Clube dos 25

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No dia 28 de outubro de 2018, acompanhamos Lewis Hamilton conquistar seu quinto título mundial na Fórmula 1. É um feito que, de tão seleto, apenas mais dois outros pilotos já o haviam alcançado em 69 temporadas e 995 GPs disputados até então: Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher.

Muitas perguntas se sucedem após um feito dessa magnitude. A primeira, que já até motivo de uma animada conversa em nosso grupo no GPTotal, e que imaginamos já deve estar sendo feita pelos fãs mundo afora. Hamilton é um piloto de envergadura para ser alçado a uma comparação entre os maiores pilotos da categoria e ser colocado num pódio no clube seletíssimo dos cinco melhores pilotos de todos os tempos?

O fato é que esse clube tem uma lista de pilotos que varia muito conforme o interlocutor. Muitos são os nomes e as motivações que cada um dos milhões de torcedores apresenta para defender esse ou aquele nome: Fangio é que é quase uma unanimidade nessas listas, aí seguem-se Clark, Senna, Schumacher, Prost, Stewart, Lauda, Piquet, e mais recentemente Hamilton e Vettel. Ordem e inserções fica a critério de cada um.

Deixo aqui a pergunta, você colocaria quem mais nessa lista acima?

Sou afeito a uma mistura de motivações de cunho emocional e de cunho racional para defender os meus eleitos. Resolvi pelo lado racional levantar uma tabela em que a ordem de percentual de vitórias versus largadas foi o critério para ranquear os pilotos, chegando ao resultado abaixo, em que selecionamos apenas os pilotos que alcançaram a marca de ter vencido 25% das corridas em que largaram.

Já dá para perceber que essa lista é bem resumida. Apenas 10 pilotos a compõem e sim, fomos condescendentes no arredondamento dos números de Moss e Vettel.

Vale ressaltar que nenhum outro piloto da F1 chega a ultrapassar a marca dos 20% nesse ranking quando fazemos a seleção usando esse critério. Daí é que surge a ideia de chamar essa turma de: “Clube dos 25”.

Quando se estabelece algum critério para ranquear pilotos que competiram em fases tão distintas, não se pode de forma alguma dizer que esse é um critério definitivo, ou o melhor, é apenas mais um critério que não tem a pretensão de ser um ranking definitivo dos maiores da história, exceto talvez pelo nome de Fangio.

O argentino estabeleceu com seu jeito e habilidades ao volante uma aura que o tornou um grande senhor das pistas. Até hoje não houve quem repetisse tal feito, e nunca seu nome foi contestado nessa posição. Seu nome encabeçando a lista acima acaba confirmando o respeito que ele estabeleceu entre seus pares e entre os fãs, que o reconhecem como ainda sendo o maior piloto da história da Fórmula 1.

Existe um filme dos anos 70 e um documentário que conta a história do argentino, ambos altamente recomendáveis:

Uma segunda pergunta também está aguçando as recentes conversas. Depois da conquista do quinto título de Hamilton, será que ele vai buscar e tentar quebrar os dois recordes que ainda estão de posse de Schumacher – as 91 vitórias e os 7 títulos mundiais?

Quando analisamos a carreira de ambos, dá para imaginar essa possibilidade por duas razões.

A primeira é que nos números existem uma semelhança interessante entre ambos. Até a corrida do título, no México, Hamilton já havia disputado 227 provas e está em sua 12ª temporada. Schumacher alcançou seus números disputando 307 provas em 19 temporadas. Mesmo retirando as três temporadas abaixo da crítica que fez pela Mercedes, em termos numéricos, isso dá a Hamilton uma margem de quatro temporadas para alcançar os 7 títulos e disputar 80 GPs para passar das 91 vitórias.

A segunda razão, portanto, passa a ser: será ele vai ter motivação e carro para buscar esses números? Só o tempo vai responder. O bom é que nós podemos ser testemunhas dessa história.

Como forma de avaliar essa possibilidade de Hamilton quebrar recordes, temos também a inédita situação na história em que outro piloto com também quatro títulos mundiais está presente nesse período em que Hamilton está construindo seus números. Falamos de Vettel.

No inicio desta década, a balança parecia tender para o alemão ser o grande quebrador de recordes absolutos. Foram 4 títulos seguidos entre 2010 até 2013, o que dá a ele o recorde de mais jovem tetra campeão da história. Após uma fraca temporada em 2014, ele surpreende o mundo e troca a Red Bull pela Ferrari, escuderia italiana que vem buscando um piloto que traga novamente um título mundial, que não acontece desde 2007. Vettel parecia ser a melhor aposta após a turbulenta saída de Alonso.

Já Hamilton, depois da conquista de 2008, amargou anos ruins na McLaren. Em 2013, resolve mudar para a Mercedes com o apoio de Niki Lauda e essa acabou sendo a melhor sacada do inglês, pois desde a volta do time prateado a Fórmula 1 eles estavam mirando construir um time para vencer não apenas corridas, mas sim campeonatos. Com a mudança de regulamento para as chamadas unidades motrizes, combinação de motores turbos com recuperadores de energia, eles acabam construindo um carro imbatível para as temporadas de 2014 até 2016.

