Emerson quer correr

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Aos 67 anos, Emerson quer voltar a correr. Ele revelou em primeira mão seu motivo especial.

Não estava planejado. Na segunda-feira passada, meu irmão Guilherme vira pra mim e diz “o Emerson Fittipaldi vai estar quinta no Shopping Iguatemi divulgando as 6 Horas de São Paulo. Eu vou lá”. No que emendei para “…e eu também!”.

O desafio era fazer com que Emerson fosse além do “não” quando alguém perguntasse se ele, além de promover, também iria correr em Interlagos. Que parasse de desmentir o fato de que sim, está fazendo de tudo para correr. ELE QUER CORRER. Mas numa situação especial.

O foco era realmente arrancar a confissão que nosso Rato vai voltar às pistas, algo que ele não fazia desde a rodada final do finado Brasileiro de GT3 de 2008, em Interlagos. Na ocasião, ele dividiu um Porsche 997 da equipe de Washington Bezerra com o rapidíssimo Valdeno Brito, um cara que fazia o S do Senna da maneira mais insana entre todos que estavam lá.

Eu estive lá naquele fim de semana. Eu tinha uma pauta pra cobrir, uma missão casca-grossa: conseguir meia-horinha exclusiva com Emerson para ele contar sobre sua primeira vitória na F1, Watkins Glen 1970. Era o pontapé do projeto do site Última Volta que contava as então 99 vitórias brasileiras na F1, projeto que organizei com meu querido parceiro Márcio Madeira, e que ainda não desistimos de transformar em livro. Qual seria a melhor maneira de começar essa empreitada, senão com uma exclusiva do próprio Rato?

Fui na sexta-feira, era meu primeiro dia no paddock de Interlagos, um anônimo invisível. Fui ao box da equipe do Washington. Bati, ninguém atendeu. Resolvi abrir a porta e dei de cara com o Emerson, que conversava com um amigo num sofá. Eu devo ter pedido um milhão e meio de desculpas antes de dizer que havia conversado com um assessor, que infelizmente não havia passado minha pauta pra ele. Saí de lá meio atordoado, tentando em vão ligar pro tal assessor. Nada. Acabou sendo apenas uma sexta-feira de reconhecimento de terreno. Eu teria que fazer do meu jeito.

No sábado, resolvi apelar. Tenho comigo uma relíquia: a (já famosa) jaqueta da Copersucar, original, fabricada entre 1975 e 1976. Um item que meu pai conseguiu em 2004 com um guardador de carros da Santa Casa de Sorocaba em troca de duas jaquetas pesadas de inverno… Uma história que beira o inacreditável.

Ao vestir a jaqueta, passei de homem-sem-sombra a “atração” naquele paddock. Nem se eu tivesse um passe VIP Platinum Ultra Super Duper Extra Large eu teria mais acesso a tudo e a todos naquele fim de semana. Só faltou me permitirem andar de cueca no meio da pista.

Consegui mostrar a relíquia para o Wilsinho Fittipaldi. Tive a tremenda satisfação de vê-lo abrir um sorriso toda vez que passava por mim. Consegui falar com um assediadíssimo Emerson no fim da tarde, mas ele estava de saída. Na ocasião, ele me perguntou se queria que assinasse a jaqueta. Eu não tinha caneta para tecido, estava com medo do desastre. Mas fiquei com a promessa meia-hora na manhã do domingo. E assim aconteceu. Voltando para casa no domingo, eu só pensava “missão dada, missão cumprida”. Uma exclusiva com o Emerson!

Claro que nesta nova oportunidade de encontrá-lo eu tinha que ir com a jaqueta, mesmo com um sol de Cuiabá. Ao entrarmos no shopping, um ar-condicionado ardido felizmente me permitiu usar a relíquia sem passar calor. Emerson chegou para o evento (11h), pegou um café (tinha uma mesa para os jornalistas e convidados). Conversou rapidamente com os assessores e tirou foto ao lado da maquete em tamanho natural do Porsche 919, a mesma que esteve no Salão do Automóvel.

Quando Emerson aprontou-se para começar a coletiva, ELE caminhou na minha direção (e não o contrário, pois eu estava parado), apertou meu braço com uma mão, e estendeu a outra pra me cumprimentar, abrindo um surpreendente sorriso. Eu, claro, fiquei bastante atônito, desnorteado. Eu definitivamente não esperava aquilo.

