Monza – O traçado mágico

Pistas
07/09/2011
Fato Consumado
12/09/2011

Monza talvez seja o circuito de maior história ainda em atividade na F1. Sua famosa série de longas retas constitui a grande fama que persiste até hoje do mais rápido circuito do calendário. Some a isso a presença de fiéis da Ferrari - "tifosi" - e você tem a receita da magia deste local lendário.

Quinze dias após Sebastian Vettel ter restaurado a sua supremacia, com autoridade, nas curvas de Spa, estamos em movimento mais uma vez.

Desta vez o destino é o Grande Prêmio da Itália, que abriga o ponto final da fase europeia e, sem dúvida, um dos locais que mais respira automobilismo no mundo. Monza talvez seja o circuito de maior história ainda em atividade na F1. Sua famosa série de longas retas constitui a grande fama que persiste até hoje do mais rápido circuito do calendário, some a isso a presença de fiéis da Ferrari – “tifosi” – e você tem a receita da magia deste local lendário.

Construído em 1922, foi desenhado para promover a altas velocidades e uma dinâmica de velocidade constante, particularmente sobre a parte oval inclinada. O primeiro vencedor do circuito completo de Monza foi Pietro Bordino. A bordo de um Fiat 804, ele completou os 800 km do primeiro Grand Prix da Itália em 5 horas 43 minutos e 13 segundos, com uma média de 139,8 km/h. Isso mesmo: em 1922 Bordino já andava em médias superiores a 120 km/h.

A última corrida com o circuito completo foi em 1956. O traçado mágico tinha um fato curioso e impensável nos dias de hoje: para completar a volta você tinha que passar duas vezes pela reta principal. Foi também a prova do quarto título de Fangio na F1, conquistado graças ao cavalheirismo de Peter Collins, que lhe cedeu seu carro, mesmo tendo chances matemáticas de vencer ele próprio o Mundial. O GPTotal contou a história dessa corrida lá no Facebook.

 

http://www.youtube.com/watch?v=m7QDWj1IRQc

 

Ao longo dos anos, Monza passou por diversas alterações de traçado. A principal delas foi o abandono das curvas inclinadas, após o acidente fatal de Wolfgang von Trip, em 1961. Chicanes múltiplas também foram adicionadas para retardar os carros. A história puniu o excesso de velocidade que a pista proporcionava. De 1922 até 1999 (último acidente fatal), foram 42 mortes na pista em todas as categorias que passaram por lá. A F1 perdeu em Monza outros dois pilotos além de Wolfgang: Jochen Rindt na Parabólica, em 1970, e Ronnie Peterson na reta principal, logo na largada, em 1978. Mesmo assim os 5,7 km do circuito de hoje mantêm a marca tradicional de “sapato” que foi revelada quase 90 anos atrás e ainda se vê carros de F1 atingir uma velocidade máxima de mais de 320 km/h na reta principal, o que deve aumentar com a ajuda do KERS e DRS.

 

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Em Monza, o piloto passa incríveis 80% da volta a todo vapor, colocando motores e caixas de câmbio sob pressão considerável. Se quiser vencer em Monza, você precisa de muita potência e pressão aerodinâmica mínima. Com as altas velocidades, vêm a necessidade de freios excelentes. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que na primeira perna da Variante del Rettifilo, uma sequência direita-esquerda acentuada no final da reta principal. A aderência também é testada constantemente, principalmente na Parabólica, uma curva de 180 graus, que traz para a bandeirada.

 

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A pista italiana tem várias marcas brasileiras. Ninguém esquece o primeiro título de Emerson Fittipaldi, em 1972. Com a vitória, ele trouxe o primeiro caneco para o Brasil e se tornou o piloto mais jovem a ganhar o Mundial. Essa marca durou até 2005 (Alonso) e foi pulverizada por Vettel (2010).

Contando com a vitória de Emerson, são 10 vitórias brasileiras no GP da Itália. Nelson Piquet tem quatro (1980 – este disputado em Imola -, 1983, 1986 e 1987). Barrichello, três (2002, 2004 e 2009). Senna contribui com outras duas (1990 e 1992).

O recorde da pista atual para corrida é de Rubens Barrichello, uma volta sensacional em 1m21s046 no magnífico Ferrari F2004. A volta mais rápida de classificação também é de Barrichello, em 1m20s089 com o mesmo F2004.

 

http://www.youtube.com/watch?v=6l_uhy8NEWc

 

Christian Fittipaldi também não deixou barato e escreveu seu nome na história de Monza. Participou de um vistoso acidente em 1993, atropleando seu companheiro de equipe antes da linha de chegada.

 

http://www.youtube.com/watch?v=8zg4T_qTH6E

 

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Ganhar em Monza é um dos passos para a grandeza. Os vencedores anteriores incluem Nuvolari, Fangio, Ascari, Moss, Clark, Stewart, Fittipaldi, Lauda, Piquet, Prost, Mansell e Senna. Dos atuais, Schumacher levou cinco canecos aqui (1996, 1998, 2000, 2003 e 2006). Ex-companheiro de equipe do multi-campeão, Barrichello é o próximo, com três (2002, 2004 e 2009), enquanto Alonso tem dois para a sua estante (2007 e 2010) e Vettel um (2008). A Ferrari venceu a sua corrida em casa por surpreendentes dezenove anos, mais que duas vezes o registro de seu concorrente mais próximo, a McLaren, que tem nove vitórias. A Williams tem seis. Graças às suas vidas anteriores, Lotus pode reivindicar cinco e quatro a Mercedes, enquanto a Renault conseguiu duas vitórias no início dos anos oitenta. Atuais retardatários ou atropelados nas largadas, a Toro Rosso teve sua primeira e até agora única vitória nesse circuito, três anos atrás.

O que isso significa para a competição este ano? A Red Bull entra na disputa logo depois da surpreendente vitória em Spa, mas este é um desafio completamente diferente – velocidade de linha reta não é a virtude principal do RB7. No entanto, Vettel está empolgado como nunca por ter tido a sua primeira vitória aqui há três anos e com um segundo título bem próximo. A McLaren tem sido mediana ao longo dos anos na Itália e não deve ser diferente agora, apesar de um potente motor Mercedes. Temos que ficar de olho no Button que, ano passado, conquistou um segundo lugar surpreendente, depois de apostar em um acerto completamente diferenciado. E, claro, há a adorada Ferrari. Enquanto eles não podem ser primeiros em ritmo absoluto, são famosos por fazer mágica em casa – e só por isso você não deve descartar a repetição da vitória de Fernando Alonso. Não se esqueça de manter um olho na Mercedes. O W02 vem mostrando incrível velocidade máxima e na Bélgica foi capaz de elevar a posições de Schumacher durante a corrida para terminar à frente de seu companheiro de equipe em um grande resultado para a equipe.

O campeonato pode estar no auge, mas acabou! Mesmo assim, neste fim de semana esse fato significa muito pouco. A verdadeira proximidade de Sebastian Vettel para o título pode reduzir um pouco a pressão sobre seus rivais. Com o prêmio principal, aparentemente tomada por mais um ano, não há nada a perder e talvez – apenas talvez – muito a ganhar. Os pares de Alonso e Hamilton vão para Monza com muita coisa na cabeça e com a mesma situação que no campeonato: agora é tudo ou nada. Com a Red Bull visitando seu “local mais fraco do ano”, é uma oportunidade de ouro para conseguir vencer. Como sempre, os tifosis torcem para serem testemunhas de um clássico grand prix.

 

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Deixo pro final, porque precisa de mais tempo… pra curtir com calma.

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=QD5vy7YObXo

 

Boa corrida! Participe conosco pelo Twitter com os comentários do Treino Classificatório e da Corrida, em tempo real, no twitter. “Assistam” a corrida conosco, nos seguindo em @GPTotal.

Abraços,
Flaviz Guerra – @Flaviz

Informações da Pista
 

Dimensão:
5.793 km
Voltas: 53
Distancia:
306.720 km
Volta mais Rápida*:
1:21.046 – R Barrichello (2004)

Circuito de Monza
*Volta mais rápida em corrida
Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

5 Comments

  1. Cristiano Buratto disse:

    Muito bom, apenasa corrigir que o texto diz que última corrida com o circuito completo foi em 1956, mas em 1960 e 1961 também usaram a parte oval.

  2. Bruno Bernardo disse:

    Spa e Monza, as únicas duas corridas que eu faço questão de ver, porque são clássicas, sempre tem corrida, corrida de verdade, com velocidade, ultrapassagem etc. Não autorama que a gente está cansado de ver nas outra etapas. Monza devia ser patrimonio historico !

  3. Fernando Marques disse:

    Marcio,

    obrigado pelo carinho e atenção … a meu ver creio que a Formula 1 evoluiu no decorrer dos anos buscando mais velocidade em curvas , principalmente de baixas e medias velocidades, e não em retas onde a velocidade máxima alcançada não diferencia das alcançadas nos anos 60 e 70 … daí a curiosidade em pensar como seria o comportamento deles em curvas inclinadas como a de Monza. Mas voce lembrou bem do traçado adaptado para a Formula 1 em Indianapolis … Com relação a epoca de Scumacher na Ferrari, bem lembrado o fato dele já ser o dono da equipe quando o Barrichello chegou … e poderia ter acontecido o mesmo com Peter Collins com Fangio já dono da equipe também …

    Fernando Marques
    Niterói – RJ

  4. Salve Fernando! Difícil responder suas perguntas, mas não custa a gente refletir um pouco. Vamos lá:

    1) A pista original de Monza era praticamente igual ao traçado atual, à exceção das chicanes. Pagaria caro para ver uma corrida atual nesta configuração, fazendo desde a Parabólica à Lesmo com o pé embaixo. Isso tudo tendo de enfrentar a Curva Grande que, aí sim, seria uma curva de verdade, como nos tempos pré-1972. Considerando que a Ascari tb não existia, ali tb teríamos uma curva interessantíssima, de alta mas não flat. Num chute meio grosseiro a gente poderia estimar uma velocidade média próxima dos 300 km/h, e, por conta disso, uma corrida durando pouco mais de uma hora.
    Já na configuração unindo misto e oval, a coisa fica muito mais difícil de prever. Isso porque simplesmente não existe nada parecido no mundo. O máximo que me vem à mente é a pista usada até 2007 em Indianápolis, bem como uma ou outra pista secundária que ainda utiliza parte de oval num traçado misto. A pista de Puebla, no México, e a de Lausitzring na Alemanha são dois exemplos disso também.
    No entanto, uma coisa é usar uma ou duas curvas inclinadas, e outra é unir um imenso e radical oval a uma longa pista mista. No mínimo seria muito interessante ver as diferentes apostas em acerto, privilegiando um ou outro trecho. Sem falar nos pneus – especialmente no lado esquerdo -, que seriam exigidos demais. Provavelmente teriam que ser feitos de maneira diferente dos do lado interno, inclusive.

    2) Já sobre Rubinho x Schummi na Ferrari, só o que é possível prever é que Rubinho certamente teria números melhores, e Schumacher piores do que aqueles que ficaram registrados. Se essa aproximação, contudo, seria suficiente para inverter a ordem em algum momento, é algo difícil de dizer. Vimos em 2003 que quando um carro servia mais ao seu estilo, Rubinho podia sim superar Schumacher consistentemente e em condições normais. Vimos também que ele geralmente andava melhor que Schumacher em pistas de alta, como Silverstone, Hockenheim antiga, Áustria e Monza.
    É tudo especulação, mas talvez sim, dispondo da mesma quantidade de testes e dos mesmos privilégios no direcionamento dos projetos, Rubinho pudesse ter batido Schumacher num ou mais campeonatos.
    A questão, no entanto, é que Schumacher conquistou tais privilégios com méritos, sobretudo ajudando a reenguer a Ferrari desde 1996. Quando Rubinho lá chegou, em 2000, a equipe já tinha dono. E com justiça.
    Abraço, e escreva sempre.

  5. Fernando Marques disse:

    Dois fatos me chamaram a atenção no texto e daí duas perguntas:

    1) Como seria a Formula 1 de 2011 no traçado original de Monza?

    2) Em 1956, Peter Collins abidicou de lutar pelo titulo em favor do Fangio em Monza. Se não fosse a sua “benevolencia”, Fangio teria 4 e não 5 titulos. Se não fosse esta politica, poderia o Barrichelo conquistar ao menos um titulo mundial na era Schumacher com a Ferrari?

    Fernando Marques
    Niter´poi – RJ

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