Onda laranja… papaia

Duelo pela Velocidade – Parte 1
09/09/2021
Piorou porque melhorou
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Uma semana depois de um domingo perfeito para os holandeses em Zandvoort, com uma vitória enfática de Max Verstappen na frente de sua frenética torcida, que encheu o ar neerlandês de uma fumaça laranja, novamente esse cor dominou a F1, dessa vez em Monza. Porém, o laranja que apareceu no velho santuário de Monza não foi dos holandeses. A McLaren teve um domingo de sonho na Itália e voltou a vencer após nove anos, com Daniel Ricciardo dando um bico na má fase com uma bela atuação que lembrou os bons e velhos tempos na Red Bull, mas a turma de Zak Brown ainda teve mais o que comemorar, com Lando Norris completando a dobradinha laranja-papaia, a primeira da equipe em onze anos.

Apesar do ótimo final de semana mclariano, essa dobradinha não veio por acaso e aconteceu muito em custa de outra polêmica entre os líderes do campeonato Max Verstappen e Lewis Hamilton, novamente envolvidos num toque, sendo que dessa vez ambos saíram zerados.

Contudo, pela dinâmica do acidente, Hamilton foi o maior beneficiado por ter saído sem graves ferimentos ou algo pior!

Santo Halo!

A foto do pneu traseiro de Verstappen em cima do capacete de Hamilton após o toque entre eles na Variante del Rettifilo viralizou, mostrando que o tão criticado e odiado Halo fez seu papel novamente.

Quando o aparato foi colocado nos carros de F1 em 2018, a gritaria foi geral, pois além de feio, ia contra a nossa tradicional visão de carros de formula, com o capacete do piloto no lado de fora do cockpit. Várias críticas foram feitas e algumas colunas foram escritas aqui e em outros sites. Esse escriba que vos escreve é um dos que não gostavam do Halo. Você que nos lê já deve ter chamado o Halo de Havaianas em algum momento.

Porém, em menos de um ano, o Halo salvou a vida de dois pilotos de F1. Primeiro foi Romain Grosjean no famoso acidente no Bahrein, que seria degolado sem o aparato. Ontem, em Monza, quando o carro de Max Verstappen foi catapultado para ficar em cima do carro de Hamilton, mais de setecentos quilos cairia diretamente em cima do capacete de Hamilton sem o Halo. As consequências poderiam ser literalmente trágicas. Mesmo protegido, Hamilton reclamou de dores de cabeça e no pescoço, potencializando o imaginário do que poderia ter acontecido se não tivesse Halo no Mercedes de número 44.

Continuo achando o Halo feio, mas Graças a Deus temos Halo!

Após a sexta-feira, a Mercedes era a grande favorita à vitória e até mesmo à dobradinha. Vinte e quatro horas depois e uma Sprint Race no meio, o favorito destacado passava a ser Max Verstappen. A gangorra de favoritos entre Mercedes e Red Bull tinha apenas um fator comum: a McLaren era uma próxima terceira força. Já na definição do grid para a Sprint Race a McLaren estava logo atrás da dupla da Mercedes e de Verstappen e quando Hamilton largou mal no sábado, a dupla da McLaren ficou na frente de Hamilton sem maiores problemas. No domingo, sem ninguém na sua frente, Ricciardo partiu como um raio e emergiu na primeira curva em primeiro, superando Verstappen. Hamilton, largando com pneus duros, enquanto os demais largaram com médios, dessa vez largou muito bem e chegou a atacar Verstappen, que como sempre não lhe deu espaço e os dois se tocaram na Variante Della Roggia. Isso teria reverberações mais tarde? O fato foi que Norris retomou a posição de Hamilton e o que se viu foi uma corrida estática, onde a pouca efetividade do DRS em Monza e a força do motor Mercedes ajudaram Daniel Ricciardo e Lando Norris segurarem suas posições contra Max Verstappen e Lewis Hamilton, respectivamente. Tudo seria decidido nos boxes.

Verstappen esperou pacientemente Ricciardo fazer sua parada para realizar seu único pit-stop logo em seguida, mas quando essa movimentação aconteceu, a Red Bull, equipe mais rápida da F1, fez um péssimo pit-stop. Enquanto isso na pista, finalmente Hamilton ultrapassava Norris e a corrida parecia se encaminhar para o inglês, lembrando que a Mercedes tinha sido a equipe mais rápida do final de semana italiano. Porém, os deuses da velocidade nos pregou outra peça. Hamilton parou logo em seguida e mesmo não sendo um pit-stop perfeito da Mercedes, o inglês voltou entre Norris e Verstappen na entrada da apertada curva um. Talvez lembrando o lance da primeira volta, Hamilton jogou seu carro para o mais próximo possível do apex da curva um, deixando pouco espaço para Verstappen, normalmente com mais ação por ter acelerado desde a curva Alboreto, antiga Parabolica. Claro que Max não se portaria de forma sossegada com o comportamento de Hamilton e também jogou duro dentro da Variante del Rettifilo, resultando em mais um toque entre os dois e o final de prova para os dois líderes do campeonato.

Mesmo sem Max e Lewis, Ricciardo estava em primeiro quando o Safety-Car deu as caras em Monza. Pela dificuldade que os carros de Mercedes e Red Bull tiveram para ultrapassar os carros da McLaren, mesmo Hamilton e Verstappen tivessem permanecido na corrida, Ricciardo poderia ter se mantido na ponta até o fim. Ricciardo fez uma corrida surpreendente, levando-se em conta seu histórico recente, onde parecia não se entender com o carro da McLaren, mas ao sair na primeira fila, o australiano largou muito bem e controlou a prova sem maiores dificuldades, lembrando que Daniel já é um veterano de vitórias. Ontem, em Monza, foi o oitavo triunfo de Daniel. Lando Norris também se portou muitíssimo bem na corrida, servindo muito bem como escudo para Ricciardo e ainda conseguindo seu melhor resultado na F1 com o segundo lugar. Lembrando a situação da McLaren cinco anos atrás, um grande parabéns para Zak Brown e sua trupe, que fez ressurgir a gigante McLaren rumo novamente às vitórias.

Poucos meses antes de morrer, Murray Walker falou que entre Ayrton Senna, Michael Schumacher e Lewis Hamilton, ele preferia o último por que ele não era ‘tão controverso como Schumacher, que parou deliberadamente em Mônaco para impedir Alonso de conquistar a pole, como colidiu com Villeneuve em Jerez, assim como Senna batendo no Prost no Japão em 1990. Lewis Hamilton nunca foi nada disso, é limpo como um assobio.’

Porém, essa tarja de ‘piloto limpo’ de Hamilton já pode ser questionada pelos constantes incidentes que o inglês se envolveu nos últimos anos. Ainda não houve casos de Hamilton jogando seu carro em cima dos seus rivais, mas não dá para negar que Lewis já tem em sua carteira inúmeros toques com outros pilotos em disputas de posição. Para quem não se lembra, Hamilton teve três importantes toques com Nico Rosberg (Barcelona, Red Bull Ring e Spa) e somente no dia de ontem, se envolveu em dois toques com Max Verstappen, o segundo custando a corrida dos dois, sem contar o incidente polêmico em Silverstone. Ser um piloto duro não significa ser um piloto sujo, mas Hamilton estaria passando um pouco dessa linha?

Dessa vez, para a FIA a culpa do incidente de ontem acabou indo para Verstappen, punido em três posições na próxima corrida. Num final de semana que tinha tudo para ser da Mercedes, Lewis Hamilton saiu completamente zerado e isso poderá fazer toda a diferença num campeonato tão apertado como o desse ano. Max aumentou sua vantagem no campeonato em Monza, pelos pontos ganhos na Sprint Race.

Após a Sprint Race de sábado, Fernando Alonso usou uma bela analogia com o futebol. ‘A F1 parece querer sempre ter emoção de qualquer jeito. No futebol há jogos ruins, mas ninguém fala que no jogo seguinte tenha que aumentar o gol ou tirar o goleiro. E os torcedores continuam indo.’

Nesse final de semana tivemos a segunda Sprint Race, novo experimento da F1 para ‘trazer emoção’, e assim como aconteceu em Silverstone, os pilotos foram contidos na maior parte do tempo, pois sabiam que os pontos seriam conquistados no domingo. Fica nítido que a novidade ainda não pegou entre pilotos e fãs, sendo necessário ajustes ou que simplesmente o piloto mais rápido do sábado largue em primeiro, como normalmente aconteceu nos últimos 71 anos na F1.

Correndo em casa, a Ferrari se recuperou do vexame que foi a corrida do ano passado com um quarto lugar próximo dos líderes para Leclerc, porém, os italianos viram a McLaren disparar na disputa pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores. Pérez chegou em terceiro na pista, mas foi punido por não ceder posição ao ultrapassar Norris cortando uma chicane. Tendo que cumprir 5s de punição, o mexicano fez de tudo para segurar Bottas nas voltas finais, pois o nórdico tinha muita ação e poderia atacar com mais força a McLaren, dando mais pontos para a Mercedes para o Mundial de Construtores. Pérez cumpriu essa missão, mas no geral ficou devendo e com a punição, terminou em quinto, ainda tendo tempo para ficar na frente de Sainz, na segunda Ferrari. Stroll deu um toque em Vettel na primeira volta, mas como é filho do chefe, não deverá receber nem uma reprimenda e ainda conseguiu um sétimo lugar, na frente de Alonso. No dia em que Bottas fez sua melhor corrida do ano e subiu ao pódio após largar em último, Russell foi lá e também brilhou com um nono lugar com a Williams, com Ocon fechando a zona de pontos. Giovinazzi conseguiu uma ótima largada, chegou a brigar com a dupla da Ferrari no curso da primeira volta, mas um toque com Sainz acabou com o sonho de o italiano marcar pontos. Um ano depois do sonho que foi a vitória de Gasly em Monza, a Alpha Tauri teve um dia para esquecer com seus dois pilotos abandonando antes da quinta volta. Já no confuso reino da Haas, Gunther Steiner terá mais uma tensa conversa com seus dois pilotos, que se tocaram de novo na corrida.

A última vitória de um carro McLaren laranja tinha sido com Denny Hulme no México, em 1969

A festa proporcionada pela McLaren por sua primeira vitória na F1 em muito tempo e a primeira correndo de laranja desde 1969 foi bem legal, com direito a shoey e tudo mais. Mesmo ainda sem chances de derrotar Mercedes e Red Bull em condições plenamente normais, dá para dizer que a McLaren teve seus méritos em colocar seus pilotos nas posições certas nesse domingo e deixa-los numa situação de se defender bem dos ataques de Verstappen, Hamilton e Pérez durante a corrida. A volta da McLaren às vitórias mostrou o quão aleatório está o campeonato 2021, ainda mais com Hamilton e Verstappen continuando a dar chances aos adversários para brilhar.

A disputa entre Verstappen e Hamilton já ganha contornos históricos, principalmente pelos seguidos toques entre eles. Ambos têm grandes motivações para derrotar o rival, correndo em alto nível e fazendo a nossa alegria, mas nesse domingo ninguém esteve mais feliz do que Daniel Ricciardo, Lando Norris e toda a equipe McLaren.

Abraço!

João Carlos Viana

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

5 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    gostei muito da maneira de como você contou a história do GP de Monza de 2021. Mas acho que faltou uma coisinha, que a meu ver, merece ser dita dentro da minha ótica que entendi da corrida, principalmente em relação ao incidente entre Verstappen e Hamilton. Falo da dinâmica das corridas que são realizadas em Monza. Vamos lá:

    1) Circuito de Monza – pista de alta velocidade, atualmente a de maior média da Formula 1.
    2) Circuito de Monza – geralmente as provas são muitos rápidas, sendo a de menor duração, normalmente cobrem os poucos mais dos 300 km de corridas em torno de 1H e 20 minutos.
    3) Circuito de Monza – possui o Pit Stop mais curto e rápido do calendário., contando o tempo que entra e sai dos boxes.

    Dito isso, devido ser uma prova rápida e veloz e de pits muitos rápidos também … qualquer erro ou perda de tempo pode-se tornar irrecuperável a tempo dentro de uma prova.

    Pit Stop do Verstappen durou quase 11 segundos.
    Pit Stop do Hamilton menos ruim mas acima de 4 segundos
    os dois de volta a pista.
    Qual é a consequência destes pit stops realizados ? Retorno de Hamilton lado a lado com Verstappen numa chicane. Resultado de quem sabe que nenhum deles vai ceder. Colisão.

    Quem foi o culpado da batida? Os péssimos pit stops da RBR e Mercedes. Se fossem bem realizados não haveria a batida.

    No mais legal ter um GP de Monza com resultado imprevisível da vitória de Ricciardo/Mclaren, assim como Gasly/Alpha Tauri ano passado. Um grande resultado para a Mclaren com a dobradinha no podio … uma corrida digna das melhores que Monza sempre proporciona como o épico GP de 1971 citado pelo Marcio D, certamente a melhor final de ultimas 10 voltas de uma corrida já vista na Formula 1.

    Agora continuo achando que está faltando um pouco de “massa cinzenta” no cérebro do Verstappen. Numa situação dessas, ele já deveria saber que ele será sempre o que vai mais perder. Pra que essa dele achar que tem que dividir curva com Hamilton, pra ganhar uma corrida? Tem que ser estratégico e pensar também no campeonato.
    Em Monza, apesar dos dois saírem zerados, ele acabou sendo novamente o que mais perdeu. Se alguém tinha que ser castigado seguindo as regras da Formula 1 seria ele. Afinal foi ele que acabou jogando o carro em cima do Hamilton. Já de cara perdeu 3 posições no grid de largada na Russia. A meu ver foi acidente de corrida. Não cabia dois carros ali naquele momento, assim como já vemos em outras batidas nessa temporada.

    Um comentário a respeito do que disse o Marcio, a batida entre Prost e Senna em Suzuka/89 não por causa da chicane (estou de acordo com suas criticas com relação as chicanes) mas nesse caso houve uma intencional e deliberada vontade o Prost causar a batida. Por mais que ele negue.

    Fernando Marques

    • Olá Fernando,

      Eu cito o péssimo pit-stop da Red Bull e até falo que o pit-stop da Mercedes também não foi dos melhores, resultando em outro encontro explosivo dos dois.

      ‘Verstappen esperou pacientemente Ricciardo fazer sua parada para realizar seu único pit-stop logo em seguida, mas quando essa movimentação aconteceu, a Red Bull, equipe mais rápida da F1, fez um péssimo pit-stop.’
      ‘Hamilton parou logo em seguida e mesmo não sendo um pit-stop perfeito da Mercedes, o inglês voltou entre Norris e Verstappen na entrada da apertada curva um.’

  2. MarcioD disse:

    E o problema de Max e Lewis se deu numa chicane….Chicanes são antiautomobilisticas, acabam tirando o brilho da maioria das disputas. Geralmente são “remendos”, “improvisos” no traçado original com o fim de se promover diminuição de velocidade visando à maior segurança. Só que por causa da mudança brusca de direção e do estreitamento acabam levando os carros à grande redução de velocidade, através de freadas fortes e mudança de direção, que aliados ao pouco espaço resultam historicamente em todo tipo de problemas como batidas, fechadas e saídas de pista. Um caso emblemático foi Senna x Prost em Suzuka 89. Este de ontem também vai ficar para a historia. Ai se gera todo tipo de controvérsia e discussão sobre quem seria o culpado. E há soluções mais criativas para a promoção de redução de velocidade do que as chicanes. Há não muito tempo atrás falaram que iam suavizar e alargar essa chicane depois da reta principal de Monza. Infelizmente ficou na promessa. Até 1971 correram sem chicanes em Monza, corrida essa por sinal com um final sensacional.

    • Fernando marques disse:

      Oi JC,

      Realmente não me expressei como queria … Mas minha intenção foi de dizer que os pit-stops ruins da RBR e Mercedes que foram os reais causadores do acidente … E não os pilotos …

      Fernando Marques

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