As Lágrimas de Maio

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Maio é certamente o mês mais triste da Fórmula 1: 4 ídolos, com diferentes alcances e importância, faleceram no 5º mês do ano.

Lembro-me de quando, há uns 11 anos, Eduardo Correa escreveu um texto com o mesmo título deste, relembrando os 4 nomes da Fórmula 1 que tiveram suas ‘passagens’ no mês de maio: Ayrton Senna (1), Gilles Villeneuve (8), Lorenzo Bandini (10) e Alberto Ascari (26). Todos merecem nossa lembrança pelo que foram nas pistas. E, de alguma forma, todos esses pilotos têm em Mônaco momentos extremamente importantes (no bom e no mau sentido).

Seguindo a ordem cronológica, comecemos por Senna.

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Não sei quanto aos colegas, mas eu particularmente gostei da edição de ALFA com o piloto.

A revista, que cada vez mais vem conquistando espaço no mercado nacional, fez um relato muito interessante: baseado em entrevista com Reginaldo Leme, os repórteres Rodrigo França e Marcelo Zorzanelli criaram um texto fictício que traz muitos fatos reais e frases ditas pelo tricampeão, conjecturando o que teria acontecido “Se…” Senna tivesse sobrevivido àquele acidente de Ímola, 1994 – e a imagem inicial da matéria é o belíssimo quadro de Oleg Konin.

A revista conclui que o “rei de Mônaco” atingiria os principais recordes (dividindo com Schumacher a glória de seis títulos), teria ido para a Ferrari e se aposentado em 1998. Tudo possível, e até mesmo provável – se há alguma “margem de erro” nesses números, é sempre para mais.

Mas o mais importante é trazer à tona que, mesmo 18 anos após sua morte, Senna “continua” para os fãs de automobilismo: e limitar isso ao território nacional e/ou à influência da Globo é um reducionismo muito, muito barato.

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Lorenzo Bandini, que faleceu somente no dia 10 mas que teve o acidente que lhe cobraria a vida há exatos 45 anos (em 07/05/1967), é um piloto que não obteve um sucesso semelhante a qualquer um três “pilotos de maio”, e sua carreira, muito breve (disputou apenas 42 corridas ou meras 4 temporadas completas), não obteve números maiores que uma pole e uma vitória.

Mas isso não diminui a adoração e o carinho que os italianos têm por ele – especialmente porque Bandini correu a grande maioria de seus GPs pela Ferrari -, tanto é que anualmente acontece uma premiação que leva o seu nome.

Sua melhor temporada, em termos de número, foi 1964: ano em que obteve sua única vitória, classificou-se em quarto no campeonato. Mas infelizmente ficou marcado pelo acidente com Graham Hill na última corrida: Bandini chocou-se com Hill, e com isso o campeão acabou sendo seu companheiro de equipe, John Surtees.

Bandini acabou se tornando a grande esperança italiana em 1967, quando assumiu a “vaga” de primeiro piloto, após duas fracas temporadas da Scuderia.

O primeiro GP de Lorenzo naquele ano foi em Mônaco. Marcou o segundo melhor tempo nos treinos, mas conseguiu assumir a ponta logo no início, e assim seguiu por longas, longas voltas.

Algumas curvas depois da saída do túnel, Bandini perde o controle do carro e bate contra a proteção de feno (!). O carro explode em chamas, e o socorro nada pode fazer. Lorenzo ainda sobreviveria por mais três dias.

Muitos acreditam que o piloto tenha sucumbido à exaustão de pilotar por tantas voltas aliada ao calor excessivo que fazia no dia. Naquela altura, o GP de Mônaco tinha mais de 310 km de extensão. No ano seguinte, caiu para 250 km, extensão mantida aproximadamente até hoje.

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Dia 8 de maio é a data do grande Gilles Villeneuve, outro piloto que, como Senna, não precisa de grandes apresentações e segue sendo ídolo de milhões de fãs ao redor do planeta.

Gilles poderia ser classificado como uma espécie de “Garrincha da F-1“, dado o espetáculo que proporcionava a seus fãs, como pilotar carros com três rodas, sem asa dianteira, etc. Além disso, era de uma rapidez incrível, e realizou algumas das mais belas ultrapassagens – e disputas – da história.

