Força do hábito

From Russia…
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O GP da Rússia é mais uma corrida que pouca gente vai lembrar futuramente.

Mês passado, numa enquete feita em algum grupo de discussões sobre a categoria, respondi à seguinte pergunta: “Você continua assistindo F1 por força do hábito?“. Dentre as alternativas, havia também algo como “não, assisto porque ainda me empolgo etc“.

À época, respondi que assisto “porque gosto e porque a categoria continua me atraindo”, sem pestanejar.

Antes, um comentário sobre a MotoGP (não deixe de ler as sempre precisas crônicas de Márcio Madeira sobre a corrida): Valentino Rossi forma o pódio do esporte a motor no século XXI, ao lado de Loeb e Schumacher.

Pela “ressurreição” e por estar lutando contra pilotos do calibre de Lorenzo e Márquez (este um verdadeiro fenômeno, e que ainda nos brindará com muitas performances geniais, vitórias e títulos), talvez seja Valentino o maior dos três.

 

O GP da Rússia de 2015 foi melhor que o de 2014.

Mas ainda assim foi muito fraco. A pista em Sochi é realmente uma daquelas que se pode chamar de kartódromo.

Verdade: tem alguns pontos de ultrapassagem, é possível ver lampejos interessantes – se parece muito com Valência, já extinta do calendário –, mas está longe de ser atrativocomo um autódromo de verdade.

Aguardemos, daqui a três semanas, a (re)estreia do Hermanos Rodríguez, uma pista que antigamente causava verdadeiros arrepios.

httpv://youtu.be/V2g1yrGputA

A melhor definição sobre Nico Rosberg-2015 foi dada por Eduardo Correa: “uma versão alemã de Mark Webber“. E um pacote completo: em Suzuka, uma espécie de temor exacerbado aliado a largada ruim e escolha errada de traçado o levou a perder a corrida nas primeiras curvas; em Sochi, foi traído por problemas no equipamento que, não raro, só acontecem consigo.

Com Nico fora da disputa, Hamilton só precisaria “cumprir” tabela, tal é o domínio das Mercedes em relação à concorrência.

Os cálculos para que Hamilton garanta matematicamente o título ficaram risíveis: gostei deste: uma quinta colocação e três sextos lugares nas quatro provas restantes com Vettel vencendo todas.

Por aí se vê a distância… Mas creio que Hamilton buscará vencer as quatro provas restantes. Se o fizer, iguala o mítico recorde de 13 vitórias num ano, estabelecido por Schumacher em 2004 e igualado por Vettel em 2013.

Vettel chega à vice-liderança do mundial. Comparando a temporada de Nico e a de Seb:

Rosberg venceu 3 corridas, anotou 3 poles, fez a volta mais rápida 3 vezes, foi ao pódio 11 vezes e liderou 155 voltas; abandonou 2 corridas com problemas de equipamento (era terceiro na Itália e segundo na Rússia). Soma 229 pontos.

Vettel venceu 3 corridas, anotou 1 pole, fez a volta mais rápida 1 vez, foi ao pódio 11 vezes e liderou 176 voltas; abandonou 1 corrida com problema no equipamento (era terceiro na Bélgica). Soma 236 pontos.

Na frieza dos números, o desempenho de Rosberg parece um pouco melhor, uma vez que foi mais “prejudicado”.

Mas Vettel está indo além do esperado (dada a superioridade da Mercedes) e, inquestionável, está pilotando muito melhor.

Os Felipes tiveram uma corrida razoável, sem grandes lampejos mas na medida do possível chegando além do esperado. Massa, depois de um treino terrível, terminar na quarta colocação foi quase uma vitória.

E o brasileiro, que adora reforçar sua fama de azarado, só tem a agradecer a Kimi Räikkönen pela incomensurável ajuda: Bottas poderia abrir 21 pontos em relação a Felipe se terminasse em terceiro, agora essa vantagem se resume a míseros dois pontos.

Kimi acabou sendo penalizado com um Stop&GO, o que na prática significou acrescentar 30 segundos a seu tempo final, indo de 5º a 8º na prova.

A disputa pelo quarto lugar permanece interessante: Kimi 123, Bottas 111 e Massa 109.

Honestamente, preferia ver o finlandês da Williams vencendo esse “campeonato”: Bottas tem feito uma reta final de temporada muito boa (por exemplo, desde o retorno das férias – 5 corridas – largou 3 vezes na terceira posição, atrás somente da dupla das Mercedes).

Cléber Machado confundiu Felipe Massa e Valtteri Bottas 238.416 vezes. No entanto, confesso, prefiro “hoje não” aos outros dois.

Muito comentamos na última semana sobre a polêmica dos cockpits fechados, e o acidente de Carlos Sainz Jr. nos treinos livres de sábado botaram mais pimenta nesse molho: a) o impacto não causou nenhuma lesão grave no piloto, que pôde correr normalmente; b) sua saída do carro demorou MUITO.

httpv://youtu.be/9ykjQ9I6Dho

No caso a, aqueles que defendem que se implemente o cockpit fechado não ganham nenhum “ponto”, uma vez que este pouco ou nada teria interferido a seu favor; no caso b, os contrários à implementação ganham força, pois um cockpit fechado em princípio só retardaria ainda mais o resgate.

É um caso específico, claro, e não se pode tomar fatos isolados na ciência da estatística.

O debate segue.

Ótima corrida de Sergio Perez, que fez por merecer o pódio dada sua estratégia arriscada e condução firme, limpa, sem riscos desnecessários. Teve tremenda sorte, sim, com a batida entre os finlandeses

Este foi o primeiro pódio da Force India depois de Bahrain 2014 (com o próprio Perez), e mais: desde a temporada 2013, a equipe indiana tem os mesmos pódios da McLaren: 2.

Uma cena pouco comentada: após sair do carro, Lewis Hamilton vai em direção à turma da Mercedes: nesse momento, Fernando Alonso vem vagaroso para deixar seu McLaren na garagem, e Hamilton, na corrida, desvia o McLaren-Honda.

Hoje, Hamilton está mais rápido que Alonso até mesmo a pé.

Lamentei não ter acordado a tempo de ver a corrida da MotoGP. Trocaria fácil pela corrida da Rússia.

Hoje, eu responderia à pergunta do grupo: talvez seja mesmo por força de hábito.

Abraços a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

4 Comments

  1. Assisto a F1 por que ainda me empolga, ainda sinto frio na barriga durante as largadas. Gosto muito da MotoGP, da Indy e outras. Mas a F1 ainda é minha favorita!

  2. Fernando Marques disse:

    Vou divergir um pouco do Marcel e do Lucas. Se comparado com algumas corridas já disputadas nesta temporada o GP da Russia foi até interessante e agradável de se ver. Para quem gosta de emoção os diversos acidentes ocorridos na corrida, com destaque para a pancada do Grosjean e a batida dos finlandeses, foram uma boa prova disso.
    A corrida já prometeu ser interessante já no incio quando Nico parou nos boxes com problemas na sua Mercedes. Ali já se desenhou que a corrida já seria diferente das demais. E na hora me lembrou que treino é treino e carreras são carreras. Assim sendo tudo o que veio depois já foi razão de uma merecida dose de minha atenção na telinha, que valeu até o fim com da lambança do Kimi, algo que os Felipes agradecem de todo o coração.
    A pancada do C. Sainz foi bem forte e mais do que prova que os Formula 1 estão muito seguros, com ou sem cockpit fechado. Esta é a verdeira conclusão que tem de ser tirada deste acidente.
    Com relação aos problemas que o Nico vem tendo com sua Mercedes, lembro que no ano passado o Hamilton teve muito mais problemas que ele neste sentido e que num caso não tivessem acontecidos poderia até ter definido o título de 2014 a seu favor de forma antecipada como me parece vai ocorrer este ano.
    Quanto ao Peres me parece claro que quando se menos espera dele, aí é que ele brilha. Só que este brilho dura pouco.
    Quanto a etapa de Motegi pelo mundial de motovelocidade, também não pude ver, mas o resultado mostra que ainda teremos muita emoção pela frente. O Valentino Rossi merece mais do que nunca o titulo de campeão. O “velhinho” está tocando o fino, mas Lorenzo continua sendo uma grande ameaça.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Mauro Santana disse:

    Belo Texto Amigo Marcel!

    A corrida da MotoGP foi demais, com o Pedrosa VENTANDO FOGO, e o Rossi caminhando a passos firmes para conquistar seu 8º título.

    Enquanto que a F1 pra mim é total força do hábito, a MotoGP é total empolgação.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  4. Lucas dos Santos disse:

    O GP da Rússia desse ano foi melhor e mais movimentado que o do ano passado. Isso, provavelmente, se deve ao fato dos pilotos e equipes não terem conseguido treinar de maneira decente e foram praticamente “crus” para a corrida. É bom que Bernie não se dê conta disso, ou será capaz de querer proibir os treinos livres, para que todas as corridas sejam como o GP da Rússia de 2015!

    A corrida de hoje alimenta ainda mais os detratores de Hamilton, que afirmam que tudo não passa de uma conspiração ao seu favor e que tudo é “armado” para favorecê-lo. Mais uma vez o britânico se beneficia de um problema de seu principal concorrente.

    Desde o início da prova ficou claro que a grande briga da corrida seria entre Valteri Bottas e os pilotos da Ferrari. O que não era esperado é que tudo acabaria a poucas curvas da linha de chegada, favorecendo Perez.

    O piloto mexicano, a propósito, vem dando uma verdadeira “volta por cima” nessa segunda metade da temporada, após ter sido amplamente superado pelo companheiro de equipe mas primeiras corridas. Já Hulkenberg já teve dias melhores. Vem enfrentando problemas seguidamente o que facilita ser superado pelo companheiro de equipe.

    Por falar nisso, alguém sabe por que Perez não carregava a marca do patrocinador principal da Force India no macacão, diferentemente dos demais membros da equipe? E que negócio é esse de proibir propaganda de bebidas alcoólicas? Em países muçulmanos faz sentido, mas logo na Rússia? Curioso que no pódio a comemoração foi normal, com champagne, como pôde se observar no rótulo da garrafa da bebida. Por conta disso, o macacão de Perez ficou tão “em branco” quanto os de alguns pilotos da GP2!

    Enfim, uma corrida bastante atípica e com muitos abandonos, para alegria do pessoal do fundão!

    Quanto ao acidente de Carlos Sainz, a questão não é nem os cockpits, mas sim a barreira de proteção que, apesar de ter amortecido o impacto, se desmontou e ficou toda em cima do carro. Como bem lembrou Martin Brundle, se o carro estivesse em chamas, o piloto estaria em sérios apuros!

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