O fim

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O ano está acabando, os campeões foram consagrados, os prêmios foram entregues, as glórias colhidas, as derrotas começam a cicatrizar, é o fim. 2019 foi um ano de muitas emoções na NASCAR mas ainda antes de chegarmos em 2020, tivemos mais uma grande emoção, mais um fim. No dia 20 de novembro, Jimmie Johnson anunciou que 2020 será seu último ano disputando o campeonato inteiro da NASCAR, é o fim de uma das carreiras mais brilhantes da categoria.

Em 18 anos na categoria, o piloto do carro #48 participou de 651 corridas das quais venceu 83 (o sexto maior vencedor empatado com Cale Yarborough), obteve 227 top 5, 364 top 10 e 36 poles. Foram quase 20 mil voltas na liderança, mas o número que mais impressiona é sem dúvidas o mais importante deles. Em sua carreira, Jimmie Johnson venceu incríveis 7 títulos da categoria principal da NASCAR, sendo o terceiro piloto na história a atingir esse feito. Conseguir sete títulos em qualquer categoria do esporte é algo extremamente difícil, mas Jimmie Johnson fez isso de forma espetacular. Entre 2006 e 2010 foram cinco títulos consecutivos, um domínio incrível e sem precedentes na NASCAR. Nem mesmo Richard Petty ou Dale Earnhardt, os outros dois heptacampeões, conseguiram cinco títulos consecutivos.

Poderia falar a coluna toda sobre as grandes vitórias e cada título vencido por Johnson, mas todos os números e imagens estão na internet em grande número e o youtube é o caminho para assistir esses grandes feitos. Ao invés de falar sobre a história que todos viram, vou falar um pouco sobre o último título vencido pelo #48, seu sétimo, em 2016. Escolhi esse título não apenas por ser o último e o que o colocou lado a lado com Petty e Earnhardt, mas por ter tido a sorte de presenciar esse evento no local, em carne e osso.

Relembrando o ano de 2016 rapidamente, Johnson venceu 5 corridas, liderou 737 voltas, largou na pole uma vez, teve 11 top 5 e 16 top 10. Então com 40 anos, muita experiência na bagagem e um carro muito bom, a última prova da temporada foi disputada em Homestead.

Johnson teria como adversários, na busca pelo título, Joey Logano (3 vitórias), Kyle Busch (4 vitórias) e Carl Edwards (3 vitórias). No começo da prova o piloto do #48 já enfrentou a primeira dificuldade do dia: seu carro não havia passado na inspeção após a classificação e ele teria que largar em último. Os outros postulantes ao campeonato estavam todos entre os quinze primeiros no grid, mas a corrida era longa e haveria tempo de se recuperar.

Me sentei na arquibancada ouvindo no rádio a comunicação de Jimmie e seu chefe de equipe, ChadKnaus, não queria perder os detalhes dessa experiência única. Logo após a largada, Jimmiecomeçou a ultrapassar os adversários e escalou o pelotão. Seu caro era rápido, mas Carl Edwards, Logano e Busch também estavam muito velozes, com uma vantagem aparente para Edwards.

As voltas foram passando, algumas bandeiras amarelas juntavam o pelotão e Johnson continuou sua escalada até chegar na quinta posição. Ouvindo sua comunicação no rádio, ele não reclama do carro, pedia pequenos ajustes conforme o sol foi baixando e a temperatura caindo, mas o carro estava com um bom ritmo. Edwards era o piloto mais rápido dos postulantes ao título e parecia caminhar com tranquilidade para o título. Logano tinha um carro rápido em segmentos de poucas voltas, mas nos stints mais longos não conseguia acompanhar Carl. Kyle Busch teve um pneu furado, perdendo uma volta, mas teve tempo suficiente para se recuperar e voltou a chegar nos ponteiros. Ele não tinha o carro mais rápido e não parecia ter o equipamento necessário para vencer a prova e o campeonato.

Ao chegar na quinta posição Johnson não conseguiu mais realizar as ultrapassagens que havia feito até o momento, o rádio silenciou e a tensão era quase visível. O #48 não conseguia ser mais rápido que os carros em frente e suas esperanças de título estavam se esvaindo a cada volta. Em um determinado momento, ao se aproximar do último trecho da prova, Johnson disse para ChadKnaus no rádio, em um tom desanimado: “eu achava que estávamos rápidos, mas esses caras estão ainda melhores”.Era claro que não tinha o carro para vencer. Edwards estava rápido, tranquilo e tinha a corrida na mão. Logano tinha alguma chance, mas apenas se a corrida fosse definida em um stint curto.

Após a mensagem desanimada, rapidamente Chad respondeu: “vamos lá, Jimmie! Ainda temos tempo, só me diga o que você quer do carro e vamos fazer!”. Faltam cerca de vinte voltas para o final e a essa altura da prova, Kyle Larson tinha o carro mais veloz. Em relação a disputa do título, Carl caminhava a passos largos para vencer, seguindo na segunda colocação, mas com Kyle Busch na espreita, em terceiro, e Logano um pouco mais atrás na quarta colocação.Jimmie Johnson estava em sexto, sem sinal de que poderia encostar nos que vinham à frente.

Faltando quinze voltas para o final houve uma bandeira amarela e todos entraram nos boxes para ajustes. Na saída dos boxes a ordem era Larson em primeiro, Edwards em segundo, Logano em terceiro, Harvick em quarto, Johnson em quinto e Kyle Busch em sexto.

A relargada aconteceu faltando exatamente dez giros para a bandeira quadrilhada ser mostrada e algo inacreditável aconteceu. Na tentativa de defender sua posição contra Logano, Edwards fechou a porta e ambos se tocaram, levando outros carros para o muro e causando uma bandeira vermelha. Acorrida tinha acabado para aquele que tinha o melhor carro entre os postulantes ao título, Edwards. Logano conseguiu se livrar sem danos e após a batida a prova ficou interrompida por pouco mais de 30 minutos. No rádio, só silêncio.

Após a pista ser liberada, a largada tinha Larson, Johnson e Logano nas três primeiras posições. Busch estava algumas posições para trás. Após a bandeira verde ser acenada, Johnson consegue uma excelente posição e avança na liderança, seriam apenas duas voltas para o final. O rádio avisou, “bandeira branca” e depois disso apenas “oh meu Deus do céu!”, “estamos olhando para o sete vezes campeão, Jimmie Johnson”.

Estar na arquibancada nesse momento foi algo surreal. A torcida ficou em êxtase, ela estava vendo a história sendo escrita de uma forma que talvez não pudessem mais testemunhar em vida. Era difícil de acreditar, depois de uma corrida onde não foram o carro mais rápido, o título veio. Para resumir a história, fiquei até 22h na pista assistindo a equipe comemorar e tirar as centenas de fotos com os vários bonés de todos os patrocinadores.

Ver um piloto vencendo seu sétimo título é algo para ficar guardado na memória, mas o que mais impressiona, é que mesmo após sete títulos e tantas glórias, Jimmie Johnson se mantém humilde e agradecido pela oportunidade. Assim devem ser os grandes campeões.

Que 2020 seja um ano de muitas homenagens e quem sabe mais algumas vitórias para esse grande campeão e não apenas o fim de uma carreira fantástica.

Grande abraço!

Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

4 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Fantástico Rafael!!

    E que experiência incrível você pode curtir.

    Grande abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Uma lenda do esporte!
    Merece uma ‘farewell season’!

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