Corridaça! Quer dizer…

Remédio sem doença
11/06/2012
A Favorita
15/06/2012

O último GP do Canadá foi, sim, muito bom. Mas a minha dúvida é se não estamos nos contentando com muito pouco. Aquela história de "qualquer pé de galinha já vira uma canja", sabe como?

Em sua mais recente coluna, Márcio Madeira explorou muito bem a ideia de “grandes corridas”, de “finais surpreendentes”, de “ultrapassagens ousadas”, etc, na Fórmula 1 atual: por melhor que seja, tudo parece refém de artificialidades criadas em nome da ‘competitividade’.

O último GP do Canadá foi, sim, muito bom. Mas a minha dúvida é se não estamos nos contentando com muito pouco, a ponto de a etapa de Montreal merecer ser chamada de corridaça. Aquela história de “qualquer pé de galinha já vira uma canja“, sabe como?

Essa de sete vencedores em sete etapas é uma grandiosa sacada. E o termo “temporada mais competitiva de todos os tempos”, novamente, me parece uma hipérbole daquelas bem dispensáveis. Não porque houve uma temporada como a de 1982 com 11 vencedores em 16 etapas (recorde que pode, finalmente, vir a ser quebrado), mas porque o número excessivo de vencedores nada diz quanto à disputa do caneco.

O mais bem colocado após o “TOP 3” é Mark Webber, um dos que não empolgam nem quando vence um GP, e isso já diz muito. A briga pelo título vai, cada vez mais, ficando reduzida aos três pilotos (Hamilton, Alonso e Vettel) que são os que de fato merecem ser campeões pois unem o talento, a consistência e o arrojo necessários para este “cargo”.

E é nisso que devemos nos ater: ao fato de estarmos vendo três grandes pilotos disputando, prova a prova, um campeonato. Coisa que não víamos, de verdade, desde os idos de 1986 e 1987. Em 2003 tivemos 3 pilotos separados por dois pontos a 3 etapas do fim, mas isso não significou nada. (Há também o caso da temporada 2007, mas foi uma situação atípica em todos os sentidos.)

Separador

Não há dúvidas de que estamos testemunhando uma das melhores gerações de pilotos de todos os tempos: além dos três gigantes supramencionados, temos pilotos novos de grande gabarito, temos ex-campeões retornando às pistas e ainda coadjuvantes que vez em quando vivem momentos de protagonismo.

Por tudo isso é que lamentamos a regra dos dois tipos de compostos, das asa móvel, etc. Como disse o leitor Allan na coluna anterior, “os pneus [e as regras] são os mesmos para todo mundo”. Fato, mas da mesma forma que quando um time considerado ‘grande’ vai enfrentar times sem expressão na altitude ou em gramados que mais parecem campos minados e saem derrotados ou dando a impressão de terem desaprendido a jogar bola, tais regras acabam tirando a possibilidade de o talento prevalecer, simplesmente porque não há chance de defesa.

E digo isso nem mesmo pensando no lado do ultrapassado, mas também no daquele que executa a manobra: “ah, mas fulano só passou por causa da asa móvel“, “se o pneu do outro não estivesse esfarelado nunca que ia passar“, e por aí vai.

Separador

Há pouco falei sobre coadjuvantes que vez em quando são protagonistas, e vejo que essa frase se aplica somente a Webber, nessa temporada. Button, que já foi campeão mundial e não mereceria, em princípio, a alcunha de coadjuvante, está tendo um desempenho não mais que risível nessa primeira metade do campeonato: apenas dois pódios em sete corridas, e uma amarga oitava colocação no mundial de pilotos. Não seria tão ruim caso ele pilotasse por outra equipe que não a McLaren, e seu companheiro fizesse algo menor que pontuar em todos os GPs e liderar o certame.

A prova de Button no Canadá, desde os treinos, foi abaixo da crítica.

Felipe Massa, vice-campeão em 2008 e vencedor regular de GPs durante três temporadas, parece trilhar caminho ainda pior: são míseros onze pontos e a 14ª colocação. Massa tem a segunda pior porcentagem de pontos dentre as equipes que pontuaram no mundial de construtores: Massa é o responsável por 11,34% dos pontos da Ferrari, e só é superado por um tal de Michael Schumacher, que como bom “rei dos recordes” fez questão de abocanhar mais esse.

Mas não só em números Massa vive momento crítico: no Canadá, tanto nos treinos quanto na corrida, foram seus erros que acabaram com suas chances. E Sérgio Perez fazendo pódio…

Separador

Mostrando a ilusão da temporada de 2012, temos alguns pilotos que no começo do ano pareciam que iriam ter momentos interessantes ficando cada vez mais apagados: falo de Bruno Senna, Kobayashi e do próprio Maldonado.

Os dois primeiros porque já vem sendo observados há mais tempo, e nas primeiras etapas eram mais consistentes que seus companheiros de equipe. Mas a ascensão do companheiro veio a esmagá-los, e estão se tornando apenas números.

Quanto a Maldonado, a queda a que me refiro é a de alguém que já venceu um GP e, portanto, esperava-se mais.

O mesmo não acontece com Romain Grosjean que, mesmo tendo um campeão mundial ao lado, não se intimida e já quase empata com o companheiro de equipe em pontos. Grosjean está melhor que Button, oras.

Separador

A Fórmula 1 agora retorna à Europa na pista de Valência. Pista de rua… E a chance de vermos um oitavo vencedor é a mesma de não termos uma corrida com grandes brigas: enorme.

E aproveitando que falamos de grandes momentos do passado nessa coluna, não deixe de visitar (e curtir) nossa página no FaceBook, relembrando grandes datas e momentos da história da F-1.

Boa (resto de) semana a todos!

Marcel Pilatti

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

6 Comments

  1. Allan disse:

    Obrigado pela minha citação, ainda que discordando da minha conclusão. De qualquer forma, Marcel, entendo exatamente isso: a essência esportiva dessa temporada é a disputa ponto-a-ponto dos 3 melhores pilotos da atualidade, e eles mostram exatamente isso: Vettel, que não se entendia com o carro, rapidamente buscou compreendê-lo para superar Webber ou ser o ascendente de sempre em corridas (vide Mônaco). Alonso se superou e colocou uma média Ferrari no topo da classificação, marcando pódios quando os outros patinavam. Hamilton, que não se entendia com os pneus, deixou de lado as bobagens e erros do passado para sempre pontuar, e é certo que se a McLaren não tivesse errado em suas paradas e estratégia em ao menos 4 corridas, teria vencido em Barcelona e pontuado bem melhor nas outras…
    A vitória dos demais, ainda que não acrescente na disputa do título (ainda bem, o que comprova que os pneus não são tão preponderantes assim), temperam a temporada, já que ali não tem bobo, só craque (ok, uns 16 são). A vitória dos bons Maldonado e Rosberg não caíram do colo, foram construídas, exatamente como se via nas temporadas citadas.

  2. Mauro Santana disse:

    Amigos do Gepeto!

    Eu não gosto e sempre fui contra ao Kers e o DRS, por várias vezes falei isso aqui no Gepeto.

    Agora me respondam uma coisa:

    Japão 1989, teria alguma graça se o Senna passasse pelo Prost de passagem sem uma batalha digna de dois Gigante!?

    Minha opinião?

    Nenhum pouco!

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  3. Arlindo Silva disse:

    Amigos,

    Em 1982 tivemos 11 pilotos vencendo corridas. Mas que disputaram o título efetivamente, somente podemos computar Prost, Pironi, Watson e Rosberg. Com um pouco mais de benevolência incluiríamos aí Niki Lauda.

    Elio de Angelis, Patrick Tambay, René Arnoux, Nelson Piquet, Riccardo Patrese e Michelle Alboreto, os outros que venceram GPs foram coadjuvantes naquela temporada.

    Além disso, apesar da multiplicidade de vencedores, não significa que tenha sido uma temporada rica em GPs emocionantes. O GP de Monaco de 1982 ilustra bem isso: corrida enfadonha durante 72 voltas, teve alguma dose de emoção somente nas 4 voltas finais e devido a um fator randômico (chuva). Idem para os GPs da Austria e Suiça. Outras etapas como o GP da França, Inglaterra ou EUA Leste e EUA Oeste podem servir como um excelente remédio contra a insônia.

    Poderia citar casos de outras temporadas, como 1975 (que teve 9 vencedores diferentes, mas sem qualquer disputa efetiva de título), 1977, etc.

    Insisto também no ponto: se hoje temos o DRS, nos anos 1980 existiam os pneus e motores de qualificação, o consumo de combustível restrito e o botão de boost que gerava discrepâncias entre a potência dos carros.

    Poder-se-á argumentar que havia liberdade para tal ao contrário do cenário atual onde há uma restrição extrema. Mas o ponto aqui é a tal realidade esportiva. E em ambos os cenários ela foi alterada, seja pela total permissividade, ou pela total restrição.

    • Marcel Pilatti disse:

      Arlindo,
      Não sei se não fui claro, mas em momento algum quis dizer que a temporada de 1982 tenha sido a mais competitiva de todas. Pelo contrário, usei justamente aquele exemplo para dizer que número de vencedores não é igual a competitividade.
      Abraço!

    • Fernando Marques disse:

      Talvez por esse motivo o Niki Lauda diz não estar gostando de tantos pilotos vencedores neste ano …

      Fernando Marques
      Niterói

  4. Fernando Marques disse:

    Marcel Pillati,

    na verdade esta regra de usar dois tipos de pneus e asa movel nivela por baixo a competitividade entre equipes e pilotos.
    No inicio da temporada creio foi opinião quase unanime (inclusive a minha) por causa das regras dos pneus que Jason Button certamente teria um desempenho superior e melhor que o L. Hamilton, extamente por ter um estilo de pilotagem mais Alan Prost em comparação ao estilo agressivo de seu companheiro na Mclaren. Só que não é isto que está acontecendo. Button vem cometendo erros que normalmente seriam cometidos pelo Hamilton. O que estaria acontecendo com ele?
    A vitoria do Maldonado foi legal mas ele jamais estará lutando por titulo neste momento. A Willians não tem cacife a meu ver para brigar de igual para igual com a Ferrari, Mclaren e RBR.
    O momento de MAssa é mais do que crítico e ele sabe que não terá o contrato renovado na Ferrari, salvo um milagre e ele consiga ter resultados que invertam esta situação. Acho dificil pois jamais a Ferrari vai prejudicar o Alonso nesta altura do campeonato em pró de bons resultados para o MAssa, a não ser que ele chegue sempre atras do espanhol. Fora isso a entrevista que Massa deu dizendo que pode sair da Formula 1 se não tiver numa equipe de ponta ano que vem, é um bom indicio que ele sabe já estar fora da Ferrari em 2013.
    Com relação ao campeonato a briga será realmente entre Alonso, Hamilton Webber e quissá Webber. Esta temporada acima de tudo vai premiar os mais regulares, aqueles que estão sempre somando bons pontos. Somente eles estão neste nivel.
    Com relação a temporada de 1982, creio que as fatalidades ocorridas na Ferrari fez daquele campeonato talvez o mais equilibrado já visto. A Ferrari em 82 tinha o melhor carro e pelo menos 2 pilotos em condições de brigar pelo titulo. E perdeu seu dois pilotos titulares. Penso que se não tivesse ocorrido os dois acidentes (com Gilles e Pironi) dificilmente a o titulo estaria na mão de um deles, ou disputado apena entre eles.

    Fernando MArques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *