Para quarentões?

A contribuição de Pace
05/03/2012
Bandeirantes
09/03/2012

Acompanhando a Daytona 500, testemunhei Juan Pablo Montoya provocando dois acontecimentos muito interessantes. O primeiro deles foi a inédita proeza de bater numa caminhonete-turbina, que explodiu numa enorme bola de fogo amarelo, e o Chevrolet de Montoya pareceu ter sido mastigado (e posteriormente cuspido) pelo Godzilla.

 

Ô sinuca! Praticamente tudo o que era necessário dizer sobre os assuntos quentes do começo deste 2012 já foi dito. Para essa minha primeira coluna inédita, sobrariam apenas pitacos esparsos, que não preenchem uma coluna inteira em um só tema da atualidade.

Claro, minha primeira escolha temática era escrever sobre a pré-temporada da F1. Então… bem… só posso relatar minha vontade de encher o Roberto Agresti de cascudos, à moda Piquet-Salazar. Ele simplesmente descreveu tudo o que precisamos saber. Gente, não sobrou nada pra acrescentar, opinar ou contrapontear. A mim, só sobrou tirar o chapéu e assinar embaixo. E de cara já tive que descartar um assunto.

O Marcel Pillati também falou de pré-temporada, apenas para sepultar minha ideia inicial. Manuel Blanco falou do boêmio Räikkönen. Márcio Madeira, Flaviz Guerra e Tiago Toricelli falaram do Rubinho. Eu até poderia fazer uma coluna técnica sobre a nova regra que causou aquela aberração nos bicos dos carros. Mas basta ver a didática matéria do Globo Esporte para entender que, por questões de segurança, modificaram a altura máxima do desenho. E todos ficaram horrorosos. A única exceção dentre os times competitivos é a McLaren, que desde já ganha o título de carro mais bonito do ano. Por WO.

A única consideração a fazer (algo que eu não vi nos noticiários) é que um desenho de aparência tão contraproducente (um degrau grotesco bem no meio do nariz vai contra qualquer princípio de escoamento do ar dinâmico) mostra o quanto os projetistas estão preocupados em priorizar o fluxo de ar direcionado para baixo do carro. Nesta briga para manter o nariz mais elevado possível, parece que a lógica Chapman em preocupar-se mais com o térreo do que com o primeiro andar vale até hoje. Mas é claro que Colin acharia o degrau uma solução pouco elegante…

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Fui buscar na Nascar algo “inédito” para discorrer. Acompanhando a Daytona 500, adiada para a noite da segunda-feira (27) por causa das chuvas, testemunhei Juan Pablo Montoya se reinventando e provocando dois acontecimentos muito interessantes.

O primeiro deles foi a inédita proeza de bater numa caminhonete-turbina, daquelas grandonas que limpam ou secam a pista, durante bandeira amarela. Pior que nem foi culpa do parrudo colombiano, traído por uma avaria mecânica logo após sua saída dos boxes, que provocou o descontrole. A turbina explodiu numa enorme bola de fogo amarelo, e o Chevrolet vermelho de Montoya pareceu ter sido mastigado (e posteriormente cuspido, claro) pelo Godzilla.

O jet-fuel armazenado na caminhonete, num tanque de 750 litros, começou a escorrer pela pista inclinada e logo pegou fogo pra valer, exigindo trabalho de bombeiros e deixando um buraco carbonizado na pista. Os reparos, que exigiram lavagem com sabão e posterior recapeamento, levaram duas horas.

httpv://youtu.be/tB3IcGqe50k

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Durante esse tempo, o segundo e mais importante acontecimento. Com carros parados e pilotos batendo papo, Brad Keselowski, da Penske, pegou seu iPhone, que estava dentro de seu Dodge – ele disse que sempre carrega um celular para tranquilizar a família em caso de acidente. Só que desta vez, começou a twittar sobre os acontecimentos da pista. E tornou-se o primeiro piloto da história a tirar fotos e usar redes sociais durante uma corrida. Brad simplesmente atraiu para si todas as atenções com o celular, e foi protagonista de uma rodinha de pilotos, ao mostrar vídeos do que Montoya havia acabado de aprontar.

De respeitáveis 60 mil seguidores no Twitter, o piloto pulou para inacreditáveis 200 mil até o fim da corrida. Os últimos números dele eram de 241 mil, com óbvio viés de alta. Surgiram rumores que a Nascar podia puxar-lhe a orelha, já que estava gerando conteúdo supostamente não autorizado pela categoria ou pela rede de televisão que transmitia o evento, a republicana Fox.

httpv://youtu.be/34SWyA2z8JM

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Keselowski não foi punido. Eu tinha certeza de que não seria. Simplesmente porque foi um sucesso estrondoso, resultado tão exaltado pela cultura norte-americana. Foi o pontapé inicial para atrair mais e mais fãs para Nascar. De fato, as categorias norte-americanas estão anos-luz à frente nas questões de aproximar-se de seus fãs via internet. Os próprios pilotos contribuem maciçamente com isso, mantendo páginas de Facebook sempre atualizadas e twittando o tempo todo. Várias das atualizações sobre a transferência de Rubinho para a Indy tiveram como fonte oficial seu próprio Twitter e também de seu brother Tony Kanaan.

