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Dois campeões mundiais numa mesma equipe: pesadelo para uns, sonho para outros.

Dois campeões mundiais numa mesma equipe. Dois dos melhores pilotos do mundo dividindo os boxes, as atenções e os recursos – quando não os pontos – de um único time. E aí, sonho ou pesadelo?

Se nessa altura você está pensando que esta coluna será dedicada à Ferrari e ao convívio entre Kimi Räikkönen e Fernando Alonso, se enganou. O time dos sonhos ao qual me refiro é o que a Citroën formou para sua temporada de estreia no Campeonato Mundial de Carros de Turismo (WTCC) em 2014. E os pilotos em questão são Yvan Muller e Sébastien Loeb, somando nada menos que 13 títulos mundiais num único boxe.

Para quem tem o hábito de acompanhar automobilismo fora da Fórmula 1, nenhum desses dois nomes necessita de apresentações. O francês Yvan Muller é muito provavelmente o melhor piloto de carros de turismo em todo o mundo, dono de quatro títulos na categoria em 2008, 2010, 2011 e 2013, além de inúmeras apresentações de gala sob as mais variadas circunstâncias. Já o vi correr diversas vezes, já o entrevistei outras tantas. E sua precisão técnica (apesar da má vontade em entrevistas) sempre me chamou a atenção, tanto quanto sua pilotagem inspirada. O homem guia muito. Muito mesmo.

Seguindo os passos da irmã Cathy, que chegou a correr contra Ayrton Senna em categorias de base, Yvan começou a carreira guiando monopostos, no fim dos anos 80. Todavia, seu grande peso corporal fez com que os resultados fossem melhores à medida que os carros iam tornando-se mais potentes. Na Fórmula-2 britânica, por exemplo, ele foi o campeão em 1992.

Após uma breve participação na F-3000 Internacional no ano seguinte, muda-se para carros de turismo em 1994 sagrando-se campeão francês em 95. No ano 2000 bate o lendário companheiro de equipe Jason Plato quando ambos dividem as atenções da equipe Vauxhall, e três anos mais tarde conquista o título do importante campeonato britânico de carros de turismo. Migra então para o campeonato mundial em 2006, tornando-se o maior nome na história da categoria com quatro títulos em seis anos. O mais recente deles conquistado exatamente em 2013, aos 44 anos de idade e ao volante de uma equipe não-oficial.

Seu currículo tem espaço ainda para o recorde de 10 vitórias no famoso Andros Thophy, disputado na neve francesa (Alain Prost tem três vitórias nessa mesma prova), duas participações nas 24h de Le Mans e uma no Rali Dakar.

Difícil, a essa altura, tentar resumir o currículo ou a importância de Sébastien Loeb para o esporte a motor. Mais simples do que relembrar suas 78 vitórias ou os nove títulos mundiais consecutivos no WRC seria afirmar que, simplesmente, ele é o melhor piloto do mundo, “peso por peso”, na atualidade. E certamente um dos grandes de todos os tempos, em qualquer categoria. Não tenho qualquer pudor em fazer tais declarações.

Especialista em corridas no asfalto, Loeb poderá ser visto no ano que vem guiando num campeonato de velocidade em autódromos fechados, tendo como parâmetro justamente a maior referência mundial na categoria. A rapidez em encontrar e explorar limites em tentativas únicas, que tantas glórias lhe trouxe nos ralis, será agora apenas a etapa inicial de uma receita de refinamento e repetição de rotinas volta após volta, em meio a disputas diretas por posição. O bom desempenho nas provas do FIA GT este ano, contudo, sugere que o eneacampeão deve ser competitivo desde o início da temporada.

Ainda assim, considerando a grande mudança de ambiente, talvez seja injusto esperar que ele tenha condições de enfrentar a experiência de Yvan Muller, especialmente no início do ano. Por outro lado, é muito interessante observar que, nessa altura da vida, Sébastien ainda continua a se colocar diante de grandes desafios, conservando sempre a possibilidade de agregar ainda mais valor à sua singular biografia. Foi o que ele conseguiu este ano, por exemplo, ao dominar os X Games, e depois ao pulverizar o recorde de subida da mítica Pikes Peak, baixando, inclusive, o tempo considerado ideal pelos computadores da Citroën.

Com os dois franceses confirmados para o ano que vem esta é, desde já, uma das duplas mais fortes já formadas por um time na história. Mas a Citroën não pretende parar por aí. Nos últimos meses especulou-se diversas vezes que um terceiro carro deverá ser inscrito, regular ou esporadicamente, para ser guiado por um tal de Robert Kubica. Um camarada que, após perder parte dos movimentos da mão direita num gravíssimo acidente, é agora o líder do WRC2 (divisão de base do mundial de rali), tendo vencido quatro das seis etapas que disputou. Kubica, aliás, fará sua estreia na divisão principal do WRC ainda este ano, no País de Gales, entre os dias 14 e 17 de novembro, guiando para o time principal da Citroën.

Em meio a tantos atrativos esportivos, só podemos lamentar a escassez de espaço dedicado ao WRC e, sobretudo, ao WTCC nas emissoras esportivas nacionais. Do mesmo modo, vale destacar que nossa vizinha Argentina recebe etapas dos dois campeonatos, enquanto nós continuamos interessados apenas em corridas que tenham pilotos brasileiros.

Esperemos apenas que as obras necessárias sejam concluídas a tempo (e a contento), para que o autódromo de Brasília possa, afinal, receber o não menos espetacular mundial de motovelocidade a partir de 2014.

Forte abraço e um ótimo fim de semana a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

4 Comments

  1. Bruno Bastos disse:

    Acompanho Sebatien Loeb desde quando começou correr ao lado de Carlos Sainz no WRC em 2003 (passava no canal AXN e era boa a cobertura) e desde seu primeiro título torço e admiro ele como um dos maiores pilotos que eu já vi. Vibrei com uma das conquistas dele na Corrida dos Campeões num ano que venceu Michael Schumacher. Agora desejo vê-lo levantar taças também no WTCC. Outro dia descobri que ele também é de 1974. Mais um pequeno motivo pra ele ter a minha torcida. Avante Loeb !
    Bruno – Rio/RJ

  2. Lucas dos Santos disse:

    Comecei a acompanhar o WRC este ano e tenho achado incrível. Pena que não peguei a época do Loeb, mas pude apreciar a quatro corridas da qual ele participou esse ano. Seu desempenho, principalmente no Rally de Monte Carlo, foi impressionante. Já o Rally da França foi simplesmente épico. Uma pena o Loeb ter encerrado sua carreira com as rodas para cima, mas isso não tira o brilho de sua carreira e nem a importância desse fim de semana.

    Também acho que a cobertura do WRC pela mídia brasileira poderia ser melhor. Todas as informações que eu obtenho sobre a categoria estão em sites estrangeiros. Aliás, bem que o GPTotal poderia publicar mais colunas sobre a categoria, com opiniões após cada etapa, comentários sobre equipes, pilotos etc. Sinto falta de conteúdo em português sobre isso e o GPTotal seria um local bastante adequando para esse conteúdo.

    Quanto a Robert Kubica, seu desempenho é impressionante. Frequentemente terminando entre os dez melhores da classificação geral, vencendo ralis da sua categoria com 2 a 3 minutos de vantagem, merece estar na categoria principal no ano que vem. Torço para que ele consiga o título esse ano e que ele possa correr pela Citroën.

    E por falar em Citroën, eu esperava um desempenho melhor do finlandês Mikko Hirvonnen. O campeonato está terminado e até agora ele não conseguiu vencer nenhuma das etapas. Até o espanhol Daniel Sordo, que estava cogitado para ser substituído devido a seu fraco desempenho, conseguiu vencer um rally. Vamos ver o que vem por aí nas próximas etapas.

  3. Fernando Marques disse:

    Marcio,

    com os fortes rumores que o Felipe Massa irá para a poderosa Willians não vejo a hora da reforma do autódromo de Brasilia ficar pronto pois vai ser doloroso acompanhar a Formula 1 em 2014 …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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