GP da Inglaterra a perigo

PIQUET VERSUS MANSELL
16/11/2001
Mistério
21/11/2001

Panda

Antes de mais nada, deixa eu fazer um breve comentário envolvendo a sofrida campanha da Seleção Brasileira nas eliminatórias da Copa do Mundo.

Você já pensou se Schumacher e seus amiguinhos errassem nas corridas 10% do que Rivaldo & Friends erram passes, chutes, dribles e defesas? No mínimo, metade do grid morreria ao final da primeira volta…

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Panda

Há boatos fortes de que o Grande Prêmio da Inglaterra de 2002 pode ser disputado na Alemanha. Sim senhor. Por que a surpresa? O GP de San Marino não é disputado na Itália? O GP da Suíça de 82 não foi disputado na França?

A Fia não estaria satisfeita com as soluções propostas pelos organizadores ingleses para os terríveis congestionamentos na saída da corrida que duraram, neste ano, seis horas ou mais.

A verdade é que a turma de Bernie Ecclestone vem pressionando os organizadores do GP da Inglaterra já há uns cinco anos.

Inicialmente, a proprietária de Silverstone e organizadora da corrida, a British Racing Drive Club, BRDC, foi pressionada a melhorar as condições do autódromo, reformando boxes, pista etc. A seguir, começaram a surgir notícias de que um grupo liderado por uma moça muito bonita, chamada Nicola Foulston, queria trazer a corrida para Brands Hatch, sede de doze GPs da Inglaterra, o último deles em 86 – aquela m… de corrida em que o Mansell ganhou do Piquet por causa de um retardatário.

Meses depois, começou-se a falar que Nicola poderia arrendar Silverstone, mantendo o GP por lá. Mais meses de bochichos até que, para surpresa geral, Nicola anunciou a venda da sua empresa para a Octagon, um grupo internacional promotor de eventos, muito forte e com muito dinheiro, e este, em dezembro passado, anunciou o arrendamento de Silverstone.

Durante todo este período, Ecclestone exerceu forte pressão sobre o BRDC, ora ameaçando tirar o GP de Silverstone, ora apoiando Nicola e gerando suspeitas de uma ligação empresarial entre os dois. Houve, inclusive, o famoso episódio da mudança de data do GP de 2000 de junho para abril, resultando naquela corrida debaixo de chuvas violentas, que transformaram os arredores do autódromo num imenso lamaçal que deixou atolados milhares de incautos (pobres coitados: deveriam vir ao Brasil e aprender como se organiza uma corrida…)

Quando a Octagon entrou no páreo, Ecclestone & Cia se calaram e viram os novos organizadores anunciarem uma fantástica reforma em Silverstone, mudando todo o traçado e até os boxes de lugar. Agora, a Fia voltou à carga. Logo depois da corrida deste ano, a entidade pediu explicações à Octagon sobre os congestionamentos de trânsito. Tudo bem que foram colossais mas isso não era novidade. Não conheço a aprazível pista inglesa mas dizem que ela fica no meio de uma área rural onde pastam vacas loucas, servida apenas por pequenas estradas vicinais. Em dias de corrida, quem tem juízo e dinheiro vai de helicóptero senão já sabe que vai ter de ter paciência na hora de voltar para casa.

Junto com explicações esfarrapadas, a Octagon informou que estava pedindo ajuda ao governo britânico para a construção de estradas e acessos ao autódromo. O governo ficou de ver mas, pelo que sei, não assumiu grandes compromissos. Não sei se você se lembra mas Ecclestone fez uma doação considerada ilegal para a campanha de Tony Blair. A coisa pegou mal, o dinheiro teve de ser devolvido e acho que o governo inglês vai pensar três vezes antes de fazer algum favor para a Fórmula 1.

Well. Silverstone acabou incluído no calendário 2002 em caráter provisório e os organizadores do GP anunciaram a sua disposição de vender menos 30 mil ingressos para a corrida deste ano, um terço a menos do que foi vendido no ano passado, e forçar o público a usar bolsões de estacionamento distantes do autódromo, um esquema que fracassou miseravelmente no ano passado. Mesmo assim, prolifera o boato de que o GP inglês pode ser realizado num autódromo alemão – o boato não diz qual.

Por que tanta pressão sobre os organizadores ingleses? Será que a Fórmula 1 não quer mais correr na sua matriz?

Acho que a questão, de verdade, é grana. Acho que a Inglaterra é um dos poucos GPs onde o grosso do dinheiro está longe das mãos de Ecclestone. Creio também que ele vislumbra possibilidades reais de organizar corridas em outros países – Rússia, China, Líbano ou outro país do Oriente Médio -, que aceitariam condições mais amigáveis de divisão do dinheiro (que deve ser mais ou menos assim: Ecclestone fica com a receita e o organizador com as despesas).

Como ele sabe que é quase impossível promover mais do que 17 corridas por ano, toda vez que ameaça alguém de perder seu GP está criando condições para ganhar um pouco mais de dinheiro. Não por coincidência, outra “vítima” freqüente das pressões de Ecclestone é Imola, um GP criado para atender a uma exigência de Enzo Ferrari quando da criação do chamado Pacto da Concórdia. Lá, também, Ecclestone deve ficar com uma parte pequena da grana…

Apesar de detestar o narizinho empinado dos ingleses – que fazem o maior pouco caso do Brasil, de São Paulo e de Interlagos -, não acho legal o que está acontecendo porque acredito que, logo logo, o tempo pode fechar para nós também.

Sobre isso, falo na coluna de sexta-feira.

Forte abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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