O Show já terminou!

Uma terra para despedidas
22/11/2013
Jornal Internacional
29/11/2013

Terminou mais um GP do Brasil, terminou mais uma temporada, terminou mais uma história na Fórmula 1.

…vamos voltar à realidade

E a temporada 2013 da Fórmula 1 acabou. Acabou muito antes, é verdade, lá no GP do Canadá, mas o encerramento oficial (sem cerimônia) foi aqui em Interlagos. Terminou assim a temporada 2013 da Fórmula 1, um campeonato que começou promissor, com corridas imprevisíveis, mas que terminou de maneira um tanto quanto óbvia: charlatões aposta(ra)m em Vettel, como disse Márcio Madeira.

Nosso amigo e leitor Lucas Carioli, do site Motor Pasion, fez uma bela retrospectiva dos GPs do Brasil com final 3: todas as edições foram memoráveis. Dessa vez, não tivemos uma corrida tão especial quanto as 4 anteriores, mas ainda assim um belo GP.

Tivemos algumas disputas interessantes, a partir da segunda colocação: Webber e Alonso, Rosberg e Massa, Massa e Hamilton. Tivemos também duas punições, a Massa e Hamilton, um tanto controversas: o brasileiro e o inglês receberam um drive-through por razões de seguranças: Felipe, por ter cruzado a faixa que demarca a entrada dos boxes, e Hamilton pela colisão que resultou no abandono de Valteri Bottas.

Quanto a Hamilton, achei que não se pode caracterizar, ali, uma guinada na trajetória que caracterizasse um choque intencional ou mesmo culposo. Talvez o resultado da batida é que tenha decretado a punição ao inglês. Sobre o choque, Lucas Giavoni atentou para uma curiosidade: Bottas quase ficou com o melhor tempo no setor!

Pessoalmente, não teria punido nenhum dos dois: Massa cometeu uma infração, sim, algo que foi bem demonstrado pelo (bom) repórter Marcelo Courrege posteriormente; porém, creio ter sido muito “ao pé da letra”, um rigor excessivo na aplicação da lei. Uma advertência inicial, alertando para reincidência, estaria de bom tamanho.

As despedidas antecipadas pelo Flaviz foram de fato marcantes e importantes: Massa teve um caloroso adeus dos mecânicos ferraristas, enquanto que o goodbye de Mark Webber foi mais gelado: no vento e na garoa de Interlagos. Duas imagens muito bonitas, e que reforçam o lado humano (tão importante mas tantas vezes esquecido) deste esporte.

Massa disse depois em entrevista que, estivesse em quarto e Alonso em terceiro ao final da prova, o espanhol lhe abriria passagem. Acabou não dando certo, por conta da punição, mas talvez tenha sido melhor assim: um pódio, mesmo que em casa, não repararia – nem para Fernando, nem para Felipe – o estrago da vitória perdida na Alemanha em 2010.

Já o bonito adeus de Mark de alguma forma reparou o passado: também num novembro chuvoso no hemisfério sul, outro piloto veterano e companheiro de um alemão demolidor de recordes pediu a seu engenheiro uma última volta na pista para que finalmente pudesse se despedir da Fórmula. Foi proibido: “no, it’s over”, disse Giorgio Ascanelli a Nelson Piquet no GP da Austrália de 1991.

Piquet e Webber, com trajetórias e glórias muito diferentes, mostraram que, no fim, é o prazer em pilotar o que há de mais fascinante na F1.

Prazer em pilotar talvez seja o traço mais marcante de Sebastian Vettel. Sua determinação e sua obsessão pela vitória unem os melhores traços de Senna e Schumacher, e por isso vão moldando um piloto completo e que deve, ao fim de sua carreira, figurar no topo da lista das principais marcas.

Com o triunfo em Interlagos, além das tão citadas vitórias seguidas e num mesmo ano, vai aí uma versão atualizada de recordes e marcas impressionantes obtidas por Vettel nesse último GP Brasil:

– 16 pódios num mesmo ano, igualando Schumacher em 2004, e um a menos que Schumy em 2002;

– 11 pódios consecutivos, igualando marca própria de 2010-11, e abaixo apenas de Alonso (15) e Schumacher (19);

– 27 vitórias partidas da pole-position, agora com apenas duas a menos que Ayrton Senna e a 11 de Schumacher;

– 12 vitórias de ponta-a-ponta (lembrem-se que ele retomou a primeira posição antes de Rosberg cruzar a linha de chegada), agora apenas uma abaixo de Jim Clark e sete de Ayrton Senna;

– 13 GPs liderados consecutivamente, igualando marca própria de 2010-11, e a apenas duas  de Schumacher, 4 de Jackie Stewart;

Pouco, né?

2013 se despede com muitas interrogações acerca do novo regulamento e das novas duplas que hão de se formar para o ano que vem.

O que será de Massa na Williams? Vettel seguirá humilhando? Ricciardo conseguirá ser melhor que foi Mark Webber em seus últimos dias? Alonso X Kimi será uma luta aberta (e quem resiste?)? a Mercedes cumprirá o que promete desde 2010? Hulkenberg na Force India e Maldonado na Lotus? Grosjean conseguirá sua primeira vitória?

Por falar em Lotus, não deixe de ver a revelação que Alessandra Alves fez: a Lotus, além de colocar Heikki Kovalainen como titular, zoou pra valer com Davide Valsechi.

Button fez uma boa corrida mas com a quarta colocação assinalou aquela que talvez tenha sido a pior temporada da McLaren desde sua fundação. Quem poderia imaginar isso no começo do ano?

Aliás, a maioria das apostas que fiz para 2012 eu acertei; mas em 2013, o resultado foi o contrário: achava que Hamilton bateria Rosberg com autoridade; que Alonso e Vettel novamente brigariam até o fim; que a McLaren ao menos lutaria por vitórias; que Massa seguiria na Ferrari; que Webber venceria algum GP… nada disso se concretizou.

Um comentário breve e final: Felipe Massa e Mark Webber, pelo menos, se despediram de forma digna e sem apelações emocionais. O que dizer de Barrichello, que mais de uma vez (tanto nos treinos quanto na corrida) reclamou de não ter tido uma “despedida oficial” e ainda soltou um “mas quem sabe, né…”?

Quem sabe na Caterham, Rubens.

Tenham todos uma boa semana.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

16 Comments

  1. Mário Salustiano disse:

    Marcel e amigos

    Gostei da alusão a show Marcel, vou seguir nessa linha, comparando a temporada de 2013 a um filme, seria um daqueles filmes onde na metade já temos uma boa ideia de como vai ser o final , tem duas formas do espectador se portar a partir daí, na primeira achamos que o filme perdeu a graça, afinal já sabemos como vai acabar e nem prestamos mais atenção, quando não saímos do cinema, na segunda ,apesar de sabermos o final começamos a prestar atenção as tramas paralelas que se desenvolvem ao redor do enredo principal e descobrimos personagens e histórias interessantes que nos prendem no cinema até o fim do filme.
    Usando a segunda opção como referência, foi mais ou menos assim que me portei quando ficou evidente que Vettel sairia como campeão, e vi alguns pontos bem interessantes nas tramas paralelas, a primeira foi prestar mais atenção a Grosjean, muitos de nós e eu me incluo só temos olhos para o quarteto, Vettel, Alonso, Hamilton e Raikkonen como os astros principais e olhamos pouco para os coadjuvantes, eu diria que olhando o retrospecto da temporada, Grosjean fez um trabalho mais consistente do que Hamilton, não comparei números essa é apenas minha opinião, e torço para que ele tenha nos próximos anos a real possibilidade de vencer e quem sabe ser páreo na disputa de um título.
    Um outro ponto que terminada a temporada me vem a cabeça, analisando a postura de Vettel nessa segunda parte da temporada indo buscar a quebra de recordes, fica para mim a certeza que ele tem em mente os números de Schumacher como referência e se puder vai trabalhar para bate-los, eu apostava antes do GP no Brasil que ele liderando e Weber em segundo ele entregaria a vitória, achei até que a equipe pediria isso, mas como isso não aconteceu fiquei atento a esse ponto, então é bom ficarmos atentos ao fato ,que se isso for mesmo vero esse rapaz ainda vai querer ganhar muito, e como ele amadurece com o tempo a tendência é para cada carro bom entregue por Newey é poderemos ver mais domínio pela frente

    abraços

    Mário

  2. Mário Salustiano disse:

    amigo Fernando

    nesse ponto do perdão da Ferrari também acho que você está certo, até porque na draga que a Ferrari estava naquele ano um campeão do quilate do Piquet certamente faria bem a equipe, agora esqueci de mencionar que em 2003 tive a grata oportunidade de conhecer Piquet pessoalmente num evento e conversar alguns minutos com ele, devo dizer que ele foi bem simpático, dentre os assuntos que perguntei, falei da saída dele da F1 e dessa possibilidade Ferrari, ele foi evasivo na resposta mas deixou a entender que ele é que não gostava do ambiente de lá, quando olhamos o retrospecto da carreira dele é fácil entender o porque, na Brabham ele e Gordon Murray faziam o que bem entendiam e a passagem dele na Williams já o havia ressabiado de um ambiente carregado de politicagem, coisa que na Ferrari certamente ele encontraria, como palpite eu acho que apesar da vontade de ficar ele também estava numa fase da carreira que não ía se submeter a qualquer coisa, mas é um mero palpite de minha parte.

    abraços

    Mário

    • Fernando Marques disse:

      MArio,

      o que você diz acima confirma a minha tese que a Ferrari não pode ter chegado a cifras interessantes para convencer o Piquet a correr pela equipe … Piquet quando na Lotus foi o maior salario da categoria … nunca ganhou tanto dinheiro na Formula 1 … mas em termos de resultados talvez foram os mais inexpressivos da sua carreira … depois na Bennetton foi ao contrário … fez um contrato tipo o Raikkonen tinha na Lotus nestes ultimos dois anos … ganhando por pontos conquistados e tendo um bom carro foram muitos pontos que ele fez para equipe … voltou a ser vencedor e se aposentou por cima … uma ida para a Ferrari não competitiva em vez da aposentadoria anunciada só faria sentido se fosse para ganhar um bom dinheiro …

      Fernando Marques

      • Mauro Santana disse:

        É, realmente o Piquet não iria pra Ferrari pra ganhar pouco.

        Mas que foi uma pena ele ter saído da F1 naquela época, ah foi, pois ele ainda tinha lenha pra queimar.

        • Mauro Santana disse:

          Segue uma entrevista que Piquet concedeu ao reporte Roberto Cabrini um pouco antes da largada do GP Brasil de 1992.

          Interessante que ele fala das duas Williams Mansell e Patrese, da Benetton do Schumacher, e claro, nenhuma palavra a respeito da Mclaren e Senna.

          E quando se manda quando é perguntado quando será a sua estreia na Ferrari.

          http://www.youtube.com/watch?v=YPnDcRAU_lo

          Abraço!

  3. admin disse:

    Pessoal,

    Fecho com o Mario, sobre isso.

    Nessa entrevista após o vice de 1980, Piquet já se refere à Ferrari como uma “cadeira elétrica”: http://www.youtube.com/watch?v=aTjf9bG7BYw

    Abraços!
    Marcel

  4. Fernando Marques disse:

    Amigos,

    eu achei o GP do Brasil uma boa corrida para se ver … afinal de contas apesar do campeonato já estar decidido havia outras atrações dignas de serem vistas …
    A despedida do Massa na Ferrari foi legal … ao menos a equipe reconheceu com amizade toda a fidelidade que ele teve com o time … aliás nunca a Formula 1 teve um piloto tão fiel em relação a uma equipe como foi o Massa para a Ferrari ….
    A despedida do Webber também vale registro e a comemoração dele idem …
    A supremacia do Vettel foi tão grande que nem o Alonso questiona mais …
    Com relação ao Barrichello, ele mesmo admite que é chorão … então deixa ele chorar por não ter se despedido com festa da Formula 1 …
    Ano que vem será de muitas e novas expectativas mas uma pode ser dada como certa. Vettel/RBR vão andar na frente com toda certeza …

    Fernando MArques
    Niterói RJ

  5. Mauro Santana disse:

    É, 2013 acabou para a F1.

    A respeito do Piquet, tenho uma pergunta:

    Por que não deu certo as negociações na época com a Ferrari?

    Até hoje eu acho que ele tinha muita lenha pra queimar na F1 quando foi forçado a aposentadoria da F1 em 1991, e acredito que teria ainda pela frente mais uns três anos.

    A respeito do GP de ontem, gostei muito da atitude do Webber em tirar as luvas, capacete e balaclava, e puxando rápido em minha memória, lembrei de duas cenas iguais a estas proporcionadas pelo Gerhard Berger, que foram nos GPs da Austrália 1987 e de Portugal 1989, corridas estas que foram vencidas pelo austríaco.

    Que venha logo 2014, e que com estes novos regulamentos tenhamos também novos pilotos vencendo gps.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Mário Salustiano disse:

      Mauro e amigos

      o Didier Pironi também comemorava suas vitórias sem capacete e de cara para o vento

      abrs

      Mário

      • Mauro Santana disse:

        Bacana Mario!

        Será que temos mais algum outro piloto que também tenha feito algo do tipo?

        Abraço!

        • Arlindo Silva disse:

          Acho que Damon Hill em Adelaide 1993 e René Arnoux em Monza 1982 e 1983 tiraram o capacete na volta de desaceleração.

          Abraços
          Arlindo Silva

        • Sandro disse:

          Aconteceu com Piquet em Monza ’83 – creio eu. Ele foi limpar a viseira com a luva direita mas devido a alta velocidade o vento levou-a embora. O jeito foi guiar assim mesmo! Depois da bandeirada ele jogou a luva esquerda para fora. Um fiscal pegou a luva esquerda e deve ter estranhado a ausencia da luva direita! 😉 :p

    • Fernando Marques disse:

      Mauro,

      com certeza a Ferrari quis pagar pouco para Piquet …
      e nem tinha um carro assim tão bom … para convencer o Piquet a voltar a F1 e lutar por vitorias …

      Fernando Marques

      • Mário Salustiano disse:

        Fernando e Mauro

        também deve ter pesado o fato de Piquet no ano de 82 ter feito críticas pesadas a Ferrari sobre a qualidade da construção dos carros e sua segurança, por conta dos acidentes de Villeneuve e Pironi, no caso do francês ele até relata em sua biografia que ficou muito chocado ainda no local do acidente, tal o estado que o piloto ficou, e teve também o episódio de sua entrevista na Playboy, acho que em 87 ou 88 ,quando ele chamou Enzo Ferrari de velho gagá, essa entrevista foi repercutida na Itália e os tifosi ficaram muito p…da vida com ele,e a imprensa italiana desceu o pau também

        abraços

        Mário

        • Mauro Santana disse:

          Verdade Mario, ou seja, olhando para o passado, Piquet teria muitas dores de cabeça se tivesse ido para a Ferrari em 1992.

          Em qual das biografias dele que tem este relato a respeito do acidente do Pironi?

          Abraço!

        • Fernando Marques disse:

          Mario,

          você esta certo mas pelo que foi noticiado foi a Ferrari quem procurou o Piquet. Vale lembrar também que em 1991 nao havia pilotos top drivers em disponibilidade fora o Piquet que ja tinha anunciado a sua aposentadoria da Formula 1. Certamente tais declarações estavam perdoadas.

          Fernando Marques

Deixe um comentário para Fernando Marques Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *