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“Ah, mas que viagem, que besteira, que mimimi.” “O politicamente correto tornou o mundo chato, agora não se pode brincar com nada." Será?

Tenho interagido nas redes sociais há muitos anos, pelo menos desde 2009, quando criei meu perfil no Twitter. Demorei algum tempo para aderir ao Facebook, que sempre me pareceu um Orkut mais sofisticado e, com o passar dos anos, hoje me parece um Orkut malicioso, mas estou lá também. Antes do crescimento das redes sociais, eu já interagia na internet, principalmente aqui mesmo no GPTotal e em fóruns de outros sites do meu interesse.

Quem interage comigo por esses domínios hoje em dia (e não me conhece pessoalmente) deve ter a impressão de que sou uma fada, uma Pollyanna tardia: só levo boas notícias, geralmente relacionadas a cultura, esportes e lazer. Gosto de compartilhar músicas, de indicar filmes e espetáculos a que fui assistir. Não entro em polêmica nesses ambientes e sou veladamente criticada por algumas pessoas que me conhecem no dia a dia, pois pareço viver uma espécie de personagem distante de mim mesma.

No dia a dia, tenho posições ideológicas muito definidas e radicais em alguns aspectos. Talvez, o traço mais característico do meu pensamento seja o feminismo. É possível que, ao conviver comigo, alguém me defina como “feminazi”, pois sou do tipo que se ofende se um homem se oferece para pagar uma conta, prosaica que seja, como o almoço em um restaurante por quilo, ou para carregar uma sacola por supor que ela esteja pesada. E admito que possa ser difícil conviver com isso, pois muitas vezes a atitude é mera demonstração de carinho, e eu consigo quase sempre arrancar um gesto de opressão das garras de um elogio ou de uma gentileza.

É um exercício de maturidade discutir questões como essa. E não acho que as redes sociais ofereçam o ambiente ideal para isso. Então, reflito: para que me congratular ou me indispor com gente que não conheço, cuja opinião não me importa e que não fará nenhuma diferença na minha vida? Prefiro concentrar meu tempo e minhas energias nas relações de fato porque, afinal, não foram a avalanche de “likes” e os comentários bajuladores que entraram no meu apartamento quando eu estava com um filho recém-nascido, um pai em estado terminal e uma casa de pernas para o ar. Quem fez isso foram meus parentes e amigos, de cujas opiniões eu posso até discordar e que podem me achar um porre com meu feminismo radical. Vou eu me indispor com eles, via redes sociais, para desfilar minha ideologia e ganhar aplausos de amigos virtuais que podem nem existir? Eu, hein, Rosa…

Mas eis que, nesta semana, o amigo Fábio Seixas me cutucou, com este post.

O texto do Seixas está muito bem fundamentado. O panorama que ele traçou é esse mesmo e tenho pouco o que acrescentar em relação à evolução da participação feminina na Fórmula 1. Antes de escrever esta coluna, usei o post dele e provoquei a reação de interlocutoras feministas, como a jornalista Milly Lacombe. E a Milly concordou com essa análise mas, via Twitter, comentou: “Achei a abordagem do Seixas boa, mas o problema do ativismo é que, para dar em algum lugar, ele tem que ser chato mesmo. E acho que não existem causas excludentes: luta-se por isso ou por aquilo. Podemos batalhar por todas, das menores às maiores.”

Talvez, e aqui me arrisco em uma análise, o ativismo dos grupos que se insurgiram contra Lewis Hamilton tenha, sim, razão de ser. Como bem apontou o Seixas, o gesto do inglês não diferenciou homens e mulheres no banho de champanhe. Até os assentos vazios do autódromo de Xangai sabem que espirrar champanhe no pódio é um hábito ancestral entre pilotos de Fórmula 1. Mas não é por isso que ele não possa ser carregado de simbolismo.

Da brincadeira entre pares à autoproclamação solitária, Ayrton Senna subverteu o gesto, consolidando o hábito de jogar champanhe sobre a própria cabeça. Um guerreiro solitário, diriam os fãs. Um maníaco egocêntrico, acusariam os detratores. Fosse o que fosse, inegavelmente, um gesto carregado de simbolismo.

E o que Hamilton – talvez de forma inconsciente – fez no pódio chinês? Espirrou champanhe no rosto (mais precisamente na orelha esquerda) da moça no pódio. Ora, senhoras e senhores, desculpem se serei eu a falar o que talvez nem todos tenham pensado: um jato de líquido no rosto de uma mulher, desferido por um homem… A foto, pinçada do contexto e colocada em uma historinha pornô, poderia ser o fim de um ato. Um fim que pode ser humilhante ou prazeroso para quem leva o jato na cara, e ninguém aqui vai julgar preferências de alcova de quem quer que seja.

“Ah, mas que viagem, que besteira, que mimimi.” “O politicamente correto tornou o mundo chato, agora não se pode brincar com nada.” Machos-adultos-brancos, sempre no comando, costumam reclamar da patrulha contra sua liberdade de expressão. E custam a entender que uma piada ou um gesto pode, sim, ofender alguém. E, se não houve a intenção, menos mal, mas que fique a semente da reflexão: será que posso fazer o que quiser sem que isso seja considerado ofensivo por alguém? E, se fizer, aguente as consequências das reclamações (ou do mimimi, para repetir o termo do colega Seixas).

E, por favor, agora que dei motivos para muitos de vocês me achincalharem, não caiam na vala comum do “meu amigo me chama de viado e eu não me ofendo com a brincadeira”, porque não é sobre você que estamos falando. Se algo não o ofende, melhor para você, mas pode ofender o outro. E se quiser me achincalhar, não tem problema: continuaremos na nossa relação virtual e isso não vai mudar nem a minha vida, nem a sua.

 

Alessandra Alves
Alessandra Alves
Editora da LetraDelta e comentarista na Rádio Bandeirantes desde 2008. Acompanha automobilismo desde 83, embalada pelo bi de Piquet e pelo título de Senna na F3.

16 Comments

  1. Guilherme Augusto disse:

    Muito estranho esta escola de jornalismo que você e o Flávio Gomes frequentaram e/ou propagam. Se o Jornalista não está nem aí para a opinião dos seus leitores, para quem voces escrevem? Apenas para seus chefes e amigos??
    Voce tem todo o direito do mundo de não acatar estas opiniões. Como eu (seu leitor- assíduo, por sinal-)tenho o de não acatar a sua. Isto não me parece ser a mesma coisa de não me importar.
    Mas seguindo este mesmo raciocinio, se vc não se importa a minima com o que EU (leitor que voce não tem a minima idéia de quem é)penso, então por qual motivo continuarei a ler o que VOCE pensa???
    Bem… …a partir daí, não interessa a mínima o que eu achei do resto do texto, não é mesmo??

  2. Rogerio Silveira disse:

    Espera mais de você Alessandra; gostava de acompanhar o seu blog. A parte que mais me tocou foi você dizer que a opinião do leitor não importa a você.

  3. Agnaldo disse:

    Sinceramente, a pessoa que escreveu esse texto está precisando de apoio psiquiátirco urgente. A metáfora utilizada (estouro de champanhe – ato final de filme pornô) é de corar até o freudiano mais fanático. Lamentável haver um conteúdo destes em um ótimo site de automobilismo como o Gepeto.

  4. Mario disse:

    Essa eh a terceira vez que tento,deixar meu comentario. Parece que o filtro aqui eh severo. Nunca li texto mais absurdo na minha vida. Comparar o estouro da champagne com um um filme porno…. A que ponto chegamos com essa imprensa esquerdista que ve tudo errado. Ainda bem que aqui tem poucos seguidores. Varias coisas me chamam a atencao nessa perola que foi escrita: o titulo que remete a censura que o Governo corrupto do PT deseja implementar no nosso país, o vitimismo seja la de quem for, sendo que a mulher que tomou o banho no podium nem reclamou, depois no texto chega-se ao cumulo de falar de homem adulto branco ( discurso tipico de esquerda retrograda) so que esqueceram que Hamilton eh negro …. Enfim eh um festival de idiotices. Espero que meu comentario seja ao menos publicado

  5. Carlos Fiorini disse:

    Alessandra,
    Entendo sua argumentação e suposição do que a simbologia desta ação do Hamilton poderia representar para uma pessoa que se sentisse de alguma forma atingida. Mesmo que inconsciente, muitos atos ou frases podem, de fato, ser tomados como algum tipo de ofensa ou causar mal estar, dependendo do interlocutor ou observador.
    Por outro lado, penso. E se a situação fosse inversa? Não é o caso, pois a garota chinesa estava relativamente afastada da situação. Mas, e se ela estivesse bem mais próxima e o piloto, deliberadamente, evitasse atingi-la com o champanhe? Será que isso não seria o simbolismo mais evidente?
    Comparando o fato ocorrido com o hipotético, tendo a acreditar que atingir a chinesa em meio à comemoração foi um ato mais natural para a situação do que se o piloto houvesse evitado que o champanhe respingasse nela.

  6. André disse:

    Bom… Pra quem ouviu a transmissão pelo radio e estava atento no momento em que comentavam sobre este fato absurdo…. Pode perceber que a mulher que escreveu este texto não teve nem respostas para o narrador da corrida…. Ele disse com todas as letras … Procurem um tratamento… Procurem ocupar vossas vidas com algo mais fundamental… É um absurdo este tipo de texto em um site de automobilismo… Relacionar a festa da premiação com uma historia pornô eh um ato de descompensação do ser humano… Só entrei no site para ler o que foi escrito depois que narrador reduziu todo este texto em pó… Me poupem… Não assistam… Não comentem. Ou… Não trabalhem naquilo que não lhe faz bem… Pq pra ligar o radio e ouvir asneira e comprovadas na internet eh um sacoooooo…. Imaginal no natal… Qdo VC estoura uma champanhe com sua familia e joga na sua mãe… Imagina se por perto tem alguem assim… Fala serio… A vida é muito mais que isso… Escute o narrador… Vá ser felizzzz

  7. Mario disse:

    O grande problema eh o esquerdismo. Essa gente ve crime nas acoes de todos, mas quando na usp ( antro de esquerda retrograda) umas mocas enfiavam crucifixos no anus, vcs defendiam. Ahh vai se tratar, ou vai procurar um país socialista pra viver e se vitimizar. Aqui no Brasil adoramos o capitalismo ( a grande maioria nao quer mudar o regime)

  8. Mario disse:

    So vim ver se era verdade pq ouvi na transmissao da f1 na rb. Meu Deus …. O jornalismo chegou no fundo do poço com tanto esquerdismo. Adoradores de Cuba , nao poderiam escrever coisa melhor mesmo. Eles ainda acreditam nas imundices e asneiras dessa esquerda retrograda. Comeca pelo titulo, uma clara conexao com a censura que se quer colocar nas redes pelo governo federal. So nao entendo pq vcs nao mudam para um país socialismo comunista ao inves de ficarem aqui enchendo o saco das pessoas que querem continuar com o capitalismo ( a grande maioria)

  9. Ricardo Tavaers disse:

    Sinceramente, por mais bem escrito que o texto seja, por mais razão ou não que a autora tem(não vou entrar no mérito e dizer se está certou ou errado), mas fiquei com uma dúvida?
    O que esse texto está fazendo num site relacionado a história do automobilismo?
    Um texto que não acrescenta em nada para quem está procurando informação sobre a história do esporte a motor

  10. Ronaldo de Melo disse:

    Mais uma pérola. Mas um texto bem escrito pode não encerrar em si verdades absolutas, e não posso deixar de, polidamente, discordar de você.
    Há não muito tempo tenho visto o feminismo reerguer-se com um novo nome – sororidade – e muito me preocupa a forma com que esse tipo de imagem, nas mãos de quem levanta uma bandeira, pode se tornar emblemática. E o oportunismo com que são usadas também é questionável; desde que Dan Gurney criou o gesto ninguém nunca tinha chiado a respeito, e sua coluna está ilustrada com evidências de que não é um comportamento de ontem.
    Você coloca que é preciso refletir se o nosso comportamento pode ser ofensivo a alguém. Esse atitude que você cita, de “arrancar um gesto de opressão das garras de um elogio” é um comportamento abusivo.
    As redes sociais estão aí pra me apoiar: Os argumentos pró minorias são sempre absolutos, e quem luta por direitos raramente está aberto ao diálogo. Os argumentos do Fábio Seixas, com quem também não concordo muito, estão postos para discussão, mas não senti que houve uma reflexão sincera a respeito deles.
    Enfim, não quero começar uma discussão, acho que não tenho cacife pra isso. Mas se enxergar alguém além do gênero é uma tarefa complicada para alguns, muito me espanta que quem quer que isso aconteça se valha de impropérios e verdades absolutas. Somos todos iguais e ponto final.
    E você é uma das colunistas mais geniais da Internet; isso não é uma cantada.

  11. Lucas dos Santos disse:

    Ótimo texto Alessandra.

    Para quem acha que o temor de que a imagem seja editada para se tornar uma piada com conotação sexual é exagero, basta ver o que fizeram aqui: http://wtf1.co.uk/wp-content/uploads/2013/11/d4ba1ffe6247217484e9da4715c967da_pub.gif

    Do jeito que a F1 está hoje em dia, creio que, se a polêmica continuar, logo vão criar uma “nova regra” prevendo punição para o piloto que jogar champanhe nas modelos!

  12. Gus disse:

    Hamilton não fez piada com a moça, apenas fez um gesto imerso que estava em sua comemoração e felicidade; do mesmo modo que Senna fez quando “ejaculou” na família real…a própria associação entre o gesto e ato sexual já demonstra o quanto as pessoas se consideram puritanas, pensando o sexo como algo inconveniente. Estão duplamente erradas em interpretação e valores.
    No máximo, o ato seria passível de uma dor de ouvido na moça…

  13. Fernando Marques disse:

    Alessandra,

    o risco de eu te achincalhar via twitter ou facebook é zero … não gosto, não uso e nem sei como se usa estas ferramentas … e aqui no Gepeto nem pensar … seus textosa são uma delicia de se ler e sempre achei interessante seu ponto de vista sobre o mundo do automobilismo …
    Mas gostaria de acrescentar uma coisa a esta situação. Canso de ver nas corridas de moto velocidade o Marc Marquez comemorando as suas vitórias no podium dando banhos e mais banhos nas modelos e ninguém até agora reclamou de nada … por que esta confusão agora com o Hamilton?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  14. Manuel disse:

    Nesse ambiente cada vez mais aséptico em que a formula 1 esta imersa, talvez acabem abrindo a garrafa um pouco antes para aliviar a pressao e evitar os espirros 🙁
    Tambem me resulta raro que ainda se use champanhe no pódio. No fim das contas, se trata de uma bebida alcoólica, uma droga tanto ou mais daninha que o tabaco.

  15. Lucas disse:

    Ah, e basta olhar o nível (ou a falta dele) nos comentários do Facebook para ver que a autora está repleta de razão. Infelizmente, vivemos uma era em que acha-se normal o desrespeito e a propagação de ódio contra os outros, e que qualquer reação em contrário é vista como “ditadura do politicamente correto”. Lamentável.

  16. Lucas disse:

    Excelente texto, nem uma vírgula a acrescentar.

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