GEORGE HARRISON

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Edu,

George Harrison morreu hoje de madrugada. Parou de sofrer: estava doente havia muito tempo e na última segunda-feira já se sabia que ele não resistiria muito tempo.

Como o tempo passa… Lembro-me até hoje daquele 8 de dezembro de 1980 – o dia em que aquele imbecil chamado Mark Chapman matou o John Lennon. Fiquei chocado e com aquela sensação de vazio que nos acomete nessas horas. Hoje, 21 anos depois, senti algo parecido. A única diferença é que desta vez eu estava preparado para ouvir a notícia. Mesmo assim, a tristeza não foi menor.

Os autores passam, mas as obras ficam. Daqui alguns séculos, pessoas de todas as idades e classes sociais, em todo o mundo, estarão apreciando músicas dos Beatles. Exatamente como acontece hoje com Beethoven, Mozart e outros compositores “clássicos”. Nossos netos, bisnetos e tataranetos estarão aqui para conferir…

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Pelo teor de sua carta de quarta-feira, corremos o sério risco de nunca mais ver um brasileiro ser campeão mundial de F 1. Bem, “nunca mais” talvez seja um exagero. Mas, desde que Ayrton Senna morreu, eu venho falando para os amigos: quem não curtiu aquela fase gloriosa dos anos 70 e 80 dificilmente terá chance de viver algo parecido…

Adiciono à sua Lei dos Grandes Números alguns fatos. A Itália teve duas fases de grandes pilotos – uma nas primeiras décadas do século passado, outra logo após a Segunda Guerra Mundial. Depois, nunca mais apareceu um italiano que pudesse ser colocado entre os maiores pilotos de todos os tempos. A Alemanha teve sua fase nos anos 30, mas ela foi interrompida pela guerra. Depois disso, só a partir dos anos 90 é que os alemães começaram a ter grande destaque.

Alguém hoje em dia poderia imaginar a Nova Zelândia como celeiro de grandes pilotos? Pois bem, isso aconteceu nos anos 60, ainda que somente um neozelandês (Denis Hulme) fosse campeão mundial. Nos anos 70 e 80, a França revelou inúmeros pilotos talentosos, mas somente um (Alain Prost, de quem você tanto gosta) foi campeão.

O Brasil, portanto, foi um caso excepcional, com três pilotos extremamente talentosos se impondo em um espaço de tempo relativamente curto. E a Inglaterra, como você citou, é um caso único: tem o maior número de campeões mundiais, mas nenhum deles poderia ser colocado entre os deuses do automobilismo em todos os tempos.

Sobre a Inglaterra, aliás, pode-se dizer também que é o país que produziu o maior número de campeões mundiais a partir de pilotos em quem ninguém apostaria no começo da carreira. Sim, porque ninguém dava um centavo por James Hunt, Nigel Mansell e Damon Hill quando eles estavam na F 3.

Hunt, inclusive, afirmou logo após ser campeão mundial que sua carreira havia sido “muito engraçada” porque ele nunca havia vencido nenhuma corrida antes de chegar à F 1. Não tive meios de checar essa informação, mas é certo que ele não ganhou nenhuma corrida na Fórmula 2, por exemplo. Na F 3, tudo o que pude apurar é que ele não venceu nenhum campeonato. Aí, já na F 1, pegou um McLaren que Emerson Fittipaldi deixara em ponto de bala, teve as coisas facilitadas pelo acidente quase fatal de Niki Lauda… e foi campeão mundial!

É por essas coisas que eu não me entusiasmo totalmente quando surge um brasileiro ganhando tudo nas categorias de acesso. O sucesso na F 1 depende de inúmeros fatores além do talento.

Abraços,

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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