Adrian Chapman, Jim Vettel

What a year!
17/12/2012
As maiores (não) vitórias
07/01/2013

Adrian Newey-Sebastian Vettel reeditam Colin Chapman-Jim Clark.

Adrian Newey-Sebastian Vettel reeditam Colin Chapman-Jim Clark.

No box, dois projetistas geniais, capazes de antecipar-se uma, duas, dez vezes aos seus concorrentes, seja em inovações radicais (caso do Lotus 78), seja no aperfeiçoamento metódico de sistemas e ideias mais modestas (como parece ter sido o caso do RBR deste ano) mas decisivas para a vitória.

Ao volante, pilotos corajosos, adaptativos e rápidos em treinos e corridas, capazes de se dedicar ao esporte de tal forma que parecem ter aberto mão da vida pessoal. Nas corridas, a par de uma velocidade insuperável em qualquer condição de pista, a capacidade de concentração, superação constante (Clark em Monza 67) e preservação da calma, mesmo diante do cenário mais adverso (Vettel Interlagos 2012).

Mais: uma ligação umbilical entre eles, não necessariamente de amizade mas de confiança e parceria, que inspira e desafia a inventividade dos projetistas ao mesmo tempo em que projeta o destemor e o desejo de superação do piloto.

Vejam, por exemplo, a fissura de Vettel em buscar a melhor volta, mesmo quando lidera com folga. Ele marcou seis vezes o recorde da volta em corrida em 2012. Seus mais próximos competidores foram Kimi Raikkonen e Jenson Button, com duas cada.

Jim Clark fez todos os seus 72 GPs pela equipe Lotus, tendo vencido 25 deles. Em 60 e 61, ele não fez nada de muito especial mas, a partir de 62, o escocês disparou a vencer embarcado em dois dos melhores carros criados por Chapman, os Lotus 25 e 33, exemplos de beleza, simplicidade e velocidade.

Clark venceu os Mundiais de 63 e 65 mas, com apenas um pouco mais de sorte, teria emendado quatro títulos. Em 62, ele perdeu disputa eletrizante com Graham Hill a vinte voltas do final da última corrida, na África do Sul, quando um parafuso soltou-se em seu motor, causando perda de óleo. Em 64, foi ainda pior: Clark cedeu a liderança da prova decisiva, no México, a duas voltas do final. Incrível 1: se fiz as contas direito, tanto em 62 quanto 64, caso vencesse as corridas finais, ele teria terminado empatado em 39 pontos válidos com Hill, sendo campeão pelo número de vitórias! Incrível 2: o Lotus 25 poderia ter sido tricampeão, confirmados os títulos de 62 e 64!

Em 66, faltou a Chapman-Clark um bom motor, o mesmo acontecendo no começo de 67. Tudo mudou a partir do GP da Holanda, com a estreia do Lotus 49 com motor Ford Cosworth. Foram quatro vitórias em nove GPs mas poucos resultados mais, de forma que Clark terminou o ano em 3º. Em 68, ninguém no universo conhecido duvidava de um novo Mundial para a dupla – mas havia um Hockenheim no meio de caminho…

Vettel correu pela BMW e pela Toro Rosso antes de juntar-se a RBR, em 2009. Nesta altura, Newey estava entrando em sua quarta temporada pela equipe, depois de muitas vitórias pela Williams e McLaren. Até então, seu trabalho não havia frutificado, a RBR tendo terminado as temporadas de 2006, 2007 e 2008 em 7º, 5º e 7º no Mundial de Construtores, o que a equipararia à Force India.

A partir do momento em que Newey e Vettel passaram a trabalhar junto deu-se o salto: 2ª colocada em 2009 e um tricampeonato bem debaixo dos narizes de Ferrari, McLaren e Mercedes.

As razões do sucesso de Chapman como projetista são bem conhecidas – um grau de inventividade absolutamente diferenciado para a sua época, aliado a uma disposição imensa para arriscar, tanto assim que ele é também autor de fracassos retumbantes. Mas seriam bem conhecidas as causas do sucesso de Newey?

Na minha opinião, elas são três.

Primeiro – e isso é largamente reconhecido pela comunidade da F1 -, ele é imbatível na interpretação de novos regulamentos. A força atual da RBR, por exemplo, nasceu em 2009, quando o regramento aerodinâmico foi significativamente alterado e os testes durante a temporada banidos.

Segundo: sem os testes, os projetistas tiveram de aprender a refinar suas criaturas a partir de ideias que passam por simulações em supercomputadores, as sobreviventes indo mais tarde para os túneis de vento. Newey se diferencia pelo fato de saber usar melhor estas ferramentas do que seus concorrentes.

Terceiro: Newey é o líder absoluto da engenharia da RBR, toda moldada à sua feição. Ele não convive com burocracias, vaidades, tradições e tem ao alcance das mãos, além de um belo salário, uma verba que, dizem, é maior do que as das demais equipes.

Competindo contra ele temos, na McLaren, uma impessoalidade imposta à engenharia que muito provavelmente inibe rasgo de genialidade – sabe como é: todos os animais foram criados por Deus, menos o camelo, que foi criado por um grupo de trabalho. Na Ferrari, na engenharia assim como no resto da equipe, me parece imperar uma anarquia latina, reinstalada em níveis mais discretos depois do consulado de Jean Todt, empurrada pelo crônico desajuste dos túneis de vento dos italianos. Deles, tudo o que se pode dizer é que são os mais belos por fora, graças à arquitetura de Renzo Piano. Já na Mercedes, creio que prevaleceu a cabeça ordenada e burocrática dos alemães sobre a criatividade de Ross Brawn, com os resultados que se viu.

Chapman e Clark, Newey e Vettel, Lotus entre 60 e 68, RBR de 2009 aos nossos dias. Dois momentos únicos e muito especiais da Fórmula 1. Não foi dado à maioria de nós curtir a primeira dupla. Aproveitem cada momento da segunda. Acho que ela vai durar ainda muitos anos.

E, se de fato durar, poderemos ver ainda muitos títulos da dupla. Uma nota comparativamente discreta na edição de AutoSprint de 11 de dezembro dá conta que o Conselho Mundial da Fia publicou norma segundo a qual o regulamento aerodinâmico atual será mantido em 2014, quando a regra de motores muda radicalmente.

Observadores previam uma volta da predominância dos motores com o novo regulamento enquanto à aerodinâmica seria reservado um papel mais modesto. Não por coincidência, o tradicionalmente discreto Newey já havia dado declarações contra o novo regulamento, dizendo que ele limitava demais o espaço de trabalho para os projetistas.

E com esta coluna encerramos a atualização do site em 2012. Voltamos em 7 de janeiro com a reedição de colunas (nos escrevam, se quiserem reler algumas delas) e, a partir do dia 21, com colunas inéditas.

No FaceBook, Lucas Giavoni, Marcel PIlatti & Cia (na qual vaidosamente me incluo), seguimos com força total, como se nada estivesse acontecendo.

Bom Natal e um 2013 de paz e saúde para os amigos leitores. São os votos do

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

6 Comments

  1. wladimir duarte sales disse:

    Não estraguem as festas de fim de ano lembrando de certo piloto medíocre chamado Alain Prost ou se encucando com “fim do mundo” previsto por calendário Maia. Não nego que as civilizações pré-colombianas estavam a frente de seu tempo, mas daí a quererem ser maiores que Deus é um pouco demais! Feliz Natal e Feliz ano novo para todos os gepetos, sejam colunistas ou leitores!!!

  2. Walter Augusto disse:

    Feliz Natal e um ótimo 2013 à todos.
    Saúde!

  3. Moy disse:

    Belo post!
    Ótimo natal e que 2013 seja “o ano” para todos!
    Abração,

    Moy

  4. Leonardo - RS disse:

    Vettel venceu em Monza 2008 com a Torro Rosso, que estava longe de ser o melhor carro, quando saiu ao final daquele ano, a equipe caiu de produção. Já a Red Bul teve um salto de qualidade com a sua chegada em 2009, embora já tinha Newey. Isto é pouco lembrado quando tentam minimizar as suas conquistas.

  5. Mauro Santana disse:

    Um Feliz Natal e um Excelente 2013 a todos nós!

    Grande abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *