Renascendo das cinzas

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Olá, amigos

Chegamos, infelizmente, a mais um final de temporada na Nascar com a derradeira etapa do campeonato tendo sido disputada no último fim de semana. Depois de um tumultuado 2020, onde tivemos que aprender a lidar com o distanciamento, máscaras, corridas sem público, sem treinos e com muitas incertezas, 2021 trouxe um pouco mais de normalidade ao mundo das corridas. O público voltou às pistas, as máscaras deixaram de ser obrigatórias e as disputas voltaram a ser o centro das atenções neste ano.

Notadamente tivemos algumas mudanças de pilotos nas principais equipes e também em relação ao desempenho nas pistas.

A Stewart-Haas foi a equipe que mais sofreu em 2021. Em sua formação para a temporada, o agora aposentado Clint Bowyer abriu vaga para a chegada da promessa Chase Briscoe, que até fez uma campanha regular, sendo escolhido como o Rookie of the Year, mas seu time teve um desempenho bastante abaixo do esperado. Em 2020, a equipe venceu dez corridas, sendo que Harvick levou nove. Já este ano, a equipe só venceu uma prova com Aric Almirola; Harvick não conseguiu uma vitória sequer.

A equipe Gibbs também teve mudanças em sua formação, saindo Erik Jones e chegando o jovem Christopher Bell. Em sua temporada de estreia, Bell conseguiu uma vitória no traçado misto de Daytona. Os companheiros mais experientes também conseguiram vitórias, sendo que Martin Truex Jr. levou quatro enquanto Kyle Busch e Denny Hamlin ficaram com duas vitórias cada. A equipe fez bonito nos playoffs e levou os carros de Truex e Hamlin para a disputa do título na corrida final.

Tentando permanecer no topo, a Hendrick Motorsports precisou buscar um substituto para o recém aposentado Jimmie Johnson. Rick Hendrick fez uma aposta ao resgatar o jovem Kyle Larson do fundo do poço. O piloto que havia sido banido da Nascar por comentários racistas estava abandonado. Seus patrocinadores o deixaram e todos os seus contratos foram cancelados. Larson precisou passar por um programa de reabilitação de convívio social e Mr. Hendrick apostou suas fichas no jovem piloto. Em uma conversa franca, o dono de uma das mais bem sucedidas equipes da história da Nascar resolveu acreditar nas palavras de Larson e deu a ele a oportunidade de voltar a pilotar. O risco era grande, já que o piloto não trouxe patrocinadores. O carro número 5 de Larson foi patrocinado por um outro negócio de Hendrick, sua rede de lojas de carros.

Há quem acredite que a Nascar não deveria permitir o retorno de Larson, mas o perdão pode ser estendido a qualquer um que se arrependa e tome atitudes diferentes. Kyle Larson teria sua chance para devolver a confiança ao seu time e também para a Nascar.

Chegamos à última prova do ano no circuito de Phoenix, no deserto do Arizona, com Larson, Elliott, Truex e Hamlin podendo ser campeões. Larson chegou como favorito, já que venceu incríveis dez corridas durante todo o ano. Elliott, que fez um ano regular, também tinha boas chances, tendo vencido nessa pista no começo do ano. Os postulantes da Gibbs não poderiam ser descartados, já que ambos também venceram em Phoenix no passado. A corrida foi dominada por Elliott no início, tendo liderado boa parte da prova. Larson vinha bem, mas não parecia ter um carro para vencer o campeonato. Truex também liderou e estava confiante em seu carro. Hamlin vinha perto, mas não chegou a liderar a prova em nenhum momento.

Elliott e Larson pareciam ter carros mais acertados para trechos mais curtos, enquanto Truex e Hamlin se destacavam quando a prova permanecia mais tempo com bandeira verde.

Na fase final, Truex estava na frente, sendo seguido por Hamlin, Elliott e Larson. Esse última já estava a mais de quatro segundos do líder e sua esperança de vitória era pequena. Porém, uma bandeira amarela trouxe a oportunidade perfeita. A equipe de Larson fez a segunda melhor parada de toda a temporada, devolvendo o piloto do carro número cinco na primeira posição. Na sequência, vieram Hamlin, que não ganhou nem perdeu posições, Truex, caindo duas e Elliot que também perdeu uma.

A relargada veio faltando vinte e quatro voltas para o fim. Larson disparou e não foi mais ameaçado. Hamlin ainda perdeu a posição para Truex, que mostrou melhor ritmo. Ao fim da corrida, Truex ainda pressionou Larson, mas não tinha ação suficiente para combater o invencível carro número cinco.

O título veio para aquele que estava abandonado, deixado de lado por seus patrocinadores, o desacreditado e julgado Kyle Larson. Um ano e meio atrás ele não sabia sequer se voltaria a disputar uma corrida na Cup Series. Mostrando humildade o piloto foi salvo e recuperado por Jeff Gordon e Rick Hendrick. Em seu retorno, Larson venceu dez provas no ano, contanto a corrida do título. Foram quatro vitórias nas últimas cinco provas do ano, realmente um desempenho sensacional.

Nas entrevistas após o título ser entregue para Larson, Rick Hendrick e Jeff Gordon ressaltaram que o piloto trabalhou muito dentro e fora das pistas e merecia essa vitória. Mas Larson, que fez seu burnout com os olhos escorrendo lágrimas, ressaltou seu time, a equipe nos boxes que o colocou em primeiro na última relargada. Larson também lembrou de todos os homens e mulheres na fábrica do time, reforçando o discurso de uma equipe unida. Tony Stewart postou nas redes sociais, ao fim da corrida, uma frase que chama a atenção: parabéns para o melhor piloto de carros que eu já vi. Stewart sempre foi fã de Larson e se arrepende até hoje de não o ter contratado para seu time.

Nada mais simbólico do que o renascimento de um piloto, ao conquistar seu primeiro título, ter acontecido em Phoenix. Como a ave mitológica, Kyle Larson voltou das cinzas para triunfar na maior categoria da Nascar e colocar seu nome na história.

O ano de corridas está chegando ao seu fim e com ele leva embora os carros da sexta geração. A partir de 2022, teremos um carro totalmente novo, mais moderno, mas também com alterações um pouco polêmicas (adeus rodas com cinco parafusos). Tivemos excelentes disputas, um campeão merecedor em uma temporada fantásticas.

Que 2022 seja o ano em que definitivamente possamos retornar o ritmo normal do nosso dia a dia e claro, das corridas da Nascar.

Grande abraço

Rafael Mansano

 

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

4 Comments

  1. Rubergil Jr disse:

    Em compensação, o site Grande Premio não se conforma que o Larson venceu e espinafrou o piloto sem dó, chegando a dizer que o “racismo compensa”. Para eles, Larson não merece perdão e deveria pra sempre ser banido… Ridículo.

    Pelo jeito, ninguém mesmo tem o direito de se arrepender e aprender com os erros.

    • Rafael Mansano disse:

      Rubergil, infelizmente o mundo está cheio de pessoas que acreditam ser infalíveis. O perdão é algo que nem todos conseguem conceder ao próximo, mais por seus próprios defeitos do que pelo dos outros. Agradeço a audiência.

      Forte abraço,
      Rafael Mansano

  2. Parabéns por mais uma excelente coluna, Rafael!!! Confesso que estava torcendo pelo Denny Hamlin, mas já imaginava que o campeão seria o Kyle Larson. Ele fez uma excelente temporada e merecia mesmo este título!

    Só uma pequena correção: o vencedor da prova de Phoenix do 1º Semestre foi o Martin Truex Jr.. O Chase Elliott venceu duas corridas neste ano, todas em circuiuto misto (em Austin, no COTA, e em Road America).

    • Rafael Mansano disse:

      Olá, Marcelo! Obrigado pelo comentário e pela correção. Elliott venceu em Phoenix em 2020.

      Grande abraço,
      Rafael Mansano

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