Perguntas e respostas

Apostas no mercado asiático
10/04/2015
Humaniza F1
15/04/2015

Tanto na Fórmula 1 quanto na MotoGP tivemos muitas perguntas e respostas no último fim de semana.

Eduardo Correa nos ensina em seu livro Fórmula 1: Pela Glória e Pela Pátria que campeonatos estão sempre respondendo a perguntas fundamentais. Em escala menor, seria possível argumentar que o mesmo acontece em relação às corridas, ainda que em umas mais que em outras. Era, definitivamente, o caso deste GP da China na Fórmula 1, e também da MotoGP em Austin, embora dentro de contextos razoavelmente distintos.

Começando pelas quatro rodas, a grande pergunta lançada pela surpreendente – e muito consistente – vitória do conjunto Vettel-Ferrari na Malásia era: “o desempenho vermelho foi fruto de circunstâncias muito específicas, ou é possível ter esperança de novas batalhas diretas ao longo da temporada?”

Desde o início dos treinos a resposta começou a ser dada de diferentes formas. A Mercedes nitidamente levou a sério a ameaça vermelha, elevando seu comprometimento a um novo patamar. A opção por poupar pneus durante a classificação – não apenas fechando a Q1 com pneus médios, mas também controlando o número de voltas e até mesmo o ritmo imposto na Q2 – revelou a consciência de que a administração do desgaste tornou-se crucial para bater a Ferrari, uma vez que em condições de volta lançada os prateados ainda dispõem de vantagem superior a um segundo numa pista grande como a de Xangai, com a volta sendo percorrida em pouco mais de 1min35s.

A combinação desses dois fatores sugere que o risco assumido na estratégia malaia, quando as flechas prateadas anteciparam suas paradas em função da entrada do safety car, subestimou a força da concorrência e representou um erro decisivo aos rumos do GP. Na China, e certamente nas próximas corridas, a Mercedes tentará sempre acompanhar a estratégia ferrarista, garantindo-se na velocidade superior.

O plano para Lewis Hamilton era simples: confirmar a pole position com uma boa largada, abrir 1s nas duas primeiras voltas de contar com a turbulência para fazer o resto, mantendo Rosberg e as Ferraris nos retrovisores. Se restasse qualquer dúvida a respeito desta estratégia, o posicionamento do bicampeão no grid de largada, seu carro extremamente angulado rumo ao companheiro de equipe, reforçava a mensagem com clareza solar.

E assim foi feito, sem exageros ou sustos. Focado em fazer durar seus pneus tanto quanto os das Ferraris, Hamilton não se importou com a aproximação de Rosberg, Vettel e Kimi no 2º stint quando, vale lembrar, ele e Rosberg contavam ainda com a vantagem de usar pneus macios novos, poupados durante a Q1. Tudo estava sob controle e, quando os pneus médios foram calçados, o bicampeão finalmente relaxou e mostrou que a reserva técnica estava lá o tempo todo. Qualquer outro resultado que não fosse sua quarta vitória em Xangai teria sido injusto.

Seguindo com os resultados, o ordenamento com Rosberg, Vettel e Räikkönen logo a seguir reflete a lógica do momento – pela primeira vez na história os três primeiros pódios do ano são compostos pela mesma trinca de pilotos –, mas ainda assim reserva ponderações válidas.

Derrotado sem sofismos pela terceira vez em três corridas, Nico ensaiou na China um papel de resmungão que, até então, ainda não havia abraçado com tamanha intensidade. O clima entre os pilotos da Mercedes azedou para valer ao fim da prova em meio a trocas de farpas diante da imprensa e, a despeito dos esforços da equipe, a tendência é que o ambiente apenas piore com o desenrolar da temporada. Nessa altura parece bem provável que, mais para a frente, possamos testemunhar cenas como as que Fernando Alonso e o próprio Lewis Hamilton protagonizaram durante a qualificação na Hungria em 2007.

Em relação à Ferrari, a corrida terminaria por desenhar um panorama mais nítido da real condição da equipe neste início de temporada.

Segunda força destacada, muito à frente das Williams, a equipe tem sim potencial para ameaçar as flechas prateadas ocasionalmente, embora para isso ainda dependa de estratégias alternativas. Longe do cenário atípico de Kuala Lumpur, o que se viu foi um desempenho que não chega a subverter a hierarquia atual da F1, como ousaram sonhar os tiffosi mais entusiasmados, mas que foi bom o bastante para confirmar que o triunfo de Vettel não foi mera obra do acaso. A Ferrari encontrou o caminho de sua evolução, e essa é uma ótima notícia para o campeonato.

Da mesma maneira foi interessante ver Kimi Räikkönen fazendo, finalmente, uma corrida livre de percalços. Ligeiramente mais lento que Seb em qualificações, o campeão de 2007 conserva o talento de sempre e, ao menos nessa prova, deixou de lado a frieza para reclamar bastante via rádio do comportamento dos retardatários. Após a bandeirada o finlandês afirmou que estava em luta aberta com o companheiro de equipe, e que o safety car roubou suas chances de ultrapassagem. Otimismo ou não, o fato é que é sempre bom ver Kimi motivado e dando seu melhor. A bem da verdade, suas atuações na Austrália e na Malásia já denotavam um ritmo de prova impressionante. Cedo ou tarde o azar teria que dar uma trégua.

Quinto colocado na China com folgada margem sobre seu conceituado companheiro de equipe, apesar de ter qualificado e corrido sem a nova asa dianteira da equipe, Felipe Massa faz em 2015 um dos melhores inícios de temporada de sua carreira, se não o melhor deles. E não falo aqui da frieza dos resultados, mas de desempenho pessoal mesmo.

Passadas três etapas ele aparece na quarta posição na tabela de pontos, não apenas à frente de Bottas, mas também de Räikkönen. Para efeito de comparação, em 2014 Massa precisou de oito etapas para atingir a mesma pontuação, e de outras três para superá-la. Se neste momento a Williams ocupa uma folgada terceira posição entre os construtores, Felipe tem participação decisiva nisso.

Os mesmos elogios cabem aos primeiros GPS disputados por Felipe Nasr. Apesar de pequenos erros de principiante, como o jogo de pneus extra que gastou para chegar à Q2 após uma primeira tentativa ineficaz, Nasr têm somado quilômetros e pontos com consistência bem maior do que sua opaca passagem pela GP2 poderia sugerir. Em Xangai o brasiliense pagou por esse erro da Q1 durante a corrida, mas ainda assim manteve-se sempre à frente do companheiro de equipe e, sem erros, capitalizou os problemas de alguns adversários diretos para anotar mais quatro pontos que o mantêm na sétima posição entre os pilotos, e ajudam a Sauber a se manter no quarto posto, à frente da Red Bull.

Após a fabulosa vitória de Rossi em Losail, a MotoGP também lançou suas perguntas. As principais delas, sem dúvida, diziam respeito à possibilidade de Valentino de um lado, e a Ducati de outro, manterem o espetacular desempenho que entregaram na abertura do mundial. E, se analisarmos dentro do devido contexto histórico, é possível afirmar que ambas as perguntas começaram a ser respondidas de forma bastante satisfatória.

Sim, a pole – espetacular por sinal! – e a vitória ficaram com o bicampeão Marc Márquez e sua Honda, mas essa já era uma barbada. A verdade é que existe entre a pista de Austin e o conjunto Márquez/Honda uma identificação absoluta, que data desde os testes pré-temporada de 2013, quando o atual bicampeão nem sequer havia feito sua estreia na categoria rainha. De lá para cá foram três vitórias em três oportunidades e, salvo problemas de força maior, esses números devem aumentar ainda mais, muito mais. A pista é dele, como Mônaco um dia foi de Senna, Spa foi de Clark e Mugello foi de Rossi.

Mais significativo, sem qualquer exagero tendencioso, foi o segundo lugar de Dovizioso com a Ducati dispondo agora de 22 litros de combustível por corrida, e o terceiro lugar de Valentino, no mesmo lugar onde fez sua pior apresentação em 2014. Com o resultado o italiano segue na liderança do mundial, e mostra que está sim pilotando como campeão do mundo. A Yamaha, contudo, precisa entregar um pouco mais de aceleração e velocidade final se quiser servir de palco para uma batalha que, simplesmente por acontecer, já será histórica. Velocidade esta que sobra na Ducati, acrescentando um tempero muito bem-vindo a uma disputa que já era excelente.

