Fernando Reutemann

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Será 2014 a chance definitiva para que Alonso ascenda à categoria dos mitos da Fórmula 1?

2014 será uma espécie de do or die para Fernando Alonso: seu último título mundial conquistado foi em 2006. Desde então, tem sido uma espécie de nômade nas equipes e, mesmo tendo flertado com o tri seriamente em três ocasiões (2007, 2010 e 2012) quando não tinha o melhor equipamento, as chances vão aos poucos escapando e o tempo vai passando.

Agora, com um carro que novamente não parece bem nascido e tendo uma grande concorrência interna, é mais uma oportunidade de ele provar que seus críticos estavam errados. Mas quantas mais ele terá?…

Conta-se que Alonso teve outras opções ao sair da McLaren em 2007, e que uma destas era a Red Bull. Só o espanhol sabe quanto arrependimento teve, olhando da perspectiva de hoje e de tudo que Vettel e o time austríaco conquistaram. Alonso ter recusado a Red Bull é algo como a gravadora Decca ter dispensado os Beatles: um dano irreversível.

Porém, Alonso foi para a Ferrari, a equipe mais tradicional da F1 e certamente a maior marca não somente do automobilismo mundial, mas da indústria automotiva. Se a Red Bull é o energético, a Ferrari é, digamos, uma Coca-Cola dos carros. Pode-se dizer que Alonso errou em optar por ela? Pelo menos do ponto de vista dos resultados, parece que sim.

Aqui no GPTotal essa incessante busca de Alonso pelo tri e as seguidas “bolas na trave” desse percurso já foram temas de coluna: a Alessandra perguntou se o espanhol “é mesmo tudo isso?” e eu me ocupei de relembrar os “campeonatos perdidos” por ele. Nesse texto, aliás, eu comparei a trajetória de Alonso e seu antagonismo ante Vettel aos dias em que Stirling Moss era considerado um ET mas disputava GPs com Juan Manuel Fangio.

Hoje, como o título sugere, farei a comparação com outro não-campeão: Carlos Reutemann.

O argentino estreou na Fórmula 1 em 1972, pela equipe Brabham. Logo na primeira corrida, que acontecia em sua terra natal, ele fez a pole-position! Além de Giuseppe Farina, na primeira corrida de F1, somente outras duas vezes isso aconteceu: Mario Andretti, em 1968, e Jacques Villeneuve, em 1996. Na corrida (e ao longo de toda a temporada), porém, a vitória não veio: Reutemann só pontuaria no Canadá, num quarto lugar.

Em 1973, outra temporada longe do lugar mais alto, mas com alguns pódios e boas performances, especialmente na França. Nessas duas temporadas, Lole (seu apelido) já era visto como um bom piloto, mas não era considerado um futuro campeão, uma promessa, algo do tipo. O ano seguinte, porém, mudaria essa história.

Ano passado, na coluna “Just Like 1974”, fiz questão de relembrar aquela temporada que foi uma das mais completas em termos de candidatos a vitórias e também uma das mais imprevisíveis – o que só faz aumentar o feito de Emerson Fittipaldi.

Reutemann poderia ter sido campeão naquele ano, sem dúvidas: obteve 3 vitórias nos 15 GPs (foi quem mais venceu, ao lado de Peterson e Emerson), e em mais de uma ocasião liderava corridas quando foi acometido por falhas mecânicas: o argentino só liderou menos voltas que Niki Lauda, outro que teve performance absurda naquele ano.

No GP da Argentina, abertura da temporada, Reutemann liderava até a penúltima volta, quando acusou pane seca; no Brasil, etapa seguinte, tomou a ponta de início, mas na 4ª volta enfrentou problemas no carro e acabou fazendo uma corrida “pra terminar”; em Mônaco, ele partiu em oitavo e chegou a quinto na primeira volta, abandonando já no sexto giro; na Itália, Lole partiu em segundo e abandonou já na volta 11, com problemas no câmbio, quando era terceiro… Ele também cometeu alguns erros, mas no geral foi uma temporada na qual ele teria disputado o mundial até a última corrida.

Em 1975, ainda pela Brabham, Reutemann teve outra boa temporada, sendo presença frequente no pódio e vencendo o GP da Alemanha. Mas foi um ano de domínio total da Ferrari e de Niki Lauda. Lole terminou a temporada na terceira colocação.

A temporada de 1976 foi uma desgraça completa, com Reutemann mal conseguindo terminar corridas: como resultado, ele deixou a equipe antes do término do ano, se mudando para a Ferrari. Reutemann não disputou as últimas corridas, mas iniciaria 1977 pela Scuderia. Ele teria em suas mãos o melhor carro, finalmente.

Reutemann consegue dois pódios seguidos, com um terceiro na Argentina e uma grande vitória no Brasil, e é líder do campeonato pela primeira vez na carreira. O desenrolar do ano, porém, viu Lauda cada vez melhor e mais consistente na Ferrari, e Lole cada vez mais apagado: foram apenas 4 pódios nas 15 provas que vieram, enquanto Lauda obtinha 3 vitórias e 5 segundos lugares. Mais um campeonato na conta do austríaco.

Niki Lauda, no entanto, se desentendeu com dirigentes e foi embora para a Brabham. Lole seria o primeiro piloto da equipe que venceu os últimos 3 mundiais de construtores e 2 de pilotos.

Mais um começo auspicioso: duas vitórias nas primeiras quatro corridas, e a liderança do mundial ao fim da quarta etapa. 1978, no entanto, marcou a última temporada grandiosa da Lotus que, com o lendário modelo 79 (faria sua estreia em Mônaco), dominou a segunda metade da temporada de forma avassaladora: Reutemann ainda venceu duas provas (só ganhou menos que o campeão Andretti), mas só conseguiu terminar em terceiro.

O fim daquela temporada marcou, infelizmente, a morte de Ronnie Peterson. Mario Andretti seguiria na Lotus, e quem seria seu companheiro de equipe? Carlos Reutemann!

Novamente estava Lole na equipe que defendia o mundial de pilotos. E o resultado? Apesar de dois pódios – Reutemann sempre andava bem na Argentina e no Brasil – seguidos no começo do ano, um desastre completo. Tão desastroso que a equipe desistiu do Lotus 80 e acabou preferindo manter o modelo do ano anterior.

O campeão de 1979 foi Jody Scheckter que pilotava a… Ferrari! Ainda que o titulo fosse da Scuderia, outra equipe despontou naquela temporada: a Williams, que entrou para o clube da vitória com Alan Jones: o australiano venceu 3 provas na segunda metade da temporada e demonstrava ser o melhor conjunto.

Onde Carlos Reutemann iria correr em 1980? Na Williams! O argentino fez um bom campeonato (finalmente conquistou a tão sonhada vitória em Mônaco e marcou vários pódios), mas acabou completamente dominado pelo companheiro de equipe. De toda forma, Jones já estava no time de Frank Williams havia anos, e Reutemann vislumbrava a chance de sua redenção em 1981.

O equilíbrio entre os dois era imenso, até que veio o famoso episódio do GP do Brasil (vale relembrar na excelente coluna de Lucas Giavoni). A partir dali, ao mesmo tempo em que Lole começava a superar Jones em performance, começava a se(r) isolar(do) pelo time.

Quem se deu bem, como sabemos, foi o grande Nelson Piquet que, com inteligência e rapidez, foi campeão na última etapa, por um ponto (!) graças a um quinto lugar numa corrida – GP em que Reutemann largou na pole mas terminou… em oitavo!

Piquet pilotava uma… Brabham.

Reutemann ainda insistiu em ficar na Williams para 1982 mas, após duas etapas, percebeu que sua importância para mecânicos e dirigentes era equivalente à de uma caneta sem tinta e pendurou o capacete.

Sabem quem foi o campeão mundial daquele ano? Keke Rosberg, que pilotava uma… Williams.

Hoje, Lole é um importante político na Argentina, e recebeu as devidas homenagens quando o país tornou a receber o mundial de F1 por um breve tempo na década de 90.

Como se vê, há várias semelhanças entre a trajetória de Reutemann entre 1974 e 1981 e a de Alonso desde 2007.

No final do ano passado, com a relação do espanhol com a Scuderia estremecida, começaram a surgir diversos boatos com relação a um retorno de Alonso à McLaren: os boatos davam conta de que Kevin Magnussen já estaria assinado com o time, e que em 2015, quando do retorno da montador japonesa à F1 e à equipe inglesa, a Honda queria um piloto de alto calibre para reconduzí-los aos dias de glória. O escolhido seria Fernando Alonso, cujo contrato com a Ferrari originalmente terminaria em 2014 mas teve uma extensão até 2016. O próprio Ron Dennis, pivô da saída de Alonso no fim de 2007, deixou as portas abertas a um retorno do bicampeão mundial.

Bem, como sabemos, a Honda de fato estará lá em 2015 e Magnussen foi mesmo confirmado já para 2014. Resta saber se a novela terá o final previsto. Então, a saga de Fernando Reutemann estaria completa.

Abraços e boa temporada a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

13 Comments

  1. Allan disse:

    Por fim, um fato interessante sobre Lole: é um piloto descendente, não na pista, mas… no campeonato! Normalmente começava muito bem, e depois se perdia… 1981 poderia ser sua redenção com pole na última prova e o melhor carro naquela pista, mas a história lhe passou um rodo de gigantescas proporções…

    • Marcel Pilatti disse:

      Verdade, Allan!
      E, nesse sentido, Alonso é um piloto ascendente: normalmente, os erros, más performances e abandonos dele acontecem nas primeiras provas do ano.

      Abraços!

      • Allan disse:

        Marcel, permita-me discordar em termos: lembro-me que o espanhol começa suas temporadas meia-boca, mas sempre brigando na frente, aí começa a vencer, embala e depois algo acontece que ele passa a perder desempenho. Vejamos 2005: Kimi chegou na reta final muito mais embalado, só que volta e meia detonava seu motor/câmbio, era punido e largava de trás do grid… Ok, o espanhol só controlou, mas foi Kimi quem deu show nas provas finais. Em 2006, Alonso tinha Miguel sob controle, aí na parte final Schumacher reagiu (ok, a Ferrari reagiu, pois Massa ganhou 2 corridas) enquanto a Renault perdia desempenho sem seus amortecedores “em massa”. 2007, Alonso começou muito bem, mas houve bastante equilibrio com Hamilton, que depois de Spa abriu frente ao espanhol, que só foi empatar com o Cirilo pelas bobagens cometidas por este nas 2 últimas corridas. De qualquer forma deixou Kimi enconstar e virar para ser campeão. De volta a um carro vencedor, em 2010 viu a Red Bull crescer no final do campeonato, mas veja que Massa já passava a andar perto, a ponto de ter liderado na Alemanha. Em 2012 e 2013 Massa, nas 5 ultimas provas, mais ou menos, teve que abrir passagem para o Alonso algumas vezes, isso quando não tinham que trocar o cambio de propósito para ele largar atrás do espanhol (GP USA 2012). Então ou o Massa melhora muito no final do campeonato (o que parece ser verdade face a seus desempenhos em 2007, 2008, 2011 a 2013, sempre melhores que no início da temporada), ou o espanhol estagna, pára no tempo e não evoluí desde o momento em que atinge a liderança do campeonato – ou as 2 coisas.

  2. Allan disse:

    Uma grande diferença entre eles foi abordada pelo Mario Salustiano: enquanto Lole não se dava bem com nenhuma equipe, Fernando monopoliza-a para si, e quando não consegue fazer isso surge outra diferença, seu lado mesquinho, invejoso, etc., como se viu na McLaren em 2007. Depois disso Fernando tratou de fazer o que sempre fez, destruir mentalmente seus companheiros de equipe, além é claro de se fazer valer melhor que eles na pista. Não sempre melhor, mas de tal forma (especialmente no início e meio do campeonato) que qualquer performance posterior do segundão venha a ser anulada pela equipe (Felipe quem o diga).

  3. Mário Salustiano disse:

    Marcel e amigos

    A analogia entre Reutemann e Alonso é muito interessante e sem dúvida dá um bate papo legal , tem dois pontos no argentino em que vejo diferenças em ambas carreiras:

    O primeiro é que ele era conhecido por ser um cara de difícil relacionamento , muito fechado e pouco afeito a conversar, isso se traduzia na pouca simpatia que mecânicos e engenheiros nutriam por ele, Lauda soube usar muito bem essa característica em 1977 e neutralizar as ações dele dentro da Ferrari, nem preciso estender que em 1981 quase ninguém o apoiou dentro da Williams.

    O segundo ponto já apontado pelo Fernando e que também acho que ele foi pouco combativo e se abatia com facilidade em situações mais estressantes.

    Sobre Alonso ,a situação do asturiano desandou em 2007, agora convenhamos depois daquele campeonato fiquei com a sensação que ele e Ron Dennis, possuem ambos egos tão inflados que não cabem na antiga pista de Nurburgring…rsrs, acredito que a longo prazo foi Alonso que amargou o maior prejuízo, por conta de demissão sumária no final do ano, na época foi veiculado que a volta dele para a Renault foi pura e simplesmente por falta de outra opção, era a Renault ou um ano sem correr.

    Se for campeão esse ano, Alonso passa a ter o recorde de maior intervalo entre títulos, até então o campeonato de Lauda em 77 e 84 é a maior distância entre títulos de um piloto, Alonso já ficaria hum ano na frente, isso se ganhar esse ano…

    Sabe um piloto que poderia ser incluído nesse comparativo? Striling Moss, o inglês também ficou marcado como eterno vice, por algumas escolhas erradas que fez durante a carreira, no caso dele mais ligado ao temperamento estritamente britânico de querer ser campeão com carro inglês.

    E que chegue logo o domingo

    Abraços

    Mário

    • Mauro Santana disse:

      Olá Mario!

      Um ponto a respeito de Lole, um tempo atrás eu li uma entrevista com a Maria Helena Fittipaldi, e dentre várias coisas que ela descreve, ela comenta que ela e Emerson achavam o argentino e sua esposa pessoas até que simpáticas, mas, que muitas vezes passavam por eles e nem oi davam, tipo, meio que bipolar.

      E que chegue logo domingo.

      Abraço!

    • Allan disse:

      Excelentes pontuações, Mario! Realmente Lole parecia sofrer disso… E ele sabia e aquiescia com o tratamento dispensado, tanto que em 1981 ele chegou a Las Vegas lider do campeonato e fez a pole position, e seu carro foi desmanchando na corrida, e quem ganhou foi seu companheiro Alan Jones, que deu volta em cima dele! E quando isso aconteceu, dizem que os mecânicos da Williams bateram palmas! Fosse outro piloto mais enervado, ao invés de terminara a prova teria entrado nos boxes e jogado o carro para cima dos mecânicos… Enfim, jogou sua única chance no lixo, ele e a Williams, diga-se, que fez-o-que-fez sabendo que Jones não tinha chances e iria se aposentar.

  4. Sandro disse:

    Vi uma foto que aconteceu no pomposo Grande Premio Presidente Emilio Garrastazu Medici (!) – corrida extracampeonato que inaugurou o Autodromo de Brasilia. Tem o “mecanico” Piquet cabeludo – e com bigode – cuidando da Brabham de … Reutemann. “Garoto voce nem sabe limpar direito as rodas do meu carro” disse o argentino.
    Em 1981 Reutemann diz que perdeu o titulo para “um tipo que limpava as rodas do meu carro”.
    Piquet: “Reutemann… voce poderia lustrar meu capacete de campeão!”

  5. Mauro Santana disse:

    Belo Texto Marcel!

    E realmente, é impressionante como Lole sempre esteve no carro certo na hora errada.

    Alonso pelo menos conquistou dois canecos, já o hermano…

    Falando um pouco de Vettel/RBR, agora eu quero ver ele ralar com um carro problemático.

    Nós sabemos que Adrian Newey irá acertar a máquina no decorrer da temporada, mas Vettel terá que fazer a parte dele, e é aí que eu quero que esse Piá justifique os quatro títulos em sequência que ele venceu.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  6. admin disse:

    Verdade, Fernando. Trata-se de uma diferença fundamental. Mas me refiro mesmo à “sina” dos dois: o carro certo na hora errada…

    E também acho, ao menos em princípio, que a briga será polarizada pela Mercedes, especialmente a equipe matriz e a McLaren. WIlliams, boas chances de pódio.

    Abração!

  7. Fernando Marques disse:

    Olá amigos!

    A temporada de Formula 1 vai começar e finalmente saberemos quem é quem em 2014.
    O ano parece querer ser dos motores Mercedez.
    Vamos começar a descobrir isso no próximo domingo.

    Marcel,

    o Carlos Reutman foi um bom piloto mas nunca foi combativo. Achava estranho até em se tratando de um argentino. Mas ele não nasceu para ser um campeão. O Fernando Alonso é diferente neste aspecto, até por que luta desesperadamente para superar a dupla Vettel/RBR

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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