Foram ao todo 6 vitórias obtidas pelo vice campeão mundial de 1979, algumas das mais importantes da F-1: o GP da Espanha de 1981, por exemplo, é lembrada como uma das corridas mais disputadas: a diferença entre o primeiro e o quinto colocado na linha chegada foi de apenas 1,5 segundo…

Porém, essa rapidez não via limites (haja vista o exemplo de suas loucuras nas corridas), e uma disputa feroz com seu companheiro de equipe, Didier Pironi, levou Gilles Villeneuve a uma obstinação que culminou no acidente que resultou em sua morte.

Nos treinos para o Grande Prêmio da Bélgica de 1982, Villeneuve vinha em volta rápida, e acaba acertando sua roda dianteira na traseira de Jochen Mass: o Ferrari de Gilles realiza uma verdadeira decolagem e, graças à péssima segurança da época, o canadense é arremessado pra fora do carro, chocando-se contra o muro.

A frase de sua mulher, dizendo que não se surpreendeu e que “sempre esperou por isso“, de alguma forma resume o que Gilles representou para a F-1.

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At last but not least“, Alberto Ascari.

Ascari faleceu após um terrível acidente em Monza, durante testes privados. O mais incrível é que, apenas 4 dias antes, o piloto havia sofrido um gravíssimo acidente no GP de Mônaco, quando caiu no mar (!).

Ascari foi um dos grandes pilotos da história da Fórmula 1, facilmente classificável entre os 10, 15 melhores já surgidos: e o fato de ter vivido e morrido há tanto tempo comprova mais uma vez a tese da falta de memória, pois hoje em dia é fácil ouvir que ele “só ganhava com o melhor carro” e semelhantes baboseiras.

Ele foi o primeiro bi-campeão da história, tendo enfrentado ninguém menos que Juan Manuel Fangio. Suas grandes conquistas foram pela equipe Ferrari, e ele é até hoje o último italiano a ser campeão (Mario Andretti, consideremos americano) mundial.

As marcas desse grande piloto são impressionantes: 13 vitórias e 14 poles em 32 GPs, e dois títulos em cinco campeonatos.

Tá bom ou quer mais? A ele pertencem dois belos recordes: foi ele o piloto que mais obteve vitórias consecutivas na história da Fórmula 1, com 9 trunfos entre 1952 e 1953, anos dos seus títulos, e também o piloto com mais quilômetros e voltas liderados consecutivamente.

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Maio, famoso por ser o “mês das noivas e das mães”, possa ser pra sempre lembrado como o “mês da Fórmula 1”.

Nos vemos Barcelona!

Boa semana a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

21 Comments

  1. Bruno Wenson disse:

    Acredito que poucos leram o livro de Adriane Galisteu. Nem comento o que comentam sobre ela. Deixo-a levar sua vida. A dela continua, como a minha e a de vocês. Mas considero o livro dela um excelente relato de uma pessoa que passou um ano com Ayrton e o conheceu intimamente. Era uma garota simples, que faz um relato simples.
    Ela fala que uma noite Ayrton lhe disse que queria conquistar DOIS títulos pela Williams. Só dois. Queria igualar Fangio. Não supera-lo. Fangio era insuperável, dizia ele. Depois queria terminar sua carreira na Ferrari. Nem que ela tivesse a potência de um Fusquinha, ele queria terminar na Ferrari.
    Assim, eu fico rindo quando escrevem que Senna teria ganho os títulos do Schumacher, que iria dominar o resto da década e essas coisas.
    Senna não era de ficar uma década desenvlvendo carros. Nunca fez isso. Entrou “velho” na F1. E estava com 34 quando morreu. Não iria esperar Newey ir pra McLaren em 1998 pra ganhar os títulos do Hakkinen e disputar 2000 a 2004, quando a McLaren foi forte mas não consistente.
    Acredito no relato de Galisteu. Acredito que Senna tinha um objetivo, e não era ganhar tudo enquanto possível. Deveria ser mesmo o de igualar Fangio e correr na Ferrari. Mas… Como saberemos agora? Posso acreditar em mesa espírita, mas preciso estar lá pra ver.

  2. Sinceramente, se houvesse uma ‘margem de erro’ na reportagem da Alfa, esses números seriam para baixo… Mas como a reportagem, isso é só achismo puro!

