A culpa foi do Zidane…

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As Teorias da conspiração têm uma função social importante: elas acalmam os ânimos, e alentam nossa insatisfação com a realidade.

Já li de tudo: que a ida do homem à lua foi, na verdade, uma aterrissagem no deserto do Atacama, no Chile, e que Paul McCartney está morto, tendo sido substituído por um sósia desde seu óbito, em 1966. Teorias e mais “teorias da conspiração”, tentando explicar o inexplicável – ou, às vezes, simplesmente inventando histórias mirabolantes.

No esporte não haveria de ser diferente. Na última sexta-feira, recebi o seguinte e-mail: “Copa das Confederações foi comprada, vejam! Talvez, isso explique a razão do jogador Sergio Busquets ter declarado a seguinte frase: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu na Copa das Confederações, ficariam enojadas”

Parei nesse primeiro parágrafo. Trata-se de uma cópia (mal feita) de um texto (mal feito) que circula na internet há 15 anos: desde a Copa de 1998, quando, em placar idêntico ao da final das Confederações-2013, o Brasil havia sido derrotado. Tudo é igual nos textos: desde a ‘frase indignada’ do atleta, até os valores pagos e recebidos.

Vejo em tudo isso uma forma de enganar a si mesmo, e se transformar numa espécie de “corno do entretenimento”: você cria explicações para aquilo que, simplesmente, não aceita como verdade: porque o Brasil é “o país do futebol”, enquanto que a França… “ah, lá eles fazem baguetes“.

Outra disputa que teve as teorias conspiratórias como explicação foi a luta entre Anderson Silva e Chris Weidman, pelo UFC: o lutador brasileiro, invicto havia seis anos, foi derrotado de maneira relativamente fácil, após ter “abusado” das provocações. Depois da queda, uma onda de críticas e explicações circularam na internet: Anderson Silva vendeu a luta – para dar mais graça ao UFC e vencer sua revanche de modo incontestável.

httpv://youtu.be/KDWJEWVhANg

Em comum entre o título da Copa das Confederações e o cinturão do UFC: brasileiros envolvidos na jogada. O diferente: num, vitória; noutro, derrota. Nos dois casos, porém, tenta-se “explicar o inexplicável”: na luta, o “invencível” perder só pode ser armação; no futebol, como reza o e-mail que citei acima, “compraram o título para calar os protestos“.

Tudo isso tem conexão com a Fórmula 1.

Na última corrida, Massa abandonou de forma estranhíssima: uma rodada ao fim da reta, sem conseguir retomar à pista. Um erro grosseiro, fato: mas foi  do piloto ou da equipe? Para muitos foi, na verdade, a revelação de mais um ‘escândalo’ ao estilo 12 de julho de 1998: “Sabotagem, porque estava na frente de Alonso!!!“, escreveram muitos internet afora.

Creio que, como acontece com os estereótipos, tudo tem não um fundo de verdade, mas um “estopim”, algo que leva à generalização. Explico: jogadores de futebol argentinos, por melhores e mais leais que sejam, sempre serão “catimbeiros”, “violentos”, “dissimulados”, etc. Evangélicos, por mais “cabeça aberta” e solidários que sejam, sempre serão “ignorantes” e “preconceituosos”.

Não adianta – e quem me conhece sabe que não sou contra argentinos nem cristãos-protestantes.

Casos recentes de armações ou resultados modificados mancharam a reputação da Fórmula 1.

Na verdade, como que “comprovaram” que a F1 é mesmo um mar de apostas: há teorias da conspiração dando conta, por exemplo, de que o campeonato mundial de 2007 – aquele em que a McLaren perdeu os pontos dos construtores em razão do episódio de espionagem – foi “entregue” por Lewis Hamilton como pagamento à não exclusão da McLaren da Fórmula 1: aquele erro do inglês, na China, foi visto como uma armação.

De fato, a seleção brasileira ter vencido – e ainda mais daquela forma – a espanhola na final das confederações foi uma surpresa: a equipe brazuca vinha demorando para se acertar – passou mais de 3 anos sem vencer uma equipe campeã mundial – e iria enfrentar uma equipe invicta nesse mesmo período e atual detentora da Copa do Mundo e Eurocopa.

Mas uma série de fatores contribuiu para que aquilo se desse: a motivação dos jogadores dentro de campo (vencer aqueles que são considerados os melhores) e fora dele (com a situação do país), o imprescindível fator “casa” (70 mil torcedores apoiando e… cantando o hino!), o natural desprezo que europeus têm por esse tipo de competição aliado às festas durante as duas semanas de torneio, sem contar a exaustão física e, principalmente, a aplicação tática e o talento dos jogadores brasileiros.

Em outras palavras: por pior que a Seleção estivesse, não era uma reedição de Barcelona vs Santos.

Por outro lado, ver Felipe Massa cometendo erros como aquele de Nürburgring não é (nada) anormal. Crer na teoria da conspiração a fim de defender o piloto brasileiro me parece muito mais uma tentativa tola de se negar a realidade do que uma análise do que de fato acontece.

httpv://youtu.be/b6nbudb2wLk

Na última semana, vieram à tona contratos de Ayrton Senna e de Nelson Piquet com a equipe Lotus, nos anos 80: dentre outras curiosidades, a revelação de que, ipsis litteris, Satoru Nakajima era obrigado a dar passagem a Nelson Piquet.

Depois de ler a notícia, fui buscar em minha memória quando que um dos dois tenha de fato precisado da ajuda do japonês, fosse para alguma vitória, pódio, ou até mesmo um ponto a mais no mundial.

A resposta é: nunca!

Não estou querendo defender o jogo de equipe a favor dos brasileiros, nada disso. Estou falando que os caras venciam – e penso o mesmo no caso de Schumacher com Barrichello, onde efetivamente houve “ajudas” – porque eram bons o suficiente. Há muito tempo, com ou sem contratos, “nós” não temos pilotos do nível de Senna e Piquet.

Mas eu entendo: é mais fácil viajar em teorias do que admitir que a culpa da derrota na final da Copa de 1998 não foi da Nike, da CBF, nem de Ronaldo… foi do Zidane.

Boa semana a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

5 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    O tal do Busquet na verdade ficou no chororô pois levaram um banho de bola da seleção …
    O Anderson Silva um dia ia perder uma luta … agora precisa perder a soberba
    Piquet uma vez disse: Barrichello é um bom piloto, justificando que quem vence corridas na Formula 1 sempre é um bom piloto … mas daí a ser campeão são outros quinhentos. O Massa é apenas um bom piloto.
    Em 98 certamente o maior culpado foi o Zidane.
    O Piquet exigiu em contrato para o Nakajima sair da sua frente para não correr risco de bater … o Japones batia em todo mundo … se não me engano até no Senna ele bateu …

    Fernando Marques
    Niterói RJ
    Niterói RJ

  2. Bruno Wenson disse:

    “Não estou querendo defender o jogo de equipe a favor dos brasileiros, nada disso. Estou falando que os caras venciam – e penso o mesmo no caso de Schumacher com Barrichello, onde efetivamente houve “ajudas” – porque eram bons o suficiente.”

    Esse ano, em sua primeira ou segunda corrida comentando na cabine, Barrichello respondeu uma “provocação” do Galvão: Este falou que Raikkonen iria igualar ou quebrar um recorde do Schumacher e que o Rubinho estava ali ao lado com um sorrisinho. A isso Barrichello respondeu no ato: Que é isso, não tem raivinha nenhuma, não. O cara mereceu, corria muito.
    De imediato Galvão desconversou que era outra coisa que quis dizer, e Barrichello reafirmou que não tinha nenhum problema ou ressentimento.

    Também acredito que Barrichello fosse um grande piloto, mas… Não estava ao nível do companheiro alemão. Me surpreendi quando não se mostrou ao nível do companheiro inglês. Assim como todo mundo se surpreendeu quando Schumacher não se mostrou ao nível do companheiro alemão.
    Mas, os números ficam e nossa vida segue. longa vida à Fórmula 1.

    • Arlindo Silva disse:

      Não sei se alguém viu ou lembra, mas na transmissão do treino oficial do GP da Inglaterra, o Reginaldo Leme disse que o Maldonado havia reclamado que o carro da Williams era feito para o estilo de pilotagem do Valteri Bottas. Logo na sequência o Barrichello emendou o seguinte comentário:

      – Isso acontece quando o piloto está tomando tempo do companheiro e não tem mais justificativas para o desempenho inferior.

      Depois de 3 segundos de pausa e talvez pensando no que havia dito, ele concluiu:

      – Na maioria dos casos, claro.

      Me veio a cabeça a crítica dos freios da Brawn em 2009, as queixas da Jordan em 1996, isso sem falar no período da Ferrari.

  3. Mauro Santana disse:

    Olá Marcel!

    Eu acho mais que correto o que o Piquet fez em seu contrato com a Lotus, proibindo Nakajima de andar na frete dele.

    Piquet, Senna, Prost, Schumacher, Alonso, Haikkonen(deve fazer a mesma coisa com o Groja) tiveram e tem calibre para mandar numa equipe, pois os caras tem nomes de pesos, verdadeiras máquinas de vencer, e sabem muito bem que o primeiro piloto a ser destruído é o seu companheiro de equipe.

    E neste caso, infelizmente para nós brasileiros, tanto Barrichello quanto Massa não tiveram calibre para isso, pois uns nasceram para vetar e outros para serem vetados.

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