A era das hashtags

Emoções conflitantes
24/07/2015
O valor das marcas – ou “Tudo é relativo”
29/07/2015

O GP da Hungria de 2015, primeiro após o falecimento de Jules Bianchi, marca uma nova era na Fórmula 1.

Ontem, assistindo um trecho do programa de Luciano Huck, vi um quadro (Pendurados) em que os avós de dois participantes deveriam responder perguntas relacionadas ao mundo jovem atual. Os netos estavam presos a 5 cordas no topo de um guindaste. A cada resposta errada de avô/avó, uma das cordas era arrebentada. Quando a quinta fosse cortada, o participante cairia de uma altura de 40 metros — Bungee Jump.

Uma das perguntas foi: “Para que serve uma hashtag?”. A resposta escolhida, dentre quatro alternativas: “Marcar coisas importantes em calendários online“. Nessa e na maioria das perguntas, os idosos erraram. A ideia era mostrar de forma divertida o distanciamento dos universos culturais das gerações.

Pois vivemos na era das hashtags.

#JB17

Estampando os monopostos da F1 (e da GP2), não víamos um desenho do capacete de Jules Bianchi ou seu nome, ou ainda a bandeira de seu país: víamos uma hashtag, com suas iniciais e o número do carro que pilotava. As homenagens ao francês aconteceram ao longo dos últimos 9 dias, desde o anúncio de sua morte. Na corrida, um minuto de silêncio antes da largada, relembrando Mônaco-1994.

Mas lá, o que se fez foi “reservar” a primeira fila do grid para Senna e Ratzemberger, falecidos na etapa anterior. Em vez de hashtags, as bandeiras de Brasil e Áustria pintadas nas posições 1 e 2.

#Vettel41

Outra homenagem a Bianchi veio de Vettel, merecidíssimo vencedor da prova: via rádio, ele mandou um “todos sentimos sua falta, Jules” e “sabíamos que mais cedo ou mais tarde você seria parte da Ferrari“. Vettel falou em francês, tornando a homenagem ainda mais bonita e significativa na era das hashtags.

Impossível não surgir à memória a mensagem de Ayrton Senna para Alain Prost durante os treinos livres do GP de San Marino de 1994:

httpv://youtu.be/qtHs4phg-jY

A diferença, claro, é que Alain Prost estava ali, ouvindo a mensagem de Ayrton Senna.

Isso me fez lembrar a clássica canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito:

“Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora.

Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.

Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais”

Em tempo: Vettel igualou as 41 vitórias de Ayrton Senna, mas, diferente de um Schumacher que caiu em prantos ao atingir o feito, apenas falou do fato com alguma alegria (“é fantástico, nem sei colocar em palavras“), algo trivial, menos importante do que estar a 42 pontos do líder do mundial, e com chances teóricas de título.

#UnluckyRosberg

Rosberg parecia ser sortudo: Hamilton fora da disputa pela vitória. Depois, a sorte aumentou: Hamilton com dificuldade para pontuar. Houve um momento em que Nico até se tornava líder do Mundial. Mas aí ele se revelou tremendamente azarado: com menos carro que a Red Bull, foi cauteloso ao aguardar para dar o ‘X’ em Ricciardo, mas confiante demais ao achar que o australiano freasse.

Resultado: Hamilton ampliou em dois pontos sua vantagem.

#LewisHamiltoNuts

Hamilton teve uma largada ruim, e uma corrida com altos e baixos. Cometeu diversos erros e talvez merecesse ter abandonado. Mas estamos falando do piloto com maior número de vitórias no ano — antes da era das hashtags, 9 triunfos era o máximo que alguém podia almejar em toda uma temporada — e alguém que está dominando as poles. Portanto, inda que por linhas tortas, Hamilton mereceu ampliar sua liderança no certame.

#KeepPushingAlonso

Fernando Alonso segue em seu martírio, e em seu silêncio. Nos treinos, teve de empurrar o carro, relembrando cenas da Fórmula 1 clássica, antes das hashtags. E acabou sendo punido. Mas na corrida teve ótima performance, conquistando o melhor resultado da McLaren no ano: quinto lugar.

#FelipeGraça

Felipe Massa tirou sarro de Alonso e seu problema nos treinos, dizendo: “acho que ele não leu as regras“. Massa acabou por fazer como os peixes e morreu pela boca: alinhou no lugar errado no grid e teve de pagar punição nos boxes. A corrida de Felipe, aliás, foi simplesmente medíocre. 

#Maldonator

Mas se tem alguém que parece não ler as regras é Pastor Maldonado. Em poucos anos de carreira já deve ter sido mais punido do que Michael Schumacher – tudo isso porque De Cesaris viveu antes da era das hashtags.

#KimiByekkonen

Na “temporada asiática”, Kimi Räikkönen parecia, pelo menos, ameaçar a soberania de Vettel na equipe. Mas a estrela do finlandês foi se apagando, se apagando, e agora ele vem enfrentando a famosa maré de azar que o afligiu no período 2003-2006, na McLaren. A aposentadoria está chegando.

#HulkenbergBarrichello

O acidente de Nico Hülkenberg, que originou o safety car e mudou o panorama do GP, lembrou muito o abandono de Rubens Barrichello nessa mesma pista, doze anos atrás. Felizmente, dessa vez a equipe não irá culpá-lo por ter “atacado demais as zebras“.

#RicciardoMercedesKiller

No final da prova, parecia claro que Daniel Ricciardo era o único com chances de bater Sebastian Vettel, uma vez que a Mercedes de Rosberg não esteve bem durante todo o fim de semana.

Ricciardo se engalfinhou com Hamilton, e depois teve a briga com Nico.

Na abertura da volta 64, Ricciardo arriscou, espalhou, teve sua asa dianteira danificada e precisou retornar aos boxes. Acabou conquistando a mesma terceira posição, mas com seu companheiro de equipe — o mesmo que, por estar menos rápido no começo da corrida, teve de abrir-lhe passagem — no segundo lugar.

Foi o primeiro pódio de uma equipe além de Mercedes-Ferrari-Williams no ano.

#KvyatDebut

O russo Daniil Kvyat conquistou seu primeiro e merecido pódio, se tornando o segundo mais jovem a atingir tal feito (com apenas 19 dias a menos que Vettel em Monza, 2008). No começo do ano passado eu já o havia elogiado, dizendo que se tratava de um piloto talentoso e maduro, apesar de muito jovem.

Não deixa de ser simbólico, também, que Daniil Kvyat chegue a seu primeiro pódio justo agora, após o anúncio da morte de Bianchi: Kvyat nasceu em 26 de abril de 1994, quatro dias antes do acidente fatal de Ratzemberger e a cinco do de Ayrton Senna.

Vivemos, de fato, uma nova era.

A Fórmula 1 agora vai para suas férias, mas o GPTotal continua produzindo: teremos várias colunas inéditas em agosto.

Abraços a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

9 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Excelente texto, Marcel!

    Quando o “improvável” aparece, normalmente as corridas são ótimas.

    Parabéns Vovô Fernando!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Fernando Marques disse:

      Mauro,

      assinei meu comentário conforme assino em alguns blogs de futebol que participo … em todo caso tenho um neto chamado Lucas que na próxima 6ª feira dia 31 completa 6 anos de vida … é a minha maior paixão da vida … ser avô é muito bom … Xaruto é um apelido que tenho desde a infância …

      Fernando Marques
      Niterói RJ

  2. Fernando Marques disse:

    O GP da Hungria foi espetacular assim como Silverstone … e achei muito legal a Mercedes sequer subir ao podio … acho que a Formula 1 precisava de um resultado assim para mostrar ao mundo que o circo não é só da Mercedes …
    Vettel foi perfeito … e Raikonen um tão azarado quanto Rosberg … Hamilton voltou aos seus velhos tempos de fazer bobagens mas com sorte de campeão e Daniel Ricciardo possivelmente o melhor de todos na corrida … pena que as Willians penaram,foi um fim de semana desastroso para equipe.
    Quanto ao Alonso, um excelente resultado mas em razãomais daqueles que estavam na frente terem tido problemas do que propriamente uma grande evolução da Mclaren

    Se todas as corridas daqui pra frente foram do tipo de Silverstone e Hungaroringa temporada de 2015 passa a prometer muita coisa até o fim do ano …

    Vovô Xaruto

  3. Robinson Araújo disse:

    Colegas do GEPETO.

    Durante a corrida tive uma real sensação desta estar semelhante aos GP´s dos anos 70 e 80, com acidentes e abandonos. Quem melhor se preservou neste contexto (Vettel, Kvyat, Verstapen e Alonso) conseguiram resultados surpreendentes, muito acima do esperado antes da largada.
    Lewis continua veloz e desiquilibrado quanto se sente acuado, lembrando um velho leão que costumava jogar pontos foram regularmente e que acabou sendo apelidado por um brasileiro sarcátisco de “idiota veloz”.
    Neste sinuoso traçado os chassis se mostraram acima dos motores e mesmo a Mclaren pode demonstrar (algum) potencial.
    Nada mudou no campeonato e o nervosinho ruma ao tri com a quebra de records e records.

