Paixão e Determinação – O Brasil na F1 – Parte 1

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A Fórmula 1 chega aos 70 anos de idade. Ao longo desses anos muitas histórias aconteceram. Para quem gosta de buscar e pesquisar, o solo é bem fértil.

O acervo e acesso disponíveis nos dias de hoje permite que qualquer fã possa assumir o papel de historiador e estudar o passado em seus vários aspectos: esportivo, carros, pilotos, corridas, feitos, conquistas, derrotas, ideias e cotidiano que marcaram a Fórmula 1 até aqui.

É um trabalho que pode usar como base, principalmente, a pesquisa de reportagens, impressas ou na internet, vídeos, filmes, objetos e fotos, onde é possível selecionar e relacionar muitos dados e repassar novamente acontecimentos, podendo ser para o simples deleite ou para rememorar algo que ficou marcado. O importante é manter a chama acesa para os fatos e analisar sua importância e seu significado para a compreensão do encadeamento dos acontecimentos, ou apenas para ter um passatempo legal para curtir.

A largada da prova inicial oficial da F1 foi dada em 13 de maio de 1950, no autódromo de Silverstone, palco da disputa do Grande Prêmio da Inglaterra. Até esse início de 2020, tivemos a disputa de 1.018 Grandes Prêmios em 70 temporadas e de antemão fica a nossa torcida para que outras tantas corridas venham pela frente.

Outro fato marcante também vai acontecer em 2020, mais precisamente em 18 julho, data que vai marcar os 50 anos da estreia de Emerson Fittipaldi no GP da Inglaterra em Brands Hatch

Ele não foi o pioneiro dos brasileiros a disputar provas oficiais do campeonato. A primazia coube a Chico Landi, que em 16 de setembro de 1951 com uma Ferrari particular, participou do GP de Itália, largando em 16º e abandonando com a transmissão quebrada logo na primeira volta

Em 1952, Chico Landi criou a Escuderia Bandeirantes, com três Maserati A6GCM, para disputar grandes prêmios na Europa. Outro brasileiro, Gino Bianco acompanhou-o para ser um dos pilotos. Os carros dos brasileiros eram pintados de amarelo e tinham rodas verdes – era a pintura nacional exigida pela FIA. Com poucos recursos financeiros, a equipe inscreveu-se em apenas quatro GPs, Itália, Holanda, Alemanha e Inglaterra, às vezes com apenas um dos carros. O melhor resultado foi o 8º lugar de Landi em Monza.

Sem ter como bancar os custos, Chico fecha a equipe e volta na temporada de 1953 como piloto semioficial da Maserati. Ele participa de apenas duas provas, Itália e Suíça. Mesmo reconhecido como um acertador nato e piloto de muitos recursos, Chico não consegue apoio financeiro e participar de forma regular no campeonato. Só retorna em 1956, no GP da Argentina, que acaba sendo sua última participação, conquistando um honroso quarto lugar, a primeira conquista de pontos de um brasileiro na Fórmula 1.

Além destes seis GPs de Chico, houve mais cinco participações de pilotos brasileiros na F1. Gino Bianco participou de duas provas e em mais duas ele dividiu o cockpit com Chico, lembrando que nos anos 50 isso era permitido. Já o carioca Fritz d’Orey fez três participações no campeonato de 1959. Havia talento e determinação por parte desses três pilotos, mas faltavam recursos financeiros – e olha que, nos anos 50, não eram necessários nem de longe os valores que vemos atualmente.

A estreia de Emerson em 1970 marca a segunda tentativa de brasileiros na Fórmula 1. Emerson viaja em 1969, já falamos por aqui sobre essa saga, vale a pesquisa em nossas antigas colunas.

Dessa vez, a história seria bem diferente. Depois uma estreia promissora em Brands Hatch, já na prova seguinte, na Alemanha, Emerson no velho Lotus 49 termina em quarto lugar, marcando seus primeiros pontos na Fórmula 1.

Na sequência, ele disputa a corrida na Áustria e na prova seguinte, em Monza, Colin Chapman dá ao brasileiro o famoso Lotus 72, o carro mais avançado da época. No treino da sexta, Emerson bate e fica sem o carro e, no sábado, seu companheiro e postulante ao título daquele ano Jochen Rindt sofre acidente fatal. A Lotus não disputa a prova. Foram dias sombrios e que poderiam comprometer o futuro de Emerson caso a equipe não seguisse em frente.

A Lotus só retorna ao campeonato na prova de Watkins Glen, nos Estados Unidos, com Emerson no posto de primeiro piloto, uma aposta que muita gente na época considerou arriscada.

A prova é disputada em 4 de outubro e, para espanto de muitos, Emerson consegue a vitória. Era a sua quarta participação numa prova de F1. Com o resultado da prova, o título do campeonato de pilotos estava assegurado de forma póstuma a Jochen Rindt.

Na décima quinta participação de um brasileiro, uma vitória do Brasil passava a constar na lista de países vencedores em provas oficiais. A aposta de Chapman havia vingado e Emerson seguiu a partir de 1971 como primeiro piloto da escuderia Lotus.

A temporada de 1971 não repetiu os resultados do ano anterior e Emerson terminou o campeonato na sexta posição com 16 pontos, tendo na corrida da Áustria seu melhor resultado, um segundo lugar. Ele fez mais dois pódios – terceiro na França e Inglaterra – e ficou em quinto em Monaco.

Tudo muda em 1972. Com um carro refinado e uma curva de aprendizado que espanta muitas pessoas, Emerson conquista cinco vitórias e se consagra campeão mundial de Fórmula 1, o mais jovem da categoria, recorde só batido por Fernando Alonso em 2005.

Essa é uma etapa que compõe um primeiro capítulo numa história que levaria pilotos brasileiros a conquistas marcantes.

Vamos até a disputa do GP de Abu Dhabi em 26 de novembro de 2017, prova disputada por Felipe Massa, a última que teve a presença de um brasileiro no campeonato de F1. Uma pena que estejamos passando por essa entressafra.

Até aqui em números os brasileiros conquistaram 101 vitórias, 8 títulos de pilotos, 31 pilotos brasileiros disputaram as provas da F1 entre 1951 e 2017. Pouquíssimos países tem números tão expressivos.

Abaixo o quadro com os demais 12 brasileiros que foram inscritos e largaram em provas oficiais, inclusive Luiz Razia, que mesmo inscrito em duas provas, não largou por ser terceiro piloto.

Os títulos de pilotos: 1972 e 1974: Emerson Fittipaldi; 1981, 1983 e 1987: Nelson Piquet; 1988, 1990 e 1991: Ayrton Senna.

Os 31 brasileiros participaram de 791 GP. Além das 101 vitórias, conquistaram 126 pole positions, 88 melhores voltas, 293 podiums, 3.421 pontos, 6.880 voltas na liderança. Todos os pilotos somados disputaram 89.414 voltas em 430.275 kms percorridos. Fazendo a comparação, uma volta em torno da terra tem aproximadamente 39.840 kms, ou seja, em termos de disputa o feito dos brasileiros foi o equivalente a quase 11 voltas em torno da terra.

Nossos três campeões entram fácil em listas mundo afora quando se quer saber quem foram os grandes pilotos da Fórmula 1.

O Brasil também contou com uma equipe disputando o campeonato, por iniciativa dos irmãos Fittipaldi. A Fittipaldi-Copersucar disputou 103 provas e obteve três podiums. Seu melhor resultado foi um segundo lugar no GP Brasil de 1978, disputado em Jacarepaguá. Em 1980, Emerson consegue um terceiro lugar em Long Beach, no dia da primeira vitória de Nelson Piquet. Também em 1980, Keke Rosberg consegue com um Fittipaldi um terceiro lugar na Argentina.

Pela ótica histórica, podemos avaliar essa fase entre 1970 até 2017 já com uma distância correta no tempo que nos dê a isenção necessária para descrever todos os feitos com serenidade e justiça a essa saga marcante e cheia de conquistas, percalços, feitos notáveis, outros nem tanto, mas que sem dúvida é indelével na história.

A partir de 1970, os brasileiros foram protagonistas em muitos episódios históricos e fizeram valer uma boa dose de Determinação e Paixão pelo esporte.

O Brasil tem a melhor participação no campeonato de Fórmula 1 para um país fora do continente europeu, considerado o berço natural da categoria. E tudo começa com essa força em 1970, 50 anos atrás.

É sobre esses resultados e feitos que vamos esmiuçar um pouco mais em nossas próximas colunas

Até breve

Mário

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

3 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Excelente tema, Salu!

    Grande abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Fernando marques disse:

    Mário,

    O amigo está diante de um tema espetacular e te ho certeza que as próximas partes sejam escritas com muito carinho.
    Já disse isso aqui, como amante do automobilismo, tenho lembranças memoráveis quando acompanhava tudo pelas revistas 4 Rodas e Auto Esporte. Mesmo depois que as corridas passaram a ser televisionada, meu referencial sempre foram estás duas revistas mensais que o banqueiro sempre separava pra mim assim que chegava nas bancas de jornais.
    Relembrar o Brasil na Fórmula 1, apesar da entressafra, vai ser por demais prazeroso.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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