Os Milagres de Monza

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O "Milagre de Monza" voltou a acontecer esse ano, e traz muitos caminhos que poderemos ver nessa reta final de 2012.

Em 1988, a McLaren dominava a temporada de modo nunca dantes visto: até chegar no GP da Itália, haviam sido disputadas 11 provas e todas foram vencidas pela equipe inglesa.

A Ferrari vivia uma fase muito conturbada, ainda tentando se reencontrar depois de temporadas oscilantes no pós-1979. E além disso, a morte de Enzo Ferrari, um mês antes, deixava a torcida ferrarista ainda mais sedenta por vitória.

Tudo caminhava tranquilo para a 12ª vitória seguida da McLaren quando seus dois pilotos abandonaram e abriram caminho para a dupla da Ferrari triunfar.

A lembrança desse fato, conhecido como “O Milagre de Monza”, acontece muito mais do que pelo “aniversário” da data (amanhã completará 24 anos): o milagre voltou a acontecer esse ano – com menos intensidade e simbolismo, claro – e traz muitos caminhos que poderemos ver nessa reta final de 2012.

A primeira manifestação de algo miraculoso veio com o abandono de Jenson Button, pois tudo indicava uma dobradinha mais que tranquila da McLaren. Mas o abandono duplo dos pilotos da Red Bull aumentou a diferença que separava Alonso de Vettel.

Além disso, foi a quebra de uma sequência de nada menos que 33 Grandes Prêmios na zona de pontos (marca dividida com a Ferrari, que teve ao menos um de seus pilotos terminando nos pontos entre 2003 e 2005).

Desde Brasil-2010 que pelo menos um dos rubrotaurinos pontuava. A última corrida sem a presença de ambos havia sido o GP da Coreia do Sul daquele ano, com uma quebra de motor de Vettel e um acidente de Webber.

E agora, quando tudo parecia perdido para a Ferrari – Vettel foi segundo na Bélgica com Alonso abandonando, e partiu 5 posições à frente do espanhol em Monza –,  eis que um “milagre” aconteceu.

Foi uma grande corrida de Alonso, muito semelhante àquela que havia feito em 2006, nessa mesma pista, partindo da mesma décima posição e chegando ao terceiro lugar. Lá, porém, o motor quebrou deixando-o na mão nas voltas finais e vendo Schumacher vencer para se aposentar triunfalmente.

Era outra versão do “milagre de monza”, daquela vez com o espanhol sofrendo seus efeitos negativamente.

No Facebook estamos promovendo uma enquete que permanecerá no ar até que a decisão do mundial de pilotos cada vez mais vá se afunilando.

2 a cada 3 votantes apostaram em Fernando Alonso para o título mundial. O “milagre de Monza” certamente reforça essa opinião.

Três pilotos estão praticamente empatados na classificação (Lewis Hamilton, Kimi Räikkonen e Sebastian Vettel)  e um quarto (Mark Webber) está muito próximo. Kimi, por conta do carro – até agora não venceu corridas e só está lutando na ponta por conta de sua regularidade impressionante -, e Webber, por não ser um piloto tão combativo e ainda dividir  a equipe com Vettel, a meu ver podem ser descartados.

Sobram Vettel e Hamilton. A Red Bull parece ter dado uma grande estagnada enquanto que a McLaren se confirma como o carro do momento. A corrida do inglês hoje foi irretocável, praticamente perfeita.

No entanto, com provas em circuito de rua por vir, e uma vantagem de 37 pontos para Alonso com 175 em jogo, vejo como sendo muito difícil de o espanhol perder o campeonato.

Uma outra manifestação do milagre de Monza foi a aparente melhora de Massa, que pode ser muito benéfica para o espanhol, caso se confirme. Durante a semana, Felipe havia dado entrevista dizendo que precisava mesmo melhorar era nos treinos e que boa parte dos problemas estariam solucionados.

Coincidência ou não, essa foi a primeira vez no ano – e a primeira desde a Coreia, em 2011 – em que Massa largou em uma posição melhor que o espanhol, e seu desempenho durante a corrida foi bastante próximo.

Obviamente, houve muitas críticas à aparente ordem da Ferrari, mas é difícil imaginar que Alonso não superasse Massa na corrida em condições normais, e além disso trata-se de um “jogo de equipe” quase que impossível de ser criticado.

Afinal, um piloto é líder do mundial e o outro é apenas o décimo colocado, com menos pontos que Grosejan e Perez. é uma situação bastante distinta do que aconteceu na Alemanha, em 2010, quando era desnecessária a ordem para a inversão de posições.

Aliás, o caso deste GP foi tão particular que o próprio Galvão Bueno não quis se ater muito a criticá-lo.

Mais um momento importante do GP, e que foi o prenúncio do milagre de Monza, foi a manobra de Vettel para se defender de Alonso.

Todas as fechadas, ataques podem ter pelo menos duas interpretações: a primeira, sob a ótica mais romântica e mais “pura” dos fãs de automobilismo, é que nas melhores épocas aconteciam coisas muito mais pesadas do que essa sem haver sanções: o que seria de um Gilles Villeneuve, hoje? Suspenso a cada treino livre!

A outra vem da ótica atual das punições  atuais: por muito menos viu-se pilotos serem penalizados, portanto Vettel, sim, merecia a punição.

Já durante a transmissão foi relembrada a manobra de Alonso para se defender de Vettel no ano passado, quando o alemão é que “pisou na grama”, e Fernando não foi punido.

O video abaixo mostra as duas manobras lado a lado:

httpv://youtu.be/6ejUFPjaVQQ

Creio que a diferença fundamental foi o momento em que o piloto que estava à frente “fecha a porta”. Vettel fechou-a mais cedo, ainda na curva, não dando opção para Alonso. aos 35 segundos do video fica bastante clara essa diferença. Ainda, de acordo com a Ferrari, o carro de Alonso sofreu alguns danos.

Também causou alguma dúvida o choque entre Bruno Senna e Paul di Resta. Bruno já havia sido abalroado por Nico Rosberg na chicane ao final da reta, mas aquele era um caso clássico onde “dois corpos não podem ocupar o emsmo lugar no espaço”.

Já a situação com o escocês me faz ficar ao lado do brasileiro. Houve uma mudança de leve na trajetória de Di Resta, fazendo com que Bruno quase perdesse o controle do carro. O piloto da Williams protestou quanto à não-punição do representante da Force India.

Sobrou ainda um pontinho para Senna, que agora chega a 25 pontos e esteve entre os 10 primeiros em 5 das últimas 8 provas. Maldonado, seu companheiro de equipe, não pontuou mais desde que obteve sua vitória na Espanha.

Muitos vinham dando como certa sua saída da Williams ano que vem, mas acredito que Bruno Senna vá ficar. Até mesmo por falta de opção.

Para finalizar essa coluna, não posso deixar de citar o grande milagre de Monza ocorrido há exatos 40 anos: em 1972, Emerson Fittipaldi era campeão mundial pela primeira vez. O Brasil era colocado definitivamente no mapa do automobilismo. Algo impensável pouco mais de dois anos antes!

A página do GPTotal no Facebook trará hoje uma homenagem a essa data tão especial, postando fotos de Emerson naquela conquista ímpar. Aguarde!

Tenham todos uma ótima semana.

Marcel Pilatti

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

7 Comments

  1. calhiandro disse:

    Acho que a ferrari não esta morta, a pole seria de Alonso em monza não fosse uma quebra da barra de torção do carro, dominou o q1 e o q2, então para cingapura vai ser uma grande batalha, mas a ferrari vai estar na briga pela pole position sim. Alonso faz grande diferença lá.

    rumo ao triiiiiiiii

  2. Mauro Santana disse:

    Depois que foi alterado a pontuação, com o vencedor levando 25 pontos(só sei este de cabeça), acho que nunca mais iremos ver uma decisão de titulo por 1 ponto entre os pretendentes ao título.

    Uma pena…

  3. Mauro Santana disse:

    Corrida fantástica!!!!

    E aquele GP de 1988 foi muito bom!

    Monza é mesmo diferente, um verdadeiro templo sagrado!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  4. Rafael Carvalho disse:

    Dois fatos que me chamaram a atenção em Monza foi a extrategia da Sauber com o Perez e o acidente do Vergne rodando sozinho em plena reta pela quebra da suspensão traseira! Imaginem se esta suspensão quebrasse na Ascari ou na Parabolica? As consequencias seriam bem maiores!

  5. Fernando Marques disse:

    Foi uma bela corrida e a vitoria de Hamilton incontestavel pois foi soberano durante todo o fim de semana.
    O Sergio Perez merece destaque pela sua velocidade na parte final da corrida … era quase 1,5 segundos mais rapido que todo mundo …
    O Alonso foi brilhante mas tem vezes que este negocio do polticamente correto enche o saco … o incidente com Vettel a meu ver não merecia punição … sei lá acho que puxaram o saco da Ferrari em Monza … hehehehe
    O Felipe Massa fez uma boa corrida mas nas atuais condições de campeonato ele jamais chegará na frente de Alonso se não houver um adversario entre eles … nada contra ao jogo de equipe mas não sei por que isto está me fazendo a torcer pelo Hamilton e não o Alonso como campeão este ano …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  6. Lucas disse:

    Acho que o mais bacana desse fim de semana foi o fato de haver um certo clima de “justiça sendo feita” após a barbeiragem do Grosjean em Spa: O pódio em Monza foi composto exatamente pelos prejudicados na Bélgica.

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