– “Este casaco eu conheço. Esse é bonito“.

Fui, portanto, o primeiro a ser cumprimentado pelo homem! Depois de passar por mim, ele assinou umas camisetas e miniaturas, e em seguida, finalmente colocou sua assinatura na jaqueta. Só demorou uns 35 anos para que isso acontecesse…

Bancando o nerdão implacável, sentei na primeira fila de cadeiras e fui, claro, o primeiro a pegar o microfone quando abriram as perguntas. Eu tinha que fugir do óbvio. Ele já havia rebatido todas as perguntas sobre correr. Então, mudei o foco para entender o contexto:

– Emerson, a gente acompanhou nos últimos meses que o seu nome foi parar na lista de pilotos ativos na FIA como Bronze Driver. Eu não vou perguntar se você vai pilotar ou não nas 6 Horas de São Paulo. Mas eu vou perguntar: O que você está fazendo na lista de pilotos ativos da FIA como Bronze Driver?  

A resposta foi reveladora.

– Meu sonho é pilotar com meu neto, o Pietro. E eu espero que isso aconteça. Eu tirei carteira Bronze, Gentleman Driver, e se der certo eu vou estar com o meu neto. Vamos ver se dá certo.

É isso: Emerson quer correr, e quer correr com o neto. O empecilho não é sua própria licença, pois esta ele já a obteve. Carro para isso também é problema que pode ser solucionado, seja por sua relação com a Chevrolet, que pode lhe alugar um Corvette GT, ou pela Porsche, marca que está sendo divulgada por ele nessa iniciativa de falar mais das 6 Horas de SP. Só virão dois Porsches RSR, há muitos disponíveis para locação – inclusive o do ator-piloto Patrick Dempsey, que não vem para São Paulo com sua equipe.

O que pega é a licença para o Pietro. Ele acabou de completar 18 anos e não está na lista de ativos para competir na WEC. A lista foi atualizada em 22 de outubro e eu confesso não saber com qual periodicidade ela é atualizada. Na lista provisória das equipes que virão para as 6 Horas, também não há vaga para Bronze Driver – o que significa que sozinho, Emerson não vai correr.

Até o fim de semana do evento, a ordem é ficar de marcação com novidades em ambas as listas – de inscritos para a corrida e de pilotos ativos. É muito provável que Emerson não corra. Mas que ele quer fazer uma parceria com o neto, isso é uma certeza.

Já tenho ingresso para estar lá – cortesia do amigão colunista Mário Salustiano. Esperamos, ansiosos, por uma clamorosa surpresa.

Aquele abraço!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

7 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    E de Ferrari!!!

    Fernando Marques

  2. Lucas dos Santos disse:

    Confirmado! Emerson correrá nas 6 Horas de São Paulo pela AF Corse!

  3. Robinson disse:

    Fernando Marques, imagine eu que moro em Cuiabá! Irmãos Givoni, parabéns não somente por ter aproveitado o momento mas também por ter-lhe dado real valorização e entendimento.

  4. Mauro Santana disse:

    Belo texto e bela história, Lucas.

    Parabéns!!

    Pois é, será super legal se o Emerson conseguir correr junto com seu neto Pietro.

    Vamos aguardar.

    Essa 6 Horas de São Paulo promete heim.

    Abraço!!!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  5. Fernando Marques disse:

    Adoro Niterói … não troco a minha cidade por nenhum lugar do mundo … mas admito que morar em São Paulo tem suas vantagens … como poder ir a um shopping e acompanhar o Emerson dando entrevistas, promovendo o Mundial de Endurance e ainda ganhar um autografo. Aqui em Niterói isso é impossivel de acontecer … hehehehe

    Vovô XAruto

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Fernando!

      Na verdade não foi no Iguatemi de Sampa, mas sim no de Sorocaba, minha cidade natal, que fica a apenas 90 Km da capital. Posso dizer que é uma cidade do interior com uma localização privilegiada.

      E sim, não fui lá apenas como jornalista. O lado tiete também tinha que ser saciado…

      Abração!

      Lucas Giavoni

  6. Lucas Giavoni disse:

    Deixo público o agradecimento ao repórter fotográfico Marcos Ferreira, que gentilmente não apenas cedeu as fotos do evento, como também fez com isso um “certificado de autenticidade” dos autógrafos!

    Abração!

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