    • Marcelo C.Souza disse:

      Olá Robinson e amigos do Gepeto!

      O GP da Hungria deste ano foi realmente sensacional,talvez até melhor que o da Grã-Bretanha pelo fato de nenhum dos dois pilotos da Mercedes ter subido ao pódio,premiando aqueles que souberam “correr com a cabeça”(como Sebastian Vettel e Fernando Alonso) e condenando os que deixaram os restos mortais dos seus carros na pista devido ao excesso de combatividade dentro dela(como Lewis Hamilton). O inglês,como você bem disse,voltou a fazer lambanças como nos velhos tempos de McLaren(em 2007 e 2008)e,quem sabe,pode até voltar a “emular” o Leão a partir do restante do campeonato.

      Vamos torcer muito para que os próximos GPs sejam iguais(ou melhores) que este de Budapeste!!!

      M.C.S.

  4. Lucas dos Santos disse:

    Nos comentários da semana passada, eu tinha feito alguns cálculos para ver o que cada piloto precisava para superar o seu companheiro de equipe no campeonato. Dessa vez, teve piloto que conseguiu o feito, alguns apenas diminuíram a vantagem, outros a viram aumentar e teve quem ficou “na mesma”. Vamos à análise, começando pelo pelotão da frente.

    MERCEDES: Nessa briga, superar o companheiro significa tomar a ponta do campeonato e isso esteve perto de acontecer. Logo após o toque de Hamilton com Ricciardo, Nico Rosberg conseguiu a combinação necessária para tomar a liderança – algo que eu considerava totalmente improvável: segundo colocado e Hamilton fora da zona da pontuação. Mas durou pouco, quando Hamilton conseguiu voltar aos pontos e Rosberg tinha dificuldades de sustentar sua posição. Após o furo do pneu do carro do alemão, Hamilton ainda conseguiu ampliar a sua vantagem, deixando as coisas ainda mais complicadas para Rosberg.

    FERRARI: Raikkonen não tinha a menor chance de superar o seu companheiro de equipe, mas esteve perto de diminuir a vantagem. Porém, ao abandonar a prova, viu Vettel vencer a prova e construir uma vantagem de quase 100 pontos de diferença! É a maior “distância” entre companheiros de equipe nesta temporada. Será que o finlandês ainda tem chances de reverter isto?

    WILLIAMS: Com Bottas em uma ótima colocação e Massa fora da zona de pontuação, parecia que o finlandês da Williams iria ampliar enormemente a vantagem de 3 pontos que já tinha sobre o companheiro de equipe. Para a sorte do brasileiro, seu “rival de equipe” teve problemas e ambos os pilotos terminaram sem pontuar, com a diferença de pontos permanecendo inalterada. Fica para a próxima!

    RED BULL: A diferença de pontos entre Daniil Kvyat e Daniel Ricciardo já chegou a ser a segunda maior da temporada. Mas com os bons desempenhos do jovem russo em Silverstone e na Hungria, a vantagem de Ricciardo caiu para “míseros” 6 pontos, deixando a disputa mais acirrada, ainda que a equipe tenda a “beneficiar” Daniel Ricciardo.

    FORCE INDIA: Com o abandono de Hulkenberg, Sergio Perez precisava apenas de um quinto lugar para “zerar” a vantagem de 9 pontos de seu companheiro de equipe. Porém, mesmo que não atingisse esse resultado, o simples fato de marcar pontos já seria útil para se aproximar de seu companheiro. Mas o mexicano também abandonou, adiando a tentativa para a próxima corrida.

    LOTUS: Pastor Maldonado precisava terminar a corrida na zona de pontuação, três posições a frente de Grosjean, para superá-lo no campeonato. Após uma “enxurrada” de punições, terminou sete posições atrás, fora da zona de pontuação, com Grosjean marcando mais três tentos e ampliando a vantagem para 11 pontos, com quase o dobro do que possui o venezuelano.

    SAUBER: Felipe Nasr possui uma “confortável” para Ericsson, mas é bom não se acomodar. Dessa vez apenas o sueco pontuou, diminuindo em 1 ponto a vantagem do brasileiro. Ainda restam 10 pontos a serem descontados, mas é bom o brasileiro não deixar que isso ocorra outras vezes.

    TORO ROSSO: Max Verstappen era o piloto que tinha a menor vantagem para seu companheiro de equipe: 1 ponto! Isso significa que Carlos Sainz não precisaria fazer muito para superar seu companheiro de equipe. Porém, com um abandono combinado ao ótimo desempenho de Verstappen, a vantagem de 1 ponto aumentou para 13! O espanhol terá trabalho para compensar isso na próxima corrida.

