Baixa expectativa

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Alguns circuitos do calendário da F1 já deixam todos os fãs da categoria excitados por causa do histórico de boas corridas. Se Toni Garrido canta que todos devemos esperar alguma coisa de uma sábado à noite, todos esperam algo de Melbourne, Montreal, Interlagos, Monza, Silverstone ou Suzuka. São palcos históricos dos quase setenta anos de F1, que já nos proveu inúmeras corridas emocionantes nas mais de mil provas realizadas. No entanto, quando a F1 vê no horizonte o Grande Prêmio da Espanha, é bom todo fã da categoria baixar a adrenalina e esperar por uma corrida não muito animada pela frente na bela Barcelona.

Não importa o regulamento ou a geração de pilotos. Corrida de F1 no circuito de Montmeló normalmente é sinônimo de corridas previsíveis e, por que não, chatas. Já se tentou inúmeras modificações no traçado espanhol, incluindo uma apertada chicane no último setor da pista, mas a emoção não vem. A enorme reta dos boxes não significa ultrapassagens fáceis e por isso muita coisa é definida na largada ou até mesmo no resultado do treino de classificação no sábado.

Com a saída de Fernando Alonso e o histórico de corridas ruins em Barcelona, já se fala na substituição da corrida espanhola por uma corrida em Zandvoort, aproveitando-se da fase de Max Verstappen e os holandeses pintando de laranja os circuito pelo mundo.

Se a Mercedes conseguir confirmar esse arranque inicial da temporada 2019 num título incontestável no final do ano, devemos observar o domínio dos tedescos de um prisma diferente. Que a Mercedes tem a melhor equipe, isso não se discute, mas a Ferrari poderia animar o campeonato se não fossem tantos erros. Das quatro corridas realizadas até agora, a Ferrari poderia ter vencido duas (Bahrein e Azerbaijão), mas pequenos erros entregaram a dobradinha para a Mercedes, que capitalizou em quase 100% as pisadas de bola da Ferrari. Bem mais experiente e sólida a Mercedes não teve dó das adversárias quando tinha melhor equipamento (Austrália e China) para conseguir as dobradinhas esperadas. Talvez o que não estivesse no script de Toto Wolff seja o incrível crescimento de Valtteri Bottas nesse início de campeonato. O finlandês divide ao meio as vitórias com Hamilton e lidera o campeonato por um ponto, graças a melhor volta conquistada em Melbourne. Ninguém parece acreditar em Bottas, mas o nórdico vai conseguindo dar trabalho à Hamilton e não se abateu quando atacado por Lewis nas primeiras curvas de Baku, administrando a vitória e a pressão à distância do inglês em toda a corrida no Azerbaijão. Se Bottas conseguirá repetir o que Nico Rosberg fez em 2016, isso somente o transcorrer do campeonato irá dizer.

O que também não estava no script era que as vitórias ferraristas deveriam ter sido de Charles Leclerc. O monegasco perdeu a corrida no Bahrein de forma cruel quando liderava e quando era o piloto mais rápido dos treinos em Baku, bateu estupidamente (palavras de Charles) na classificação, praticamente acabando com suas chances de vitória. A chegada de Leclerc à Ferrari parece ter mexido decisivamente no status quo da Scuderia. Vettel ainda tem a primazia de ser o piloto número um da Ferrari, mas não vem fazendo por onde ter esse status, talvez assustado com a chegada de Leclerc chutando a porta da Ferrari e tendo o mesmo comportamento de quando Ricciardo apareceu como um meteoro na Red Bull em 2014. Mattia Binotto já começa a tomar atitudes de forma pressionada, com uma crise ferrarista à caminho. E com vinte anos de Ferrari, Binotto conhece muito bem o significado de uma crise na Ferrari: cabeças rolando. Até mesmo a sua! A Ferrari estreará um novo pacote em Barcelona, desta vez focada no motor. Vettel ainda procura sair de seu inferno astral, enquanto Leclerc cobra a Ferrari se o manterá como obediente segundo piloto ou como ponta de lança da equipe contra a Mercedes. Barcelona foi o palco dos testes de pré-temporada onde a Ferrari conseguiu dominar em praticamente todas as sessões e a esperança é que os ventos espanhóis façam bem ao time de Maranello, para o bem de toda a equipe.

