Cobertor Curto

Voltamos!
10/05/2013
Papo de Velho
15/05/2013

Tudo sobre o GP da Espanha de 2013, a bela vitória de Alonso e as tendências para o Campeonato.

Os atuais pneus Pirelli são o que convencionou-se chamar de “cobertor curto”, daqueles que, se cobrem a cabeça, deixam de fora os pés. Ou, fazendo a transposição, se servem para treinos, não se sustentam na duração das corridas.

Mas não vou ficar aqui dando opinião sobre isso ser bom ou mau, pois conheço os amigos do GPtotal e sei que estão muito bem aparelhados para formarem as suas próprias. O que me interessa destacar aqui é que os carros de 2013, assim como em alguns outros anos específicos, passaram a desenvolver perfis bastante inclinados, sobrepondo, inclusive, as características de seus pilotos.

A Mercedes, por exemplo. Qualquer piloto que a guie neste momento, irá fatalmente assumir características descendentes, porque o carro é rápido demais em treinos, mas consome a borracha com a mesma pressa nos domingos. E aí o piloto larga na pole e termina em sexto, contaminando suas estatísticas. Já com Ferrari e Lotus existe tendência contrária do piloto ir ganhando posições ao longo da prova. (Guarde: sempre que existir carro ou piloto com perfil inclinado, você verá no mesmo grid o contraste matemático.)

Os engenheiros, claro, buscam sempre o melhor equilíbrio, mas as diferenças de opção acabam por gerar uma dinâmica de posicionamentos nas provas. Ao longo dos anos, sempre defendi que essa seria a melhor forma de propiciar disputas nas corridas, sem apelar para penalizações, inversões de grid, DRS, pneus de cristal e afins. O jeito certo, a meu ver, seria liberar novamente a utilização de equipamentos específicos para treinos, nem que fossem apenas os pneus. Com isso, determinados conjuntos seriam mais competitivos no sábado ou no domingo, criando o ambiente para as manifestações dos perfis.

A F-1 atual, a meu ver, está conseguindo isso de maneira excessivamente artificial.

Sobre a corrida.

Não apenas os carros, mas também os dois pilotos da Ferrari, têm feito inícios de prova muito agressivos, sempre ganhando posições. Em alguns casos, como na Malásia, ocorrem prejuízos também, e esse tem sido um fator decisivo no campeonato, para o bem ou para o mal. Grandes inícios ajudaram Alonso a vencer duas vezes e somar um 2º, da mesma forma que o fizeram abandonar prematuramente quando brigava por outra vitória.

Guiando carros que têm potencial vencedor, Alonso, Kimi e Vettel – este último a depender de características da pista – têm consciência de que precisam de pista livre no início, e isso tem significado superar as Mercedes e um ou outro intruso, com desempenho melhor no sábado que no domingo. Em Mônaco, no próximo encontro, isso deve desenhar uma prova bastante interessante, dadas as dificuldades para se ultrapassar em meio àquelas esquinas.

Na Espanha, essa dinâmica foi justamente a senha para um punhado de manobras espetaculares, como o avanço cirúrgico de Vettel sobre Hamilton na curva 1, e a obra-prima de Alonso por fora, na curva 3, sobre Kimi e o mesmo Hamilton. Ultrapassagem de gigante. Mais uma. E foi justamente esse tipo de manobra antes da liberação do DRS que acabou tornando a coisa tão over quando as asinhas começaram a baixar. As Mercedes, coitadas, não tiveram qualquer chance, e precisamos até louvar a luta de Rosberg para se manter um stint inteiro na liderança. No fim é isso: as regras criam o embaralhamento por vias falsas, até que vem o DRS e o desfaz de modo não mais legítimo.

httpv://youtu.be/YmvLYb52DLU

Numa boa: se as ultrapassagens se tornaram tão banais, por que então não voltar com as ótimas curvas de alta em descida ao fim da volta? Ao menos elas tornariam a coisa um pouco mais difícil, e o espetáculo muito mais bonito…

Bom, mas voltemos à corrida. Eu dizia que Massa também se posicionou muito bem, superando Webber, Grosjean e Pérez nas duas primeiras voltas. Em geral, as primeiras voltas em cada stint foram muito rápidas para Massa, geralmente tão rápidas quanto as de Alonso. O grande problema para o brasileiro se deu com o desgaste, sempre mais acentuado, levantando dúvidas sobre a origem da disparidade. Terá sido o acerto diferente? Terá sido alguma característica de pilotagem?