    McLAREN: Para superar Jenson Button, Fernando Alonso precisava chegar apenas duas posições a frente de seu companheiro da equipe. Mas, aproveitando-se dos erros dos rivais, o espanhol da McLaren se saiu melhor que a encomenda e terminou quatro(!) postos a frente de seu companheiro britânico! Dessa forma, não só o superou como colocou uma vantagem de 5 pontos, o que, para uma equipe na situação da McLaren, é bastante expressivo!

    MARUSSIA: Como Roberto Merhi e Will Stevens estão empatados – ambos com 0 ponto – no campeonato, valem os critérios de desempate, que levam em consideração os melhores resultados de cada piloto. O maior número de décimos-sextos lugares, o décimo-quarto lugar na Áustria e o décimo-segundo lugar em Silverstone, colocam Roberto Merhi a frente de seu companheiro de equipe. O posicionamento dos pilotos permanecerá assim até que Stevens termine em décimo-primeiro ou pontue. Como ambos terminaram após o décimo-quarto colocado, nada muda por enquanto.

    O que pode se notar até aqui é que os pilotos de uma mesma equipe continuam muito próximos entre si, mesmo após várias corridas. Dizem quem o maior rival que um piloto pode ter é seu companheiro de equipe e, nessa temporada, vemos que essa “rivalidade” está bem acirrada!

  5. Lucas dos Santos disse:

    Corrida impressionante, movimentada e imprevisível! Deve ter feito muitos torcedores perderem apostas, bolões e afins! 🙂

    Começando pelo começo, achei injusta a punição ao Felipe Massa. Uma vez detectado que ele não havia se “ajustado” à sua marca, a largada foi abortada e o grid refeito, eliminando qualquer vantagem que o piloto brasileiro poderia ter ganho com isso. Se ele não ganhou vantagem, punição para quê? De qualquer forma, não foi a primeira vez que ele fez isso. Anos atrás ele já tinha largado mais a frente do que deveria em um GP. Não foi punido, pois, além de não ter ganho vantagem, tal falha só fora detectada horas depois do término da corrida, através de um vídeo feito por um torcedor.

    Por falar em largada, o que está acontecendo com as Mercedes? A largada desse fim de semana foi o repeteco da prova de Silverstone. Equipe prateada precisa rever isso.

    Quanto ao Hamilton, acho que essa foi a PIOR corrida dele na Mercedes! Extremamente afobado, cometeu vários erros! Por pouco não jogou fora a liderança do campeonato e a vantagem que tinha sobre o seu adversário. Aliás, ter conseguido ampliar a sua vantagem foi pura questão de sorte mesmo, já que ele já tinha conseguido recuperar a liderança do campeonato antes do Rosberg ter problemas.

    Mais impressionante foi a solidez da corrida do Ricciardo. Bateu não sei quantas vezes, saiu da pista, errou, mas ainda assim terminou no pódio!

    Uma pena o Raikkonen ter tido problemas, pois ele merecia aquele segundo lugar.

    Marcus Ericsson está começando a dar trabalho para o Nasr. É a terceira vez que ele termina na frente do brasileiro, sendo a primeira em que ele converte esse resultado em pontos. Quem viu o sueco correr na GP2 sabe que ele é bastante competitivo! Abre o olho, Nasr!

    E, para finalizar, a McLaren foi muito bem nesse fim de semana. Sem nenhuma quebra, conseguiu se aproveitar dos erros dos rivais parar marcar pontos preciosos.

  6. Rodolfo César disse:

    A corrida de hoje foi totalmente contra as minhas expectativas, foi emocionante e imprevisível em vários momentos!

    A única parte que vou pontuar é: Alonso anda muito nessa pista! Acho que é justo dizer que tirou leite de pedra hoje, duvido um pouco que outro piloto conseguiria capitanear o resultado com a mesma eficiência que ele. Acho que o resultado foi mais fruto de coincidências do que melhora em eficiência do conjunto McLaren-Honda… a McLaren evoluiu muito pouco mesmo com as atualizações nos motores, os treinos classificatórios ajudam a dizer isso. A péssima corrida das Mercedes, Williams e o infortúnio de Raikkönen fundamentam bastante o 5º lugar de Alonso.

    Mas enfim, é com essas apresentações que o Espanhol mostra que é sim um dos melhores pilotos do grid (minha humilde opinião).

Deixe um comentário para Mauro Santana Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *