O fim da Tyrrel e outros assuntos

Nos anos 70, um piloto em cada quatro morria nas pistas
27/08/2001
Culo Stratosferico
31/08/2001

Edu,

Começando pelo fim. Uma de suas frases (“A questão não é ferrar com o Rubinho mas sim dedicar a ele mais do que o mínimo de atenção necessária”) faz vir à cabeça a seguinte imagem: todos os mecânicos da Ferrari em cima do carro do Schumacher, e depois que o alemão vai para a pista eles olham para o lado, vêem o carro do brasileiro e falam uns para o outros: “Putz, ainda tem este carro aqui…”.

Pelo que o próprio Barrichello falou a respeito de seu comportamento nas reuniões (“Sento no meu canto e espero eles decidirem”, ou algo assim), não deve estar muito longe da verdade… De qualquer maneira, quero ver o que vai acontecer nessas corridas finais da temporada. Coulthard parece ter jogado a toalha, desmotivado por ter perdido tão cedo a chance de chegar ao título. Barrichello enfrenta aquilo que já conhecemos. Por isso, acho uma boa aposta cravar em Ralf Schumacher para vice-campeão mundial. A seu favor, jogam a competitividade da Williams nas pistas que vem por aí (Spa, Monza e Suzuka são feitos sob medida para as Williams; só Indianapolis me parece um pouco mais complicada para eles), a vontade de se firmar como número 1 na equipe (relegar Montoya para segundo plano) e talvez a possibilidade de inscrever seu nome na história como integrante da primeira dupla de irmãos a terminar um campeonato de F 1 nas duas primeiras posições. Contra, muito pouca coisa: o próprio Montoya, uma eventual fragilidade dos motores e a possibilidade de chuva nessas corridas (caso em que Michael vira franco favorito). Aliás, seria divertidíssimo ver uma corrida com chuva em Indianapolis, onde derramar um copo d’água no asfalto já é motivo para o adiamento da 500 Milhas. Vai ter americano estarrecido: “Nossa, quer dizer que existe corrida de carro com chuva?…”

Só para registro: nenhum GP de F 1 disputado em Monza teve chuva, pelo menos de 1950 para cá. Houve, no máximo, uma garoazinha como a que caiu em 1981, rápida e insuficiente até mesmo para fazer alguém pensar em colocar pneus para pista molhada. Em 1993, quando cobri o GP da Itália para o Jornal da Tarde, perguntei ao veterano Franco Lini se ele lembrava de algum GP em Monza com chuva. Importante deixar claro: não era um desafio como os que eu e você fazemos um ao outro, mas uma consulta à memória do homem que cobriu o GP da Inglaterra de 1950. Ele franziu a testa, pensou, pensou, e respondeu: “Dos que eu estive presente, tenho quase certeza de que nenhum foi disputado com chuva”.

Voltando a falar das equipes passadas. O fim da Tyrrell foi triste, mas bastante digno diante da maneira como acabaram a Lotus e a Brabham: cheias de dívidas, atoladas em processos judiciais e muito longe da briga por vitórias. (O Ken Tyrrell, pelo menos, entregou a chave da loja e foi para casa com dinheiro no bolso.) Mesmo assim, o nome Lotus ainda tem um charme irresistível – tanto que existe uma divisão (“Classic Lotus” ou algo parecido) que fabrica roupas e outros materiais com a marca Lotus e desenhos de seus carros e pilotos. Quem cuida disso é a família do próprio Colin Chapman. Há uns dois anos, recebi um catálogo com produtos da “Classic Lotus” e, entre outros artigos, havia uma jaqueta linda: era bege ou marrom com detalhes em “British Racing Green” e o logotipo “ACBC Lotus”. Só não comprei porque o preço era realmente salgado. Neste aspecto, méritos para o Ron Dennis. Com toda sua fama de arrogante e egocêntrico, jamais passou pela cabeça dele mudar o nome da McLaren para “Dennis”, “Rondel” (nome da equipe de F 2 que ele tinha com o Neil Trundle nos anos 70…) ou “RonDen”. Pelo contrário: ele declarou certa vez que o nome McLaren era um patrimônio e que jamais teria coragem de mudá-lo. Diante disso, faço uma pergunta bem própria de um admirador romântico do esporte: não teria sido mais simpático se a BAR mantivesse o nome Tyrrell ao comprar esta última? É claro que questões de marketing e capitalização de retorno de imagem influenciaram na mudança, mas pense no seguinte: se um dia a BAT cansar de queimar dinheiro na BAR, a primeira providência será arranjar um nome novo – isso, é claro, na hipótese de não haver fabricantes (ou um Paul Stoddart da vida) interessados em adquiri-la. Segundo: hoje, você pega o currículo da BAR e lê: “Vitórias, 0; pole positions, 0; títulos mundiais, 0”. Se tivessem mantido o nome Tyrrell, todos esses números seriam diferentes… Outra questão: como é que se fala mesmo o nome dessa equipe? “Bar”? “Bê-á-érre”? Ou a pronúncia inglesa, “Bí-êi-áhr”? Ah, sim: o “áhr” deve ter sotaque de caipira paulista, para parecer com o inglês. Como dizia o Chico Buarque na música “Almanaque”: “Me responda, por favor…”.

Divaguei à beça, não? Vamos voltar à realidade. A Minardi confirmou que o Tarso cederá a vaga dele ao Alex Yoong a partir de Monza. Pelo jeito, não tiveram coragem de colocar o malaio para estrear em uma pista difícil como Spa (nem todo mundo se chama Schumacher…).

Sinceramente, é difícil dizer quem se deu melhor ou pior nessa história: o Tarso, que larga a bomba, ou o Yoong, que a está pegando. Isso me faz lembrar de 1994, quando o Bertrand Gachot, da Pacific, não conseguiu se classificar para a largada em 13 ou 14 das 16 corridas. Terminados os treinos para último GP, na Austrália, ele mais uma vez estava fora do grid, mas fazia questão de dizer que aquele era um grande dia para ele. Quando perguntavam a razão, ele respondia: “Foi a última vez que guiei aquela m… de carro”.

Grande abraço,

Pandini

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