Max Verstappen retornará ao lugar onde venceu pela primeira vez na F1, quando estreava pela Red Bull e se tornou o piloto mais jovem a vencer um Grande Prêmio. Sua atuação espantosa três anos atrás em Barcelona indicava que o holandês seria campeão rapidamente, mas como diria o poeta do futebol, faltou combinar com os rivais. Verstappen hoje é mais do que nunca o ‘dono’ da equipe Red Bull, mas o time austríaco ainda patina na luta contra as poderosas Mercedes e Ferrari. A parceria com a Honda começou melhor do que esperado, mas ainda não é o suficiente para deixar Verstappen na briga por vitórias, apesar do holandês estar fazendo seu melhor início de temporada na F1. Como acontecerá com a maior parte das equipes, a Red Bull também levará novidades para Barcelona, circuito onde Adrian Newey já venceu várias vezes no passado.

Mesmo Azerbaijão sendo na Europa, pode-se afirmar que o Grande Prêmio da Espanha é a primeira corrida europeia da temporada e por isso, as equipes sem tantos recursos podem trazer novidades para as próximas corridas. A Renault decepciona para quem fez um grande investimento em infraestrutura e na contratação de um piloto de ponta, porém, até Ricciardo vem decepcionando em suas primeiras corridas pela Renault, enquanto Nico Hulkenberg continua sofrendo com vários infortúnios em seu carro. Num meio de pelotão ainda mais equilibrado do que nos outros anos, quem vem se dando melhor até o momento é a McLaren, em quarto lugar no Mundial de Construtores, com pilotos jovens e homogêneos, apesar de Lando Norris ter muito mais a mostrar do que o já experimentado Carlos Sainz. Se McLaren e Renault tem duplas de pilotos mais igualitárias, o mesmo não acontece com Alfa Romeo e Racing Point. Ambas são praticamente levadas nas costas por seus pilotos mais experientes, Kimi Raikkonen e Sergio Pérez, respectivamente. Lance Stroll marcou pontos na corrida passada em Baku, mas ainda quando se chamava Force India, sua equipe já andava bem na capital azeri e o próprio canadense já arrancou um pódio. Antonio Giovinazzi ainda não mostrou a que veio na Alfa Romeo, o mesmo acontecendo com Daniil Kvyat, que nunca mostrou a que veio e dificilmente mostrará. Albon já está de olho na vaga de Gasly na equipe principal da Red Bull, mas a Toro Rosso carece da diminuição de atenção que tinha da Honda até o ano passado. A Haas começou o ano muito bem na Austrália, mas depois disso a equipe americana só caiu de rendimento e não marcou mais pontos. Problemas de freios e pneus foram apontados pelo chefe Günther Steiner. Sete anos atrás Pastor Maldonado surpreendia a todos com uma vitória em Barcelona, no que seria o último triunfo da Williams na F1. Inspirado no que foi feito pelo venezuelano, a Williams pelo menos se aproxime do pelotão intermediário e diminua o vexame que vem sendo essa temporada até o momento.

Barcelona é um circuito que as equipes conhecem muito bem, portanto, os treinos livres servirão para o acerto fino dos carros. Esse conhecimento faz com que muitas vezes o grid tenha várias ‘duplinhas’, com carros da mesma equipe ficando muito próximos ou na mesma fila. Por ser um circuito estreito e com curvas de média antes das retas, ultrapassar sempre foi uma complicação, com o sábado tendo uma importância tão grande quanto em Mônaco. O pole já venceu 21 vezes em Barcelona!

No circuito onde dominou a pré-temporada, a Ferrari tentará quebrar a sequência da Mercedes em 2019, enquanto os alemães terão que resolver a questão interna dos seus dois pilotos, praticamente empatados após quatro corridas. Tudo que a Mercedes não quer é uma repetição do sórdido acidente de 2016, quando Hamilton e Rosberg bateram na primeira volta.

Se no Azerbaijão o sarrafo estava alto na expectativa de uma boa corrida, em Barcelona é melhor baixarmos o sarrafo no quesito emoção para esse domingo.

Abraços

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC

    e, Baku todos nós esperávamos uma corrida eletrizante e acabamos por assistir uma corrida meio que sem graça.
    Concordo com tudo acima que vc disse em relação ao Circuito de Montmeló, mas quem sabe aconteça algo inesperado e tenhamos uma corrida bem agitada.
    Fica aqui a minha torcida neste sentido.

    Fernando Marques
    Niterói

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