O melhor automobilismo do mundo

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Amortecedores de massa
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Se o Brasil é "o país do futebol", qual seria "o país do automobilismo"?

Na conta de títulos mundiais de pilotos o Brasil detém um honroso  terceiro lugar com 8 títulos, que poderiam ter sido 9, não fosse aquela lamentável patriotada protagonizada por um ex-colaborador do nazismo.

À frente do Brasil, somente Alemanha, com 11 títulos mundiais obtidos por dois pilotos, e Inglaterra com 10, mas tendo precisado de 8 pilotos para isso. Se juntar com a Escócia, sob o carimbo Reino Unido, passa para primeiro adicionando mais 5 títulos com 2 pilotos.

A Argentina vem em seguida, graças ao fenômeno Juan Manuel Fangio.

Embolados na posição seguinte vêm Finlândia, Austrália, França* e Áustria, todos com 4 títulos. Finlândia com 3 pilotos, os demais com 2.

Vamos ver quem está mais na bica de modificar esse quadro?

Claro que Inglaterra tem mais chances neste momento.

Mas só com Lewis. Button e Stevens estão correndo em outra categoria e ninguém pode garantir que a nova dobradinha McLaren Honda conseguirá ser competitiva no ano que vem (só um milagre tecnológico a faria encostar nos líderes ainda nesta temporada).

Alemanha tem chances menores, mas conta com dois pilotos na parada. E se olharmos mais para trás no grid, tem o outro Nico, tido por muitos como um potencial campeão sem equipamento à altura.

Até agora. A vitória em Le Mans certamente aumentou seu valor.

O Brasil conta com Massa, que continua se mostrando competitivo e combativo. Not bad for an old man, como ele mesmo declarou após seu primeiro pódio do ano. E coerente com outra declaração sua, a de que não desistiu do sonho de ser campeão do mundo. Ao contrário de alguns, tiro meu chapéu para ele e faço votos que consiga. Não porque seria mais um brasileiro a aumentar nossa estatística no topo do mundo, mas por admirar profundamente pessoas que lutam até o fim para realizar seus sonhos. Até onde sei é um profissional correto e competente mas seguramente não é mais talentoso que Alonso, o piloto-referencia. Agora… quantos campeonatos já não foram conquistados por pilotos abaixo do piloto-referencia? Começo com Hawthorn versus Moss…

Suas chances dependem também de um milagre, menor que o da McLaren-Honda mas milagre. A Williams precisará encontrar um atalho aerodinâmico ou coisa que o valha para superar as Mercedes… mas para o ano que vem.

E terá que dominar Bottas, com as ações em alta no mercado de pilotos, se continuar sendo seu companheiro.

Até o momento a Williams não dá sinais de poder ultrapassar nem a Ferrari, que com todo seu poderio e competência, continua tendo apenas a melhor visão da traseira do Nico R, às vezes alternada com a do Lewis.  Convenhamos, precisará encontrar um caminho como o da extinta Brawn GP, justamente a base da Mercedes.

Nasr, como todos sabem, acaba de estrear e tudo que tem a fazer é mostrar serviço suficiente para ir para uma equipe do grupo da frente. Não vou embarcar – ainda – na onda de já achar que ele é um fora-de-série. Pode até ser mas de ufanismos prematuros já vi o suficiente ao longo dos anos.

Argentina, Escócia e Áustria não tem representantes no momento.

Restam França*, Austrália e Finlândia.

O bravo Ricciardo provou, no ano passado, ter potencial para ser campeão. Mas seu concorrente finlandês também. Dificilmente Daniel irá para a Ferrari. Bottas talvez. Daniel terá que se virar com o que a Renault entregar a ele e o prognóstico não é otimista.

Embora a situação de Kimi tenha se complicado bastante após Canadá e Áustria, derretendo seu gelo a ponto de ir tomar satisfações com a imprensa italiana, não acho que é carta totalmente fora do baralho.

Sim, eu sei que existe a tese de que o unusual blast se deve a ele ter esquecido de desligar o start na primeira volta do A1 Ring, que dormiu no ponto no Q1 e não a equipe, sei que parte da imprensa italiana já está pedindo sua cabeça mas… competência nunca faltou ao Kimi. Experiência também não. Como Vettel não parece ser um destruidor de companheiros como Alonso, é um mistério ainda não descoberto o que está provocando esse rendimento muito abaixo do normal. Não creio em falta de empenho por parte do piloto muito menos sabotagem da equipe.

Como a Ferrari precisa dos pontos que Kimi pode trazer, e conhece seu histórico, é muito mais negócio para Arrivabene fazer a equipe e ele continuarem tentando descobrir onde está o defeito.

Como diz meu amigo Gigante, a Ferrari não vai por parafuso bom no carro do Vettel e enferrujado no dele. Portanto, o potencial para obter bons resultados continua intacto.

Quantos anos essa equipe tolerou e encorajou Massa mesmo este apresentando resultados muito inferiores aos de seu companheiro?

Lembra de um segundo chassis totalmente novo colocado na pista para confrontar a estranheza encontrada no primeiro?

E agora vamos examinar a questão por um angulo talvez inédito.

Se nós brasileiros achamos que temos uma tradição de formar pilotos de nível para competir – e brilhar – na F1, a Finlândia está longe de fazer má figura.

Nós tivemos 3 pilotos campeões do mundo, eles também.

Mas se olharmos para a categoria rally, perdemos de lavada.

Nada menos que 14 títulos, sendo oito divididos entre Juha Kankkunen e Tommi Mäkinen.

Marcus Grönholm vem em seguida com dois títulos. Markku Allen, Ari Vatanen, Hannu Mikkola e Timo Salonen tem um cada.

Motovelocidade? Lembra de Jarno Trulli? O primeiro nome é uma homenagem de seu pai a Jarno Saarinen, tido como o Gilles Villeneuve dessa categoria. Saarinen foi o primeiro a usar o joelho, e não a bota, como limite de inclinação da moto.

Em 1972 conquistou o mundial de 250cc e o vice-campeonato das 350cc, ficando atrás apenas de ninguém menos que Giacomo Agostini.

Em sua curta carreira, Saarinen disputou 46 corridas durante quatro temporadas, obtendo quinze vitórias.

Podemos dizer que o Brasil tem conquistas na F-Indy para equilibrar mas… qual país tem mais condições de gerar pilotos de primeiro nível?

O Brasil tem 200 milhões de habitantes com um PIB de 2,246 trilhões de dólares. Economia do tamanho de Inglaterra e Escócia, com quase 4 vezes mais gente.

A Finlândia tem pouco menos de 5,5 milhões de habitantes, com um PIB de 267,3 bilhões de dólares. É do tamanho da Escócia.

A Austrália conta 1,56 trilhões de dólares como PIB e 23,13 milhões de habitantes.

Quem está conseguindo o melhor rendimento per capita traduzido em número e qualidade de pilotos?

Esta semana uma revista brasileira de grande circulação trouxe uma interessantíssima matéria sobre educação. Sabe qual país está em primeiro lugar no ranking mundial de qualidade de ensino?

Finlândia. E não é de hoje que ocupa essa posição.

Lá o professor é um herói nacional. Talvez mais herói que seus pilotos de F1. A criatividade no ensino está pensada e aplicada para dar a todos os alunos finlandeses, seja qual for o poder aquisitivo e o local de moradia, o mesmo – e excelente – nível educacional.

Isso resulta em bons pilotos? Resulta em bons profissionais em qualquer atividade onde se requeira criatividade e preparo intelectual.

Entre dois pilotos que aceleram igual tenderá a ser superior o que pensar melhor e mais originalmente. O que é capaz de descobrir que o joelho encostando no asfalto é mais eficiente que a bota…

Então é bom Massa e Nasr olharem com muita atenção a qualquer concorrente que venha da Finlândia.

Se eles forem superados, com a queda mundial de audiência da F1, corremos o risco de passar a acompanhar a F1 mediante retransmissão da TV finlandesa.

Imagine Galvo Büennonen tentando entusiasmar uma torcida de gelo…

“Este é o melhor automobilismo do mundooooo….”

______________________

*na versão original não fora mencionada a França.

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

9 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Chiesa,

    parabéns pelo texto … um assunto relativamente simples de ser levantado e diíicil de ser analisado.
    Os Estados Unidos produzem tanto ou mais corridas que a Europa ou o resto do mundo juntos e no entanto nunca produziu um supercampeão na Formula 1. Phil Hill está longe de estar nas listas dos melhores e o Mario Andretti se bobear tem mais sangue italiano do que americano nas veias. O pais mais rico do mundo não é nada na Formula 1.
    Eu acho que o Brasil produz muitos talentos mais pelo caótico transito presente em todas as suas principais cidades. Quem dirige em São Paulo, por exemplo, manda bem em qualquer circuito … hehehehehehe … De repente lá na Filândia seja a mesma coisa …
    O Felipe Massa tem uma carreira vitoriosa na Formula 1. Eu torço pra ele vencer corridas e ser campeão … mas o tempo dele passou … 2008 era o seu ano … o outro Felipe ainda é uma aposta … faz um bom começo … vamos ver a sua continuidade …
    Agora existem alguns pilotos que eu queria que tivessem sido campeões. Gilles Villenueve, Ronnie Perterson e José Carlos Pace … se o Brasil tivesse hoje 9 titulos na Formula 1 queria que o 4º nome da lista brasileira fosse o Pace …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Marcelo C.Souza disse:

      Olá,Fernando e amigos do GPTotal!

      Os EUA nunca deram muita importância para a Fórmula 1 por dois motivos bem simples:

      1º) Eles já possuem a “F-1 deles”,ou seja,a F-Indy com a sua tradicionalíssima Indy 500,cujo campeonato é disputado desde 1909 e sempre foi aberto a pilotos e fabricantes internacionais(embora as provas europeias de Grand Prix existissem desde 1906,a primeira temporada oficial da F-1 só foi disputada em 1950,no período pós-Segunda Guerra).

      2º) Como se não bastasse a rivalidade dos “open-wheels” entre o Velho Mundo e o Novo Mundo,eles possuem também um campeonato nacional de carros de turismo extremamente competitivo(apesar da NASCAR ter sido idealizada pelo Bill France no fim de 1948,as corridas da Stock Car norte-americana já eram realizadas em Daytona desde 1902,só que em em circuito oval de terra situado próximo às areias da praia da cidade).

      Quanto ao Mario Andretti,ele é um italiano que cresceu em Nazareth,no estado da Pennsilvânia,e isto explica porque ele sempre correu com a nacionalidade estadunidense.

      Um forte abraço!!!

      Marcelo C.Souza
      Amargosa-BA

      • Fernando Marques disse:

        Marcelo,

        concordo em tudo contigo mas acrescento uma coisa na sua análise … americano gosta de corridas em circuitos ovais … tem a sua graça … mas não é a mesma coisa que pilotar num circuito onde se freia, acelera, faz curva pra esquerda e direita … os caras são fracos neste quesito …

        Fernando Marques

        • Marcelo C.Souza disse:

          Fernando,

          Os pilotos da NASCAR podem até ser(na realidade eles são,isto é fato) totalmente destreinados para fazer curvas pros dois lados,mas a maioria dos pilotos da F-Indy(ou melhor,da extinta e saudosa CART) eram extremamente versáteis e sabiam pilotar tanto em circuitos ovais como em circuitos mistos ou de rua,e há exemplos de pilotos que fizeram esta transição da F-Indy para a F-1 e acabaram se dando mal por estarem na equipe certa,porém,na hora errada.

          Aqui vão duas perguntas que poderiam nos sugerir uma “realidade alternativa” ou um cenário hipotético:

          1ª) Como sabemos,o Michael Andretti saiu da Newman-Haas(equipe onde corria na CART) para ser o team-mate do Ayrton Senna em 1993,na McLaren. Mas se o “Andrettinho” tivesse assinado o contrato com a Williams(e o Damon Hill tivesse ido para a McLaren),será que ele teria virado motivo de piada na F-1(como infelizmente ocorreu) ou será que ele teria colecionado pódios e vitórias,e quem sabe até fazendo o Alain Prost ter dor de cabeça?

          2ª) O Jacques Villeneuve,assim como o Michael,saiu da F-Indy como um respeitado campeão da categoria e foi para a F-1 em 1996,estreando na Williams quando a mesma ainda estava em uma excelente fase,chegando a ser campeão do mundo no ano seguinte. Mas se o filho do Gilles tivesse tentado a sorte em uma equipe média da época(a Jordan,por exemplo),será que ele teria obtido o mesmo sucesso?

          E isto sem mencionar outros casos de pliotos(como os de Rick Mears e Al Unser Jr.) que poderiam dar certo na F-1,mas que não tiveram sequer a chance de “entrar na hora errada”.

          Marcelo C.Souza

    • Mauro Santana disse:

      Pois é Fernando.

      Será que em 1977 ele teria condições de lutar pelo título?

      Abraço!

  2. Mauro Santana disse:

    Belo texto Chiesa!

    E também temos a França, que com 4 títulos mundiais, a muitos anos não passa por um senário promissor.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Rafael Friedrich disse:

      Senário???????

      • Mauro Santana disse:

        Pois é Rafael, Cenário.

        rsrs

        Abraço!

        • Carlos Chiesa disse:

          Eba, quantos e bons comentários! Fico feliz. Não coloquei a França porque, primeiro, gosto de provocar. Tem um título do Alan que foi fruto de uma nojenta patriotada. Então, como castigo, não considero os números oficiais. Também não vejo nenhum piloto frances com potencial para ser campeão. Quanto aos americanos, sempre tiveram uma tendência a se bastarem a si mesmos. Salvo engano, o campeonato de baseball deles, que inclui o Canadá, é chamado de… World Series. A NASCAR é mais popular que a F-Indy, até onde sei, exceto quando ocorrem as 500 milhas. Não é a mesma coisa que rodas descobertas, mas eles adoram. Mario é, como Garibaldi e Emerson Fittipaldi, um herói dos dois mundos. Foi, viu e venceu, ajudado por uma Lotus de outro planeta, mas fazendo muito boa figura nos Ferrari esporte/protótipo. Pessoalmente acho que ele é um legitimo campeão, independente do país que defendeu. Meu amigo Gigante lembra que, ao contrário do tradicional ufanismo auriverde do GB, Michael mostrou algumas boas performances frente ao aparentemente inalcançavel Senna. Estava longe de ser ridículo. Seu maior problema, como é sabido, não era a falta de talento mas a decisão de não se mudar para a Europa. A falta de intimidade com o mundo da F1 o prejudicou mais que qualquer outra coisa. Jacques agiu diferente e tirou bom proveito do carro que tinha nas mãos. Nnao faço a mínima ideia de como funcionariam Mear e Unser Jr na F1, exatamente por esse fator. O que penso que é que Mark Donohue, prematuramente desaparecido, poderia ter ido bem mais longe. Mas era outra época.

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