos anos 80. No calor da pista, no entanto, parece claro que a turbulência gerada pelos carros em volta e a capacidade dos pilotos torna tamanha sofisticação desnecessária.

Fica a pergunta: será que as asas dianteiras não representam para o automobilismo o mesmo que a burocracia para tantas atividades humanas: uma vez que ela se impõe, passa a ser a principal causa da própria continuidade.

Frequentemente enxovalhado, Hungaroring tem seus encantos.

É muito bonito o trecho inicial do miolo, aquele iniciado depois do segundo grampo após a largada (creio que as curvas, por lá, não têm nome), a descida leve, a curva à direita em aceleração, a subida em S, com árvores ao redor, a curva à esquerda ultrarrápida, a freada forte para a parabólica, a chicane bem apertada, onde Senna e Gerhard Berger detonaram Alessandro Naninni e Nigel Mansell no GP de 90.

E não nos esqueçamos, nunca: Hungaroring foi sede de duas das mais belas ultrapassagens da história da Fórmula 1: Nelson Piquet x Senna em 86 e Mansell x Senna em 89. Não pode ter sido só uma coincidência…

A Ferrari está testando na Marussia alguns aperfeiçoamentos discretos para os seus motores.

Será mesmo verdade que Hamilton não conseguia desligar seu carro, quando o fogo irrompeu na traseira do Mercedes?

Frankenstein! Frankenstein!

A cara de pau de Bernie Ecclestone: “Bernie says: think before you drive”!

Na essência, a mensagem está 100% correta. Na prática, é um deboche ver Bernie propagando tal comportamento, como se ele fosse exemplo para alguma coisa.

Mas ainda há pessoas que dizem a verdade de uma forma simples, direta – e engraçada.

Por exemplo, Niki Lauda dizendo que a Ferrari “fez um carro de m…”

Os olhos de Frank Williams – e também os de Lauda – me lembram a frase de Roy Batty, o replicante de Blade Runner: “eu vi coisas que vocês nunca acreditariam…”

Boa semana a todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

10 Comments

  1. Sandro disse:

    Quando vai acabar essa regra ridicula de ter que usar dois tipos de compostos diferentes de pneus? E o pneu usado no treino classificatorio tem que usar na corrida? Fala serio, hein?!
    Parodiando Luis Alberto Pandini: “Que regulamento de m*****!”
    A chuva e o safety-car mudaram o destino da corrida magiar! Ia ser mais um passeio das Flechas Prateadas! E Riccardo aproveitou a chance e venceu! Destaque para El Choronso de las Asturias terminar em segundo lugar com um Cavalinho Decepcionante! E Hamilton chegando em terceiro lugar largando dos boxes foi incrivel! E recusou a ordem de equipe para deixar Nico passar e terminar na frente!
    Alonso aproveitou para cutucar Vettel e elogiar Ricciardo!

  2. Lucas dos Santos disse:

    A chuva, somente ela para “esquentar” as coisas em Hungaroring!

    A briga entre os pilotos da Mercedes está interessante, acirrada e apertada. E acredito que continuará assim até o final.

    Mas não esqueçamos que, neste ano, a última prova valerá o dobro de pontos. Será que essa nova regra poderá mudar os rumos do campeonato e talvez tirar um título quase certo das mãos de algum dos pilotos?

  3. Salvador Costa disse:

    Perfeita análise, Edu! Nas Condições Normais de Temperatura e Pressão, as Mercedes continuam imbatíveis. E me parece que as coisas entre Hamilton e Rosberg vão se encaminhar para uma estória parecida com a Senna e Prost. No começo dos campeonatos – pode ser até de kart indoor – tudo são flores. Quando vai chegando seu final o negócio esquenta.

  4. Mário Salustiano disse:

    Edu e amigos

    um outro fato que mostra que a inocência muitas vezes é ultrajada de forma até abjeta para nós torcedores.
    No inicio do ano foram tantas as loas de elogios a atitude da Mercedes em não dar ordens aos seus pilotos, e agora vem Toto Wolff admitir que em caso de “necessidade” vai repensar essa coisa de não dar ordem para troca de posições na pista…e fala isso com o campeonato de construtores e pilotos assegurado

    boa semana a todos

    Mário

    • Mauro Santana disse:

      Pois é Mario

      Rosberg é alemão e esta numa equipe alemã, então Hamilton vai ter que se virar nos 30, como fez Nelson Piquet em 87 na Williams.

      Mas, exite uma grande diferença entre Piquet e Hamilton, e a atitude do piloto inglês de ir embora do autódromo depois que seu carro pegou fogo, mostra como ele é fraco psicologicamente.

  5. Edu cada dia mais poético e preciso.
    A última frase do texto é ouro puro.

  6. Lucas Giavoni disse:

    Apenas uma info extra sobre essas mensagens do hipócrita Tio Bernie.

    Como a zoeira não tem limites, picharam uma das faixas escritas “Think before you drive”, transformando-a em “Think before you BRIBE” – “Pense antes de subornar”.

    A lembrar: Bernie enfrenta um processo cabeludo na justiça alemã por conta do pagamento de 45 milhões de euros a um banqueiro para facilitar a venda de ações da F1 em 2006.

  7. Fernando Marques disse:

    Não resta duvidas que foi uma corrida muito boa de se ver … mas não resta duvidas que se a historia da corrida foi principalmente escrita por causa do clima de chuva … a Formila 1 com chuva fica mais nivelada … os fracos ficam mais perto dos fortes …
    O D. Ricciardo está surpreendendo a todos … principalmente o Vettel … em ritmo de corrida … mas era de se esperar um bom desempenho das RBR’s … seus carros são os melhores de curva … e Hungaroring beneficia aqueles carros que são bons de curva …
    A Mercedes tem mostrado algumas fragilidades mas será que estas ocorrências não seja consequência que seus adversários estão melhorando ?
    ,,,
    Com relação a pergunta da asa dianteira creio eu que atualmente qualquer dispositivo aerodinâmico que permita ao carro ser nem que seja 0.001 s de ganho vai ser sempre usado pela Formula 1 … são dispositivos que só dão a ganhar, nunca o que perder.

    A largada do Massa foi mais covardia do que cautela … concordo plenamente … mas acho que para ele foi melhor ser covarde e continuar na corrida e somar pontos do que novamente bater e ficar fora na 1ª volta … reconheçamos que desta vez ele fez uma boa corrida …

    Fernando Marques

    Niterói RJ

  8. Mauro Santana disse:

    Belo texto Edu!

    E foi sim um belo GP, coisas que na Hungria é sempre ou 8 ou 80, ou tem corrida boa, ou tem corrida chata.

    Ricciardo esta andando muito e fazendo jus a chance que esta tendo na RBR, agora Vettel teria que estar andando no mesmo nível ou acima dele, pois o cara é tetracampeão, ou será que ele só conquistou tudo isso quando teve nas mãos o melhor carro!?

    Sempre comentei que, pra considerar o Vettel entre os melhores dos melhores, ele teria que mostrar toda a sua força andando num carro que fosse o segundo ou o terceiro mais rápido do grid, como faz à tempos Fernando Alonso.

    Quem deve estar gostando da surra que o Vettel esta tomando, é Mark Webber…

    O Massa pelo visto só vai subir ao pódio ou vencer um GP novamente, se os carros a frente dele quebrarem, pois ele não consegue atacar ninguém.

    Ontem, quando ele fez o seu ultimo pit stop, o Galvão Bueno falou na narração “O Massa vem tirando a diferença para Bottas, e logo logo estará colado em seu companheiro”.

    Quando finalmente, depois de umas duas ou três voltas a câmera focou o brasileiro, ele estava uns 3s atrás do Bottas e com o Raikkonen colado no seu cangote.

    Realmente, Vettel e Massa tem muito para mostrar….

    Quero que o circo da Mercedes pegue fogo, e que os dois pilotos se moam no cacete pela disputa do título.

    E quando me criticam por eu comentar que antigamente os pilotos tinham “atitudes” e que os de hoje em dia são uns chorões, é por escutar exatamente um piloto que esta liderando o campeonato perguntar ao seu engenheiro “o que faço agora?”.

    Sabe o que você faz agora Nico Rosberg!?

    Senta e chora!!!!

    Falta para muitos pilotos de hoje em dia ter ATITUDE, e por isso que pra mim o Fernando Alonso é disparado o melhor piloto deste grid!!!

    E realmente Edu, você tem razão, frase melhor não há para descrever as palavras de Niki Lauda e Frank Williams, rsrs.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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