Cadeira cativa

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Será um tanto quanto estranho olhar o grid de Melbourne em março e não ver Rubens. Foram 19 anos procurando seu nome em negrito nas páginas do jornal. Tenho certeza que vou procurar na lista dos tempos, ato reflexo, como se fosse presença obrigatória, cadeira cativa.

Eu sei que os colunistas do GPTotal já escreveram sobre Barrichello. Eduardo Correa e Marcio Madeira nos lembraram da carreira de Rubens. Você também já deve ter lido em todos os outros sites de automobilismo diversas dissertações sobre nosso longevo brasileiro. Mas eu não vou poder escapar de falar sobre Rubens Barrichello hoje.

O motivo é muito simples: eu tinha 12 anos quando ele estreou na Fórmula 1, o que deixa a certeza que minhas maiores lembranças de pilotos brasileiros correndo ao vivo na telinha vem da carreira de Rubens.

httpv://www.youtube.com/watch?v=WUmjBGsMb3k

Ainda lembro-me de ver um título em 1991 do Ayrton, mas imagine a quantidade de fãs da F1 no Brasil que nunca viram uma corrida ao vivo (ou não lembram) dos grandes campeões Senna, Piquet e Emerson. A matemática é simples. Esse ano completamos 18 anos do falecimento de Senna; adicione à conta mais uns 8 anos para os pimpolhos começarem a ter boas lembranças das corridas na TV e precisamos de alguém com, no mínimo, 26 anos (nascidos em 1986) para ter lembranças vivas na memória. Por conta disso, acreditem ou não, a maior referência de piloto brasileiro na F1, para muita gente nova no meio, é Rubens Barrichello.

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Confesso que acordei muito domingos torcendo por ele. Naqueles momentos de equipes nanicas torcia pela superação do companheiro de equipe. Nos dias mais inspirados, por aquele pontinho suado. Em alguns momentos torci somente para o carro chegar ao fim da prova e também tive que torcer muito para não passar uma temporada toda em branco sem um mísero ponto no placar. Cheguei ao ponto de torcer para ele não ficar sem carro com o fim da sua equipe e felizmente consegui assistir sua última corrida de F1 em Interlagos.

httpv://www.youtube.com/watch?v=WB8x2JQpbcQ

Durante esse tempo todo de torcedor pelo sucesso de Rubens na F1 nunca caí em duas armadilhas: o discurso estabanado de promessas de títulos e a pressa da imprensa brasileira em criticá-lo.

Discursos repletos de expectativas e emoção sempre foram a marca de Rubens, o “brasileirinho” de família classe-média-alta e traços latinos. O que nos enche de orgulho na formação do nosso povo, o que nos diferencia da prepotência esnobe do francês multi-campeão ou da frieza do alemão recordista, esse jeito emotivo e familiar, envergonha muita gente quando era visto em Barrichello.

Para parte da nossa querida imprensa brasileira, um prato cheio. O discurso não refletia os resultados nas pistas, não se tinha em mãos um novo Ayrton, um novo Piquet. A enxurrada de críticas era avassaladora, muitas vezes se confundia com o desejo puro e simples de contrariar as palavras de profissionais da Rede Globo. Para essa parte dos jornalistas tupiniquins sobrou ver uma dezena de pilotos brasileiros chegarem na F1 e se despedirem, sem nenhum fato relevante, sem nenhuma emoção para o público, nem mesmo registro na lembrança da grande massa que assiste a F1.

Ou você se arriscaria a dizer – sem ajuda do santo Google – em quais anos Pedro Paulo Diniz, Luciano Burti, Ricardo Rosset e assemelhados estiveram pela Fórmula 1?

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Independente de todas as críticas e da falta do título mundial, o torcedor brasileiro não é ingrato.

httpv://youtu.be/ZXnOVdT1EIo

Vale sempre buscar na memória a primeira pole do garoto Rubens para Jordan em Spa, lá em 1994, ou o primeiro pódio no mesmo ano em Aida. Não podemos chegar em 1994 sem lembrar daquela Donington de 1993, onde Senna brilhava em primeiro e um estreante Barrichello estava em 3º até sua Jordan lhe deixar na mão. Um estreante na F1 dominando Prost? Parecia muito bom. E era.

Até chegar a primeira das suas 11 vitórias em 2000, Rubens passou apertos com carros ruins e uma equipe estreante. Entre 1997 e 1999 na Stewart nos deu alegrias com aquele 2º lugar em Mônaco 97 e uma temporada brilhante em 1999, onde liderou parte do GP em Interlagos e estava em 3º quando seu carro quebrou. Quem não lembra?

Sem contar aquelas grandes classificações em Interlagos, de levantar a torcida. Na última volta, no limite, sempre enchendo a torcida de alegria.

Não é loucura, insanidade ou bravata falar que a torcida brasileira não é ingrata. Um dos grande “baratos” do GP Brasil é a torcida da reta oposta, o setor “G”. Aquele pessoal animado que arma barraca no sábado em busca do melhor lugar no domingo, compram cervejas aos baldes e arrumam assunto para boas gargalhadas por horas a fio. Exatamente esse povo todo que via Rubinho passar e gritava “Rubinho, Rubinho, Rubinho…” em 2011.

Massa não teve esse momento. Bruno Senna também não. Alguma coisa significa, não acham?

httpv://youtu.be/S9JHe7QOGac

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A vida de Rubinho na F1 pela frieza dos números:

Vitórias – 11
Lugares do Pódio – 68
Pole positions – 14
1ª fila – 34
Voltas mais rápidas – 17
Pontos – 658
Voltas percorridas – 16631
km percorridos – 80585
G.P. na liderança – 51
Voltas na liderança – 854
km na liderança – 4152

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Será um tanto quanto estranho olhar o grid de Melbourne em março e não ver Rubens. Foram 19 anos procurando seu nome em negrito nas páginas do jornal.

Tenho certeza que vou procurar na lista dos tempos, ato reflexo, como se fosse presença obrigatória, cadeira cativa.

Tenham todos um bom final de semana e um grande 2012.

Abraços
Flaviz Guerra – @flaviz

*Coluna publicada originalmente em 02 de fevereiro de 2012.

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

8 Comments

  1. daniel disse:

    acredito que a historia do barrichelo com a f1 ainda nao acabou…..daqui a duas ou tres temporadas ele está de volta

  2. Thiago Barbosa disse:

    Na boa, NUNCA devemos comparar Rubinho com Massa. Rubens Barrichello depois dos monstros sagrados que o Brasil já teve guiando um carro de Fórmula 1, foi nosso MELHOR piloto ! Massa, B. Senna, Nelsinho (que piada!) Piquet, NÃO ENGRAXAM a sapatilha de Rubens. Concordo que Rubens fez escolhas muito erradas em sua carreira, como por exemplo negar ser piloto de testes da Maclaren em 94, em detrimento do contrato gordo que a Jordan lhe ofereceu na ocasião, mas tinha qualidades que hj em dia não vejo em nenhum piloto tupiniquim, aliás, do jeito que as coisas andam, VAI DEMORAR para o Brasil ter outro Rubens… é uma pena, o que dirá ter outro Senna, Emerson ou Piquet.

    Rubens, meu velho, MUITO SUCESSO em sua nova empreitada, sempre estarei torcedo por ti, como muitos brasileiros que gostam de automobilismo !!!!!!

    Abraços

    Thiago Barbosa
    São Paulo, SP

  3. Jean disse:

    Discordo que apenas Rubinho foi ovacionado pela torcida em interlagos. Massa sempre foi também, e sua vitória em 2006 foi muito comemorada por todos.

    • Mauro Santana disse:

      Concordo com o Jean e digo mais.

      Os momentos que Massa nos proporcionou em Interlagos, tanto em 2006 e principalmente 2008, vão além do que Barrichello conseguiu nos proporcionar, pois ele emplacou duas vitórias históricas, coisa que Barrichello infelizmente nunca conseguiu.

      Lembro-me bem na segunda feira pós o GP Brasil de 2003, em que Barrichello participou do programa Ana Maria Braga, e lá ele afirmou com todas as letras, que nunca iria parar de correr enquanto não vencesse o GP Brasil.

      Infelizmente, tanto para ele, como para nós torcedores brasileiros, isso nunca aconteceu.

      Abraço!

      Mauro Santana
      Curitiba-PR

    • Flaviz disse:

      Jean, concordo contigo em relação as vitórias de Massa. O que veio a memória é o recente GP de 2011.
      Obrigado pelo comentário.

    • Rafael Carvalho de Oliveira disse:

      Foi muito comemorada porque faziam 13 que Ayrton Senna tinha vencido em Interlagos naquela corrida memoravel. E outro detalhe, Massa só venceu porque nos treinos de classificação o Schumy teve problemas acabaou largando la no final do pelotão e outra Schumacher estava disputando o campeonato com Alonso e só interessava a vitoria para o alemão e portanto o Massa seria o escudeiro do Schumy naquela corrida.

  4. Fernando Marques disse:

    Acho que tambem só faltou falar uma coisa sobre o Rubens Barrichello … suas grandes corridas ou vitorias se deram quando pouco se esperavam dele alguma coisa assim. Quando este sentimento era ao contrario ele sempre decpcionava

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Rafael Carvalho de Oliveira disse:

      Eu concordo com você. Na minha opinião os brasileiros vibraram mais com as vitorias do rubinho do que com as vitorias do massa.

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