PERSISTÊNCIA PREMIADA

PROFUSÃO DE BOBAGENS
19/10/2001
Aí que saudade do meu volante…
26/10/2001

Edu,

Antes de mais nada: fantástica a indicação do site de vídeos disponíveis para download que você deu na carta passada. Mas é para quem tem estômago forte: ali tem desde acidentes horripilantes (os de Bandini e Zanardi, por exemplo) até momentos maravilhosos como a ultrapassagem de Piquet sobre Senna na Hungria, em 1986, e o duelo entre Gilles Villeneuve e René Arnoux pelo 2º lugar no GP da França de 1979. Para quem quiser acessar, repito o endereço: www.formula1news.it/dati/video.htm.

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A Toyota confirmou há dois dias que o escocês Allan McNish, 31 anos (fará 32 em 29 de dezembro) será seu segundo piloto na temporada 2002 da F 1. Diante da idade avançada (para um estreante na F 1, bem entendido), alguns poderão perguntar: quem é Allan McNish?

Respondo: é um velho conhecido – pelo menos para quem acompanhava as categorias de base da Europa nos anos 80. Em 1988, McNish era companheiro de Mika Hakkinen em uma equipe patrocinada pela Marlboro na Fórmula Opel/Lotus. Foi campeão britânico e lutou com Hakkinen pelo título europeu, mas perdeu. Mesmo assim, galgou a F 3 inglesa (1989) e a F 3000 (1990), sempre com patrocínio da Marlboro. Conseguiu algumas vitórias, mas nenhum título.

Passou então a atuar como piloto de testes da McLaren, paralelamente às suas atividades na F 3000. Em 1991, teve uma temporada vexatória na F 3000, não se classificando para a largada em algumas corridas. Seu contrato com a McLaren expirou sem que McNish jamais recebesse um convite sério para guiar na F 1. Em 1994 foi piloto de testes da Benetton. Depois, o escocês perambulou por categorias diversas até 1998, quando venceu as 24 Horas de Le Mans e de Daytona em um Porsche de fábrica. Em 2000, mais um feito: campeão da ALMS (American Le Mans Series), o campeonato internacional de protótipos que ganhou grande importância nos últimos anos. E, em 2001, testou os Toyota F 1 ao lado de Salo. Em resumo, McNish conseguiu sua vaga na F 1 em uma idade e fase da carreira em que muitos pilotos já desistiram de tentar ascender no automobilismo internacional.

Isto é o que eu me lembrava dele antes de entrar no site da Toyota (www.toyota-f1.com) para checar datas e dados. E, descontando os habituais exageros e distorções infelizmente comuns nos textos de press-releases, confirmei minha impressão: McNish é um grande batalhador e serve como exemplo para outros pilotos que brilharam nas categorias menores, mas não conseguiram de imediato uma chance em uma categoria “top” do automobilismo.

Vamos voltar a 1988, quando McNish formou dupla com Hakkinen na F-Opel. A carreira do finlandês todo mundo conhece. A de McNish foi prejudicada por acidentes (ferimentos sem maior gravidade prejudicaram um pouco seu rendimento em algumas corridas), uma virose (que o deixou “de molho” em 1992) e carros pouco competitivos. Só em 1998, ano em que Hakkinen conquistou seu primeiro título na F 1 (note que as coisas também não foram muito fáceis para o finlandês), McNish finalmente viu o céu clarear ao vencer em Le Mans. Em 2000, ele disputou a última etapa da ALMS, em Adelaide, com uma contusão na coluna vertebral. Resistiu às dores e venceu a corrida e o campeonato.

Não sei se Allan McNish terá um desempenho brilhante na F 1. Como estreante em uma equipe também estreante, ele teoricamente sai em desvantagem na comparação com os jovens Felipe Massa e Takuma Sato. Mas o prêmio à persistência do escocês lembra o ocorrido com pilotos como Nigel Mansell e o próprio Hakkinen, que só chegaram onde chegaram porque tiveram uma segunda chance. Quem gosta de automobilismo certamente vai ficar contente se McNish justificar a confiança que a Toyota está depositando nele.

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A chegada de McNish faz com que a F 1 volte aos tempos de Clark e Stewart. Pela primeira vez desde os anos 60, teremos dois pilotos escoceses disputando a temporada. Outra curiosidade: McLaren (Coulthard e Raikkonen) e Toyota (McNish e Salo) terão suas duplas de pilotos formadas por um escocês e um finlandês.

Abraços,

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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