Está nos detalhes

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Tudo sobre os novos carros da temporada 2013, y otras cositas más...

Uma semana atrás, navegando pelo Facebook, aparece na minha timeline uma foto que calculo ser de 1962, a qual imediatamente compartilhei no mural do GPTotal. Jim Clark sentado ao cockpit de um carro, junto a um Colin Chapman que está agachado, junto ao escocês, olhando para o painel. Ambos estão claramente em postura dialógica, em tom de avaliação. Então percorremos o bólido com os olhos, nossa desconfiança aumenta e, voilà, aparece no canto direito inferior o inconfundível escudo com o Cavalo Rampante. Eles estão junto a uma Ferrari 156 Sharknose!

Não sei sob quais circunstâncias a foto foi tirada, mas temos uma certeza: era uma época em que senso ético e interesses financeiros infinitamente menores permitiram uma cena antológica dessas. Não havia jogo de esponde-esconde. Cada equipe/construtor apresentava um projeto e ponto final. Apesar de haver, sim, olhos atentos em soluções mecânicas e aerodinâmicas, havia também cavalheirismo que se sobrepunha a posturas inadequadas.

Se nos dias de hoje o Stepneygate ocorrido em 2007 parece ser inaceitável, em 1962 seria mais sério ainda.

Chegamos ao antagonismo total da foto quando tentamos – repetindo: tentamos – analisar os primeiros passos da temporada 2013 da F1. Todos, com exceção da Williams, já mostraram seus concorrentes. Mas vivemos sob um período em que todos tem muito mais a esconder do que a mostrar.

Primeiramente é necessário entender o contexto do campeonato que se inicia. Temos que partir da premissa de que, sim, tudo está muito parecido ao ano passado. Os carros são pra lá de semelhantes às suas versões anteriores e, com exceção de Sergio Pérez e Lewis Hamilton em suas respectivas novas equipes de ponta, o line-up também é acometido pelo vírus da mesmice, pois apenas uns poucos toparam participar da dança das cadeiras. E pior: até o bico cavado, horroroso, foi mantido em alguns carros – a FIA permitiu este ano que times possam colocar uma ‘capa’ não estrutural de carbono em seus bicos, mas apenas umas poucas aceitaram a oferta.

Não é difícil entender o porquê do marasmo.

É pouco frutífero, numa temporada que tem estabilidade nos regulamentos, procurar radicalismos – eles são muito raros ou simplesmente não existem. Apenas um ou outro parágrafo foi mudado: o que há de mais notório é o fim do DRS ‘liberou geral’ em treinos. Será um ano de evolução, não de revolução. Até Adrian Newey concorda com isso.

James Allison, diretor técnico da Lotus, é quem nos dá uma dica importante sobre o carro novo da equipe (o primeiro a ser lançado), e que também serve como compreensão do que deverá ser a temporada.

– The devil is in the details. – O diabo está nos detalhes.

Lembram-se como foi chocante ver os carros para a temporada 2009, com aquela ‘limpa’ aerodinâmica, slicks, asas dianteiras enormes e traseiras ridiculamente estreitas? (Lembro de ter pensado comigo mesmo “tá parecendo um F3, só que feio pra c…”). Eram tempos de competitividade pelo caos, instabilidade de regulamento, marca registrada de Mack Mouse no comando da FIA – que este sujeito permaneça em sua catacumba da reclusão e jamais volte a assombrar o esporte.

Quem quiser novidade, vai ter que esperar 2014, mas sem deslumbres: apesar da promessa de designs mais amigáveis e, principalmente, da volta do motor turbo, de longe será possível compará-la à Era Turbo de verdade, que surgiu em 1977 e pereceu em 1988.

O público é sedento por novidade – algo que dobra de intensidade quando se é jornalista, o profissional que a procura. Mas uma temporada como esta, que se inicia, traz um novo desafio aos entusiastas, que é justamente o se ater aos detalhes. A ordem do dia é aguçar a percepção e observar o que, de fato, é “novo”, ou diferente. E claro, ir além das mudanças de layout.

Os dois carros que, ao menos em uma primeira análise, trazem as mudanças mais significativas são McLaren e Sauber. No primeiro caso, o carro nem é tão diferente do anterior, mas a equipe optou por refazer as laterais e colocar no novo MP4-28 sistema de suspensão pull-rod na dianteira, a exemplo do que a Ferrari fez ano passado – e repetiu este ano com o F138. Nesse sistema, os tirantes surgem da parte inferior do cockpit e são colocados para puxar o conjunto mola-amortecedor quando flexionados, e não para empurrar. Muda-se totalmente os parâmetros que a equipe tinha sobre comportamento do carro, distribuição de peso e níveis de aderência.

Na Sauber, além da óbvia mudança de cores para um carro predominantemente cinza, temos novo desenho de laterais bastante esguias – talvez as mais estreitas de todo o grid. Curioso foi como o desenho surgiu: Ele foi inspirado na cacetada lateral que Pérez deu em Mônaco, na saída do túnel. Engenheiros viram como ficou a disposição dos componentes após o choque e perceberam que, com alguns rearranjos, o tamanho poderia ser reduzido, sem prejuízo com o arrefecimento. Certamente foi o último serviço prestado pelo mexicano à Sauber…

Depois dos difusores soprantes, que estão proibidos, as equipes sofreram para encontrar uma solução para o posicionamento dos escapamentos. A moda da vez é o sistema Coanda, em que o objetivo é aumentar aderência com a aceleração dos gases que ‘aderem’ ao fim da carroceria em direção às asas traseiras, puxando mais ar fluido para aquela área. A Ferrari, que não apresenta muitas novidades senão o bico, redesenhou toda a traseira e adotou o sistema.

Repararam que não escrevi nada sobre as asas dos novos bólidos? Pois não há muito o que falar sobre elas. Este é um componente que será bem escondido até a primeira prova do ano. E deve haver equipes que até recorram a desenhos diferentes apenas para despistar a concorrência durante os lançamentos.

E a respeito dos testes que estão rolando nesta semana em Jerez, não vou tecer comentários porque não há nada a ser comentado. Apenas sugiro a releitura do indispensável texto do Roberto Agresti sobre o que é, de fato, uma pré-temporada. De novo chegamos ao conceito de que ‘há mais o que esconder do que mostrar’.

Falta muito para o apagar das cinco luzes vermelhas de Melbourne?

Aquele abraço!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

6 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    O que tem mais de interessante nestes testes são as apresentações dos novos carros … e acho que em relação ao ano passado eles estão menos feios … principalmente no caso da Ferrari … no mais as incognitas e especulações rolarão a solta até a abertura da temporada onde aí sim nós começaremos a ver quem é quem de verdade …
    PS: Sinceramente espero que o L. Razzia consiga mostrar alguma coisa na Marussia

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Lucas Giavoni disse:

      Sim, Fernando. É gostoso esse período em que somos apresentados a novos carros e novos pilotos.

      Particularmente adorei a apresentação da McLaren, na suntuosa sede de Woking. Antes de apresentar o MP4-28, desfilaram com vários carros históricos da marca, inclusive não-F1. Equipe que tem história pra contar é outra coisa…

      http://youtu.be/LmfFjUIbczw

      Abração! Escreva sempre!

      Lucas Giavoni

    • Fernando marques disse:

      Que desfile … que desfile!!!

      Fernando Marques
      Niterói – RJ

    • Lucas dos Santos disse:

      “Xará” Giavoni,

      Por ser “McLarista” sou suspeito para falar, mas a apresentação da McLaren foi simplesmente a melhor! Muito bem feita. A equipe encontrou uma bela maneira de tornar a apresentação atrativa, mesmo sem muitas novidades para mostrar no carro em si.

      Ao ver aqueles carros acelerando dentro do McLaren Tecnology Center senti uma certa “inveja” do pessoal que estava ali presente, hehehe.

  2. Mauro Santana disse:

    Exatamente!

    Gostava muito mais quando a F1 fazia sua pré temporada no Rio de Janeiro!

    http://www.youtube.com/watch?v=uwkKRZz6BP8

    Aqueles eram testes de verdade!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas Giavoni disse:

      Todos falam com muita saudade dos testes do Rio, meu caro Mauro.

      Era uma oportunidade de fugir do frio europeu, ter um circuito seletivo (descanse em paz), e ainda todo o clima hospitaleiro e farrista da cidade. Era trabalho, evidentemente. Mas tenho certeza que muitos encaravam isso como férias…

      Abração e escreva sempre!

      Lucas Giavoni

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