A história num só dia

Domingo dos sonhos
22/05/2015
Siga o mestre
27/05/2015

Um fim de semana muito especial para os amantes do automobilismo: F1, Indy e Nascar.

Cinquenta e duas semanas num ano e, ainda assim, duas das três principais corridas do mundo tantas vezes acabam sendo realizadas na mesma data, sempre ao fim de maio. GP de Mônaco pela manhã, 500 milhas de Indianápolis à tarde. Para quem ama o esporte a motor este é, sem dúvida, o fim de semana mais esperado da temporada.

Mais do que charme ou tradição, Mônaco e Indy representam a essência das escolas nas quais se inserem e – numa análise mais ousada – encerram microcosmos das próprias culturas europeia e norte americana. No principado, a busca por eficiência, tecnologia, acelerações puras e pela maior velocidade média possível. Do outro lado do Atlântico o foco no espetáculo, no popular, na visibilidade quase completa, nos acidentes impressionantes e nas velocidades extremas. Duas interpretações distintas e complementares do automobilismo que, ao lado da resistência extrema de Le Mans, podem perfeitamente resumir as principais abordagens disponíveis às corridas de automóveis. Vencer qualquer uma dessas corridas significa inserir, sem escalas, o próprio nome nas páginas mais nobres da história.

Em 2015 o fim de semana mais generoso do ano consagrou, pela terceira vez, os nomes de Nico Rosberg e Juan Pablo Montoya. O alemão, ao assinar o grandioso feito de vencer pela terceira vez consecutiva nas ruas do principado; o colombiano, ao vencer pela segunda vez no templo sagrado de Indianápolis (em apenas três participações!), somando os goles de leite ao troféu da vitória em Mônaco 12 anos atrás.

Começando por Mônaco, a edição de 2015 terá de entrar para a história como uma das mais bizarras de todos os tempos, graças ao bisonho erro de estratégia cometido pela equipe Mercedes com relação a Lewis Hamilton.

Tendo liderado 64 das 78 voltas – duas a menos do que Senna em 1988 –, o atual campeão do mundo teve a impressão, ao olhar para um dos telões às margens da pista durante o período de safety car virtual, que o companheiro de equipe havia trocado os pneus, e assim poderia atacá-lo de forma ameaçadora nas voltas finais. Quando o time o orientou a não entrar nos boxes, Hamilton argumentou que seus compostos estavam perdendo temperatura e desempenho. Em resposta o time o chamou para a troca, sem informar claramente que os concorrentes não haviam parado e a margem para a operação era crítica. Para piorar o time não fez sua melhor troca, e o resultado foi uma vitória jogada pela janela de forma tão incrível quanto Schumacher em 2004, Mansell em 1992, Ayrton em 1988, Prost em 1982, Piquet em 1981 ou Brabham em 1970, para citar as mais recentes.

Assim como em algumas das temporadas citadas, é de se esperar que o episódio altere o desenrolar dos acontecimentos daqui para a frente. O fato é que houve uma quebra de confiança na relação estabelecida entre piloto e equipe, que precisa ser resolvida a tempo da próxima corrida, em Montreal, onde Hamilton costuma reinar absoluto. A rigor, a forma como Lewis irá reagir ao golpe sofrido deve dar o tom dos próximos e cruciais capítulos dessa disputa.

Alheio aos erros cometidos pela concorrência, Nico Rosberg assinou o maior feito de sua carreira ao vencer pela terceira vez consecutiva a corrida mais importante do calendário da Fórmula 1, unindo seu nome aos de lendas de primeira grandeza do Principado. A saber; Graham Hill (63, 64 e 65); Alain Prost (84, 85 e 86) e Ayrton Senna (89, 90, 91, 92 e 93).

Destaque também para o bom desempenho de Sebastian Vettel, mantendo a Ferrari sempre nos calcanhares de Rosberg, e menções honrosas para os bons ritmos impostos por Sergio Pérez, Jenson Button, Fernando Alonso e Max Verstappen (ao menos até cometer o erro que mudou os rumos do GP e lhe custará cinco posições no grid canadense). Quanto aos brasileiros, ambos classificaram-se à frente dos respectivos companheiros de equipe e começaram bem a disputa. Mas, enquanto Nasr levou o carro até a bandeirada nos pontos, Massa teve o azar de topar com Maldonado logo nos primeiros metros, sofrendo um irrecuperável atraso de duas voltas antes mesmo que as posições estivessem definidas. As perspectivas para a Williams – quase um Fórmula Indy infiltrado na F1 –, de qualquer maneira não seriam boas em Mônaco.

O grande nome do dia, no entanto, não pode ser outro que não o de Juan Pablo Montoya.

Quinze anos após vencer em sua primeira participação no Brickyard – quando nem ao menos era piloto regular da extinta IRL – o colombiano de 39 anos e cabelos grisalhos voltou a experimentar o saboroso leite de Indiana, após protagonizar uma vigorosa corrida de recuperação.

Tendo largado na 15ª posição e sofrido atrasos nas voltas iniciais que o derrubaram para último – inclusive em função de um erro cometido durante o 2º pit stop – Montoya guiou com decisão, forçando seu caminho rumo ao primeiro pelotão quando a prova chegou à sua fase decisiva. E, no corpo a corpo final, o campeão da Cart em 1999 fez valer o velho talento de sempre, primeiro controlando o carro após colocar duas rodas na grama numa disputa direta, e depois conseguindo fazer as três voltas finais na liderança, apesar de toda a sucção gerada pelo vácuo na atual configuração aerodinâmica dos carros.

Vitória de raça, muito merecida e simbólica, que dá a Montoya o incrível aproveitamento de 66% de triunfos em Indianápolis, e reforça a ideia de que seria muito, muito interessante caso os melhores pilotos dos dois lados do Atlântico ainda pudessem competir nas duas provas, como tantas vezes acontecia em décadas remotas. Ainda assim, fica o exemplo do bravo colombiano aos grandes pilotos da atualidade, apenas para lembrar que a carreira não precisa terminar junto às participações numa ou noutra categoria.

Quanto aos brasileiros, Helinho bem que tentou se manter entre os líderes, mas simplesmente não teve ritmo para se sustentar na briga quando todos partiram para o sprint final. Tony Kanaan, por sua vez, demonstrava ter muito mais condições de lutar pela vitória, até ser surpreendido pelas consequências de uma alteração aerodinâmica ainda com pneus frios, a um quarto do fim da prova.

No fim, importa registrar também a ausência de acidentes de maior gravidade durante a prova, após uma assustadora série de colisões seríssimas nas sessões preliminares. É de se esperar que para a centésima edição da corrida, no ano que vem, os aparatos aerodinâmicos sejam desenvolvidos com maior precisão e cuidado.

Sobre a vitória de Carl Edwards na Coca Cola 600 e as 3H de Silverstone, deixo os comentários aos amigos do site. Com filhinho recém-nascido em casa, seria pedir demais ver todas as corridas do dia.

Para encerrar, espero apenas que, na eventualidade de Rosberg conquistar o título ao fim do ano, ele o faça por margem superior aos 17 pontos que ganhou de presente em Monte Carlo, ou do contrário teremos novamente aquilo que convencionamos chamar de campeonato com asterisco.

Forte abraço, e uma ótima semana a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

12 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Grande domingo amigos!!

    Vou falar apenas do que eu vi, e sendo assim, vamos por partes:

    A respeito do GP de Mônaco, não acho que o Verstapen deveria tomar punição pelas ultrapassagens que fez em cima do Sainz e do Bottas, pois em corridas de carro e principalmente em Mônaco, bobeou, dançou, e ainda mais em Mônaco.

    O mundo esta culpando a Mercedes pela besteira que fez.

    Ok, ela errou, mas, Hamilton podia ter ficado na pista, assumir riscos sozinhos, feito gente grande.

    Não, ele não fez.

    E sabem por que!?

    Porque hoje, os pilotos não sabem dar um peito sozinho sem pedir permissão, ou, opinião, ou, ajuda a seus engenheiros, pois são todos dependentes, não sabendo mais tomarem decisões solitárias dentro do cockpit.

    E é por isso também, que os carros quase não quebram mais, como acontecia no passado, e que assim, equipes pequenas podiam pontuar, ou até mesmo subirem ao pódio.

    Exemplo claro disso, foi o próprio Hamilton no início da prova, em que seu engenheiro o informava a todo o instante que seus freios estavam super aquecendo, e aí, o fator improvável de um carro quebrar, acaba não ocorrendo.

    É pra fechar, Hamilton mais uma vez com suas atitudes de piazinho mimadinho, como Vettel costuma ter também, e que da raiva só de ver.

    E o Vettel fala que os carros de F1 precisam mudar, pois os de hoje são muito fáceis de pilotar.

    Quero ver como eles vão fazer pra pilotar uma besta fera, como eram os carros dos anos 80.

    Acho que aí, os f1 vão ter que ter dois lugares, um para os pilotos e outro para os engenheiros, tipo Rally.

    Patético!

    Agora a Indy 500 foi show, e torci muito pro Montoya vencer a prova, nas 50 voltas finais, pois claro que minha torcida era para o Tony e para o Helio.

    Mas, quando o Tony bateu e ficou claro que o Helio não tinha carro pra lutar pela vitória, e quando o gorducho forçou a barra pra cima do Scott Dixon e assumiu o segundo lugar, eu acompanhei as voltas finais de pé, e torcendo muito pro colombiano cruzar a linha em primeiro.

    Foi muito show!!!

    Parabéns ao Montoya, pois ele é um grande piloto, restando-lhe apenas as 24 horas de Le Mans no currículo, pois o cara tem vitórias em Mônaco, Monza, Indy 500, e 24 de Daytona.

    O cara é FERA!

    Abraço e uma excelente semana a todos.

    Mauro Santana
    Curitiba – PR

  2. Marcelo C.Souza disse:

    Que domingo sensacional,meus amigos!

    Sobre o GP de Mônaco: o que a equipe Mercedes fez com o Hamilton foi realmente uma vergonha!!! Espero estar totalmente enganado,mas a partir de agora a equipe alemã fará de tudo para o piloto da casa(o Rosberg,é claro) conquistar o título deste ano.

    Sobre a Indy 500: o colombiano Juan Pablo Montoya realmente nos “presenteou” com uma incrível corrida de recuperação e,com todos os méritos,escreveu o nome dele na história da prova mais tradicional do mundo pela segunda vez(a primeira,como sabemos,foi em 2000).

    E só uma correção,Márcio: a IRL,na realidade,é a F-Indy atual(apenas mudou o seu nome para IZOD IndyCar Series),a saudosa CART é que foi extinta no início de 2008,após ser “engolida” pela categoria do Tony George.

    Um forte abraço!!!

    Marcelo C.Souza
    Amargosa-BA

    • Ronaldo disse:

      Marcelo, à época as categorias estavam separadas há pouco tempo, e a Indy 500 pertencia à IRL, de Tony George. Piloto regular da CART, Montoyucho alinhou no brickyard pela única vez até o ano passado, tanto que em 1999, quando foi campeão na CART, não fez a prova. Pra mim é uma verdadeira prova da qualidade do gordinho como piloto, que ganhou a única corrida que fez aquele ano com chassis e motor desconhecidos.
      Ao contrário do que é vendido para nós brasileiros, a categoria nunca se chamou Formula Indy. O nome atual é representativo da fusão entre as duas.

  3. Lucas dos Santos disse:

    A propósito, que transmissão ruim essa do Automóvel Clube de Mônaco. É impressionante fazerem esse serviço há tantos anos e piorarem a cada ano.

    Não mostraram, por exemplo, o que acontecera com Felipe Massa na largada, algo que era fundamental! De acordo com o site Grande Prêmio – e um vídeo “não oficial” – teria sido o Hulkenberg quem bateu no carro do brasileiro: http://grandepremio.uol.com.br/f1/noticias/massa-diz-que-foi-atingido-por-hulkenberg-em-lance-ignorado-pela-tv-e-reclama-de-falta-de-punição (vídeo no final da notícia)

  4. Lucas dos Santos disse:

    Esse fim de semana foi realmente marcante. A bobagem que a Mercedes fez em Monaco é simplesmente inexplicável. A reação do Hamilton no pódio é mais do que justificada. Eu faria o mesmo.

    Muito bom ver o Montoya vencendo novamente em Indianápolis. É um piloto extremamente arrojado e combativo. Na Cart, em 1999, quando foi campeão, ele fez corridas belíssimas!

    Outra corrida com desfecho polêmico foi a da Fórmula E. Lucas Di Grassi, que liderou todas as voltas da corrida e com vantagem na casa do 10s para o segundo colocado venceu a corrida e abriria 17 pontos de vantagem na classificação do campeonato, se não tivesse tido sua vitória anulada, por conta de um “reparo” feito pela equipe no carro. Simplesmente lamentável uma corrida brilhante ser arruinada por um “detalhe” desses. Destaque para o desempenho dos carros da equipe Trulli na classificação, que foram literalmente excepcionais!

  5. Fernando Marques disse:

    Vamos que vamos …

    1) Quanto as 3 Horas de Silverstone, acompanhei uns 50 minutos da corrida, até trocar para ver a largada da Indy 500. A BMW dos Brasileiros Cacá Bueno e Sergio Jimenez ficou fora de combate logo no inicio da corrida … uma pena …uma corrida com 61 carros nas pistas significa disputa por posições a todo momento … a TV até se perde em mostrar qual delas estava melhor … mas valeu por ver Ferrari, Lamborghini, BMW. Mercedes, Nissan, Bentley, Mclaren tudo andando junto e misturado … só faltou um Corvette nesta corrida …

    2) Quanto ao GP de Monaco, o único consolo para este segundo erro de estratégia da Mercedes ( o primeiro erro foi no GP da Malasia que proporcionou a vitoria de Vettel), é que eles não serão suficientes para lhe tirar o titulo de campeã ao fim do ano … apenas estão dando um pouco de emoção na disputa entre Hamilton e Rosberg, que aliás está também bem sem graça nenhuma graças a falta de combatividade do Rosberg apesar de seu belo feito nas ruas do principado … No mais Marcio disse tudo …

    3) Quanto as 500 Milhas eu chamo a atenção de duas coisas … o Scot Dixon não deve ter ficado também satisfeito com a sua equipe (Ganassi) … ele foi o que mais liderou na pista, e a meu ver seria o mais merecedor de vencer a corrida. No fim acho que foi prejudicado por um pit stop muito ruim apenas para trocas de pneus … ficou longe do Montoya e do W. Power nas ultimas voltas por causa disso … a Ganassi pode ter dado uma de Mercedes também e errado feio … hehehehehe
    Marcio, desde a ultima vitoria do Helinho Castro Neves que a Penske não vencia em Indianápolis … ou seja já fazia um bom tempo só levando poeira na cara da Ganassi e outras equipes …
    Mas não resta duvidas que a tocada de Montoya, agora cada vez mais lider da temporada, foi sensacional …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Fernando Marques disse:

      Não vi as 600 Milhas de Charlotte … no sabado vi um pouco da corrida da segunda divisão da Nascar e as disputas estavam boas entre camaros e Mustangues …

      Fernando Marques

  6. Rodolfo César disse:

    Quanto a Indy 500: Incrível, vitória antológica do Colombiano!

    Quanto a Mônaco, olha… deu vergonha do trabalho estratégico da Mercedes, vergonha. Não conseguir enxergar o que era óbvio assusta! Arrisco a dizer que vencem corridas graças ao carro, pois se dependessem de estratégia… Enfim, tentando ver o lado bom das coisas, acho que voltamos a ter um campeonato aberto na F1 depois desse episódio pitoresco (pelo menos até as próximas semanas).

    A corrida da Nascar eu não vi, infelizmente…

    Abraços!

  7. Rubergil Jr disse:

    Que domingo, senhores!

    Sobre Mônaco: provinha bem sonolenta, até o safety car. Deixa eu chamar a atenção sobre um fato que ninguém comentou nada: O Verstappinho usou de uma baita sacanagem pra passar o Sainz e o Bottas hein? Eles abriram pro Vettel dar uma volta e ele foi lá e passou atrás de fininho (tipo um cara seguindo uma ambulância no trânsito). Eles não tinham como se defender. Era caso de punição. No entanto não teve maiores consequências (Bottas ia parar no pit mesmo) e justiça foi feita: ele bateu e vai tomar punição na próxima corrida.

    Sobre Indy: uma corrida fantástica, com (mais) um final de arrepiar. E o Montoya ganhou depois de cair pra 30o. (!) no começo da corrida. Que prova fez o colombiano! E a Penske arrasou mais uma vez.

    Abraços!

    • Lucas dos Santos disse:

      Caso de punição?! Ele aproveitou a oportunidade que teve sem colocar em risco os outros pilotos. Sem falar que o (engessado) regulamento não proíbe isso. Para mim, a ousada manobra do jovem piloto foi totalmente válida.

      • Rubergil jr disse:

        (Respondendo agora no lugar certo)

        Aí é que está o ponto. A manobra foi legal, do ponto de vista do regulamento. Mas imoral. Os pilotos citados não tiveram como se defender, não foram avisados e não viram que o carro atrás do Vettel não disputava posição com ele. Apenas o Grojean foi avisado e defendeu bem.
        Mas é mais fácil achar moral no nosso Congresso que na Formula 1, então…

        • Ronaldo disse:

          O cara viu a oportunidade e foi extremamente inteligente na colheita. Não existe imoralidade fora do regulamento, e me custa muito entender quem reclama de tudo.

Deixe um comentário para Marcelo C.Souza Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *