Penta de campeão

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Ok, o trocadilho é péssimo, mas a mensagem é válida. Sebastian Vettel, vencedor do GP de Mônaco e líder isolado do campeonato mundial em 2017, faz até aqui campanha digna de um pentacampeonato.

O leitor do GPtotal sabe bem que este foi um feito alcançado por apenas dois seres humanos até hoje. O primeiro deles, o maestro Juan Manuel Fangio, fez em 1957 sua melhor temporada, com direito à atuação mais assustadora que este planeta já viu, justamente em Nürburgring. Minha interpretação, inclusive, é de que a carreira do argentino acabou justamente ali, no dia em que tocou a perfeição assumindo riscos como colocar duas rodas na grama antes de saltar em determinada curva, sabendo que iria cruzar a pista no ar e aterrisar no extremo oposto da linha asfáltica, também com duas rodas na grama. Fangio sabia que nem mesmo ele poderia fazer aquilo de novo, e parece coerente que não tenha voltado ao degrau mais alto do pódio nas quatro corridas que disputou a seguir, antes de decidir pendurar o capacete. Os cinco títulos do foram conquistados por quatro equipes diferentes, e no caminho para o pentacampeonato ele teve que derrotar conjuntos fortíssimos, como as Vanwall de Moss e Brooks.

Schumacher, por sua vez, também fez excelente temporada em 2002, quando igualou o recorde absoluto de número de títulos. Exibindo uma regularidade poucas vezes vista, ele foi ao pódio em todas as 17 corridas do ano, vencendo nada menos que 11 delas. Mais que isso: à exceção da Malásia, Schummy foi primeiro ou segundo em todas as outras 16 corridas do ano, para somar o dobro de pontos do segundo colocado e levantar o caneco com enorme antecedência, na 11ª etapa, disputada no dia 21 de julho!

A força de tais números é providencial, dada a grande quantidade de ressalvas que devem e precisam ser feitas à sua campanha. O alemão, afinal, tinha decididamente o melhor carro do grid, e guiava para uma equipe de um carro só, como ficou especialmente claro na Áustria, com a famosa inversão de posições na reta de chegada, ou a utilização de carros diferentes para Barrichello e Schumacher justamente no GP do Brasil. A resistência, muito mais forte em treinos do que em corridas, coube às Williams de seu irmão Ralf Schumacher e seu nêmesis Juan Pablo Montoya, e em menor grau às McLarens de Coulthard e do jovem Kimi Räikkönen. Sabemos que questionar a força da concorrência é sempre um paradoxo, uma vez que o melhor conjunto também tem méritos por não ter competidores à altura. Tudo isso, no entanto, torna ainda mais lamentável que Barrichello tenha sido tão desfavorecido, ao longo de uma campanha que nem de longe precisaria disso para conquistar o título mundial.

E então chegamos a 2017, quando o tetracampeão Sebastian Vettel, após três anos de flutuações e algum desequilíbrio emocional, reencontra a velha forma e lidera uma Ferrari que nem de longe é a de 2002 contra uma concorrência muito forte, ainda que restrita às Mercedes de Hamilton e Bottas e, em menor grau, à Ferrari ao lado, do agora experiente Kimi Räikkönen. Ao término de seis corridas o líder do campeonato venceu metade delas, e foi segundo em todas as demais, somando 129 dos 150 pontos possíveis. Um desempenho que nem mesmo o mais otimista dos tiffosi ousaria imaginar antes do início da temporada, e que só pode ganhar relevância quando se observa que a diferença de desempenho entre as duas melhores equipes do grid foi sempre mínima, com vantagens pontuais para um lado ou para outro.

É claro que é cedo para supor que Vettel será campeão este ano, restando ainda 14 etapas para a conclusão do mundial. Ainda assim, a robustez de sua campanha até aqui certamente o credencia como um pentacampeão bastante digno, caso consiga se manter no topo da tabela até a bandeirada em Abu Dhabi.

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Não há muito que se dizer sobre a corrida deste domingo.

A partir do momento em que monopolizou a primeira fila, com Räikkönen à frente, a Ferrari só poderia perder a corrida caso um de seus carros fosse superado por Bottas na largada, e o outro viesse a ser superado na única troca de pneus planejada. Nenhum dos dois cenários se concretizou. E, como nenhum dos bólidos vermelhos ficou pelo caminho, a única questão em aberto era saber qual seria a ordem da dobradinha vermelha.

Sendo líder do campeonato, é evidente que a equipe tinha preferências por uma vitória de Vettel, mas ninguém esperava uma ordem direta para a inversão das posições. Kimi acabou parando mais cedo, em resposta às trocas de Verstappen e Bottas, e sua troca foi alguns décimos mais lenta do que de costume. Vettel tinha pista livre à frente, e foi capaz de emendar uma crucial sequência de voltas rápidas que lhe valeram a liderança quando fez sua parada. Dali para a frente, com pneus super macios, o alemão esteve numa classe à parte, e só teve a vitória ameaçada quando o carro de segurança uniu o pelotão e jogou fora a vantagem de 12s que havia estabelecido na liderança.

O motivo da intervenção foi uma batida grotesca totalmente provocada por Jenson Button, naquele que pode ter sido seu último movimento dentro do cockpit de um Fórmula 1. Após um desempenho surpreendentemente bom nos treinos, Jenson acabou sendo punido pela troca de componentes em seu conjunto motriz, e partiu dos boxes. Sua estratégia seria efetuar a troca logo na volta inicial, para alcançar os carros mais lentos e os superar quando estes fossem aos boxes. Infelizmente, para ele, Pascal Wehrlein seguiu os mesmos passos, e daí para a frente sua corrida resumiu-se a seguir o carro mais lento do grid durante longas 57, sem jamais sentir o gostinho de andar no próprio ritmo e ao menos se divertir um pouco. Até que sua paciência acabou, e ele mergulhou num espaço que não existia e acabou jogando o piloto alemão perigosamente contra o guard rail. Instantes antes da largar dos boxes, num momento mágico, Button havia conversado pelo rádio com Fernando Alonso, lá em Indianápolis. E, brincando, prometeu urinar no cockpit. No fim, em vez de fazer o número um, acabou fazendo o número dois.

Falta falar de Hamilton. Sempre desconfortável com seu acerto, o tricampeão do mundo seguiu um caminho infeliz, e jamais conseguiu voltar atrás completamente. Na classificação foi apenas o 13º, prejudicado ainda pelo acidente de Vandoorne nos instantes finais da Q2. Daí para a frente seu fim de semana seria encarado como um esforço para reduzir o prejuízo, e até que ele se saiu muito bem, aproveitando todas as oportunidades de avançar, até alcançar a sétima colocação. Ainda assim, Lewis deixa Monte Carlo com uma desvantagem de 25 pontos em relação a Vettel, e sabe que não pode apresentar apagão semelhante nem tampouco sofrer pane mecânica nas próximas etapas, sob pena de ver a distância crescer para além daquilo que poderia ser tirado no braço.

Outro momento inusitado ao extreme se deu durante a batuta do carro de segurança, quando Lance Stroll buscou justificativas para a batida que nem chegou a acontecer. Algo mais ou menos assim: “olha, estamos andando muito devagar, e eu não consigo aquecer freios e pneus. Se bater, a culpa não vai ser minha!”.

Nada como estar com a confiança em dia, não? Em nosso grupo de WhatsApp, após uma troca ruim, não resisti. “Stroll é ruim até quando está parado!”

Tendo como referência um dos pilotos mais limitados a guiar um F1 nesta década, Massa parece bom mesmo quando não brilha. Em Mônaco, onde a Williams sabia que iria penar, ele fez corrida apagada, visitou os boxes duas vezes, mas ainda assim conseguiu se beneficiar de erros alheios para terminar na 9ª posição e anotar uns pontinhos.

Horas depois de Mônaco tivemos uma vibrante edição das 500 Milhas de Indianápolis, sobre a qual meu irmão Lucas “papai do ano” Giavoni irá escrever na quarta-feira.

Sem invadir sua praia, portanto, me limito a destacar a justiça da vitória de Sato, a solidez no desempenho deste genial Fernando Alonso, e a sorte (de campeão?) de Scott Dixon.

Que fim de semana foi este, para quem ama este esporte!

Forte abraço a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

7 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Grande Márcio!

    Então, minha torcida nesta temporada é pelo Raikkonen, e eu estava bem animado quando ele fez a pole, mas…

    Mas Vettel esta guiando muito este ano, e esta merecendo ser Campeão.

    A respeito dos títulos de Schumacher, na minha opinião, o único título que o alemão teve que suar muito o macacão pra vencer, foi o de 2000, pois 01, 02, 03 e 04 ele praticamente não teve adversários, e, 94 e 95 então, nem falo nada.

    Mas, infelizmente, era a F1 daquela época.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Fernando Marques disse:

    Marcio,

    O GP de Mônaco para ficar bom de ser visto pela TV precisa de um número impar de imprevistos. E neste fim de semana isso só se deu uma vez e nos treinos do Q-3 com o acidente do Vandoorne acabou com a volta rápida do Hamilton. Na corrida não houve imprevistos pois a chuva apenas ameaçou mas nunca caiu. Fora isso as Ferraris pularam na frente e ditaram o ritmo da prova. Por isso a corrida foi sem graça.
    Quem trouxe um pouco de emoção a corrida foi o Daniel Ricciardo que foi esperto e passou pelo Bottas e Verstatppen de uma só vez no sua parada para trocas de pneus. Ele soube dar um tremendo pulo do gato. Já o pulo do Vettel sobre o Raikkonen foi marmelada. Pena do do Ice Man, mas brasileiro que assiste a Formula 1 já está mais do que vacinado e cansado de ver a Ferrari fazer isso …
    Hamilton, para mim decepcionou, foi muito conservador, e esperava ao menos mais agressividade na sua estratégia. Se fosse também poderia dar alguma graça a corrida.
    Resumindo: o GP de Mônaco foi o GP de Mõnaco que na maioria das vezes nos acostumamos ver na Formula 1.
    Quanto ao Massa seu desempenho está a altura da política da Willians para 2017. Ou seja não fede e nem cheira …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Fabiano Bastos das Neves disse:

      Fernando,
      “Acho” que a situação de corrida jamais nos permitirá saber se a troca de posições foi arquitetada ou uma oportunidade aproveitada pela Ferrari. É claro que ela queria trocar as posições e Kimi acabou lhe dando esta oportunidade quando não abriu uma boa distância do 3º colocado.
      Veja, ninguém tinha certeza se os carros seriam mais rápidos com os super novos do que com os ultra usados, o que levou a Ferrari a chamar Kimi assim que Bottas entrou para a troca, o que deixou a pista livre para Vettel voar.
      Caso a Ferrari tivesse chamado Vettel para a troca de pneus quando estava virando mais rápido que os adversários que já haviam feito a troca, todos estariam criticando a equipe por ter tomado uma decisão ruim, que provavelmente jogaria Vettel para a 3ª posição na corrida.
      Acertadamente a Ferrari só chamou Vettel para a troca quando os adversários diretos começaram a virar tempos iguais ou melhores que os dele.
      Acho que antes da parada Kimi estava virando tempos ruins para economizar pneus, pois a Pirelli disse que daria para fazer a corrida inteira com os ultra. Tivesse ficado na pista após a parada do Bottas e pisado fundo teria aberto tanto quanto Vettel, o problema é que a Ferrari não sabia quais tempos Bottas poderia virar após a parada e teve que reagir a sua troca para evitar uma perda de posição. Pelas circunstâncias Vettel teve tempo de ler melhor a situação.
      A coisa poderia ter sido diferente se Kimi tivesse ditado um ritmo ainda mais lento, que tivesse mantido Bottas em uma zona onde caso parasse voltaria atrás de carros mais lentos, provavelmente o piloto da Mercedes teria disparado a sequência de trocas mais tarde, tirando de Vettel a oportunidade de aproveitar os ultra macios ainda em bom estado. Mas analisar os erros agora é muito mais fácil né.
      Emfim, a Ferrari queria a inversão, mas acho que ela só ocorreu porque as circunstâncias da corrida deram a oportunidade certa para a equipe.

      • Fernando Marques disse:

        Caro Fabiano,

        sua tese faz sentido e de certa forma retrata o que aconteceu na corrida … só que o passado da Ferrari a condena … alguma coisa estranha aconteceu e vou dizer por que … levando em consideração as informações que o GB e RL deram na transmissão da corrida onde os carros estavam levando em média 25 segundos de tempo no pit e que a vantagem de Vettel sobre Kimi (após o pit do Ice) era de 20 segundos na volta anterior a que Vettel entrou para a sua troca de pneus, como o Alemão ganhou estes 5 segundos numa só volta? Se o amigo tiver explicação …

        Fernando MArques

        • Fabiano Bastos das Neves disse:

          Simples Fernando,
          A galera da Globo não sabe fazer conta.
          25 segundos é o tempo que os carros levavam para entrar, trocar os pneus e sair dos boxes. Cronometrado da entrada até a saída dos boxes. O problema é que a equipe da TV sempre esquece de descontar o tempo que os carros que estão na pista levam para percorrer a mesma distância (da entrada até a saída dos boxes, só que pela pista).
          Já havia notado isto há muito tempo, mas apenas nesta corrida, por conta da troca de posição na liderança, o RL percebeu. Ele até tentou explicar isto durante a transmissão, mas acho que não foi bem sucedido.

        • Fabiano Bastos das Neves disse:

          Ah, continuo acreditando que Kimi foi vítima das circunstâncias. Ironicamente, se a Mercedes de Bottas gastasse menos pneus, provavelmente ele teria ganho a corrida. A troca prematura do Finlandês mais novo acabou determinando a perda de posição do mais velho e também do “Holandês Voador”.

  3. Rubergil Jr. disse:

    Marcio, só vou comentar aqui por consideração a você, hehe…

    Não vi o GP de Monaco, e acho que não perdi muita coisa, sua (boa, como sempre) coluna me deixou a par de tudo o que se passou lá.

    Meu foco foi na Indy. Portanto, comentarei na coluna do Lucas. Espero que compreenda.

    Abraço!

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