O fato é que, neste cenário, a estratégia de quatro paradas acabou sendo ótima para o brasileiro, reduzindo o eventual prejuízo da parte final de trens muito longos. É verdade que a terceira etapa, longa e com pneus já utilizados previamente, o custou cerca de 1s por volta em relação ao companheiro de equipe, e o tirou da disputa com Räikkönen. Da mesma forma, Felipe não teve meios de antecipar a última parada e tentar uma caçada final a Kimi, sob pena de acabar perdendo muito tempo nas voltas finais. Mesmo quatro paradas foram críticas a este ponto. Ainda assim, Massa terminou à frente de Vettel em condições normais, tendo largado três filas atrás. Não é todo dia que isso acontece.

Sebastian, aliás, não teve receios em afirmar que não venceu por culpa dos pneus. Pode ser. Talvez com isso ele esteja dizendo que o conjunto está limitado pela borracha, tendo que voar abaixo do que poderia. Ainda assim, a realidade é igual para todos, e méritos para Ferrari e Lotus, que já eram boas e evoluíram ainda mais. A Red Bull, ao que consta, está ainda na fase de experimentação, sem ter encontrado a equação proposta pelo Edu. Na Espanha isso ficou claro como água, quando Vettel atrasou trocas e sacrificou o posicionamento na tentativa de fazer três paradas, e acabou voltando atrás, ficando com o pior dos dois mundos. A equipe vai acabar encontrando o equilíbrio, mais cedo ou mais tarde. Mas talvez tenha um osso mais duro de roer este ano.

Até porque Alonso e Kimi estão guiando muito. O espanhol sentiu que tem neste momento carro pra brigar seriamente por título, como jamais encontrou na Ferrari até aqui. E o finlandês… Que talento tem esse cara! Passei a corrida vendo os tempos de volta, e é lindo ver o que Kimi consegue fazer com os pneus. Sua variação de voltas contrasta radicalmente com a de Felipe, chegando sempre forte ao fim dos períodos de pista. Assim fica fácil jogar com a estratégia e fazer experimentações, e não surpreende que ele esteja há tantas corridas sempre entre os pontuadores.

A vitória de Alonso em Montmelò se enquadra nos mesmos moldes da descrição feita por Lucas Giavoni do sonoro triunfo em Valência, ano passado. Foi, do mesmo modo, uma vitória popular.

Tem sido interessante ver a paixão da torcida nas arquibancadas, quer seja por Alonso, quer seja pela trupe da MotoGP. A Espanha – um dos países mais heterogêneos e separatistas do mundo – parece experimentar um aumento de sua consciência nacionalista quando às margens das pistas de corrida. E o momento, de fato, é espetacular.

Eu não deveria falar aqui de algo que aconteceu há uma semana, mas não tenho como evitar. Os amigos por acaso prestaram atenção ao que Sébastien Loeb aprontou aqui ao lado, na Argentina?

Em resumo, a Volks vem dando um chocolate na antes imbatível Citroën, confirmando o favoritismo do excelente Sébastien Ogier e a falta que faz o gênio de Loeb. Na temporada, Ogier havia sido superado somente em Monte Carlo, justamente por Loeb, numa de suas quatro aparições planejadas para o ano. Na neve da Suécia Ogier deu o troco, deixando a disputa pessoal entre os dois melhores pilotos de Rally do mundo empatada.

Bom, isso foi no início da temporada, e de lá pra cá a Citroën fez diversas mudanças em seu carro, buscando adequá-lo ao estilo de Hirvonen, seu atual 1º piloto. Loeb não havia testado o carro, e quando chegou à Argentina teve que se adaptar. Explicaram o que havia mudado, e ele passou a guiar fora de seus padrões e sua zona de conforto. Começou o rally em 2º, atrás de Ogier, mas no sábado já estava à vontade o bastante para abrir luta e começar a devorar a desvantagem. Por fim a pressão foi tanta, que levou o Seb mais jovem ao erro. Foi a 8ª vitória consecutiva de Loeb na Argentina, batendo o conjunto que só ele consegue superar e que, salvo uma hecatombe nuclear, irá sagrar-se campeão mundial este ano e em muitos outros também.

E Loeb me faz isso num carro preparado para Hirvonen, que, apesar de excelente, ainda não venceu no ano… Sério, já não tenho adjetivos para ele.

Loeb, por sinal, também já venceu no mundial de GT, e ano que vem deve correr em Curitiba no WTCC. Para quem ama esse esporte, é obrigação estar lá para ver.

E para encerrar a coluna, ainda no universo dos ralis, fica aqui uma curiosidade. Atualmente, o 3º piloto mais rápido do mundo neste tipo de competição parece ser polonês. Testando os carros de Jari-Matti Latvala e Peter Solberg, nosso homem conseguiu ser sensivelmente mais rápido que ambos, e em tudo que competiu até agora (campeonato europeu ou WRC2), sempre liderou com folga até bater.

Seu nome: Robert Kubica.

Abraços, e uma ótima semana a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

6 Comments

  1. Lucas dos Santos disse:

    Mauro,

    Quanto ao WRC, que estou acompanhando pela primeira vez este ano, acredito que o Ogier tinha chances de se recuperar do erro e bater Loeb no final.

    O que arruinou Ogier foi o tempo perdido com um furo de pneu, ocorrido no SS seguinte ao qual ele cometeu o erro. Esse furo permitiu que Loeb ampliasse a vantagem e Ogier passou a pensar no campeonato, se aproveitando da vantagem que ganhou em relação ao terceiro colocado (graças ao abandono de Hirvonen), não assumindo riscos desnecessários e se conformando com a segunda colocação.

    Mas isso não tira os méritos de Loeb, que mostrou que é possível vencer rallys com o carro da Citroën. O mesmo carro que Hirvonen criticara nas etapas anteriores, a ponto de afirmar que precisaria voltar para as pranchetas.

    • Salve Lucas!
      Pois é, sua opinião coincide com a do próprio Ogier, e as declarações que ele deu após o rali. Na verdade, o próprio acidente teve origens mecânicas, com uma falha no freio de mão e outra no diferencial traseiro.
      Antes disso, no entanto, Loeb já vinha descontando a diferença de maneira consistente, após um período de adaptação ao novo carro na sexta-feira, quando também utilizou pneus inadequados às condições.
      As melhores análises apontam para um final apertado em condições normais, mas fica evidente que, uma vez adaptado, Loeb vinha sendo constantemente mais rápido que o rival. E tradicionalmente ele erra menos também, como vimos em 2011.
      Considerando que o homem vem correndo em autódromos, e não participou do desenvolvimento do carro, foi sem dúvida uma atuação fantástica. Até porque Ogier, sempre vale lembrar, é bom demais.
      Na França, casa dos dois, o encontro volta a acontecer, naquela que pode ser a última participação de Loeb no WRC. Vem mais um thriller por aí.
      Abraço, e escreva sempre.

  2. Fernando Marques disse:

    Eu achei o GP da Espanha muito bom de se ver … independentemente das razões que cuminaram tantos pit stops … a corrida foi cheia de emoção do inicio ao fim … em resumo … a pouca duração dos pneus Pirelli está trazendo emoção as corridas …
    Que as Mercedez consomem mais pneus creio que depois deste domingo ninguem mais vai duvidar … agora o próximo GP é em Monaco e ultrapassar lá nem com asa aberta se consegue … se fizerem novamente a dobradinha na 1ª fila veremos a maior fila indiana já vista na Formula 1 …
    A corrida de Massa foi boa pois usou o mesmo plano do Alonso … não tentou algo diferente e pior …
    Vettel a meu ver não esperava um desempenho tão forte da Ferrari e tem mais é que ficar contente com seu 4º lugar …
    O Mauro santana falou do tantantan que faz tempos que não toca … acho melhor a Globo levar a musica para a GP-2 …

    Fernando MArques
    Niterói RJ

    • Mauro Santana disse:

      Concordo contigo Fernando!

      E aproveitando o comentário do Fernando, acho que o Massa deveria em alguns casos ficar de olho no que o Alonso faz, e se ver que esta certo acabar fazendo a mesma coisa, pois o espanhol é fera!

      Abraço!

      Mauro Santana
      Curitiba-PR

  3. Mauro Santana disse:

    A respeito dos pneus, vou contar uma pequena e rápida história que aconteceu com um amigo meu.

    Ele foi comprar quatro pneus novos para o carro da sua esposa, e quando foram num auto center o vendedor dentre outras marcas ofereceu um modelo da Pirelli, e olha a resposta que a esposa deste meu amigo deu:

    “Se estes pneus Pirelli fossem tão bons, não se esfarelavam nas corridas de F1, e os pilotos não precisavam trocar tantas vezes nas corridas, não quero pneus Pirelli no meu carro.”

    Essa é a imagem que a Pirelli esta passando para o seu público mais informal, mas que na maioria das vezes se torna o público principal.

    E assim vamos, com essas corridas com uma enormidade quantidade de paradas de pneus, pois acabaram o reabastecimentos, mas continuam as paradas obrigatórias.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  4. Mauro Santana disse:

    Com certeza irei visitar os box aqui do AIC para tirar umas fotos do Loeb, da mesma maneira que fiz uns anos atrás com o Farfus e o Zanardi.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *