O valor das marcas – ou “Tudo é relativo”

A era das hashtags
26/07/2015
Silvio Grassetti
31/07/2015

Sebastian Vettel igualou o número de vitórias de Ayrton Senna na Fórmula 1.

Então Vettel igualou as 41 vitórias de Ayrton Senna.

Quando passou por essa marca, consta que Michael S. chorou copiosamente.
Seb, possivelmente pelo inesperado da vitória e pelo desaparecimento de Jules B., mostrou-se mais comedido.

Mas, nas entrelinhas, sugere que valoriza esse feito tanto quanto seu compatriota.

Mas Michael ultrapassou e muito essa marca, então qual a importância nos dias de hoje de igualar o feito de alguém desaparecido há mais de 20 anos?

Mais um movimento na reafirmação do mito Senna, talvez.

Supondo que Seb poderá um dia chegar à marca de Prost, que reação terá?

Não lembro de Michael chorando quando chegou a 51a. vitória, mas lembro bem de Alain afirmando que era um alívio, que não aguentava mais alguém perguntando o que ele achava daquilo. Deve ser verdade.

A ânsia na busca por algum tipo de informação, nestes tempos onde tudo é on line, imediato, curto e efêmero, realmente leva jornalistas de todas as áreas a raspar o tacho e amplificar valores além da conta, ainda que inadvertidamente.

Quem precisa de tanta informação e quem sabe o que fazer com ela?

Que terá sentido Clark ao igualar as 24 vitórias de Fangio?

Pessoalmente acho que deve ter se sentido mais próximo do nível desse mito fundador, por estar pilotando carros com motor 3.0 e não mais aqueles 1.5 do início. Aspirados…
Clark deve ter pensado que suas façanhas talvez tenham sido relativamente mais fáceis que a do argentino, já que dispunha de capacete melhor, traje profissional melhor, carros relativamente menos inseguros e, inicialmente, menos potentes.

Stewart certamente partiu desse patamar para exigir, e conseguir, tudo mais seguro.

Que terá passado por sua mente ao ultrapassar as 25 vitórias de seu compatriota?

Parêntesis. O mito Senna possivelmente só encontra paralelo no mito Clark. Ambos estavam, visivelmente, um patamar acima de seus rivais mais próximos, ambos pareciam invencíveis, ambos desapareceram tragicamente, no exercício da profissão.
Fecha parêntesis.

Fangio, Stewart, Prost, Michael sobreviveram e, de certa forma, isso os torna menos espetaculares, porque menos dramáticos, na memória coletiva.

Stewart não tinha motivos para se considerar menos que Clark. Sem o gênio de Chapman por trás de seus carros, foi se impondo mais pelo talento e dedicação. Quando Emerson surgiu na F1, ele era o piloto-referencia e suas marcas pareciam imbatíveis.

Mas era uma época em que ainda era fácil morrer e a temporada contava com muito menos corridas.

Guiar um F1 é como andar em uma banheira cheia de gasolina fumando um charuto”… a mais de 200 por hora.

Como brilhantemente demonstrado neste espaço por outros colegas, os pilotos de F1 até os anos 60 tinham tempo de sobra para competir em outras categorias e assim tirar mais proveito de seus talentos reforçando a conta bancária.

Isto ainda se estendeu até a década seguinte, mas de modo mais seletivo. Stewart e Emerson já eram diferentes.

Enquanto Pace, Peterson e Ickx, por exemplo, andavam regularmente de Ferrari protótipo, eles se mantinham mais concentrados na F1.

Reuteman e Andretti também andaram de protótipo, assim como outros pilotos que não chegaram a se tornar destaques na F1, como De Adamich e Marko.

A dedicação exclusiva à F1 acabou se tornando dominante, principalmente quando o número de corridas foi aumentando e de outras categorias top diminuindo ou mudando.
Como sabemos, a vitória de Hulkenberg em Les Mans este ano foi a exceção que confirma a regra.

Será que pareceu natural a Ayrton ultrapassar tantas marcas da época? Considerando sua obsessão pela vitória, possivelmente.

Mais cedo ou mais tarde, contando com equipamento minimamente competitivo, sim, era algo que aconteceria como se estivesse previsto nas estrelas.

Considerando sua admiração genuína por Fangio, deve ter pensado um pouco diferente de Clark, pois vinha construindo sua reputação com motores mais potentes às costas. Os riscos eram menores mas, como infelizmente provado em 94, ainda estavam presentes.

Mas eram mais GPs. As chances de obter vitórias eram estatisticamente maiores.

E qual a realidade de Seb hoje? Muito mais GPs. Dedicação exclusiva à F1. Motores mais complexos mas muito potentes. Uma equipe que o admira, o apoia, e que nunca deixou de ser uma das forças principais da categoria. Os riscos são bem menores, se considerarmos que o que aconteceu com Bianchi foi uma convergência de vários fatores, todos infelizes.

Seb ainda é bem jovem e já obteve espantosos 4 títulos. Ultrapassou de longe a barreira da vitória.

Se seu último ano na Red Bull lançou sombras sobre sua real competência, este ano elas se dissiparam, provando que seu brilho é tão genuíno quanto o sugerido em sua primeira e surpreendente vitória.

À noite, quando nenhum jornalista está por perto, Seb deve perguntar a seu travesseiro se conseguirá alcançar a marca do topo, atingida por seu compatriota.

Deve levar a resposta a sério, porque existe o risco de algum Verstappen o ultrapassar.

Começando cada vez mais jovens e com tantas corridas à disposição, seus futuros rivais só precisam contar com carros de outro planeta por tempo suficiente.

Quanto isto valerá perto dos recordistas anteriores?

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

34 Comments

  1. Marcio disse:

    Realmente a precocidade e os números de Vettel são impressionantes , mas um dos fatores mais relevantes a se considerar num grande piloto é o seu desempenho comparado ao companheiro de Equipe. Quando se compara o seu desempenho em 2014 com Ricciardo conclui-se que ou Vettel não é tão talentoso assim ou Ricciardo é talentoso demais. Vamos aos números : Posição de largada 9×10 Poles 0x0 Vitorias 0x3 Podiuns 4×8 Pontos 167x 238 . E salientem-se os fatos de Vettel já ter experiência de 5 anos e ser um tetracampeão na Red Bull e Ricciardo ser um estreante.
    Vejamos agora Hamilton: Estreou com Alonso na Mclaren e quase foi campeão contra um Alonso mais experiente e já bicampeão.Encarou Rosberg na Mercedes e foi campeão.E o talento de Rosberg é inegável, Schumi que o diga . Os outros companheiros de Equipe de Vettel : Webber , piloto mediano e Kimi em fase final de carreira não são fortes o suficiente .Não se pode dizer que um companheiro de Equipe pôs Alonso”no bolso”.Veja Alonso X Massa , Alonso x Kimi, Alonso x Piquet , etc.
    Por isso creio que apesar dos números de Vettel tanto Hamilton quanto Alonso são superiores como pilotos.Gostaria de ver um duelo Vettel x Alonso ou Vettel x Hamilton na mesma equipe assim como foi Prost x Senna para confirmar o que penso, mas acho praticamente impossível isto acontecer.

  2. Robinson Araújo disse:

    Imagino que a peça fundamental na história de Senna na F1 seja a ida para a Mclaren em 1988. O carro foi dominante por muito tempo e imagino que suas chances iriam diminuindo a cada ano. Talvez a ida para a Williams em 1993 ou 1994 tivesse sido sua única oportunidade e sua lembrança seria próxima a de Peterson e Gilles.

  3. Rodolfo César disse:

    Bom texto e que traz uma ótima reflexão!

    No meu ponto de vista, esse comparativo Senna vs. todos os outros é complicado demais de ser feito. A F1 é um esporte que muda constantemente de regras e equipamentos… não é possível fazer um paralelo justo diante o tempo que se passa.

    Infelizmente, como a analise é sim pertinente, eu busco a resposta através da seguinte pergunta: quem foi capaz de maximizar bons resultados de forma mais dominante? Pra mim, ninguém foi maior que Fangio nesse aspecto!

    Ele simplesmente conquistou 05 títulos em 08 temporadas que disputou (sendo apenas 07 completas), venceu quase 50% das corridas que disputou e cravou a Pole Position em quase 60% delas! Quando venceu seu primeiro título já tinha mais de 40 anos. Imagina o que teria feito Fangio na F1 se essa tivesse surgido 10-15 anos antes?

    Usando-se dessa mesma indagação, tanto Vettel quanto Schumacher foram muito eficientes. Pode-se contestar, talvez, a qualidade dos competidores durante uma temporada e outra, mas é inegável que souberam trazer os resultados para si. Em 1986, por exemplo, a Williams dispunha do melhor equipamento, mas Prost levou o título justamente porque Mansell e Piquet se atrapalharam de tal forma que possibilitou ao Francês capturar o título. Vettel e Schumacher se impuseram e não deram essa chance e maximizaram os resultados.

    Quanto ao Senna, a situação muda… a resposta por si só dessa indagação não é suficiente, tem um complicador: Alain Prost.

    Muitos dizem que a carreira de um dependeu do outro… Eu discordo! Pode ser até um pouco inocente de minha parte pensar assim, mas se Prost tivesse corrido na F1 sem Senna ou Senna tivesse corrido na F1 sem Prost, os números seriam amplamente diferentes. Ambos tiveram carreiras muito semelhantes.

    Começando com Prost… Tire o Senna da F1 e muito provavelmente o francês teria ganho mais dois ou três títulos e teria conquistado mais umas 20 vitórias pelo menos. Enfim, os números engordariam bastante.

    Agora analisando o Senna… tire o francês de cena e teríamos um brasileiro com pelo menos cinco títulos e mais de 60 vitórias. Talvez nem teria morrido em 1994.

    Qual o motivo de tal conclusão hipotética? Senna sem Prost ou Prost sem Senna teriam a oportunidade de maximizar os resultados disponíveis.

    É com eu disse antes, é complicado comparar os números por si só. Alcançar a marca de 41 vitórias não contesta a posição de Senna na F1 e isso vale para qualquer piloto.

    Eu fico com Fangio por causa disso que expliquei… pra mim é suficiente. Mas para essa discussão não há resposta, cada um tem um ponto de vista e todos no fim acabam sendo válidos afinal.

    Abraços!

    • Fernando Marques disse:

      Rodolfo,

      Infelizmente 10 ou 15 anos antes do Fangio aparecer a Formula 1 ainda não existia …

      Fernando Marques

    • Annibal Magalhães disse:

      Minhas análises são parecidas com as de Rodolfo. Mas acredito que a idade não atrapalhou o pentacampeão argentino. Se tivesse chegado quinze anos antes na Europa, viveria aquela que é reconhecida como a “Década de Ouro” das corridas de Grand Prix. Competiria com pilotos de grande quilate, como Caracciola (o maior vencedor da época), Nuvolari (para muitos, o maior de todos os tempos) e Rosemeyer (um fenômeno, que possuía sua idade, e caso não tivesse morrido em 1938 poderia ter disputado a F-1). Na década de 1930 havia o campeonato europeu, disputado em pistas como Monza, Spa, Nurburgring e Monaco. A F-1 aproveitou grande parte desse espólio, resgatou os Alfetas (campeões em 1950 e 1951) que eram dessa época, mas da classe voituretes. Os possantes modelos da classe principal – Auto Unios, Mercedes e Alfas Bimotore viraram lendas . . .

    • Carlos Chiesa disse:

      Rodolfo, que interessante e extensa análise. Só um comentário a respeito da possibilidade de Fangio despontar 10~15 anos antes. Na década de 30 té 1938 a F1 era chamada de Grand Prix. Se alguém tiver a paciência de pesquisar no site antigo encontrará um livro inteiro sobre a temporada de 37, com Mercedes e Auto-Union (pós 2a. Guerra rebatizada para Audi) duelando o tempo todo. Os pilotos nº 1 da época eram Rudolf Caracciola (um antecessor do estilo suave) e Rosemeyer (talvez um antecessor do estilo agressivo). Nuvolari, a bordo de uma Alfa inferior, não mais dominante como nas primeiras temporadas, embora já mitológico não teve chances. Motores de 600 HP com rodas e pneus estreitíssimos, zero equipamento de segurança (capacetes de pano, ou quando muito, de couro). Dificil dizer se o argentino teria se dado bem lutando contra essa turma. Infelizmente é um mistério que deverá permanecer insolúvel. Mas as estatísticas de Fangio são realmente impressionantes e talvez seja por isso que nunca soube de alguém inserir aqui a rivalidade existente no futebol. Quem gosta de automobilismo de verdade, e entende alguma coisa, presta reverencia sem restrições.

    • Annibal disse:

      Minhas análises a respeito do pentacampeão argentino são parecidas com as do Rodolfo. Mas acredito que a idade não atrapalhou Fangio. Se tivesse chegado quinze anos antes, teria disputado o campeonato europeu, correndo em pistas como Monza, Spa, Nurburgring, Montlery e Monaco. Contando com a Auto Union, a Mercedes e as Alfas Bimotore da Scuderia Ferrari, a época ficou conhecida como a “Década de Ouro” das competições de Grand Prix.
      A F-1 aproveitou grande parte desse espólio. O campeonato instituído em 1950 ganhou status de mundial por contar com uma prova americana (totalmente fora de suas características). Foi utilizado o regulamento pré guerra da categoria de acesso (classe voituretes), origem dos Alfetas campeões em 1950 e 1951.
      Fangio encontrou alguns pilotos da década de 1930 na F-1, como Farina e Fagioli, e todos sabemos o que aconteceu. Mas sua presença nas corridas de Grand Prix da década de 1930 levaria a dividir retas e curvas com titãs como Caracciola, Nuvolari e Rosemeyer (da sua faixa etária). Difícil prever qual o lugar que o então jovem piloto sul americano ocuparia.

  4. Mauro Santana disse:

    Grande Texto, Chiesa!!!

    Eu tenho um ponto de vista que é o seguinte:

    “Quando algo vem muito fácil, nem sempre é dado o devido valor.”

    E dos sete títulos do Dick Vigarista, 4 lhe foi dado de presente, e sendo assim, eu o coloco no grupo dos Tri Campões da F1.

    O Mesmo vale para o Vettel, que dos seus 4 títulos, dois foram muito duros de conquistar.

    Tudo bem que ambos conquistaram e ponto final.

    Ou seja, é fato.

    Mas das 90 e poucas corridas vencidas pelo Dick Vigarista, metade(um pouco mais ou um pouco menos) foram em circunstâncias da qual o único adversário a sua altura era Barrichello, mas, todos sabemos a história.

    Agora, que tal no ano de 1988 a Mclaren desse uma de Ferrari, e assim privilegiasse somente Prost ou Senna!?

    Um dos dois teria vencido umas 13 ou 14 corridas de um campeonato de 16, e seria campeão de maneira fácil.

    Mas e aí, qual o sabor de tal conquista?

    De que adianta vencer mais de 100 GPs, e não ter lutado pau a pau com alguém pra conquista-los?!

    Por isso, pra mim, o melhor piloto em atividade na F1, é Fernando Alonso.

    O cara pode ter somente 2 títulos, mas seus feitos com ou sem o melhor carro do grid, é fantástico.

    Já Button e Hamilton, são o contrário.

    Button só conquistou seu título por estar sentado no melhor carro do grid.

    E Hamilton no ano passado foi a mesma situação, melhor carro e um companheiro mais fraco, quase parecido com o ano de 2008, quando seu companheiro era o pobre e inofensivo Heikki Kovalainen.

    Porem teve o apoio total da Mclaren, e tivemos grandes duelos que foram travados com a dupla Ferrarista.

    Então é isso.

    Com carros praticamente inquebráveis, e cada vez mais seguros, basta o piloto da atual geração estar a bordo do melhor F1, pois tenho certeza que até um Pastor Maldonado pode conquistar mais de um título e uma porrada de vitórias.

    Fato!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Bruno Wenson disse:

      Diga-me, Mauro: qual piloto da era moderna, pós anos 80, que venceu um campeonato NÃO TENDO o melhor carro do grid?
      E, se Barrichello era bom e não podia disputar com Schumacher, por que ele não venceu as quase 50 corridas que o Schumacher não venceu na Ferrari, quando corriam juntos?? 52 a 9 é um número bem expressivo, não? Eles correram juntos mais de 100 corridas.

      • Carlos Chiesa disse:

        Fernando, esqueci de mencionar que para ser campeão, também é preciso ter… sorte de campeão. Bruno, nem entro no mérito se Barrichello era melhor que Michael S. ou não. O fato é que a equipe Ferrari daquela época foi toda montada para servir a ele, e Alonso repetiu o modelo. Basta lembrar que Montezemolo respondeu às críticas do asturiano lembrando que a Ferrari tinha feito tudo do jeito que ele queria e que os campeonatos não apareceram. A respeito do Rubens, obvio que os carros dele não tinham parafuso enferrujado, peças de segunda mão etc.. Era essencialmente igual ao do alemão. Mas a prioridade da equipe era para o piloto que ganhava mais, que trazia resultados comprovados e que, logicamente, tinha mais visibilidade. Certamente eram carros construídos de acordo com suas características. Também tem a história de Michael testar os pneus em primeira mão e assim definir compostos que o favoreciam. Mesmo assim, em certos momentos, Rubens o superou amplamente. Não é pouco. Creio que Berger nem isso conseguiu com o Senna e na McLaren esses privilégios eram muito menores.

        • Lucas disse:

          Vale o mesmo pros dois campeonatos do Alonso – em 2005 a McLaren era mais rápida, embora menos confiável, e em 2006 a Renault só teve vantagem no começo do ano – após a polêmica proibição dos amortecedores de massa a Ferrari passou a sobrar em relação à Ferrari, com uma vantagem muito maior que a que a Renault dispunha nas primeiras provas.

      • Robinson Araújo disse:

        Após 1980 lembro dos seguintes campeões sem um carro dominante: 1981 Piquet – Brabham, 1982 Rosberg – Williams, 1983 Piquet – Brabham, 1986 Prost – Mclaren, 1991 Senna Mclaren, 2007 Kimi Ferrari.

        • Lucas disse:

          (ops, era pra responder essa do Robinson e foi pra do Chiesa – eu sempre me confundo em qual “responder” devo clicar aqui no gepeto, hehe)

      • Walter disse:

        Bruno, seguindo a sua linha de raciocínio, Barrichello teria que ser vice campeão em 2000(4º), 2001(3º) e 2003(4º).

        • Lucas disse:

          Não necessariamente. Uma característica dos times que utilizam a prática hierárquica, que chegou ao extremo nesse período da Ferrari, é que as estratégias são montadas de forma a favorecer o primeiro piloto e acabam prejudicando o primeiro. Comumente o papel do segundo é fazer uma estratégia que jamais teria qualquer vantagem para si próprio, como ser a “lebre” no começo de uma corrida, passar parte do tempo andando propositalmente mais lento para atrasar o adversário que vem atrás, usar uma estratégia de paradas mais ineficiente para confundir o time adversário, etc. Coisas como essa fazem com que o segundo piloto acabe tendo resultados *abaixo* do que se esperaria mesmo quando eles têm o melhor carro.

      • Mauro Santana disse:

        Bruno

        Não sou o dono da verdade, mas na minha opinião, o campeonato de 1997 e principalmente o campeonato de 1999, a Ferrari estava numa condição melhor que a Williams e Mclaren.

        A quem diga que se o alemão não tivesse sofrido o acidente no GP de Silverstone, este teria quebrado o jejum Ferrarista já em 99.

        E em 2009 Button conseguiu a taça pela gordura que acumulou na primeira metade do campeonato, pois na segunda metade, Vettel/RBR já eram o melhor conjunto, visto que Barrichello não conseguiu conquistar o vice campeonato.

        Mas o que eu quero dizer é que, na F1 dos anos 2000 pra frente, o carro faz muito mais diferença do que nos anos 80 para trás, pois não adianta termos grandes pilotos a bordo de carros medianos, porque o fator imprevisto é muito raro num GP, e aí, se tivermos pilotos medianos nos melhores carros, certamente eles vão vencer.

        É só trocar de lugar os dois pilotos da Mercedes com qualquer outra dupla do grid atual.

        Pra mim, é fato, Hamilton e Rosberg mal conseguiram chegar no pódio.

    • Fernando Marques disse:

      Mauro,

      seu ponto de vista tem coerência mas acredito que determinados pilotos são pré destinados a ser campeões … nomes como o de Ronnie Perterson, Gilles Villenueve, Clay Regazoni, e por que não Rubens Barrichelo, David Couthard e Felipe Massa não foram pré destinados neste sentido … mesmo tendo carros vencedores e no auge das carreiras deles …
      A verdade quem conta é a carreira de cada um … o mesmo vale para aqueles que se tornaram um mito ou uma lenda viva na Formula 1. Gilles Villenueve para mim é um mito por tudo de bom que ele deu de espetáculo enquanto esteve vivo na Formula 1 …

      Fernando Marques

      • Carlos Chiesa disse:

        É uma crença popular, Fernando, de que algumas pessoas nascem com a estrela, que nascem com o bumbum virado para a Lua e assim tudo flui, tudo conspira para o seu sucesso. Talvez seja o caso de Hamilton e não seja o caso de Rosberg, neste GP magyar. A respeito de Gilles, sem dúvida era espetacular, mas nunca o vi com todas as qualidades necessárias para ser campeão. Sempre me pareceu que iria acabar se dando mal, mais cedo ou mais tarde, com tanta agressividade e combatividade.

        • Fernando Marques disse:

          Chiesa,

          O Nelson Piquet disse uma vez que um piloto quando vence corridas na Formula 1 é por que este piloto é muito bom mas para ser campeão falta “alguma coisa a mais” … talvez pode ser a tal da sorte ou então a tal da pre destinação em ser campeão que tenha faltado ao Gilles e os demais que citei … pois carros vencedores nas mãos eles tiveram …

          Fernando Marques

      • Mauro Santana disse:

        Concordo contigo Fernando, tem pilotos que nascem pra serem campeões, e os que infelizmente não, mas estas feras que você citou, na época em que eles correram, era uma outra F1, uma F1 aonde a morte era algo mais próximo, os carros quebravam com frequência, e outras coisas mais.

        Hoje, o piloto guia o carro o tempo todo no limite, pois sabe que as quebras não mais os assombram.

        E somado a este fato, o cara estar a bordo do melhor equipamento, com a equipe lhe dando todo o suporte, as chances de vitórias e títulos, são muito, mais muito maiores.

        Eu sempre pego como exemplo a temporada de 1986, pois Prost sabia que tinha chances, e sabia como ninguém guiar um F1 sem estragar o equipamento.

        Claro que a sorte foi mais generosa com ele, mas ele sabia que imprevistos podiam acontecer, pois fazia parte do jogo, como a morte fazia parte do jogo nos anos 50, 60 e 70, ao ponto das mulheres dos pilotos sempre levarem junto nas viagens de cada GP, um vestido preto, que era para o caso de algum piloto morrer num acidente.

        Esta eu li numa entrevista feita com a Maria Helena Fittipaldi.

        É isso.

        Bacana que o assunto esta rendendo um debate altamente agradável.

        Abraço!!

        • Fernando Marques disse:

          Mauro,

          o assunto é dos melhores … não me surpreendo com o debate …

          Fernando Marques

        • Carlos Chiesa disse:

          Fico feliz que o assunto tenha gerado tantos e tão valiosos comentários. Mérito do Marcel, que sugeriu esta pauta.

        • admin disse:

          Méritos totais seus, Chiesa, por saber conduzir o assunto de forma a trazer reflexões, e não a impor verdades.

          Abração!

    • Robinson Araújo disse:

      Mauro

      Mesmo o mítico Fangio foi muito auxiliado por sua equipe. Como tratam-se de corridas da década de 50 com poucas informações temos a tendência de super valorizar os fatos.
      Analisando a temporada de 1957 pude perceber que em várias ocasiões o companheiro de equipe lhe forneceu o carro para não zerar em pontos no GP após um abandono. Imagino que 70 a 80% dos campeonatos tenha sido vencido por um piloto protegido na equipe em detrimento ao companheiro, seja por incapacidade deste ou por simples decisão superior.
      Piquet comandava a Brabham e seus companheiros estavam sempre ofuscados, Senna cativou a Lotus para si e fez com que De Angelis procurasse os caminhos da fatídica BT55 tábua de passar e mesmo o nosso Rato quando seu viu dividindo a atenção na Lotus pulou para os braços da organizada Mclaren a qual o tratou do modo a dar a base necessária para a equipe conquistar seu primeiro campeonato.
      Imagino que os ingleses veem Hamilton como um gênio, assim como Mansell. Todos com muitas vitórias em equipes dominantes e pouco brilho em modelos não tão bem nascidos.
      O que quero dizer com isso é que todos os vencedores tem uma característica marcante, a de serem dominantes em seu espaço e/ou negarem-se a dividi-lo proporcionalmente. Quando o carro é muito dominante isso fica mais evidente e quem não está sendo favorecido por esta combinação ideal (carro/piloto) tende a reclamar e procurar defeitos, principalmente nossa torcida.
      Mais clara fica esta posição quando citamos a carreira de Rubens Barrichello. Sempre argumentou-se que este era oprimido em detrimento a Schumacher, porém com outro carro dominante, a Brawn em 2009, sucumbiu a um bom (somente bom) piloto como Button e ficou de espectador, tendo alguns lampejos. Este é o “algo a mais” que Piquet argumentou, o fato de saber se impor, de ser o piloto alfa da relação!

      • Carlos Chiesa disse:

        Oi Robinson. Lembre-se que o Fangio venceu por várias equipes, penso eu que uma de suas características mais marcantes, porque com vários tipos de carros. Para a época, creio que também havia um certo cavalheirismo, uma certa reverência, coisa impensável nestes tempos de vale-tudo. Creio que os ingleses são muito menos críticos com seus pilotos do que oa brasileiros com Rubens e Massa, por exemplo. Não creio que Emerson tenha tido moleza diante de Hulme. Ele notou que o carro da McLaren era muito bom na temporada anterior. Consta que Colin estava preferindo Ronnie porque ainda custava menos, Emerson já era campeão. Discutiam a renovação. Emerson deve ter intuído ou calculado que teria melhores chances na McL, e estava certo, em especial porque conseguiu ser mais consistente que o conjuntoRegazzoni/Ferrari. O problema de Rubens na Brawn, conforme é público, foi o sistema de freios, que favorecia mais o inglês. Quando equiparam seu carro com outro sistema ele passou a ser mais competitivo. Não acho que Button é apenas bom, mas também não o coloco no mesmo nível de FA, LH, SV.

    • Carlos Chiesa disse:

      Mauro, muito obrigado pelo elogio e retribuo na mesma moeda. Você pegou bem o ponto da relatividade. Para dar um exemplo, vamos a um caso clássico: a quase vitória de Levegh em Les Mans. Mesmo não tendo ganho seu feito já era memorável, no mínimo pela resistência física e motivação. Em minha opinião, é uma das melhores histórias dessa legendária prova em todos os tempos. Melhor que muitas vitorias insossas. Assim como tempos campeões mundiais insossos e mitos como o citado Gilles. Quanto aos carros inquebráveis, não é bem assim. Pergunte ao Kimi… (uma pena, acho).

  5. Lucas disse:

    Analisando a dinâmica desses recordes, a conclusão parece até meio boba pela obviedade, mas ainda assim pertinente: tudo depende de quantas corridas se completa com excelentes carros em condições favoráveis. Schumacher se tornou o maior recordista da categoria justamente por ter sido, de longe, o piloto que mais teve ao seu favor cada uma das três partes dessa frase: “quantas corridas se completa” (Schumacher passou a maior parte de sua corrida dirigindo os quase indestrutíveis carros de Rory Byrne, justamente numa época em que nem todos os projetistas e fabricantes de motores tinham atingido um grau de confiabilidade comparável), “excelentes carros” (em nada menos que onze temporadas Schumacher correu com um carro que, se não era o melhor, estava muito próximo do melhor do grid) e “condições favoráveis” (a sua forma de trabalhar era baseada na equipe hierárquica, que contrata um segundo piloto para ter o papel de trabalhar primeiro pela equipe – o que na prática significa pelo primeiro piloto – e, só depois, para si próprio).

    A partir do momento que a Red Bull resolveu ignorar sua proposta inicial de ser uma antítese da Ferrari, Seb teve estas condições (embora sem a vantagem da confiabilidade que Schumacher tinha) até o momento em que encontrou um companheiro de equipe que correu muito melhor que ele. Tomou a atitude certa mudando de equipe, e se a Ferrari voltar ao nível de 97-2008, não vejo porque o Vettel não quebre alguns ou vários dos recordes da categoria.

    Mas uma coisa que não foi citada no texto é o fato de que, apenas uma vitória atrás dele está o Hamilton. A única desvantagem dele é não correr em um time de hierarquia definida, e por isso perde muitas vitórias e pontos para Rosberg, mas é meio óbvio que, se a Mercedes se manter no topo por mais uns anos é perfeitamente possível que ele é que venha a ser o novo grande recordista da categoria. Mais umas poucas primeiras filas e ele passa Senna nesse quesito, e se 21 poles atrás de Schumacher parecem muita coisa, vale lembrar que ele fez nove poles nas últimas dez corridas – bastaria que a Mercedes novamente fizesse um carro excepcional ano que vem e ele mantivesse esse ritmo pra mandar esse recorde pro espaço.

    Como dito ao fim do texto, para que esses recordes sejam quebrados, bastaria contar com carros de outro planeta por tempo suficiente. Se além disso ainda forem carros confiáveis e num time com clara hierarquia de pilotos, seria mais fácil ainda. Nesse sentido, até prefiro que seja Hamilton, e não Vettel, a cumprir essa tarefa, já que o primeiro, se acumula grande número de corridas em carros excelentes, pelo menos teve concorrência interna nessas ocasiões, a única exceção sendo a temporada de 2008 (em que, por outro lado, teve também como concorrentes Max Moley e Alan Donnelly!).

    • Carlos Chiesa disse:

      Olá Lucas
      As Benetton que levaram Michael S. ao bi eram feitas para seu estilo de pilotar. Quando ele e Berger trocaram de lugar e este último experimentou o carro campeão, o achou quase inguiável. Portanto, se Berger tivesse sido o companheiro de Michael S. na Benetton nos dois anos anteriores, ou se impunha ou se acomodava como coadjuvante. De fato, Michael S. radicalizou mais que Senna e exigiu da Ferrari total prioridade. Na minha modesta opinião, era uma equipe Schumacher usando todos os recursos da Ferrari, e não o contrário. Irvine poderá confirmar isso. A famosa “Multi21” (ou sei lá que número era) sugere fortemente um pacto, uma condição. Talvez a razão da RB ter finalmente se decidido por priorizar Seb sejam mais complexas do que parece. Entre elas um garoto jovem e simpático ter mais apelo junto ao público do produto patrocinador do que um cara já meio em fim de carreira, como era Weber. Meu amigo Gigante acha que Mark estava no seu limite máximo e Seb ainda tinha campo para evoluir como piloto. Enfim… Não mencionei o Hamilton para não desviar o assunto. Claro que ele tem todas as condições de superar Seb e eventualmente Michael S. Não entendi os nomes citados como concorrentes dele na temporada de 2008.

      • Lucas disse:

        Perfeito, Chiesa. Aliás, vale lembrar que nessa época em que a dupla da Ferrari foi pra Benetton aconteceu um fato curioso – o Berger, como você bem lembrou, achou o carro completamente inguiável. Já o Alesi não apenas adorou o carro como liderou os testes em que ainda estavam sendo usados os carros de 95. Isso porque o tipo de carro que ele gostava estava mais próximo ao do Schumacher e diametralmente oposto ao que o Berger gostava (e o fato de Alesi e Berger terem sido companheiros por tantos anos era um pesadelo pras equipes, já que o carro bom pra um quase sempre era ruim pro outro).

        Quanto à Red Bull, o grande inimigo do Mark Webber lá era o Helmut Marko, que nunca escondeu sua preferência por Vettel e seu desejo de que o time o favorecesse. Isso foi flagrante na temporada de 2010, em que, depois de deixarem a dupla brigar na temporada anterior e em boa parte desta, passou a privilegiar o Vettel mais claramente mesmo apesar do fato de que era o Webber que tinha mais pontos. E na última corrida a equipe mandou o Webber parar numa estratégia que jamais daria certo (parar naquele momento era certeza de pegar tráfego até o fim da corrida), com o único objetivo de forçar a Ferrari a cobri-lo (o que de fato aconteceu), dando o título ao Vettel.

        Quanto à temporada de 2008, foi só um modo irônico de falar que não bastasse ter que se preocupar com a Ferrari, o Hamilton teve também que enfrentar um chefe de comissários de prova (o Donnelly, apontado por Mosley), que tratava de forma absurdamente dĩspar qualquer incidente envolvendo Ferrari e McLaren (Mosley não era claramente pró-Ferrari como era inimigo figadal do Ron Dennis).

  6. Fernando Marques disse:

    Chiesa,

    eu penso que recordes existem para serem batidos … e o recorde a ser batido é o do Schumacher … e aí sim quem superar este numero poderá chorar a vontade …


    Eu penso que Vettel e Hamilton podem superar a marca do Prost tranquilamente … se nos próximos 2 ou 3 anos se eles continuarem pilotando em equipes dominantes como é o caso da Mercedes e Ferrari … já a marca do Schumacher ainda vejo como insuperável pois não acredito num novo domínio duradouro de 5 anos como ele e a Ferrari tiveram na Formula 1 …


    A marca do Senna pode ser superada pelo Alonso se a Mclaren voltar aos bons dias …


    Mas eles estão longe a meu ver de se tornarem mitos. A distancia entre bater recordes e se tornar um mito é muito grande …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Carlos Chiesa disse:

      Olá Fernando. Sem dúvida recordes existem para serem batidos. Mitos? Nem sempre.
      Concordo muito com você. Penso que, no grid de hoje, só Hamilton tem efetivamente chance de ir buscar esses recordes. Torço para que a Ferrari consiga dividir mais
      equitativamente os resultados no ano que vem mas… francamente? Ainda acho difícil.
      Creio que a unidade motriz poderá se equiparar, sim, mas me parece que a Mercedes tem outros truques tecnológicos ainda não revelados. Suponho que ela começou a trabalhar bem antes que a Ferrari nesse novo regulamento e/ou talvez tenha empregado muito mais recursos. A Ferrari com Alonso efetivamente se empenhou para disputar os campeonatos dominados pela RBR com Vettel, e não será surpresa se isto tiver drenado recurso que agora estão fazendo falta. Mas por isso mesmo Seb continuará tendo o segundo melhor equipamento do grid. Não creio que as Williams venham a ameaçar para valer, enquanto usarem a mesma unidade motriz. Com menos recursos, teria que operar um milagre tecnológico como as Brawn, a seu tempo.

      • Fernando Marques disse:

        Eu posso estar errado mas continuo achando que pelo menos nos próximos 2 ou 3 anos poderemos ter outra equipe dominante … lembre-se que vem novo regulamento em 2017 … e pensando assim não só o Hamilton, mas o Vettel e o Alonso são candidatos a quebrar recordes também …

        Fernando MArques

        • Lucas disse:

          Isso daria mais um ano para a Mercedes ficar no topo, e se for no nível dessa temporada e da anterior, dá pro Hamilton pelo menos pegar o recorde de poles até o fim de 2016.

      • Fernando Marques disse:

        Lucas,

        se em 2016 o regulamento for o mesmo deste ano (é bom lembrar que o de 2015 era para ser igual ao de 2014 e sofreu mudanças) concordo que a Mercedes tem tudo para continuar mandando e desmandando no circo e o Hamilton podendo deitar e rolar nos recordes de poles … mas vai que fazem algumas moficações …

        Fernando Marques

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