Nem tudo que reluz é ouro! – parte 1

Procissão
01/11/2015
Nem tudo que reluz é ouro! – parte 2
06/11/2015

A parimeira parte da coluna que conta a história de um encontro de mitos.

Como é habitual, os ditados populares sempre encerram algum ensinamento prático ou moral fruto da experiência e das vivências de nossos antepassados, e o titulo desta coluna é o de um desses ditados que tanto nos ensinam e que convém ter sempre presente em nossas vidas.

O ensinamento neste caso é o de que devemos estar sempre atentos e não nos deixarmos  influenciar  apenas pelas aparências, pois estas podem nos enganar respeito ao conteúdo ou fundamento daquilo que temos perante nossos olhos.

Em ocasiões, podemos resultar até cegados pelo brilho daquilo que temos ante nós, mas que, no fundo, se trata apenas de um brilho que não se corresponde à sua verdadeira natureza. Assim, deslumbrados por esse falso brilho, acabamos sendo vitimas daquilo que nos havia parecido ser muito mais do que realmente era.

Depois de vários anos bastante decepcionantes, a equipe Lotus conseguia vencer o campeonato de 1978 com seu revolucionário carro asa, o que permitia a Colin Chapman desfrutar da glória e voltar a ser o centro de todas as atenções no paddock. O papel que ele mais gostava e que melhor desempenhava.

Naquele mesmo ano terminava o contrato de patrocínio que a equipe mantinha com a Imperial Tobacco Co., com o que o nome John Player desapareceria dos carros no ano seguinte. Contudo, a marca italiana de bebidas Martini & Rossi, ocuparia seu lugar.

Os italianos abandonavam a Brabham perante a perda de protagonismo que vinham sofrendo desde a chegada dos motores Alfa Romeo, e buscavam uma maior exposição de sua marca no recente campeão.  Assim, o contrato concedia à destilaria o status de principal patrocinador. Havia nascido a equipe Martini-Lotus.

Também em 1978, Champan havia entrado em contato com John DeLorean, quem vinha precedido de uma brilhante fama de homem bem sucedido. Para então, John levava uma vida folgada e rodeado de luxos. Morava numa bela mansão de estilo inglês, se relacionava com gente de alto status no country club do que era sócio e, desde 1972,  estava casado com umas das mais belas modelos da época, após haver mantido alguns romances famosos, como o que teve com a estonteante estrela do cinema Ursula Andress.

Após uma fulgurante carreira na General Motors, no fim dos anos 60, John já havia chegado a ser o mais jovem vice-presidente da história da empresa e ninguém duvidava de que logo escalaria à presidência. No entanto, John, no principio dos anos 70s, abandona a companhia para formar sua própria empresa e se dedicar a  construir um carro esportivo de luxo, algo com o que Chapman também sempre havia sonhado.

O carro deveria de estar ao mesmo nível de Porsche ou Ferrari e DeLorean já contava com financiamento do governo britânico, pois tudo estava disposto para que o carro fosse produzido numa nova fabrica a ser construída ao sul de Belfast. Naqueles tempos, o terrorismo do IRA estava em seu auge e o desemprego na Irlanda do Norte era muito alto. Assim, quando DeLorean apareceu com seu projeto, o governo laborista de James Callaghan logo esteve disposto a despejar suculentas subvenções com o propósito de paliar dito desemprego com o intuito de pacificar a região.

O problema é que o projeto devia ser desenvolvido e dispor de um protótipo pronto para iniciar a sua produção em série em apenas 18 meses! Mesmo assim, Chapman, a quem o DeLorean havia deixado muito impressionado, logo se embarcou no projeto e colocou seu pessoal a trabalhar de cheio, pois o dinheiro não demorou em chegar.

Quando a temporada de 1979 começa, o Lotus 80, agora com a cor verde britânica clássica, mostrava a publicidade e emblemas da Martini. Porém, Chapman havia tentado levar o vitorioso modelo 79 um passo além com o 80, mas o resultado não vinha sendo nada satisfatório. Durante o GP da Inglaterra, Chapman conhece um tal David Thieme, entusiasta do automobilismo e proprietário da petrolifera Essex Overseas Petroleum Co..

Thieme, como De Lorean, havia tido muito sucesso nos negócios pois, a partir de uma pequena empresa familiar dedicada à customização de jets privados (o que lhe deu a ocasião de conhecer muitos magnates árabes do petróleo), passou a se dedicar ao negócio do petróleo nos momentos mais convulsos desse mercado, justo depois da crise derivada da escalada de preços consequência da guerra de 1973 no oriente médio.

Thieme, teve grande visão de futuro e comprava carregamentos de petróleo que depois vendia com bons benefícios quando o seu preço havia subido, coisa que ocorria com frequência naqueles dias. Pouco depois, também se dedicou ao refino e distribuição de combustível e outros derivados de petróleo, aumentando ainda mais seus benefícios.

David Thieme, como John DeLorean, era um sibarita que gostava da boa vida e famosas eram suas festas nos melhores clubes de Montecarlo ou Paris. Portanto, Thieme, com seu elegante e impecável porte, seu fino bigode e cavaquinho assim como seu eterno chapéu negro de aba plana de típico estilo espanhol, logo impressionou Chapman, quem sucumbiu a tanto luxo e glamour. De imediato se desenvolve uma boa relação de amizade entre os dois homens e o nome ESSEX aparece nos laterais do Lotus 80 já a partir do GP da Bélgica.

Até então, nesses laterais havia aparecido publicidade de algum patrocinador ocasional, mas agora o nome a as cores da ESSEX  acabaram predominando sobre os da Martini & Rossi. De fato, Thieme, queria ser o patrocinador principal da Lotus e Chapman estava encantado com isso. Assim, apesar das reclamações da Martini, que se sentia relegada mas não podia tomar nenhuma medida legal contra Chapman, pois este, astutamente, continuava inscrevendo a equipe como  “Team Martini-Lotus” , os italianos lhe comunicam seu desejo de cancelar o contrato que mantinham com sua equipe no fim da temporada, e Chapman aceita sem nenhuma objeção. De fato, isso era justamente o que queria Chapman!

Com o caminho despejado para que seu amigo Thieme assuma o patrocínio total da Lotus, no fim da temporada o magnate organiza uma grande festa no clube “Paradis Latin” de Paris para comunicar a boa nova. Poucos tempo depois, antes do inicio da temporada de 1980, Thieme organiza outra festa ainda mais multitudinária com motivo da apresentação do Lotus 81. Desta vez o cenário escolhido seria nada menos que o teatro “Royal Albert Hall” de Londres. A festa esteve amenizada com a atuação de Shirley Bassey e todo o recinto foi ricamente decorado com flores trazidas num jumbo que Thieme havia fretado para a ocasião. Com todo aquele luxo e pompa, Chapman estava mais feliz que criança com brinquedo novo.

Enquanto isso, os trabalhos para desenvolver o DeLorean, estavam se dilatando mais do previsto devido a varias mudanças no projeto, ainda que os trabalhos de construção da fábrica continuavam a bom ritmo, pois o dinheiro chegava regularmente.

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

5 Comments

  1. Robinson de Carvalho Araujo disse:

    Colegas do GPTo

    Estive na última semana montando a Bienal de Arte de São Paulo em sua itinerância aqui em Cuiabá/MT.
    Conversando com um artista percebi o quanto eles ainda preservam o talento e pouco se ligam a informática.
    Sou arquiteto e assim como em outras artes os softwares vem aumentando muito o volume e a produtividade porém com grandes prejuízos ao talento, criação e originalidade e vejo a F1 no mesmo caminho.
    Imagino que a geração nascida nos ano 90 e 2000 ache isso bem normal, enxergando com naturalidade a contemporaneidade, porém nós, nascidos nos anos 70 e ainda jovens estamos cada vez mais distantes deste contexto.

    Saudades do tempo em que cada equipe tinha uma configuração totalmente diferente, das variáveis, das tentativas, da exposição de idéias e talentos. Foi essa a categoria que me fez apaixonar.

    Que venha 2016 e que a esperança sempre continue forte

    Boa semana a todos os colegas!

  2. Fernando Marques disse:

    Manuel Blanco,

    será que o Collin Chapman teria o mesmo destaque que teve nos anos românticos da Formula 1, nos atuais moldes que norteiam a categoria?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Manuel disse:

      Oi Fernando,

      Temo que nao !

      Nem Chapman, nem Murray, nem Tyrrell, nem Hesketh, nem …
      A Formula 1 atual, esta despersonalizada. Os entusiastas foram substituidos pelas corporaçoes.

  3. Mauro Santana disse:

    Grande Manuel!!

    Que tema fantástico, pois eu sempre quis saber como foi este trâmite entre JPS, Martini, Essex, JPS.

    A propósito, existe alguma biografia que conte a história de Colin Chapman!?

    Que venha a segunda parte.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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