E o melhor de tudo é que no próximo fim de semana já estaremos aqui de volta, analisando novos episódios da F1 e da MotoGP.

Ótima semana a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

5 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Olá Amigos do Gepeto!

    Corridinha mequetrefe esta da China, e pra piorar, bem no meio da madrugada.

    Com 25 voltas eu que já vinha numa luta feroz contra o próprio sono, desliguei a TV sem nenhum peso na consciência e fui dormir.

    Rosberg e Hamilton estão mais para Barrichello e Schumacher nos termpos de Ferrari, com um reclamando e tomando coro, e o outro passeando e vencendo GPs de maneira tranquila.

    Que o circo da estrela de 3 pontas PEGUE FOGO!!!!!

    E corrida boa mesmo foi na F-Truck, que é sempre emoção garantida.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Robinson Araujo disse:

    O campeonato está se desenhando para o tri de Hamilton e com folgas.
    Rosberg cedeu ao jogo psicológico, sentindo o golpe e demonstrando suas fraquezas.
    Vettel voltou a sentir fome e deve sim beliscar bons resultados.

    Quem sabe em 2015 teremos um cenário diferente.

  3. Fernando Marques disse:

    Marcio,

    só existe duas maneiras desta temporada não ser um passeio do conjunto Hamilton/Mercedes … uma é o Nico parar de falar e mostrar nas pistas que pode andar de igual para igual com Hamilton … a outra é a Ferrari conseguir aprontar uma outra surpresa como fez na Malasia … se nenhuma destas duas hipóteses acontecer, veremos daqui para frente corridas bem semelhantes ao GP da China … ou seja chata e sem emoção …
    Já o mesmo não dá para falar do Mundial de Motovelocidade … seja qual for a categoria é pega atras de pega … Marc Marques/Honda, Dovizioso/Ducatti e Valentino/Yamaha prometem grandes duelos … em Austin vimos outra grande corrida …


    Agora aproveito para falar da Indy … outra corridinha chata e varios erros infantis …


    Ao contrário da Formula Truck … mais uma bela corrida … mesmo sem eu poder estar torcendo pelo Geraldo Piquet, que está suspenso por 6 meses e sem poder correr …



    Este fim de semana o que não faltou foi corrida … só não consegui ver nada da Nascar …

    Fernando MArques
    Niterói RJ

    • Marcelo C.Souza disse:

      Olá Fernando e amigos do GPTotal !!!

      A F-Indy já foi uma grande categoria nos tempos da saudosa CART,quando os carros eram “foguetes” de verdade e haviam talentos do quilate do Emerson Fittipaldi, Michael Andretti, Al Unser Jr., André Ribeiro, Paul Tracy, Bobby Rahal, Robby Gordon,entre outras feras dos anos 80 e 90 que faziam a diferença nas corridas. O que vemos nos dias atuais é uma falsificação descarada criada pelo Tony George(aqueles que recordam-se da briga entre a CART e a IRL em 1996 sabem o que estou dizendo).

      Quanto à F-1,creio que esta temporada tenha tudo para ser um passeio da Mercedes,com Lewis Hamilton vencendo a esmagadora maioria das provas do campeonato e Nico Rosberg(sempre resmungando “à lá Rubinho”) em segundo. É lamentável,mas parece que a Ferrari só vai ameaçar a hegemonia da equipe alemã ocasionalmente,como ocorreu em Sepang.

      Marcelo C.Souza
      Amargosa-BA

      • Fernando Marques disse:

        Marcelo,

        eu acho que também a Formula Indy já foi bem melhor …
        O que piorou muito para mim foram os carros que estão muito feios, com muita parafernália aerodinâmica e pouco parecendo ser um formula …
        Outra coisa ruim é a quantidade excessiva de bandeiras amarelas que vemos nas corridas …
        Em contra partida eu gosto da tocada do W. Power … para mim hoje o melhor piloto da Indy … e de certa forma gosto de ver o Helinho Castroneves e o Tony Kanaa, que pelo menos ainda andam no bloco da frente … o que permite a gente torcer por vitorias brasileiras e ainda me divirto com tanta bobagens que estes caras que pilotam a Indy fazem nas pistas …
        Mas corridas são corridas … e curto todas …

        Fernando Marques
        Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *