Grandes pilotos, grandes mancadas

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Panda

Lendo uma Autosport de semanas atrás – o correio está atrasado graças ao sr Bin Laden -, li que Takuma Sato, o recém-contratado piloto da Jordan e nova esperança do Japão na Fórmula 1, rodou sozinho, durante uma corrida de Fórmula 3 na Inglaterra, andando atrás do safety-car. Que grande credencial para alguém que vai estrear na Fórmula 1…

A mancada do japonês me inspirou a sugerir a você uma série aqui no GPTotal intitulada “Grandes pilotos… grandes mancadas”?

Quando você senta num Fórmula 1 e manda a bota, tudo pode acontecer: largadas maravilhosas, obras de arte sobre um carro e também mancadas dignas de um aprendiz de auto-escola. Creio que as mancadas são muito freguentes mas, por motivos óbvios, acabam camufladas.

Algumas, porém, escapam e caem não boca do povo. O que você me diz da mancada, tremenda mancada, do Ayrton Senna em Monaco 88, quando “perdeu a concentração” e bummm: direto no guard rail, mesmo estando uns 40 segundos à frente do segundo colocado?

Uma mancada de que “gosto” particularmente e, pelo que sei, ele só contou para mim, foi a do Maurício Gugelmin na França/89. Lembra? Logo depois, da largada, naquela curvinha ridícula de Paul Ricard, Maurício enche a traseira do Mansell, sobe no ar, capota e cai de cabeça para baixo, atingindo ainda uma meia dúzia de passantes.

Sabe o que aconteceu? Maurício tinha se classificado mal nos treinos mas, durante o warm-up, mudou a regulagem do carro que passou a render muito melhor. Ele queria ganhar muitas posições na largada para recuperar terreno. Para isso, tinha de tirar o máximo proveito dos freios de carbono logo na primeira curva que, como você deve saber, só funcionam bem se estiverem super aquecidos.

Claro que na volta de apresentação ele tratou de pisar constantemente no pedal para esquentar os freios mas esqueceu de acertar o repartidor de frenagem, de forma que os freios dianteiros não se aqueceram tanto quanto os traseiros. Veio a largada, Maurício dispara no meio do grid e, na hora de frear, nada… Não lembro o que ele falou depois da corrida para explicar a mancada

Mais uma mancada que “gosto”, mas por motivos diferentes, foi aquela do Alain Prost – provavelmente o piloto que mais detesto na Fórmula 1 – em San Marino/91, quando o artista rodou na volta de apresentação, deixando o carro morrer na grama e tendo de abandonar a corrida antes mesmo do seu início em meio a incredulidade do autódromo, da Itália e do mundo. Que grande tetra-campeão…

Aguardo pelas “suas” mancadas – e a dos leitores também.

+++

Agora, me deixa gozar um pouca sua última carta.

Grande coisa que o Gil de Ferran tenha sido mais rápido do que o Alain Prost na chuva. Até a minha avó, coitada, seria mais rápida do que aquele verdadeiro c… numa pista encharcada.

Grande coisa, também, você considerar a frase do Piquet sobre as mulheres ao volante uma bobagem. O que mais o Piquet fez na vida além de falar bobagens?

(Tá. Eu sei que é sacanagem o que falei. Nem Piquet falou tanta bobagem assim nem Prost foi tão medroso na chuva. No GP da Bélgica de 89, no auge da luta contra Senna, Prost controla o próprio medo e leva seu McLaren ao segundo lugar mesmo com o chassi do carro “torto como uma banana”, como o descreveu o engenheiro da equipe. Prost havia batido em alguém ou coisa parecida mas continuou mesmo assim. Quando os mecânicos foram desmontar o carro, encontraram o chassi de tal forma torto que tiveram de joga-lo fora.)

Grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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