Está em marcha, e fervilhante, a transformação midiática que tanto estudam os pesquisadores de comunicação e cultura como eu. E acontecendo por todos os cantos. Até no esporte a motor.

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E a F1? Em palavras bem diretas, Bernie Ecclestone se borra de medo da internet. Simplesmente porque ele tem controle sobre o que as emissoras de TV fazem, mas não tem controle sobre o que usuários em rede fazem. Tio Bernie é patologicamente obcecado pelo poder de controlar as situações. Mas não há o que controle a internet. As revoltas contra projetos norte-americanos restritivos como o SOPA são uma prova de que o terreno é espinhoso. Nem Bernie Ecclestone bota cabresto na internet e ele mija pelo dedão do pé só de pensar nisso.

É verdade que Bernie faz um cascalho pela web, já que tem a loja oficial da F1 e serviços de hospedagem e ingressos para todas as etapas do calendário. E eu reverencio o sistema de Live Timing de cronometragem, sensacional e incomparável. É uma ferramenta que transforma o modo de se assistir corridas. Para quem nunca experimentou, recomendo fazer cadastro grátis no endereço www.formula1.com/live_timing e ficar com um computador ligado na hora dos treinos e das corridas, juntamente com as imagens da TV.

Mas, cadê o Twitter oficial da F1? E cadê a página oficial no Facebook? Cadê os álbuns de fotos no Flickr? Simplesmente não existem. Bernie monta um verdadeiro Tribunal do Santo Ofício, mandando pra fogueira do “Delete” cada vídeo que encontra no Youtube, ao invés de manter um canal oficial, como a Indy faz. Vettel ou Alonso brincando com smartphones antes da largada? O velho tem um faniquito se isso acontecer.

A atual conjuntura comunicacional dos esportes passa OBRIGATORIAMENTE pela internet. Houve um tempo em que a responsável por captar fãs para o esporte a motor era a televisão. Hoje, essa tarefa tem que ser OBRIGATORIAMENTE dividida com a internet.

Se a Fórmula 1 ficar apenas na televisão, corre o risco de envelhecer como produto e não atrair as gerações mais novas, de “naturalizados digitais”, como eu, e principalmente dos “nativos digitais”, os mais novos. São públicos vitais para a própria sobrevivência sustentável da categoria. A tendência de que a F1 seja assistida por um público acima dos 40 anos brevemente, com já alertou o leitor Sandro ao comentar o julgamento de Tilke, é algo que faz cada vez mais sentido.

Graças a Bernie, fico mais velho quando assisto F1. Mesmo com o moderno Live Timing sempre aberto num tecnológico laptop, recebendo sinal wireless em real time, aos meus 27 anos, viro um quarentão.

Aquele abraço!
Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

4 Comments

  1. Lucas R disse:

    Depois que eu descobri o Live Timing, há cinco anos, é que eu me dei conta de quantos detalhes das corridas eu já perdi sem ele.

    Mas o que me chamou a atenção foi essa versão “anabolizada” do Live Timing voltada para celulares iPhone e Android: http://www.formula1.com/mobile_services/live_timing.html
    Parece ser fantástica. Só não gostei do “precinho”: $ 28.99 a versão para iPhone e R$ 55,45 a versão para Android. Felizmente há uma versão básica, gratuita, mas não consegui descobrir o que ela tem a menos que na versão Premium.

    Gostei da página de vídeos que há no site oficial da Formula 1. Pena que a cada temporada os vídeos mais antigos são retirados para dar lugar aos mais novos. Seria muito bacana encontrar por lá os “Race Edits” de todas as temporadas da categoria, principalmente as mais antigas.

  2. Artur Cardoso disse:

    Há dois anos só assisto corrida com Live Timing e Twitter abertos, é divertido “interagir” um pouco com outros espectadores.
    Minha esposa não acompanha e meus filhos preferem assistir Pica-Pau…

  3. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    como marketing creio que o Twiter, facebook, orkut e sei la mais o que é uma boa … mas eu não tenho e nem uso nada disso pois não gosto …

    Fernando Marques
    Niterói

  4. Rolemberg Filho disse:

    perfeito…

    até sou um exemplo desta briga entre o controle extremo manual e a utilização maciça da tecnologia para um fim benéfico.

    confesso que tentei o twitter, mas não me adaptei, assim como não me adaptei ao facebook e assim como abandonei o orkut..

    sinceramente… não sinto falta!

    e olha que sou um recém trintão!!! e simplesmente mergulhado na tecnologia !!!
    =)

    abs a todos!

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