O que os anos recentes mostraram foi a Mercedes deixando em aberto a disputa entre seus dois pilotos Hamilton e Nico Rosberg, que ajudou e muito o inglês em seu processo de amadurecimento. Afinal, Nico não se portou como segundo piloto e mesmo sendo batido na média geral de resultados, foi uma pedra no sapato de Hamilton enquanto correram juntos. A sua conquista do título de 2016 deu ao inglês o sabor da derrota com um oponente pilotando um mesmo carro que ele.

Essa é uma daquelas situações em que, ou a pessoa cresce e amadurece, ou declina e cai no ostracismo. Quando alguém sabe aproveitar o aprendizado, tem o fator positivo de ajudar a moldar uma mente mais forte nas adversidades, esse foi um diferencial que Hamilton aproveitou muito bem nesse ano de 2018, uma mente forte nos momentos em que Vettel com sua Ferrari tinham o campeonato a seu favor.

E Vettel? Bem, o alemão ao mudar para a Ferrari encontrou um ambiente ainda mais protegido a sua condição de primeiro piloto, que ele já havia tido na Red Bull. Contrariamente a Hamilton, isso não foi benéfico para sua carreira. Ao não saber lidar com elementos de frustação, Vettel vem tendo um declínio da sua tão boa qualidade de piloto sensato e racional, que se perdeu principalmente esse ano, não com ou dois, mas cerca de cinco erros que o tiraram da luta pelo título.

Emocionalmentefalando, desde o GP da Alemanha, quando Vettel bateu sozinho na liderança da corrida, o campeonato eram favas contadas a favor de Hamilton. Será que ele reverte nos próximos anos, ou vai criar a aura que foi o carro da Red Bull (e não ele) quem ganhou os quatro títulos?

Se fizermos com Vettel o mesmo exercício na comparação com Schumacher e seus recordes, ele teria pela frente o desafio de buscar mais 3 títulos e 42 vitórias nas próximas 4 temporadas. Impossível sabemos que não é, mas improvável eu apostaria que sim, pelo menos com um retrospecto de curva descendente na carreira.

Para finalizar sobre Hamilton e Vettel, como eles ainda não têm a aposentadoria em vista e podem ir mudando seus números, nós os credenciamos a estarem sempre na fila dos maiores da história, com ligeira vantagem para o inglês.

Mas um professor de história uma vez escreveu que certas avaliações só podem ser feitas no contexto histórico quando o competidor encerra sua carreira. Assim, seus feitos podem ser melhor avaliados. Por isso, por enquanto, vamos manter esses dois na fila para esse pódio.

Do atual “Clube dos 25”, num hipotético pódio com cinco degraus a serem preenchidos, colocamos: Fangio, Clark, Senna, Prost e Schumacher, nessa ordem. Com menção e medalha honrosa a Stirling Moss, que é o único piloto nessa lista sem ter um título mundial, o mais famoso “tetravice” da Fórmula 1.

Hamilton e Vettel ainda têm alguns circuitos pela frente até que possam entrar nesse pódio. Não deixem de acompanhar essa dupla nos próximos anos, estamos vendo uma parte da história muito relevante em nossa frente sendo escrita.

E aí meu caro leitor? Em seu pódio, quem você colocaria nesses degraus? Concorda com os nomes que apresentamos? Aguardamos seus comentários.

Até a próxima!

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

3 Comments

  1. Roberto Baydum disse:

    Meu caro Salu…eu, saudosamente, colocaria o Emerson Fittipaldi…e o Lauda…Abraço

  2. tassios disse:

    Acho que Hamilton já está lutando para tirar o lugar de Prost destes 5. E falo isso sem mesmo gostar do inglês. Mas que ele (junto de Vettel) é um genio, isso é inegável.

  3. Fernando Marques disse:

    Vamos lá Mario,

    1) Se colocaria mais algum nome na lista dos grandes campeões mundias da historia da Formula 1?
    Resposta: Sim, Emerson Fittipaldi, Jack Brabham e Fernando Alonso

    2) Se Hamilton pode bater o recorde do Schumacher?
    Resposta: Acredito que sim, se principalmente nestes dois próximos anos a Mercedes continuar forte como vem sendo desde 2014.

    3) Se Vettel pode bater o recorde do Schumacher?
    Resposta: a pergunta não está 100% bem formulada. Primeiro ele tem que bater os numeros do Hamilton e acho que enquanto o ingles estiver nas pistas ele não consegue. Pode até igualar os 5 títulos do Fangio, o que acharia até bom pois a força da Mercedes tem que ser derrubada e só a ele e a Ferrari a meu ver tem potencial para isso atualmente.

    4) Com relação ao pódio do “Clube dos 25” se tal ordem foi determinada pelos numeros, nada a contestar.

    5) O Amigo citou o Stirling Moss como uma espécie de medalha honrosa, pois tem grande percentual entre vitorias e corridas disputadas. A escolha é mais que justa.

    6) Agora eu prefiro listar meus 10 mais preferidos, daqueles que eu vi correr
    1) Nelson Piquet
    2) Gilles Villenueve
    3) Ronnie Perterson
    4) Ayrton Senna
    5) Niki Lauda
    6) L. Hamilton
    7) Nigel Mansel
    8) J. Stewart
    9) J. Carlos Pace
    10) M. Schumacher

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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