Domingo dos sonhos

Tragédia, polêmica e glória
20/05/2015
A história num só dia
25/05/2015

O domingo dos sonhos do automobilismo chegou (e também do sonhado domínio absoluto da Mercedes em 2015).

Estamos todos reunidos para 62º edição do charmoso GP de Mônaco! Salvo 8 edições, sempre esperamos o último domingo de maio para ver nossos adorados e velozes carros correndo apertados em corredores estreitos delimitados por guard-rails.

A prova é um absurdo logístico e um pesadelo tedioso para quem assiste. Mas ninguém tem a menor intenção de tirá-la da F1. Hamilton com contrato renovado, Rosberg embalado por correr em casa depois de uma vitória, fim-de-semana com Indy 500 e 600 Milhas de Charlotte, você arriscaria tirar a Formula 1 do fim-de-semana mágico da velocidade em uma de suas praças mais tradicionais?

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O fim-de-semana de Mônaco é todo diferente desde que o mundo gira e existe a F1. Não seria diferente no GPTotal, afinal de contas você já tem acesso a tabela de tempos quando essa coluna chega na internet.

Pode ter certeza, com a tabela de tempos dos treinos livres 1 e 2 aberta na janela ao lado, você vai confirmar que a Mercedes colocou “uma luneta” nas outras equipes. Uma luneta, uma década, um caminhão, escolha o termo mais adequado, mas o fato não muda: após Barcelona, a distância para os demais aumentou.

Não é fantasia, Rosberg deixou o construtor adversário mais próximo a 45 segundos de distância ao final do GP de Barcelona. Na Austrália, a diferença entre Mercedes e Ferrari foi de 32 segundos. Tá certo, é tudo relativo por GP, mas em um circuito que abriga as condições mais conhecidas e testadas da F1 atual, Rosberg, na média, foi 6 décimos de segundo mais rápido por volta em ritmo de corrida.

É muito tempo. Um conto de fadas. Um sonho para quem busca alcançar um tri-campeonato, arrisca-se dizer.

Alguma chance disso mudar? Sim, corrida a corrida, situações especiais, e possivelmente depois da pausa para o verão europeu. Podemos sim desde já – e até o fim do ano – ter corridas movimentadas, emocionantes, etc etc etc, mas não teremos um campeonato. O campeonato será decidido entre os mocinhos da Mercedes. Sem grandes emoções.

Para a concorrência ficar ainda mais triste, Hamilton renovou – ‘milhonariamente‘ – por mais 3 aninhos. De bolsos cheios e no auge de sua expressão como piloto, quem vai parar o Inglês?

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httpv://youtu.be/nrzmnQvkK3c

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A imagem de desolação do final de semana do GP da Espanha é claramente a de Button. Depois de uma corrida sem largar (lembram do Bahrein?) o simpático britânico classificou a corrida com a mais assustadora da sua carreira. Olha que ele ainda levou em conta aquele Honda ano/modelo 2008 que tomava tempo de quem quisesse.

Agora, com o ânimos mais calmos e depois de dois dias de teste pós-gp eu não sei o que me assusta mais: a situação vivida por Jason ou a afirmação da turma da Honda que vem pódio por aí!

Brincadeira à parte ninguém desconfia do potencial técnico desse time. Ainda mais que está claro que a Honda trouxe todo o dinheiro necessário. Só fica uma pontinha de desconfiança no desastrado Eric Boulier, pelo menos na imprensa ele não dá uma cartada dentro.

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httpv://www.youtube.com/watch?v=Mt-QOtOeQk0

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O legal da F1 desse ano é o clima de solidariedade. Se a McLaren está no buraco, é só olhar pro box ao lado e você vê a turma da Renault se descabelando. Se você olha pro outro lado tem sempre a Ferrari prontinha para uma trapalhada.

Logicamente que não passamos o GP de Barcelona sem um típico drama italiano. As atualizações trazidas para a corrida foram contestadas por seus pilotos. Os dados não eram conclusivos e não havia base para decidir que caminho seguir.

É duro para um time que ainda se ressente da ausência dos testes de pista a sobreviver em tempos de simuladores, qual decisão? Cada carro vai pra pista usando uma especificação. Um resignado Raikkonen explica: “Em um teste, é apenas um carro e quando você muda alguma coisa, não tem uma comparação direta. Então a única maneira de fazer isso e ver a diferença é correr com dois carros ao mesmo tempo no circuito, com coisas diferentes. Eu estava preparado para assumir o risco e sacrificar o resultado um pouco, mas é assim que funciona. O resultado não foi bom, mas foi apenas uma corrida”

Experimentações concluídas, os carros atualizados vão estar em Monaco!

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Nas equipes Renault o clima é de velório para Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat, Max Verstappen. Chegam a Mônaco com sua quarta e última unidade de potência. Acabou. Agora pra trocar, só com punições. Esse é o pesadelo dos dois times. Por outro lado, sem depender de potência, podem fazer boa figura. E aí vem a surpresa do ano, a Toro Rosso. Seu carro está equilibrado e anda nos treinos com potencia liberada. Nas corridas perde terreno por usar um mapeamento que limita seus giros. Mas em Mônaco ninguém passa, largar bem pode garantir volumosos pontos para o time B.

Quanto ao time principal, não se duvida que estejam um pouco preocupados com a falta de experiência de suas apostas que ocupam os dois cockpits no desenvolvimento de um bólido. Está difícil fazer o carro andar com o mínimo de equilíbrio.

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Lógico que tem Indy! Lógico que todos os amantes do automobilismo vão acompanhar! E lógico que vamos todos torcer para todos os pilotos saírem vivos e saudáveis da pista. A situação da Indy é perigosa.

A programação de maio foi reduzida de 1 mês para 2 semanas. Havia um motivo para ser um mês inteiro que não era só tradição. Como a Indy permite participantes somente para essa corrida, era tempo suficiente para os times se prepararem para desafiar as poderosas equipes que competiam a temporada toda. Todo mundo conhecia a pista e o comportamento dos carros. Era um mês produtivo.

Em duas semanas de teste o pessoal da Indy descobriu que os carros tem tendência a capotar. Isso mesmo que você leu, capotar. E pode ser após um toque no muro, não precisa ser aquelas pancadas violentíssimas. Gente experiente ao volante – Helio Castro Neves que o diga – dirigiu um carro indócil, carente de testes e viu sua vida de cabeça pra baixo.

A velocidade em Indy é assustadora. O record de uma volta é de Arie Luyendyk com assombrosos 239.260 mph (ou 385.052 km/h), em um treino livre da etapa de 1996 – o 1º ano do racha da IRL com CART que produziu uma corrida com regulamento maluco, com uma infinidade de carros diferentes correndo. Arie fez sua volta sentado num bloco v8 do Oldsmobile Aurora derivado de motores de carros de rua. Com 4.0 L e girando a 10.500 rpm, o motorzinho produzia quase 800 cavalos bloco Cosworth DFX, V8, bi-turbo com simpáticos 840 cavalos. Corta para 2015 e Pagenaud levou seu Penske-Chevrolet em um passeio pelo traçado com 230.698 mph – ou singelos 371.272 Km/h – de média na volta. Ele pilotou um Chevrolet V6 2.2 L biturbo que nos superovais liberam por volta 575 cavalos a 12.000 rpm. Você tira duzentos cavalos de um carro na força do regulamento e só perde 15km/h de média? É muita velocidade vindo do avanço aerodinâmico.

Avanço aerodinâmico que não foi testado devidamente. Foram duas semanas de treinos e mais um teste privado no começo de Maio. É muito pouco e, desculpe Tony Kannan, essa irresponsabilidade não faz parte do esporte.

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Depois das dificuldades técnicas dos times que andam de Honda e Renault, a Williams vem lutando para fazer a força do seu Mercedes não destruir seus jogos de pneus. A equipe não entendeu ainda a tração de seus carros e seus pilotos, em seus melhores dias, nas suas melhores voltas, trocam tintas somente com a Ferrari. É muito pouco pelo nível do time no final da temporada passada. É muito pouco pelo motor bem resolvido que tem.

Já não pode-se botar a culpa somente na falta de recursos. A falta de recursos será sentida ao longo da temporada, mas o carro em nenhum momento apresentou qualidade suficiente para diminuir a diferença para Mercedes de fábrica. É preciso que o time técnico evolua junto com os resultados.

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Também temos em Charlotte a Coca-Cola 600, super tradicional prova da NASCAR.

Esse ano não teremos ninguém tentando o Duble-Duty, fazer a prova em Indy e voar para Charlotte para completar mais 600 milhas nos carros stock. O último a fazer isso foi Kurt Busch, no ano passado.

As organizações dos dois campeonatos gostam do intercâmbio e quem vai dirigir o pacecar em Indy esse ano é o multi-campeão da Nascar, Jeff Gordon, que pendura o capacete ao final da temporada.

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No pelotão do meio, a Sauber já avisou para Felipe Nasr que seu carro que será atualizado no GP da Hungria. Veja só, na Hungria, em 26 de Julho. Até lá, só algumas miudezas para manter o carro adaptado as pistas de cada Grande Premio. Não há dinheiro e o trabalho continua o mesmo: ser mais rápido que Marcus em todas as corridas. Só isso.

Na Force India o fim de feira é mesmo de sempre. A desmotivação é o prato do dia. Perez está cada vez mais infeliz em suas declarações sobre o carro e Nico cada vez mais encantado com os desafios da Porsche em Le Mans.

A Lotus vive um dilema. Maldonado continua desenvolvendo sua fama de destruidor veloz. Grosjean, nenhum gênio da raça, foi formalmente avisado (ou formalmente liberado para imprensa) que o carro que vai ser cedido para os pilotos de teste da escuderia em 10 treinos livres é o dele. Com testes limitados e com voltas limitadas por motores e pneus em cada fim de semana, o francês perde uma sessão de testes importante e um jogo extra de pneus para testar novidades no carro. Quem testa é o novato piloto de testes. Clima bom na garagem, né?

Pelo menos em Mônaco ele senta no carro em todas as sessões.

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Era esperado algum resultado positivo do último encontro do grupo técnico que decide as novidades da F1.

Qual foi a grande declaração da última semana? “Vamos fazer medidas para baixar o tempo de volta em 5 ou 6 segundos”.

Promete? Não, não prometem nada. Falaram em aumentar o pneu traseiro. Mudar a aerodinâmica com uma revolução e diminuir o peso do carro dos atuais 691 kg.

E aí abrem o saco de bobagens. Volta do abastecimento com seus custos, riscos e variações incríveis de estratégia mas sem mudar o fluxo de combustível que cada carro pode consumir. A única proposta divertida é liberar o numero de giros.

Tudo isso para 2017.

Para 2016, cada equipe poderá escolher dois dos 4 pneus disponíveis pela fabricante para cada corrida. Olha que bela forma de chamar a atenção do público, né? Ninguém vai entender mais nada das corridas. O super macio é o mais rápido para a Mercedes, mas a Ferrari faz uma parada a menos se usar os duros. Fácil para captar a atenção de novos fãs, não?

Respostas definitivas? Só no mês que vem. Vão também avaliar a possibilidade de vender carros ou várias partes (incluindo chassis) para equipes menores. Se isso não vingar, as grandes pensam em alinhar 3 carros.

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A Marussia nesse fim de semana é de partir o coração. Seu piloto operou um milagre o ano passado e garatiu o time em 2015, mas hoje está em coma. Jules faz falta para todo o circo e seu destino nesses últimos 8 meses não é projetado de forma otimista.

Apesar da simpatia do time, um carro totalmente sem patrocínios, não poderia ter o nome de Jules em destaque? Nas laterais? No bico?

Só uma “hashtag” na asa traseira parece injusto. E patético.

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Chegamos ao 17º mês do acidente de Schumacher. Sem notícias, só tristeza.

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Circuito: Circuit de Monaco
Voltas: 78
Comprimento: 3.340 km
Distância: 260.520 km
Recorde da Pista: 1:14.439 – M Schumacher (2004)

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Programação
Quinta-Feira: 5h00 – 1º treino livre e 9h00 – 2º treino livre
Sábado: 6h – 3º treino livre e 9h – Classificação
Domingo: 9h – Corrida

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Não esperem novidades ou grandes aventuras no GP de Monaco. Com os atuais carros, são quase duas horas de corrida em fila indiana. Mas podemos esperar milagres na prova dos sobreviventes dessa maratona pelas ruas do Principado.

Se o campeonato da F1 caminha para um dono inconteste dentro da equipe dominante, ao menos o último final de semana de maio nos reserva mais de 2000km de corridas pela América.

Diversão não vai faltar! Um final de semana incrível para todos nós!

Abraços, Flaviz Guerra – @flaviz

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

7 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Flavis e a galera já disseram tudo o que poderia ser dito …
    agora é esperar o domingo chegar e se deliciar com belas corridas …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Marcelo C.Souza disse:

    Ótima coluna,Flaviz! Este fim de semana realmente promete!!!

    E vamos torcer também para que nenhum carro decole durante a edição da Indy 500 deste ano!

    Quanto ao recorde de velocidade média estabelecido pelo Arie Luyendyk,é importante salientar que em 1996 as equipes da então recém-criada IRL ainda utilizavam os motores V8 turbo de 2.4 Litros de cilindrada e 950 cavalos de potência(a 14.700 rpm) da CART(da Ford ou da Mercedes),assim como os chassis da mesma(os Reynard e os Lola de 1992 a 1995). Ou seja,o “holandês voador” estava guiando um Reynard-Ford de 1995,na realidade.

    Os motores V8 aspirados de 4 Litros de cilindrada e 730 cavalos(a 10.500 rpm) derivados dos carros de passeio(o Oldsmobile Aurora e o Nissan Infiniti) e os novos chassis da IRL(o Dallara e o G-Force) só passaram a ser usados a partir da temporada de 1997,com o intuito de reduzir os custos das equipes menores.

    Um forte abraço!!!

    Marcelo C.Souza
    Amargosa-BA

    • Flaviz disse:

      Perfeito Marcelo, o problema é que ouve uma temporada 1996-97 da IRL que ele usou esse Aurora, daí minha confusão. Obrigado!

  3. Lucas dos Santos disse:

    Monaco, uma corrida rodeada por “tradições”, terá uma tradição a menos esse ano: graças à regra que proíbe os pilotos de trocarem de capacete, eles não poderão utilizar “edições especiais” dos cascos, que sempre eram uma atração à parte nesse evento. No mais, será mais um fim de semana especial para o automobilismo. Vou assistir a corrida da Indy também, mas, sem dúvidas, será um clima de tensão.

    Quanto às alterações no regulamento, algumas são interessantes, outras, discutíveis. Não vejo lógica na volta do reabastecimento. Quando proibiram o reabastecimento, disseram que seria para deixar as corridas “mais interessantes”. Agora vão permitir sob esse mesmo argumento? Não dá para entender. Em relação aos pneus, eu seria mais “radical” nessa parte: liberaria os quatro tipos de pneus para as equipes utilizarem como bem entendessem! Cada uma utilizaria aquele que se adaptasse melhor ao seu carro e à pista. As cores dos pneus evitariam qualquer confusão por parte do espectador. Liberar o número de giros seria interessante e deixaria a categoria menos “engessada”.

    • Mauro Santana disse:

      Concordo contigo Lucas.

      Na minha opinião, a F1 deveria voltar ao regulamente das temporadas de 89/90.

      Lembro que em provas como Monza, alguns pilotos optavam por pneus tipo B(duros) do lado esquerdo do carro, e tipo C(moles) do lado direito do carro.

      Ou seja, havia liberdade de escolha, e assim, equipes menores podiam lutar até por vitórias, que foi o caso da Leyton House com Ivan Capelli no GP da França de 1990, aonde o italiano optou por largar com pneus mais duros, e assim não parar nos box.

      Resultado, defendeu a ponta até as duas voltas finais, cruzando a linha de chegada em segundo.

      A F1 tem um passado tão rico, mais tão rico, que é só copiar algumas regras de antigamente, que certamente iria melhorar as corridas.

      • Flaviz disse:

        Mauro, seria incrível permitir essa flexibilidade e deixar um pouco na mão do piloto a estratégia para a hora da corrida!

  4. Mauro Santana disse:

    Belo Texto Flaviz!!

    Realmente este domingo para nós apaixonados pela velocidade, é daqueles de ficar ligadaço na frente da TV.

    A lógica é que a Indy 500 seja mais empolgante que Mônaco, mas, as corridas no principado são sempre especiais, e sendo assim, tudo pode acontecer.

    As mudanças que muito se falaram nos últimos dias, partiram do grupo de estratégia da F1.

    Eu sou contra a volta do reabastecimento, e já me expressei bastante qual é a minha opinião de quais mudanças deveriam ser implantadas na F1.

    Mas, vejam o que eu lembrei e trouxe a vocês via o vídeo abaixo, o que a velha raposa queria propor para o meio da temporada de 1989.

    Deixo a vocês escutarem e tirarem as devidas conclusões.

    Mas, só digo uma coisa, para uma época em que a F1 vivia tempos em que umas 4 equipes brigavam por vitórias, umas 10 por pontos, e a velha raposa teve uma ideia dessas, o que dizer então da F1 atual.

    Segue o vídeo, e o assunto esta no 1m40s.

    https://www.youtube.com/watch?v=cyfVkmL-43U

    É isso.

    Abraço e um excelente fim de semana de velocidade a todos.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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