Mamma mia!

O Conto do Vigário 3
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Jo Ramirez no GPTotal
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Um circuito novo no calendário. “Moda antiga”! Essa foi a definição mais usada no começo do fim de semana. Não era pra menos: pista estreita e caixas de brita. Tudo pronto para ser um GP especial.

E foi. Por um milagre vamos exaltar o regulamento esportivo e teremos a chance de lembrar do 1000º GP da equipe mais tradicional da F1 como um GP da gala.

Não há no esporte mundial hoje um campeão como Hamilton. Engajado em causas primordiais e sem esquecer da máquina que gira a roda da F1.

O GP da Toscana, em sua aparição única, nos presenteou com uma bela corrida e pavimentou o caminho do título para Hamilton!

A largada do Grande Prêmio foi especial. A grande reta não era um problema pra larga e as equipes discutiam ainda qual seria a melhor estratégia: 1 parada simples e mais uma corrida de endurance o iriam tentar uma corrida de duas paradas mais rápida.

Com um vacilo microscópico do pole position, Bottas assumiu a liderança enquanto o grid via Max Verstappen ver seu Red Bull lhe jogar para o fim do grid.

No fim do grid, não há milagre. Pista nova para os pilotos, antiga em suas tradições. Não estamos na pistas espaçosas da Malásia ou China, aqui em Mugello 3 carros não fazem em paralelo uma tangencia de curva. Não deu outra: Gasly, Raikonnen e Grosjean se tocam, Raikkonen acerta Max e mais a frente, Sainz roda brigando com as Racing Point e Vettel perde o bico tocando a Mclaren. Repare, Max estava atrás da Ferrari de Vettel nesse momento da prova.

Safety car acionado….nem uma volta completada. Seguimos com a corrida atrás da Mercedes vermelho Ferrari até a volta de número 7.

Aí…. um parênteses!

Bottas pegou o regulamento e notou que poderia tirar alguma vantagem. Ninguém podia ultrapassa-lo até a linha de chegada. Em uma reta gigantesca, onde a linha de chegada (chamada de Linha de Controle) é no mesmo local do começo do Grid, Bottas deixou pra acelerar no último momento. O Safety Car não havia lhe dado o aviso com antecedência necessária pra ele cria um espaço para Hamilton, sem essa estratégia ele seria ultrapassado facilmente antes da curva 01.

O finlandês foi brilhante.

Mas faltou combinar coma rapaziada do meio do pelotão. Todo mundo entusiasmando, entrou na grande reta esperando uma vantagem qualquer que fosse. Bottas não fez joguinho de “acelera e freia”, mas quem estava atrás teve que fazer. E aí encontramos o princípio do caos.

Sainz, Lafitti, Magnussen e Giovinazzi deram um jeito de destruir seus carros e interditar a reta principal. Os 4 juntaram seu dejetos com Gasly e Verstappen na frente dos monitores pra acompanhar a corrida.

Bandeira Vermelha. Duas provas na Itália e o sangue latino não nega: vamos ter emoção.

Todo mundo alinhado no box e chegamos à 1 hora de transmissão da televisão e só 8 voltas haviam sido completadas. Largada parada pra todo mundo agora e Ocon não volta para o Grid.

O grid estava reduzido, só 13 máquinas prontas. Luzes apagadas e Hamilton se recupera do erro da primeira largada e supera Bottas na curva 1. Hamilton aprende (e se adapta) muito rapidamente!

Por um momento, há o brilhareco da Ferrari com Leclerc. Em 3º na relargada deu aquele fio (fino) de esperança para o torcedor mais apaixonado (e desconectado da realidade) da Ferrari. Até volta 21, Leclerc seria ultrapassado, um a um, volta após volta, por Stroll, Ricciardo, Albon e Perez.

Pneus escangalhados, era a hora de começar os pit stops. Leclerc parou na volta 22 para voltar em último, mas estava dado o sinal para os demais.

Bottas, o chateado, chamou o time no rádio e pediu: Quero que meu pneu seja diferente do pneu colocado pro Hamilton.

É uma atitude bacana, queria fazer algo diferente. Vamos elogiar o moço. Mas por pouco tempo. Bottas, pra pedir isso, você tem que fazer seu pneu funcionar até a parada do Hamilton. Aí o seu pessoal olha o que o pessoal do Hamilton fez e você consegue fazer diferente.

Bottas fez ao contrário: começou a reclamar dos pneus e teve que parar antes de Hamilton.

Mugello nos deu a chance de lembrar que a F1 não ficou “chata” por causa do domínio assombroso da Mercedes. Muito menos durante a hegemonia ferrarista-Schummacher.

Chamem pra conversa Bernie Eclestone e o senhor Herman Tilke. Seus autódromos pasteurizados que podem ser colocados em qualquer terreno plano dessa Terra (redonda, vale lembrar) são a sentença de morte da categoria.

Note, temos corridas boas em Suzuka, Áustria, Spa, Mugello, Silverstone e Interlagos. Em comum, mudanças de direção com áreas de escape que punem erros, mudanças de altitude, respeito a topografia natural dos terrenos…. A sequência de curvas de Mugello deixou Ricciardo sem ar na sua volta rápida. Hamilton terminou a corrida de domingo exausto.

Corrida de verdade, em um autódromo de verdade.

A rodada de Pits deixou Bottas mais distante de Hamilton e viu um belíssimo undercut de Ricciardo para cima de Stroll.

Bottas havia facilitado o caminho para vitória de Hamilton e logo atrás vinha a briga de Ricciardo, Stroll e Albon pelo espaço restante no pódio.

Um pouco para trás a corrida via uma Ferrari derretendo e um George Russel sendo mais rápido que os dois carros vermelhos em várias oportunidades.

Um salve para TV Globo que resolveu escalar (alguém avisou o patrão que ele faz parte do grupo?) Everaldo Marques para a transmissão. O rapaz sabe do assunto (já fez F1 no rádio) e mostrou um salto de qualidade muito grande na transmissão. Difícil lembrar de memória uma largada “narrada” e também ultrapassagens. Everaldo soube levar, com equilíbrio, uma prova extensa. Quando havia algo relevante na pista, optou por narrar o acontecimento ao invés de dar voz aos dois comentaristas do dia. Quando Mariana aparecia com uma rara oportunidade de entrevistar um piloto, prioridade total para ela.

A Globo não “comprou” os direitos de transmissão para 2021. Mas alguém ainda pode comprar e “alugar” para o time da Globosat (Globo, Sportv e afins). Mesmo perdendo a TV aberta, é uma boa opção bastante provável para a F1 no Brasil.

Nada disso acontecendo, que pelo menos Everaldo termine a temporada no comando do microfone.

(Só pediria uma última prova com Galvão Bueno, em respeito ao trabalho dele durante todos esses anos sendo a nossa voz na F1. Respeito é bom, e gostamos.)

O cortejo seguiu com algumas boas disputas no que seria o meio do pelotão. E entre as voltas 33 e 42, uma grande disputa envolvendo Ricciardo, Stroll e Albon era desenhada. Contra o relógio, os 3 batalhavam por décimos!

Até que o pneu de Stroll o traiu. Já eram 22 voltas na borracha que a Pirelli recomendava, no limite extremo (Olá Galvão!!!!), 25 voltas. A batida foi forte, o menino ficou tonto e a barreira de pneus destruída.

Pela posição de pista, um pequeno momento de tensão é criado. Bottas consegue parar imediatamente e Hamilton ainda tem uma volta inteira para completar. Mas a sorte segue com o hexacampeão: o Safety Car foi para pista após a passagem de Hamilton pela saída dos boxes e ele conseguiu assim dar a volta e parar nos pits sem perder nenhuma posição.

Mesmo com o Safety Car na pista, os danos eram muito extensos, não restava mais nada a fazer do que chamar a bandeira vermelha, recolher os carros e esperar uma nova largada. A terceira do dia!

Ufa! Largada de número 3 do dia. Cinco luzes se acendem, no momento que se apagam Hamilton elimina qualquer chance da concorrência com um largada perfeita. Diz o ditado, na terceira você encontra o ápice e foi o que Hamilton fez.

Sua largada perfeita trouxe juntamente Riccardo, deixando Bottas em terceiro. Na volta seguinte Bottas já conseguia superar o Australiano e partiu para tentar alcançar Hamilton.

Em vão. Hamilton controlou a corrida para garantir a volta mais rápida e manter Bottas for a da zona de ativação do DRS.

Enquanto isso, Albon mostrava que o pódio finalmente seria seu e na volta 51 passou Ricciardo para ficar com o 3º posto.

Isso que se espera de Albon, quando não tem Max na pista ele DEVE chegar atrás das Mercedes. Primeiro Tailandês no pódio, mais um da nova geração que “chegou lá”.

Dá turma de Gasly, Lando, Russel, Charles e Albon, só falta o Russel. Aguardamos 2021.

No finzinho, o único drama restante era a sobre a punição de Raikkonen. Ele teria 5 segundos adicionados ao seu tempo e isso, talvez, desse um pontinho para Russel.

O problema é que Russel caiu para ultimo na 3º largada, estava em nono! Com isso, não conseguiu se recuperar para o ponto sonhado!

Hamilton venceu e carimbou a faixa do título. Pode chover, furar pneu ou colocar 3 largadas na mesma corrida. Não tem jeito: Hamilton se adapta e tira o máximo de pontos possíveis dessas situações. Agora são 55 pontos de distância pro seu companheiro de equipe e um título cada vez mais próximo.

Na pista, Hamilton é inigualável.

Mugello, uma pista que nos remete a mais adorável e apaixonante Formula 1 de todos os tempos. Disputas, pilotos punidos por seus erros, pilotos esgotados pelo seu desafio.

Um final de semana irreparável antes da folga de 15 dias para mais uma sequência alucinante de 3 corridas.

A temporada 2020 encurtada da F1, se transformou em uma bela macarronada. Cheia de sabores para os seus fãs!

Após a corrida, Hamilton, esgotado, segue inigualável.

Pediu justiça para Breonna Taylor (e tudo que isso representa). Um momento único.

Não há hoje uma personalidade como Lewis Hamilton no mundo.

#BlackLivesMatter

Grande Abraço,
Flaviz Guerra

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Flavis,

    a corrida em Mugelo foi interessante em muitos pontos muito bem abordados por voce.
    Só que ela me deu a impressão que nem mais imprevistos serão capazes de tirar as vitórias de Hamilton/Mercedes. E olha o que não faltou em Mugelo foram imprevistos.
    Uma outra coisa, dentro de meu contexto, achei a corrida, enquanto ela aconteceu de verdade, chata como muitas outras. Hamilton na frente sem ser incomodado por ninguém, nem pelo Bottas …
    Mais um outro detalhe, parar esta sequencia de sucessos do Hamilto, só se Verstappen/RBR e Le Clerck/Ferrari estiverem em forma. Pelo que vi a boa forma de ambos já foram pro espaço …
    Em 2020 vhamiltonvai dar o maior passeio já visto na Formula 1

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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