    • Marcel Pilatti disse:

      Olá, João Carlos.

      Eu asseverei que os números poderiam ser maiores pois entendo que Senna pudesse conquistar ais que seis títulos, 70 vitórias e 100 poles. entendo que sim, analisando o número de vitórias conquistadas por david coulthard, damon hill e jacques villeneuve nesse período, e pensando que a questão de senna na ferrari…

      claro, tanto você quanto eu estaremos supondo, em ambos os casos.

      mas eu particularmente penso que se Damon Hill venceu 18 GPs entre 1994 e 1996, Senna seria capaz de fazer mais…

      Abraço!

  3. Lucas Andreazzi disse:

    Belo texto!

    Acredito que o exercício da mente está na imaginação, independente do poder de expressar ou não. Temos na mente a história perfeita CASO Senna estivesse vivo, mas pensando por outro lado, e se Ratzenberger tivesse saído vivo de lá? Poderia talvez ser um campeão, um adversário para Alesi ou Schumacher, depende da mente de cada um. Concordo com a questão levantada pelo Lucas Giovani onde existe uma falta de respeito perante a imagem do TALVEZ no caso Senna, o desrespeito está na expressão nua e crua e não no apenas pensar, pois todos sem excluir ninguém já imaginamos universos paralelos. Em outro caso, li hoje enquanto esperava algumas peças do meu carro na concessionária, uma reportagem sobre inveja na revista época, onde a Autora (não me lembro seu nome) cita todos os entrevistados famosos de revistas conceituadas não tem defeito, são todos perfeitos, sempre amigos de seus ex, a espera de novos amores e treinam para manter a saúde, pois beleza é consequência. É o caso da matéria! Não entendeu? Eu Explico: Caso algum entrevistado famoso dissesse literalmente nesta ordem comparativa com a anterior: Meu defeito é beber demais, odeio aquele ex e a vagabunda dele, e eu treino para ficar com uma bunda deliciosa, pois sou linda sim. Não venderia, pois o mundo gosta deste idealismo de perfeição, mesmo caso citado na matéria: Eu idealizo um momento perfeito na história para publicar e despertar interesse no leitor, pois a verdade nua e crua, só nós do GP Total que gostamos hehehe.

    Falei demais, um abraço a todos!

  4. Lucas Giavoni disse:

    Caro Marcel,

    Uma vez que em seu texto você abre a possibilidade de comentarmos a reportagem da Alfa sobre o Ayrton, deixo aqui minhas considerações, que levam muito em conta minha formação como jornalista e cientista.

    Das pessoas que acompanham o automobilismo ou simplesmente a carreira de Ayrton, creio que a esmagadora maioria já se colocou em posição de imaginar como seria a trajetória do piloto caso saísse andando daquela Williams. É um dos mais sedutores exercícios imaginativos que infelizmente o automobilismo nos criou.

    Trata-se de uma mistura de previsão com modificação de fatos que ocorreram posteriormente, como se transformássemos a dimensão que vivemos. Um novo cenário cheio de ações e reações, causas e consequências. Não há nada demais em pensar a respeito, desde que não seja levado a sério. Digo isso porque pensar em Ayrton vivo, pós-Imola, não passa de um exercício totalmente especulativo e em nada certeiro, preciso ou minimamente comprovável.

    No sentido prático, pensar em Senna vivo nos leva do nada a lugar algum, pois tudo, 100% do que é proposto, passa a ser contestável, seja por inúmeros fatores que podem ter sido desconsiderados, ou pela simples incerteza de tudo em volta, até mesmo dos fatos acontecidos, que poderiam (ou não) serem alterados pela presença de Ayrton. Tudo vira achismo, uma palavra que para mim soa como heresia, tanto no sentido jornalístico quanto no sentido científico.

    Mas a coisa fica realmente deplorável, lastimosa, quando vem embalada com um verniz (falso, muito falso) de “algo sério” ou “de credibilidade”, usado para aumentar vendas (ou fazer repercutir) revistas, travestindo tal exercício como “matéria jornalística” – sendo que de jornalismo isso não tem coisa alguma. No fim das contas, acaba sendo um tremendo desrespeito com a memória do Ayrton, e uma enorme empáfia por parte das pessoas que pensam ter condições de propor ou impor uma opinião a respeito.

    Enfim, é uma grande furada, um horror. Não é desse jeito que devemos preservar a presença do Ayrton no imaginário do povo brasileiro.

    Marcel, assim como no julgamento do Tilke em relação ao Edu, este também é assunto de botequim. Se eu passar por Curitiba, pago a 1ª rodada.

    Abração e parabéns pelo texto!

    Lucas Giavoni

    • Lucas Rodrigo dos Santos disse:

      Xará,

      Em comum não temos apenas o nome, mas também a opinião sobre a matéria da revista. Tive as mesmas impressões ao lê-la.

      No entanto gostaria de comentar o quadro “If only”. Retratou a cena que todos nós gostaríamos de ver depois daquele terrível acidente.

    • Arlindo Silva disse:

      Concordo com o Lucas, tudo é muito especulativo.

      Senna poderia ter saído do carro, como a pintura retrata, ter voltado a pé para os boxes, ver Schumacher abrir 30 a 0 no campeonato (uma vantagem virtualmente irreversível) e a pressão ficar ainda maior sobre seus ombros (muita gente eventualmente criticaria a postura dele em focar demais na segurança e o acusaria de deixar de lado o acerto do carro num momento crítico do campeonato). Ou, mesmo que o braço da suspensão não perfurasse o seu capacete, poderia ter ficado desacordado, ser resgatado e ficar o resto do ano fora e ter sua carreira na F1 virtualmente encerrada, tal qual aconteceu com o Karl Wendlinger duas semanas depois em Monte Carlo.

      Mas enfim… Senna morreu, assim como Villeneuve morreu quando só levava seu Ferrari para os boxes em Zolder, como Clark morreu numa corrida ordinária em um circuito ordinário, como Ascari morreu num teste em que ele nem iria participar…

      Foram fatalidades… aconteceram e agora temos de ver a história tal como foi. Goste-se dela ou não.

      Abraços

    • Lucas Giavoni disse:

      Pois é, amigos Lucas Rodrigo e Arlindo,

      Eu particularmente acho o quadro do Konin fantástico. Gosto da tela porque ela é arte, e na arte tudo é possível em termos de expressão, diferente do jornalismo e da comunicação social como um todo, que tem uma tonelada de responsabilidades envolvidas. No fim das contas, estou falando de comunicação (no meu backgroud jornalístico), e não propriamente de automobilismo.

      O grande problema é que essa “matéria jornalística” não passa de um exercício especulatório baseado unicamente em senso opinativo não-comprovável (de quem perde o bom senso e se sujeita a escrever) – feito apenas para vender mais revista. É apelar para o inapelável e desrespeitar a memória do Ayrton.

      Como se não bastasse, de quebra, provoca ainda mais bagunça no imaginário coletivo sobre o piloto, na ânsia de torná-lo ainda maior do que já foi – como se isso fosse necessário ou como se fosse uma “homenagem”. De homenagem, claro, isso não tem nada.

      Abraços!

      Lucas Giavoni

    • Mauro Santana disse:

      Lucas!

      Eu pago a segunda rodada!

      Abraço!

      Mauro Santana
      Curitiba-PR

    • Fernando Marques disse:

      Não li a revista mas vi de forma rapida algumas considerações no Linha de Chegada onde inclusive o Ernesto Rodrigues estava presente junto com um outro jornalista que nãoi conheço e que pelo visto foi o responsavel pela materia na Revista Alfa. Antes de mais não sou viuva do Senna mas não nego que ele se tornou um mito. Principalmente em função de seu acidente fatal em Imola, que acima de tudo foi um fato inedito para os brasileiros que nunca tinham tido o desprazer de ver um brasileiro morrer nas pistas de Formula 1, e quando viram no carro estava um Tri-campeão Mundial …
      A carreira do Senna acabou ali naquele acidente mas para a torcida e imprensa brasileira ficou aquele gostinho que certamente ele ganharia mais … tanto que a materia da Alfa não é uma novidade … o que mais se fala em Senna é o quanto mais ele ganharia na Formula 1 se ainda estivesse vivo …

      Fernando Marques
      Niterói RJ

    • Já tinha escrito isso em e-mail pessoal para o Lucas, mas acho que é válido aqui também.
      Não li a matéria da Alfa (ainda, mas já tenho ela comigo), mas ao longo dos anos já me deparei com muitos desses “se”s em relação ao Ayrton. E aí a gente precisa fazer mesmo uma separação de segurança.
      A tela em questão, por exemplo, é forte e cheia de significado. Fala diretamente com uma geração que passou por um trauma profundo com a morte de um ídolo ali, ao vivo. O tipo de tela que gostaria de ter em minha sala.
      Da mesma forma, um texto nessa linha poderia muito bem ser escrito sob a forma de romance, poesia, ou qualquer gênero literário, enfim, que não tenha pretensão factual ou jornalística. O problema, neste caso, é justamente a invasão desse campo.
      Mantendo o pés no chão, tudo que podemos dizer analiticamente sobre a sequência da carreira de Ayrton – e isso num prazo imediato, porque essas certezas perdem-se muito rapidamente conforme o tempo aumenta as variáveis – é que ele tinha tudo para brilhar ainda mais numa F1 com reabastecimento, na qual sua velocidade poderia ser plenamente aproveitada.
      A volta que ele colocou em Damon Hill no Brasil, em 1994, serve para comprovar essa tendência.
      Qualquer coisa que vá além disso, deixo para os artistas ou poetas traduzirem.
      Abraços!

    • Marcel Pilatti disse:

      Seguindo a linha do que o Arlindo postou, sim, de repente Senna tivesse consequências diferentes, como Wendlinger, ou até mesmo no padrão de Felipe Massa/Nelson Piquet, com perda de velocidade, etc.

      Mas também podemos e devemos pensar que aquela barra de direção podia não ter se quebrado, e Senna seguido na corrida, alcançando quem sabe a vitória ou até mesmo um segundo lugar.

      Em 2008, publiquei um artigo analisando as melhores voltas em corrida de Senna (http://gptotal.com.br/2005/Leitores/Help/20080903.asp), e nele falo sobre Ímola:

      “as primeiras 5 voltas da corrida aconteceram com o safety-car. Senna sofreria o acidente fatal na 7ª volta. Isso significa que ele deu apenas uma volta rápida, a sexta. E o piloto registrou a marca de 1m24s887. Naquele dia, Damon Hill, sexto colocado, fez o melhor tempo com 1m24s335, na volta 10. Schumacher, o segundo mais rápido, deu seu melhor giro na 43, com 1m24s438: um décimo acima do inglês.

      Apenas os três ficaram abaixo de 1m25. O detalhe principal é que Senna partiu com 86 litros de gasolina, e tinha planejado uma corrida de duas paradas, uma a menos que Schumacher e Damon Hill. Isso quer dizer que Senna, numa única volta, com o carro mais pesado e com pneus frios, fez simplesmente a terceira melhor marca da corrida”

      Arlindo sugere um 30 a 0 no placar, e o virtual título do alemão, nesse caso.

      mas os campeonatos de 2000 e 2006, e o próprio de 1994, nos indicam outra coisa.

      Damon Hill saiu de Imola com 7 pontos, ante os 30 de Schumacher. e terminou apenas 1 atrás de Schumacher (contando com as punições, claro. Tem gente que diz que com Senna nada teria acontecido… será?)

      ora, Senna com 0, 1, 2, 3, 4, 6 (e Schumy 30), ou 10 e Schumy 26, me parece sempre uma possibilidade melhor que Damon Hill com qualquer pontuação. Como bem lembrou o Marcio, Senna dava volta no referido companheiro de equipe, e lhe aplicava 1,5 segundo em treinos.

      Em 2000, cenário parecido: Hakkinen 3 poles, Schumacher 3 vitórias nas primeiras três corridas. Após Ímola, estava 30 a 6 para Schumy. E na altura da Bélgica, Hakkinen era o líder por 6 pontos de diferença…

      E 2006 é o contrário, com Alonso no papel do Schumacher de 94-2000: o espanhol tinha 28 pontos contra 11 do aleão ao fim da terceira corrida, e após o 9º GP teria 25 de vantagem. E no final, Schumacher chegou a igualar, também com punições e regulamentos e equipamentos (i)legais, etc.

      Por que imaginar que Senna não conseguiria uma recuperação como as de Hill, Hakkinen e Schumacher?

      Abraços a todos.

