Queda de braço desigual

É por isso, Suzuka…
25/09/2015
Everest
30/09/2015

A história do GP do Japão de 2015 está feita, quando o 3º título de Hamilton será formalizado?

A história do GP do Japão de 2015 está feita. Lewis Hamilton novamente vence, e a pergunta que cada vez ganha mais força é quando seu terceiro título mundial finalmente será formalizado. São 8 vitórias até agora, e uma liderança na tabela de 48 pontos. Ele já pode deixar Nico Rosberg ganhar todas as 5 corridas restantes e chegar em 2º, que ainda sim teria 13 pontos de vantagem ao fim.

Sua vitória começou a ser construída na largada. Já vimos muitas largadas importantes em Suzuka. A de 88, quando Ayrton Senna fez o motor morrer e teve que escalar o pelotão; 89, quando Alain Prost pulou na frente e ambos bateram na volta 46; a de 90, quando Senna retribuiu a gentileza do ano anterior em apenas 400 metros; a de 99, com o aniversariante de hoje Mika Häkkinen partindo como um dragster para seu segundo título mundial… Várias.

E este fim de semana viu mais uma largada importante, quando Hamilton ganhou a queda de braço contra o pole Nico Rosberg na primeira curva – que ainda teve Felipe Massa e Daniel Ricciardo se tocando e arruinando as chances de pontuação.

Enquanto Lewis partiu para a vitória de ponta a ponta, Nico espalhou na segunda perna da curva e perdeu posições para Sebastian Vettel e Valtteri Bottas. Nico fez linda ultrapassagem em Bottas no giro 17, na entrada da chicane, e superou Vettel na 31 na rodada de pit. Mas aí Hamilton tinha a corrida na mão, com vantagem de 10 segundos.

A questão principal aqui é que a própria Mercedes confirmou que Nico teve menos potência na largada devido a um aquecimento indevido no motor.

Não foi falha dele, mas definiu os destinos da corrida. A largada foi, em suma, uma queda de braço com um dos atletas ligeiramente lesionado.

Nas táticas de pneus dentre os pontuadores, todos com duas paradas, Hamilton (1), Rosberg (2), Bottas (5), Grosjean (7) e Maldonado (8) optaram pelo esquema médio-médio-duro. Vettel (3), Räikkönen (4), Hülkenberg (6) e Sainz (10) usaram médio-duro-duro. Apenas o doidinho Verstappen fez médio-duro-médio. O garoto realmente gosta de fazer as coisas diferentes…

Sebastian Vettel conseguiu novo pódio e vem cumprindo uma temporada a altura de seu talento e competência. Se não tem carro para brigar pelo título, ao menos ameaça Nico Rosberg de roubar o vice-campeonato para si.

A tabela de pontos também revela com exatidão a força de cada construtor. As duplas de Mercedes, Ferrari, Williams e Red Bull estão em sequência certinha de forças que estas equipes vêm mostrando em 2015. A briga do meio do pelotão, na briga pelas pontuações mais baixas, está mais divertida, com alternâncias entre pilotos da Force India, Toro Rosso, Lotus e Sauber – esta, um pouco mais atrás.

Lances interessantes da corrida.

Além do passão de Rosberg em Bottas, destaco novamente a juventude rápida e ligeiramente desmiolada de Max Verstappen contra o igualmente jovem Daniil Kvyat (que paulada ele deu no qualify!). Nem no Playstation eu tenho passar por fora na 130R, Verstappen!

Nesse mesmo trecho tivemos o super “drift” de Will Stevens, que na fumaceira de pneus levantada, quase leva junto seu companheiro Alexander Rossi.

Verstappen ainda protagonizou outro lance eletrizante logo no começo, quando tentou passar Felipe Nasr. Não conseguiu, mas ambos passaram Jenson Button como se este fosse um retardatário.

E antes da corrida também tivemos um revival a altura de Suzuka. Takuma Sato pilotou a Williams-Honda 87 de Nigel Mansell, Gerhard Berger reencontrou a McLaren-Honda de 91 com a qual “foi permitido ganhar” no Japão, e o lendário Satoru Nakajima reencontrou sua bela Tyrrell-Ford de 1990.

Surgem mais notícias da Fórmula 1 2016.

Além das chatas renovações de contratos (convenhamos, é muito mais legal quando tem dança de cadeiras), tudo indica que a Renault vai (re)comprar a Lotus, e com um importante detalhe: com Alain Prost como diretor conselheiro – basicamente a mesma função de Niki Lauda hoje na Mercedes.

Pastor “Maldonator” e seu cheque da Pdvsa (devem ser os últimos dólares que a Venezuela tem!) está confirmado. Mas Romain Grosjean, ao que parece, deve pegar suas malas e desembarcar na nova equipe Haas, que tende a ser uma equipe B da Ferrari, desbancando a Sauber desse posto.

O outro piloto da Haas deve ser Esteban Gutiérrez, que é fraco, mas é protegido da Ferrari e deve levar um cheque gordo da América Telemóvil para fechar as contas. Essa vaga aberta da Lotus deve ser a mais concorrida do ano.

Aguardamos ansiosamente para que os franceses façam uma boa atualização desse motor que tem sido a cruz de Red Bull e Toro Rosso. Em análises de dados do GP da Bélgica publicados pelo site Motorsport, o chassi da Mercedes foi o melhor em curvas, seguido justamente pelos chassis das equipes do energético.

Sabem qual foi o quarto melhor chassi em Spa? McLaren, para o espanto de todos. Isso mostra o quanto o powertrain Honda é o grande fiasco do ano. A matéria ainda diz que em circuitos de longas retas, como Spa e Monza, a carga de ERS era insuficiente para os pilotos usarem em todo o trecho, o que significa que a velocidade máxima caía antes mesmo da zona de frenagem.

Isso dava aos rivais uma vantagem de 160 cavalos no fim das retas. E como o motor a combustão da Honda é apontado como tendo 80 cavalos a menos que o da Mercedes, isso dá uma diferença de 240 cavalos em determinadas situações.

É, Fernando Alonso, é motor de GP2 mesmo. Só não precisava esfregar isso na cara da Honda em pleno GP do Japão. Podia ter dito isso em Monza ou Spa, quando de fato, a McLaren esteve ainda mais ridícula. Lembremos também que o possível anúncio de aposentadoria de Jenson Button, o outro cara que corre com motor de GP2, não aconteceu.

httpv://youtu.be/k1_it-KIp6k

Enquanto a McLaren sofre com um motorzinho de autorama, a Manor, que sempre fecha o grid, vai ter um belo upgrade de powertrain ao passar a receber motores Mercedes para o próximo ano. O pequeno time deve ser mais uma “incubadora” de tecnologia para os alemães.

E aqui deixo uma última maldade: Ei, Alonso, ao menos o motor de GP2 produz um som mais maneiro.

Abração!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

4 Comments

  1. Lucas dos Santos disse:

    É sempre bom assistir as corridas de Suzuka. Uma pista clássica, com um clima fantástico e, sem dúvida alguma, com os torcedores mais fanáticos do mundo!

    Curioso como, desde que as largadas passaram a ser “mais humanas”, o Rosberg não consegue mais fazer nenhuma largada decente. Com ou sem perda de potência. Na coletiva de imprensa após a corrida chegaram até a perguntar se havia alguma diferença no procedimento de piloto para piloto.

    Com o acidente na largada, o Massa conseguiu deixar o Bottas ampliar a vantagem no campeonato. Será que ele consegue recuperar o terreno mas cinco corridas restantes?

    A temporada está uma verdadeira briga doméstica. Desde o início os pilotos classificados dois a dois na tabela. O mesmo só não ocorre com o pessoal do meio para o fim do pelotão porque houve muitos problemas e abandonos criando resultados discrepantes entre companheiros de equipe. E, por falar nisso, o Nasr, mais uma vez ficou atrás do Ericsson. O sueco não é fácil!

    O Verstappen é um piloto que anda na tênue linha entre o arrojo e a imprudência! A cada corrida ele mostra o que é possível fazer com um carro de Fórmula 1 moderno para calar aqueles que o subestimavam pela sua pouca idade. Diz que treina essas manobras no vídeo game. Felipe Nasr, inclusive, já deve estar farto de ser ultrapassado por ele nos locais mais improváveis!

    Ted Kravitz, repórter da TV britânica Sky Sports F1, definiu brilhantemente a rodada do Stevens como “a trousers changing spin”, algo como “uma rodada de trocar de calças”!

    Não culpo o Alonso por demonstrar publicamente a sua frustração durante a corrida. Até então ele estava sendo extremamente paciente, confiante no trabalho da equipe e demonstrando muita tranquilidade e satisfação durante as entrevistas. Button “estourou” muito antes disso. A paciência do espanhol durou bastante, mas uma hora ele iria perder a calma! Até porque, é realmente humilhante um carro de uma equipe do naipe da McLaren ser ultrapassado com facilidade em plena reta. E, mesmo assim, ele tem feito o seu trabalho e tem quase o dobro dos pontos de seu companheiro do equipe.

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Xará!

      Bom, primeiramente adorei a definição da rodada, com linguagem (“trousers”) e humor tipicamente britânico.

      Sou grande admirador de Alonso, talvez o piloto que eu mais admire no grid. Só que ele é tremendamente chorão (como é o torcedor do Real Madrid quando perde), e certamente deixou a panela de pressão estourar propositalmente em Suzuka, na cara dos japoneses. Por mais que tenha sido um desabafo, não posso ter certeza que isso foi 100% espontâneo.

      O asturiano tem se esforçado bastante sim, pra levar essa carroça aos pontos, o que tem sido quase impossível. Já vimos o quanto Button desanima quando não tem um bom carro. Nos piores anos da Honda, Barrichello andava mais que ele. Bastou aquele ambiente falido se transformar em Brawn GP, e Jenson novamente otimizou as coisas para o lado dele.

      Com esses dados de Spa em mãos, tenho absoluta certeza que a McLaren, se estivesse equipada com powertrain Mercedes, estaria minimamente incomodando a Ferrari na disputa pelo posto de 2ª força entre os construtores. Assim como está claro que a Renault tem sido a âncora de Red Bull e Toro Rosso.

      Abração!

      Lucas Giavoni

  2. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    o GP do Japão só foi divertido no inicio …
    Com relação ao Hamilton, esta que o motor do Rosberg ia aquecer foi uma muito boa desculpa da equipe principalmente depois do próprio Rosberg dizer que se sentiu acuado na largada … e a verdade é esta … ele desde o inicio do ano vive acuado perante a superioridade do Hamilton nas pistas e pelo visto dentro da equipe também … se no ano passado ele até engrossou o caldo algumas vezes, neste ano só vem tomando poeira na cara …
    Com relação as RBR’s a prova que eles tem um bom chassi foi dado nestas duas ultimas etapas … acho inclusive que se em caso de chuva o GP do Japão teria sido muito mais divertido e complicado para Hamilton … o carro é tão bom que apelam ao Tio Bernie para ter um motor da Mercedes ano que vem e mostrar que podem ser melhores que a propria equipe alemã. Tomara que consigam …
    Para terminar achei que o Alonso foi supimpa … os japoneses precisam de um sacode para reagirem …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Fernando!

      Sim, de fato, precisamos também considerar que a Mercedes pode ter mentido descaradamente sobre esse “aquecimento” apenas para proteger Rosberg…

      Pensei que Nico tivesse digerido bem a derrota ano passado, e aprendido lições o suficiente para ser um rival mais competitivo perante Hamilton, sobretudo nas qualificações, o que costuma ser um golpe mental bastante forte no inglês. Eu aparentemente estava enganado…

      Rosberg é globalmente menos rápido que Hamilton, mas o inglês pode ser desestabilizado por fatores externos – este é um ponto fraco de Lewis. Pensei que Nico estudaria à exaustão os anos em que Button, um piloto muito menos agressivo ao volante, conseguiu ser superior a Hamilton dentro da McLaren.

      Como companheiro de um Hamilton hipermotivado, era isso que eu faria. Não há dúvidas.

      Abração!

      Lucas

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