“Há males que vêm para o bem” – Final

“Há males que vêm para o bem”
17/05/2017
Pra acelerar, é só pisar?
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Relembre o início desta saga clicando aqui.

Porém… tudo mudaria para Stewart. Não se sabe o que Lini disse ao comendador mas, acostumado a que os pilotos assinassem o que se lhes apresentava sem pestanejar, o velho ficou muito molesto com Stewart e logo diz a Lini que busque outro piloto. No fim de semana se disputaria uma prova de formula 2 no circuito de Pergusa, na Sicília, onde a equipe Tyrrell participava com Stewart e Ickx. Lini se apresenta lá na sexta feira dia 18 para falar com Ickx e lhe oferece incorpora-se à Ferrari. Se tratava do mesmo contrato oferecido a Stewart, ainda que com umas condições econômicas muito mais modestas. Lini também insiste em que deviam ir a Maranello esse mesmo fim de semana para assinar o contrato.

O jovem belga, que não sabia nada do acordo entre o escocês e Ferrari, não podia acreditar na ocasião que tinha ante si, e fala a Stewart sobre seu encontro com Lini. O escocês, tampouco podia acreditar no que ouvia mas, tratando de dissimular sua decepção, anima a Ickx a que aceite a oferta. Stewart, estava muito decepcionado com a Ferrari pois, apenas dois dias depois de haver apertado mãos com o comendador, algo que para Stewart valia mais do que um contrato, Lini apresentava o mesmo contrato a Ickx sem sequer perguntar-lhe se havia tomado já alguma decisão.

Em plena fúria, Stewart não estava disposto a que lhe dissessem que sua contratação havia sido descartada e toma a iniciativa: imediatamente telefona a Ferrari para dizer-lhes que não contassem com ele. Stewart estava desolado. A oportunidade que ele estava esperando se havia truncado e só lhe restavam duas opções: ou seguir na decadente BRM ou se embarcar com Tyrrell no seu sonho de formar uma nova equipe de formula um.

Quando Ken Tyrrell convoca a Stewart para uma reunião onde lhe apresenta seus planos para a nova equipe, lhe informa que havia conseguido o bom motor Ford-Cosworth, enquanto que o chassi seria construído pela Matra, que dominava a tecnologia do chassi monocoque, ainda que só tinha a experiência de haver construído os carros de formula 2 para Tyrrell, portanto este seria seu segundo chassi. Ken estava entusiasmado com o projeto mas, em certo momento, Stewart, sabendo dos escassos recursos da equipe, sem rodeios diz a Ken que temia que não pudessem pagar nem o que ele cobrava na BRM, muito menos o que havia acordado com Ferrari.

Tyrrell, após um momento de silêncio, pergunta a Jackie quanto lhe haviam oferecido e diz que lhe dará uma resposta em breve. Pouco depois Ken se reúne com Walter Hayes, diretor da Ford no Reino Unido, de quem havia conseguido o contrato para o fornecimento dos motores Cosworth, e lhe informa sobre as reticências de Stewart.

Naqueles anos a Ford e a Ferrari mantinham uma dura rivalidade e não foi nada difícil a Hayes convencer os chefões da Ford para que a empresa assumisse o pagamento das 20.000 libras anuais que Ferrari lhe havia oferecido a Jackie. Com o assunto econômico resolvido, o acordo entre Tyrrell e Stewart já não tinha nenhum obstáculo e um aperto de mãos selou seu compromisso.

Desta vez, aquele gesto sim teve mais valor do que um contrato formal e o respeito e confiança que Tyrrell e Stewart se professavam mutuamente foi mais do que suficiente para que o escocês se incorporasse à equipe sem sequer assinar nenhum documento. De fato, Stewart permanaceria na Tyrrell sem necessidade de nenhum contrato pois aquele aperto de mãos foi o único vinculo que os uniria até sua retirada em 1973.

Deste modo, se iniciava uma muito produtiva parceria pois as vitórias não demorariam em chegar. Nos seguintes 6 anos, Stewart conseguiria 25 vitórias, o que representa nada menos do que 48% das provas em que conseguiu terminar, 3 títulos e 2 vice-campeonatos com Tyrrell, enquanto que a Ferrari, naqueles anos, atravessaria uma de suas piores fases.

Assim, o incumprimento daquele acordo entre Ferrari e Stewart, que tão contrariado havia deixado o escocês, se tornaria numa verdadeira benção para ele, portanto Stewart tinha muito a agradecer a Franco Lini e seu interesse em contratar a Ickx.

Assim, uma vez mais se confirmou aquele velho ditado que diz: “Há males que vem para o bem!

Um abraço e até a próxima.

P.S. Estando já retirado Jacky Stewart, e sendo comentarista na televisão britânica, esta decide organizar um evento onde o escocês provaria diferentes carros para dar sua opinião sobre deles. Tudo se prepara com motivo do GP da Inglaterra e todas as grandes equipes acedem a deixar seus carros nas expertas mãos de Jacky. Todas… menos a Ferrari. O comendador ainda se lembrava daquele telefonema de Stewart descartando pilotar para eles e se nega argumentando com rudeza: “Se há dez anos nossos carros não eram bons o bastante para ele, agora tampouco!

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

2 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Manuel, Parabéns, coluna nota 10!

    A Ferrari tomou uma SURRA da Ford tanto em Le Mans, como na F1, e o Velho Enzo, 10 anos mais tarde, não perdeu a chance de dar um peteleco no escocês voador.

    Mas como muito bem destacado no texto, Stewart tinha muito mais a sorrir, do que o Comendador.

    Esta fase da F1, foi incrível!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. MarcioD disse:

    Manuel,

    Interessante que a parceria Tyrrell/ Stewart já rendeu um titulo logo depois em 69. Stewart era um piloto muito talentoso, de estilo cerebral e me lembro da sua rivalidade com Emerson(também cerebral) em 72/73 onde cada um ganhou um titulo. Nesta época meu pai me presenteou com um autorama super pista com curva inclinada onde os carrinhos eram justamente a Lotus preta e o Tyrrell azul. Bem divertida aquela época. Certamente Stewart está entre os pilotos top 10 da F1, me lembro bem quando ele quebrou o recorde de vitórias de Clark e se não me engano ninguém depois dele conseguiu bater a
    sua marca de 27 vitorias em 99 GP’s, que acabou se tornando uma referencia.
    Quando ele iria completar o 100º GP de sua carreira em Watkins Glen 73, a ultima corrida do campeonato, ocorreu a tragédia com seu companheiro Cevert nos treinos e ele não correu, encerrando sua carreira na F1.

    Márcio

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