    • Arlindo Silva disse:

      Marcel,

      Repare porém que em todos os casos citados por você (e poderia até incluir o campeonato de 1991, onde Senna começou com 30 a 0 sobre Mansell até que a diferença chegou a 8 pontos no GP da Alemanha), o piloto campeão foi exatamente aquele que tinha a grande diferença no princípio do ano.

      O Edu retrata bem essa questão na coluna dele “Os dados de Deus” escrita após o GP do Japão de 2006. Mesmo que Senna empreendesse uma recuperação a partir de Monaco e eventualmente até se aproximasse de Schumacher na classificação, a má fase do alemão não duraria pra sempre.

      E é exatamente isso que as outras temporadas nos dizem: o caso de 1994 é extremamente atípico pois Hill se recuperou, mas largamente pelo fato dele ter ganho as quatro corridas em que Schumacher foi desclassificado ou esteve suspenso. Em 2000, Hakkinen realmente superou Schumacher na classificação, graças a uma sequência de 4 abandonos em 5 corridas de Schumacher, ao mesmo tempo em que Mika empreendeu pontuações consecutivas de Imola até Monza.

      Eu li novamente o seu texto escrito em 2008 sobre o desempenho de Senna x Hill naquele princípio de ano, mas eu tenho algumas ressalvas em relação a alguns pontos.

      Em Interlagos, Hill praticamente não treinou na sexta feira. Logo na primeira volta do primeiro treino livre ele teve problemas com o extintor de incêncido do Williams e acabou parando na pista. No primeiro treino oficial (naquela época existia qualifying na sexta também), ele não tinha referência de acerto de carro e acabou fazendo duas sequências de voltas (a primeira com 4, a segunda com 6 voltas).

      No sábado muita gente foi prejudicada por que basicamente o treino teve somente meia hora (choveu).

      E no domingo Senna correu com estratégia de 2 paradas (parando nas voltas 21 e 46) enquanto Hill correu com estratégia de um único pit stop (parou na volta 42).

      Creio que em qualificação, Senna e Hill só estiveram livres de problemas em Aida, e nesse fim de semana a diferença entre eles foi de meio segundo. E ambos iriam partir para a mesma estratégia de 3 pit stops (Schumacher ganhou fazendo somente dois).

      Em Ímola, Hill novamente teve uma primeira qualificação perturbada enquanto Senna fez a pole provisória. No sábado, Hill estava começando a dar suas voltas rápidas quando aconteceu o acidente de Ratzemberger. Dali em diante, nem ele, nem Senna entraram na pista.

      Em termos de estratégia de corrida, Senna faria dois pit stops e Hill também. O inglês acabou fazendo 3 paradas porque logo na relargada acabou batendo o bico na roda traseira de Schumacher e teve de trocá-lo.

  5. Fernando Marques disse:

    Realmente o mes de maio não é um bom mes para a Formula1 …

    Fernando Marques
    Niterói

  6. Cleiton disse:

    Marcel, muito boa sua coluna. Uma pena o mês de maio ser marcado por tantas tragédias, mas pelo menos as histórias das carreiras desses pilotos, o que fizeram nas pistas, fazem com que eles sejam mais lembrados pelo que fizeram dentro delas. Felizmente… Só corrigindo uma informação: no acidente do Gilles, ele foi arremessado em direção às telas de proteção que existiam na época, naquele trecho de Zolder não havia muros! Cordial abraço.

  7. Mauro Santana disse:

    Belo texto Marcel!

    E em maio de 1992, quase perdemos o nosso outro tricampeão, Nelson Piquet em Indianápolis, que se não estou enganado, foi no dia 08/05/1992.

    Maio é o mês do meu aniversário, e infelizmente, também o mês que ficou marcado por estas tragédias.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  8. Felipe Pires disse:

    Gilles morreu de desgosto………….após o epsódio com Pironi e a Ferrari ele jamais foi o mesmo…….

    • Allan disse:

      Bobagem, com a devida vênia. Gilles passou pelo “quase” um sem número de vezes. Ele não se jogou em um muro, ou andou mais que o carro podia. Foi uma fatalidade do Mass estar no lugar errado naquele momento – ou Gilles. E no campo da fatalidade não podemos esquecer o frágil equipamento, uma vez que é inadmissível que o piloto decole do carro com cinto-de-segurança de 5 ou 6 pontos (salvo engano, voou com banco e tudo…)

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