Cenários

Brilliant disguise
01/09/2014
Velocidade Máxima (?)
05/09/2014

A rivalidade de Nico Rosberg e Lewis Hamilton já está tomando contornos históricos, aconteça o que acontecer.

Semana passada, em nossa página do Facebook, publicamos um meme: na parte de cima, Lewis Hamilton, trajando o uniforme da Mercedes, está com o olhar distante (quase que uma foto posada para “Caras”) e um balãozinho representa seu pensamento: “Sou inglês e estou numa equipe alemã, com um piloto alemão”, estaria dizendo para si mesmo o campeão mundial de 2008. Na parte de baixo da imagem, Fernando Alonso (com o uniforme da McLaren), está com sorriso largo, e diz: “fale mais, por favor”. A legenda da foto foi “Ironias da vida”.

A provocação, claro, é óbvia.

Em 2007, no auge do campeonato e o começo da rivalidade Entre Lewis e Fernando – antes do famigerado GP da Hungria –, escrevi uma coluna apontando para o choque de realidade a que Alonso era imposto: não apenas porque Lewis demonstrava ser, desde então, o piloto mais forte com quem Alonso dividiria uma equipe, mas principalmente pela relação de Hamilton com a McLaren: além de compatriotas, o futuro campeão de 2008 estava no time de Woking desde sua adolescência.

Muita coisa aconteceu, e o final todos lembram: nem Alonso, nem Hamilton, nem McLaren: deu Kimi, pela Ferrari.

Passados sete anos, os mesmos (e isso inclui o próprio Hamilton) que não viam qualquer interferência da equipe a favor de Lewis e que apontavam para uma “superioridade” do britânico no confronto direto – será, mesmo? –, agora, usam a psicologia do reverso.

Diante dos mais recentes acontecimentos, e do “mea culpa” de Nico Rosberg, não me parece exagero voltar um pouco no tempo e apontar que, sim, os treinos do GP de Mônaco talvez precisem ser revistos. Revejo, também, minha opinião na época: fui dos que defendeu que Rosberg não errou de propósito para garantir a pole.

Em sua mais recente coluna, Eduardo Correa cita um possível conselho de Keke Rosberg a seu filho. Se foi isso mesmo, a bandeira amarela em Mônaco foi apenas o primeiro golpe de Nico em Lewis.

httpv://youtu.be/aX2841KPMW8

Curioso que Nico, até essa temporada, jamais teve qualquer nota negativa a seu respeito. Inclusive, ele até viu sua primeira vitória (Singapura, 2008) ser adiada por não agir assim. Até essa temporada, também, o conceito sobre Rosberg não passava de “um bom piloto”.

De maneiras diferentes, em graus e períodos distintos, Lauda, Piquet, Prost, Senna, Schumacher, Alonso e Vettel uniram talento e o “dirty game”. No fim das contas, é isso que distingue os campeões dos bons tecnicamente?

Num cenário em que a última prova valerá o dobro dos pontos, podemos conjecturar algumas ideias (imagens meramente ilustrativas).

Qual desses desfechos lhe agrada mais?

1) Rosberg chega com uma vantagem mais ou menos semelhante à atual (29 pontos) para Hamilton, podendo ser campeão sem ir ao pódio.

Lewis Hamilton faz a pole, Rosberg comete um erro no Q3 e perde a primeira fila. Larga apenas em quarto. No começo, o alemão prefere não arriscar, caindo para quinto. Hamilton dispara na frente e emenda voltas mais rápidas. Nesse momento, Rosberg levaria o caneco por apenas um ponto.

Com a tremenda superioridade das Mercedes e usando a asa móvel, não é difícil para Nico chegar à terceira posição. O alemão faz uma corrida burocrática, apenas cuidando do quarto colocado, e é campeão mundial comemorando o feito no pódio.

Hamilton, entre desmotivado e com o carro avariado, acaba sendo ultrapassado por Valtteri Bottas, que vence sua primeira corrida na F1.

2) Rosberg chega com uma vantagem pequena (+- 9 pontos), o que torna a segunda colocação insuficiente em caso de vitória de Hamilton.

Lewis Hamilton faz a pole, e Rosberg completa a 1ª fila. Na largada, Hamilton tenta manobra intimidadora, e acaba deixando Nico – com uma trajetória limpa – escapar. Hamilton, que não tem nada a perder e sempre se sentiu como o Ayrton Senna de Suzuka-1989, começa uma insana perseguição ao companheiro de equipe. Consegue superar Nico nos boxes, após bater recordes de pista.

Nas voltas finais, Rosberg tenta de tudo, mas não é o suficiente para bater Hamilton, que lida melhor com os retardatários. Hamilton é campeão mundial pela segunda vez.

3) Hamilton chega com uma pequena vantagem para Rosberg, mas Daniel Ricciardo também tem chances matemáticas de título.

Rosberg fica com a pole, dessa vez. Hamilton larga na segunda posição. No início da prova, Lewis consegue ameaçar Nico, mas o alemão tem a preferência de trajetória e se mantém à frente. No início da segunda volta, porém, Hamilton tenta uma ultrapassagem bastante arriscada, retardando a freada, e acaba tocando a traseira do carro de Nico. Rosberg roda e é obrigado a abandonar.

Hamilton se mantém na pista, mas aos poucos começa a perder rendimento por conta do choque. Vai aos boxes, e a equipe tenta alguma solução. Em princípio, parece funcionar, mas Lewis cai para o meio do pelotão.

Ricciardo é o segundo colocado na prova, agora liderada por Fernando Alonso. Hamilton, oitavo, ainda é campeão mundial dessa forma. No entanto, o inglês não encontra seu ritmo e é ultrapassado por Felipe Massa e Niko Hülkenberg, e agora torce para que Ricciardo caia uma posição. O terceiro colocado, porém, é Sebastian Vettel, que em nenhum momento ameaça o companheiro de equipe.

Ricciardo é campeão mundial de Fórmula 1 pela primeira vez, e a Red Bull é penta no mundial de pilotos.

Seja qual desses cenários a prevalecer, e ganhe Rosberg, Hamilton ou Ricciardo, a temporada 2014 já tem um vencedor: a história.

Abraços a todos!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

10 Comments

  1. Ronaldo disse:

    Acho que o terceiro cenário pode acontecer, com um pouco menos drama, mas vocês devem se lembrar como as red bull estavam incrivelmente velozes nasretas de Spa, com asas traseiras praticamente “flat”, ao contrário da Williams que feio com aquele freio aerodinâmico. A possibilidade de chuva na Itália nesse fim de semana ainda pode aumentar as possibilidades da Mercedes, mas se não houver quebras na RBR o australiano vai continuar colhendo bons pontos. Se o clima estiver seco, aposto em vitória de Vettel ou Ricciardo.

  2. Mário Salustiano disse:

    Marcel

    muito boas as três possibilidades que voce aponta, espero e torço que uma delas prevaleça.

    Meu receio é que um quarto cenário aconteça, Rosberg e Hamilton batam na corrida decisiva, ambos abandonam , ficando claro que houve a má intenção e o título fica com um dos dois, nesse caso a história não ganha nada porque vai se repetir uma disputa suja como exemplo.

    abraços

    Mário

  3. Mauro Santana disse:

    Interessante o seu texto Marcel, mas fico com que o Fernando disse, o Massa não passa ninguém.

    E digo mais, mesmo com a ordem da equipe, acho que agora vai ser a hora de ambos mostrarem quem é o mais pistoludo, e acho que numa disputa na pista, o Rosberg irá sim partir pra cima do Hamilton, pois ele quer o título e não vai respeitar este inglês chorão.

    Que venha Monza!

    Abraço

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  4. Robinson de Carvalho Araújo disse:

    Retornemos no tempo para encontrar casos semelhantes:
    1974 – Ferrari um pouco melhor, briga interna, quebras e o rato vence na regularidade
    1981 – Australiano e Argentino sem se falar na equipe de Frank, Piquet aproveita e arranca o primeiro título na marra
    1986 – Depois do acidente do Frank a equipe Williams demonstra que não aprendeu a lição de cinco anos antes, francês narigudo cerebral leva
    2007 – Como relatado aqui o homem de gelo ganha em Interlagos após tirada de pé do Massa. (Fazia muito calor e tive insolação ao final do dia, mas valeu ter visto de perto o Kimi campeão)

    Já pensei neste caso para este ano, acho bem difícil mas, se eles continuarem batendo cabeça e disputando quem manda mais vão abrir cada vez mais portas para o australiano beliscar mais pontos. Os pontos dobrados da última etapa pode mudar muita coisa em casa de acidente ou abandono!

    Vamos a Monza! Um passeio no antigo oval inclinado vai bem……..

    Bom GP a todos!

    • Mário Salustiano disse:

      Robinson

      eu junto aos seus exemplos a temporada de 73, naquele ano não houve briga entre os pilotos, mas Chapman não soube dosar dois pilotos de ponta na equipe e Stewart na Tyrrell levou o título

      abraços

  5. Eduardo Trevisan disse:

    Essa terceira possibilidade pode até parecer improvável, mas eu tive a impressão de estar assistindo essa corrida. E foi muito boa!!!

  6. Ballista disse:

    O melhor cenário é aquele em que a briga pela vitória seja também a briga pelo campeonato. Então, fico com o cenário 2!!

    Ballista

  7. Fernando Marques disse:

    Marcel,

    a sua 3ª hipotese não vejo com possibilidades de acontecer. Por dois motivos. O primeiro em relação ao D. Ricciardo. Ele vem demonstrando ser excelente piloto mas a RBR ainda está a muitos degraus abaixo da Mercedes. Eu penso que suas 3 vitorias até agora foram mais em razão de falhas da Mercedes e seus pilotos do que méritos da RBR. E qualquer outra vitoria dele viria nestas condições. Fora isso acho impossível a Mercedes permitir qualquer outra situação parecida como ocorrido em SPA entre Nico e Hamilton. O segundo motivo é mais forte ainda. Você fala em Massa ultrapassar o Hamilton ao fim da corrida. Impossível por que o MAssa não ultrapassa ninguém.
    A briga pelo titulo deste deste ano está restrita apenas a dupla da Mercedes. Não vejo chances reais do Ricciardo fazer parte dela, apesar da ciência exata dizer ao contrário.
    Depois do incidente de SPA, a ordem na Mercedes será a seguinte. Quem largar na frente (fazer a pole), ganha a corrida. Ultrapassagens só vai ocorrer em razão dos pit stops.. Qualquer outro resultado será em razão de possíveis quebras. Fora das pistas pode ter chororô a vontade.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *